quarta-feira, 18 de julho de 2018

Vera Magalhães: Ciro total flex

- O Estado de S.Paulo

Ciro Gomes defende a expropriação dos campos de petróleo privatizados no governo Michel Temer e a reversão do regime de concessão para o de partilha, que vigia sob Dilma Rousseff. Ou não.

O pré-candidato do PDT vai rever nos primeiros dias de seu mandato, caso eleito, a reforma trabalhista, essa “excrescência” proposta por Temer e aprovada pela Câmara presidia por Rodrigo Maia. Mas isso pode mudar.

Ciro quer fazer referendo e plebiscito para votar uma reforma da Previdência que mude o atual sistema para o de capitalização. Mas isso vai depender.

Depender de quê? Da direção da aliança partidária que conseguir costurar para si.

Todas essas promessas, feitas com a assertividade que só Ciro Gomes sabe ter, não são de 1998 ou de 2002, as duas eleições anteriores em que o ex-governador do Ceará e ex-ministro foi candidato a presidente. São de 2018, repetidas pela última vez para um grande público na sabatina da CNI em Brasília, no início deste mês.

Mas Ciro está na muda. E mudo. E mudando o que disse. Disposto, inclusive, a desdizer por escrito.

Se tudo der muito certo, aquele que chegou a vislumbrar a possibilidade de ser o candidato apoiado por Lula pode, diante da frustração desse plano, ter em seu palanque o DEM de ACM Neto e Maia, o PP de Ciro Nogueira, o PRB da Igreja Universal, o Solidariedade da Força Sindical e até, quem sabe, alguma esquerda, com PCdoB e/ou PSB.

A depender de quantos e quais desses partidos estiverem no barco, alguma ou todas as propostas podem vingar ou cair.

A estratégia de Ciro emula em tudo a de Lula em 2002. Tudo mesmo: o vice dos sonhos do pedetista é Josué Gomes, filho do vice que assegurou ao petista, hoje preso, a aceitação do empresariado antes receoso. É difícil para o eleitor compreender como um grupo de partidos pode estar tanto com Ciro quanto com Geraldo Alckmin, cujos estilos e programas são como gasolina e álcool.

Ou como o próprio candidato pode transigir com a mudança de propostas que até ontem defendia com uma crença embebida em retórica inflamável. Para o Ciro de algumas semanas atrás, o Brasil tinha duas opções: seguir o que ele pregava em matéria econômica ou cair do desfiladeiro. Agora, a depender de quais partidos o seguirem, ele pode encontrar um caminho alternativo que evite o penhasco. Nasce um candidato total flex.

SOZINHO EM CASA
Aliados de Alckmin no interior ignoram tucano

Geraldo Alckmin enfrenta o isolamento no Estado que governou por quatro mandatos e no qual, há menos de dois anos, elegeu a maioria dos prefeitos. Diante de pesquisas que mostram dificuldades eleitorais inéditas para Alckmin em São Paulo, prefeitos, deputados e vereadores do PSDB tocam a vida alheios à necessidade de o aliado crescer nas pesquisas “em casa” para mostrar alguma musculatura a virtuais aliados ainda hesitantes em apoiá-lo. O PSDB tem prefeituras fortes no ABC, na Baixada Santista, na região de Ribeirão Preto, em Campinas e no Vale do Paraíba, região do próprio Alckmin. Não se vê um mísero post de prefeitos e parlamentares dessas macrorregiões em defesa do presidenciável. João Doria, que tem percorrido o Estado, tem arregimentado esses apoios que faltam a Alckmin. Aliados do candidato a governador usam mais essa discrepância para tentar convencer o ex-governador a se agarrar de vez a Doria e colar as duas campanhas.

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