domingo, 5 de agosto de 2018

Alckmin direciona críticas a Bolsonaro no primeiro discurso como candidato

Geraldo Alckmin é oficializado candidato à Presidência da República pelo PSDB

Ex-governador afirmou mais cedo estar 'acostumado' a enfrentar o PT em eleições

Breno Pires, Pedro Venceslau e Renan Truffi | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O PSDB oficializou a candidatura de Geraldo Alckmin para a Presidência da República nas eleições 2018 neste sábado, 4, na Convenção Nacional do partido, em Brasília. Dos 290 delegados do partido que votaram, 288 foram a favor da indicação do tucano para concorrer ao Planalto em outubro. Houve uma abstenção e um voto contrário. A convenção aprovou também a coligação com todos os partidos (PP, DEM, PR, Solidariedade, PRB, PSD, PTB e PPS) e a candidata a vice-presidente, senadora Ana Amélia (PP-RS). O PSDB não divulgou de quem foi o voto contrário e a abstenção.

Durante o evento, Alckmin fez um discurso repleto de críticas indiretas ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, que lidera as pesquisas de intenção de voto nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Os petistas, com quem os tucanos polarizaram a disputa política nos últimos anos, também foram alvo de críticas de Alckmin por sua "herança de radicalismo".

"Ainda hoje na América Latina, vemos degenerar regimes conduzidos por quem promete dar murro na mesa, dizendo que faz e acontece, que pode governar sozinho, ou acompanhado apenas por um grupo de fanáticos", disse. "Gente assim quer é ditadura. Ditadura que logo degenera em anarquia. Precisamos da ordem democrática, que dialoga, que não exclui, que tolera as diferenças", disse o tucano.

Ainda que não tenha sido direto nas sua citações, é parte da estratégia da campanha tucana mirar em Bolsonaro. Isso porque, na avaliação dos estrategistas do partido, o PT não deve cumprir o papel de desconstruir o candidato do PSL. Caberá ao próprio Alckmin este trabalho.

Sobre o PT, Alckmin procurou relacionar de forma irônica o número do partido nas urnas, o 13, com os dados do IBGE sobre pessoas desempregadas atualmente no País. "Vamos mudar o Brasil, mas não com bravatas, com tumulto. 13 é o número do partido que esteve lá. Temos 13 milhões de desempregados", disse. "Radicalismo e bravatas sintetizam a herança trágica que os petistas nos deixaram", complementou.

Apesar das críticas às candidaturas concorrentes, Alckmin também alternou o discurso se colocando contra a "divisão do País" e disse ter condições de "unir o Brasil". "Um país dividido não multiplica felicidade. Quero, em nome de todos, empunhar essa chama chamada esperança, que ficou guardada dentro de nós", disse.

Outro eixo importante do discurso foi a defesa das alianças partidárias. Alckmin tem sido criticado por fechar acordo com dirigentes investigados, que fazem parte do Centrão, bloco formado por PP, PR, PRB, DEM e Solidariedade. "Não basta um homem e uma mulher, um governo de qualidade requer alianças", defendeu. "Aqueles que dizem que aprovarão reformas, sem o apoio da maioria dos partidos, mentem." Presente na convenção, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que alianças fazem parte da governabilidade e antecipam vitória.

Entre os líderes do Centrão, apenas ACM Neto, presidente do DEM, esteve com Alckmin e discursou no evento. Nomes como Valdemar Costa Neto, do PR, Ciro Nogueira, presidente do PP, e Marcos Pereira, do PRB, investigados na Lava Jato, não participaram.

'Acostumado' com o PT
Mais cedo, na convenção do PPS, Alckmin afirmou estar "acostumado" a enfrentar o PT em eleições. Ele tem repetido que espera disputar o segundo turno contra um candidato petista num eventual segundo turno. Embora o PT mantenha Lula como seu candidato, o ex-presidente é considerado ficha suja por ter sido condenado em segunda instância e deve ter seu registro de candidatura negado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Dos últimos candidatos à Presidência do partido, apenas o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que disputou em 2014, não participou do evento em Brasília. Réu no Supremo Tribunal Federal (STF), o mineiro desistiu de tentar a reeleição para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados. “Dos fundadores do partido, só restaram nós dois: eu e Fernando Henrique Cardoso”, disse o senador José Serra (PSDB-SP) ao lado do ex-presidente. Serra foi candidato em 2002 e em 2010.

Entre os líderes do Centrão, apenas ACM Neto, presidente do DEM, esteve com Alckmin e discursou no evento. Nomes como Valdemar, Ciro Nogueira, presidente do PP, e Marcos Pereira, do PRB, investigados na Lava Jato, não participaram do evento.

Vice
Chamada de "vice dos sonhos" por Alckmin no evento, Ana Amélia também foi enaltecida por líderes tucanos. "Todos queríamos Ana Amélia representando todas nós, mulheres de fibras, mulheres de respeito. Geraldo e Ana Amélia que vão construir uma campanha respeitosa, positiva. O Meu Rio Grande do Sul agradece. Esse enorme Brasil vai ter o Rio Grande do Sul na chapa da Presidência", disse a deputada federal Yeda Crusius (PSDB-RS).

Uma caravana de senhoras do PSDB Mulher veio do Pará e também celebrou a indicação de Ana Amélia para vice. Em sua fala, Ana Amélia comentou que a 'régua moral' de Alckmin é a mesma que ela usou em sua atuação no Senado.

O candidato do PSDB ao governo de São Paulo, João Doria, também subiu ao palco para pedir votos para Alckmin. "Ele (Alckmin) é o candidato que vai ajudar o Brasil e fará a grande transformação do País. Deus estará a favor de vocês. Viva Geraldo Alckmin e Ana Amélia" disse Doria.

No ato de convenção, os tucanos convocaram um repentista cearense que rimou em homenagem a Geraldo Alckmin. "Geraldo foi testado e aprovado e é o mais preparado para governar o Brasil. Quero saldar Ana Amélia com amor e carinho, correta por natureza e fiel como passarinho", entoava entre um e outro intervalo do jingle do candidato, que repetia "Geraldo eu vou, Geraldo eu vou". A campanha tucana tem tido dificuldade de crescer, principalmente, na região Nordeste.

Também houve uma série de menções à família, à segurança e à fé. Pouco antes da chegada de Alckmin, o locutor do evento pediu uma salva de palmas para Jesus, o que foi atendido pelo público.

Na convenção do PR, Alckmin já havia dito que chapa que uniu os dois partidos foi uma vontade de Deus. "Lutei muito para que estivéssemos juntos e quiseram os desígnios de Deus que fizéssemos essa união (entre PSDB e PR)", disse.

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