domingo, 12 de agosto de 2018

Bernardo Mello Franco: Um elefante na sala

- O Globo

Preso numa cela de 15 m², Lula virou um elefante na sala. No debate da Band, a maioria dos candidatos fingiu não notá-lo. No entanto, todos sabem que ele será tema obrigatório
na eleição

Agora começou para valer. O debate da Bandeirantes deu a largada na corrida dos presidenciáveis. Até outubro, a eleição dominará conversas nas casas, nas ruas e na internet. É bom que seja assim. Quem não gosta de política está condenado a ser governado por quem gosta. E por quem gosta mais ainda de dinheiro, como mostra a experiência brasileira.

No primeiro encontro na TV, o eleitor foi apresentado a oito aspirantes ao Planalto. Faltou o nono, que lidera as pesquisas, mas deve ser barrado pela Justiça Eleitoral. Preso numa cela de 15 metros quadrados, Lula virou um elefante na sala. A maioria dos rivais finge não notá-lo, mas todos sabem que ele será assunto obrigatório na disputa. Na quinta-feira, só dois candidatos citaram o ex-presidente. O franco-atirador do PSOL, Guilherme Boulos, usou sua fala de abertura para defendê-lo. “Boa noite ao ex-presidente Lula, que deveria estar aqui, mas está preso injustamente em Curitiba, enquanto Temer está solto lá em Brasília”, disparou.

O governista Henrique Meirelles, do MDB, mencionou o petista duas vezes. Lembrou que ele o escolheu para comandar o Banco Central, mas não disse nada sobre a Lava-Jato. Os outros seis presidenciáveis acharam melhor ignorar o homem. Nem Jair Bolsonaro (PSL), que se projetou na onda antipetista, ousou citar o ex-presidente. Foi um esquecimento calculado. Falar mal de Lula virou mau negócio, pelo menos no primeiro turno. Com 30% das intenções de voto, o ex-presidente ainda é o maior cabo eleitoral do país. Engana-se quem pensa que sua força se deva só ao carisma. A memória positiva de seu governo, marcado por crescimento e distribuição de renda, é o que o sustenta no topo das pesquisas.

Se o petista pudesse concorrer, sua presença no segundo turno seria certa. Como o TSE deve barrá-lo, a disputa pelas duas vagas continua aberta. Ninguém pode dar as costas aos milhões de eleitores do ex-presidente. Nem Bolsonaro, que hoje herdaria uma fração de seu espólio. Neste momento, a grande pergunta da eleição é a seguinte: para onde vão os votos de Lula? Nas últimas duas disputas, ele conseguiu transferi-los para Dilma Rousseff.

Agora a tarefa será mais complicada, e não só porque o ex-presidente está preso. A campanha mais curta, e com menos dinheiro disponível, também deve dificultar a operação. Na Band, ficou claro que a tática de insistir num candidato fantasma pode virar uma armadilha para o PT. Se ninguém lembrar a existência de Lula, o eleitor se ocupará com outra coisa. No dia seguinte, a pregação exótica do Cabo Daciolo foi mais comentada que a ausência do ex-presidente. Quando Fernando Haddad for oficializado candidato, o elefante deve voltar para o centro da eleição. Ao que tudo indica, o debate fez os petistas caírem na real. Na sexta-feira, o partido informou que o ex-prefeito recebeu carta branca para viajar o país e falar em nome do padrinho.

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