quinta-feira, 23 de agosto de 2018

*Daniela Lima: O pássaro com asas de chumbo

Nunca um tucano largou de patamar tão baixo e com o PSDB tão desgastado

Geraldo Alckmin vai iniciar sua campanha no horário eleitoral gratuito sob uma pressão inédita para um candidato do PSDB à Presidência. Os resultados da última pesquisa Datafolha ampliaram o risco de ele ser abandonado por aliados muito cedo, ainda no nascedouro da disputa. Para registro: no melhor cenário, o tucano hoje marca 9%.

Os primeiros exemplos de afastamento começaram a pulular e, para piorar, não só em estados da região Nordeste, onde o tucanato tradicionalmente enfrenta dificuldades.

No Rio de Janeiro, Índio da Costa, candidato ao governo pelo PSD, disse em palestra a empresários que estava indeciso sobre seu voto para presidente e que seria interessante ter no Planalto um cidadão fluminense, em clara referência a Jair Bolsonaro (PSL).

Em Minas, onde os tucanos têm um nome competitivo para o governo estadual, o candidato do DEM ao Senado, Rodrigo Pacheco, lançou santinhos com o número do candidato presidencial em branco.

No Nordeste, as cenas se repetem com notas ainda mais dramáticas, com dirigentes partidários que sentaram ao lado de Alckmin para anunciar coligação marchando nas ruas a pedir votos para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nada disso, porém, é novidade para o tucano. Político de longa trajetória, Alckmin já viveu vitórias acachapantes e derrotas doloridas, daquelas em que a solidão imposta por uma campanha pouco competitiva pode ser notada a olho nu.

Em 2008, quando ele concorreu a prefeito de São Paulo contra a vontade de parte do PSDB, uma foto em que almoçava sozinho, num restaurante simples, cercado de cadeiras vazias, às vésperas do primeiro turno, tornou-se icônica.

Dois anos depois, Alckmin concorreu ao governo do estado e venceu no primeiro turno. Acostumado aos altos e baixos, o tucano é comumente apontado por aliados e até por adversários como um político de resiliência invejável.

Ele acumula severa resistência a pancadas e escolhe o momento cirúrgico para desferir um contragolpe. Ainda assim, seria o suficiente para encarar esta que é a eleição mais imprevisível e confusa desde a redemocratização?

Alckmin enfrenta dificuldades dentro do terreno que conhece como a palma da própria mão. Nem mesmo entre os paulistas, entre os eleitores que governou por quatro vezes, sua candidatura deslanchou. Hoje, ele e Bolsonaro estão tecnicamente empatados —e o capitão reformado do Exército aparece numericamente à frente, segundo o Datafolha.

Nunca um tucano largou de patamar tão baixo e com o PSDB tão desgastado pelas sucessivas associações de quadros do partido —inclusive o próprio candidato— a escândalos de corrupção.

A essa altura do campeonato, em 2014, Aécio Neves (PSDB-MG) estava em terceiro lugar nas pesquisas, com 20% das intenções de voto. Mesmo no momento mais crítico da disputa naquele ano, o mineiro nunca baixou de dois dígitos.

A coordenação de Alckmin aposta todas as suas fichas na propaganda na TV e no rádio, o principal patrimônio do tucano, dono de quase metade do horário eleitoral. A equipe de comunicação colocará o bonde do PSDB na rua, em 31 de agosto, sabendo que todas as esperanças de uma guinada na trajetória do paulista estão sob sua guarda.

De certa forma, o embate no campo da direita resume um dos dilemas que rondam esta eleição, o da velha política contra a nova política —ou no caso de Bolsonaro, contra a antipolítica.

Será a batalha da televisão contra as redes sociais. Da experiência contra a paixão. Partindo de muito baixo e com a missão de desidratar "o mito" da internet, o marketing do PSDB sabe que não vai poder errar: precisa fazer Alckmin voar, mesmo com asas de chumbo.
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*Daniela Lima é editora do Painel.

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