domingo, 5 de agosto de 2018

Lula, preso e sem vice, é escolhido pelo PT como candidato ao Planalto

Partido avalia implicações jurídicas de adiar anúncio completo da chapa; Fernando Haddad é tido como favorito para assumir a candidatura, se a Justiça impugnar o ex-presidente

Bruno Goes* e Sérgio Roxo | O Globo

SÃO PAULO / Sem o candidato que está preso em Curitiba desde 7 de abril e sem a definição do candidato a vice, o PT referendou ontem a indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para disputar a Presidência pela sexta vez. Condenado em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá, o líder petista está enquadrado na Lei da Ficha Limpa e deve ter a candidatura impugnada. Internamente, a legenda discute a indicação de um plano B quando isso acontecer.

O adiamento da indicação do vice pode trazer implicações jurídicas à chapa petistas, e por isso o PT avalia anunciar até hoje o nome do companheiro de chapa, preferencialmente do próprio partido. São opções o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, tido como favorito, a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro Jaques Wagner. Reunida à tarde, a executiva do PT informou que ainda negocia aliança com o PCdoB, que indicaria Manuela D’Ávila, e com o PDT, mas Ciro Gomes nega a possibilidade.

As discussões sobre a indicação ou não de um vice até domingo dominaram os bastidores da convenção. Pela manhã, dirigentes petistas se encontraram com caciques do PCdoB, mas não houve entendimento. O PT também anunciou o apoio de dois partidos à candidatura: PROS e PCO.

Na impossibilidade de contar com Lula no ato realizado em uma casa de eventos no centro de São Paulo, a organização distribuiu máscara com a imagem do ex-presidente para os militantes presentes. Na hora de fazer a aclamação simbólica da indicação de Lula, Gleisi pediu que os presentes vestissem as máscaras. Lula apareceu em um painel no fundo do palco.

Em carta lida pelo ator Sergio Mamberti, Lula disse que, pelo primeira vez, em 38 anos, não comparecia a um encontro nacional do PT. O ex-presidente reclamou das restrições colocadas à sua candidatura.

“Já derrubaram uma presidenta eleita; agora querem vetar o direito do povo escolher livremente o próximo presidente. Querem inventar uma democracia sem povo”.

ENTREVISTA
Especialistas em legislação eleitoral afirmam que, até 2016, havia consenso: a escolha do vice podia ser feita depois da convenção, até a data do registro (15 de agosto, neste ano), desde que a convenção deliberasse nesse sentido. Mas uma resolução do TSE, com as regras da eleição de 2018, estabeleceu prazo de 24 horas do fim do período de convenções para o registro da ata da convenção na Justiça Eleitoral.

Há divisão na interpretação de especialistas ouvidos pelo GLOBO se o prazo final para indicação de vice é de 24 horas após o fim das convenções, ou se a decisão pode acontecer só na data final do registro.

O jornal italiano “La Repubblica” publicou ontem uma entrevista com Lula. O expresidente está proibido de conceder entrevista pela Justiça. O deputado italiano Roberto Gualtieri, do parlamento europeu, visitou Lula na cadeia, levado por Gleisi Hoffmann, e fez as 19 perguntas enviadas pelo jornal.

*Enviado especial

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