sábado, 25 de agosto de 2018

Petistas têm maior isolamento nos estados em 20 anos

De 16 candidatos a governador, partido disputará sem aliados em 5; em outros 5, terá apenas o apoio do PC do B

João Pedro Pitombo e Catia Seabra | Folha de S. Paulo

SALVADOR E SÃO PAULO - No momento em que inicia uma estratégia de transferência de votos do ex-presidente Lula para o provável candidato a presidente Fernando Haddad, o PT deve enfrentar dificuldade adicional na campanha eleitoral deste ano.

O partido chega às eleições deste ano com o maior nível de isolamento nos estados desde 1998. Ao todo, terá 16 candidatos a governador, cinco deles disputando a eleição sem nenhum aliado e outros cinco com o apoio apenas do PC do B.

Grandes coligações em torno candidatos do PT foram formadas apenas em estados já governados pelo partido, caso da Bahia, Acre, Ceará e Piauí.

Em Minas Gerais, o governador Fernando Pimentel (PT) terá uma coligação mais modesta com apoio do PC do B, PR e DC. Já no Rio Grande do Norte, onde Fátima Bezerra (PT) desponta como favorita, apenas o PC do B e PHS estão na coligação.

Em média, o PT terá 3,7 partidos aliados para cada candidato a governador, número mais baixo desde 1998, quando o partido ainda estava em fase de ascensão e ainda não havia conquistado a Presidência da República.

A situação difere das últimas eleições. Em 2014, os candidatos a governador do PT tinham uma média de 6 aliados.

Em 2010, ano em que o PT colocou em prática pela primeira vez a estratégia de transferência de votos, com a candidatura de Dilma Rousseff, os palanques estaduais atingiram o ápice de sua força: cada candidato a governador petista tinha, em média, 8 aliados.

A situação é considerada mais difícil em estados do sul e do sudeste. Exceto em Minas, nenhuma outra candidatura petista ao governo do estado foi além da tradicional parceria com o PC do B.

Em estados como Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo, o partido deve apenas marcar posição e fazer a defesa do ex-presidente Lula.

Em São Paulo, Luiz Marinho (PT) não deve repetir o desempenho de petistas em campanhas anteriores. Sintoma disso é que o PC do B, único aliado, abriu mão de indicar o vice de Marinho em troca da suplência do candidato ao Senado Eduardo Suplicy, considerado mais competitivo.

A presidente do PT Gleisi Hoffmann minimiza a falta de partidos aliados nos estado e destaca o crescimento da candidatura de Lula –o petista chegou a 39% no último Datafolha: "Isolados estão os candidatos dos golpistas de [Michel] Temer e do PSDB. Nós contamos com a força do povo", diz.

Já o secretário-geral do partido, Romênio Pereira destaca o apoio sobretudo nos movimentos de esquerda: “Temos clareza que a nossa campanha terá a massa [popular]”, diz.

Para compensar a falta candidaturas competitivas a governos estaduais, o PT tem buscado ampliar sua rede de apoios informais e ancorar a candidatura presidencial petista em candidatos a governador de partidos, sobretudo na Nordeste.

O primeiro passo foi convidar o PSB, que adotou uma posição de neutralidade, a integrar a coordenação geral da campanha de Lula. O partido também montará comitês eleitorais em todas as capitais brasileiras, reativando uma rede criada em 2002.

Pelo menos três candidatos a governador de outros partidos devem apoiar o candidato petista: Belivaldo Chagas (PSD-SE), Paulo Câmara (PSB-PE) e João Azevedo (PSB-PB).

Renan Filho (MDB-AL), que tem prestado solidariedade a Lula, tem tido uma postura mais cautelosa em relação à eleição nacional, já que tem aliados de Lula, Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) em seu palanque.

Em estados como Amazonas, Rondônia, Tocantins e Mato Grosso, o PT contará apenas com seus deputados, já que estão em coligações cujos candidatos a governador apoiam outros presidenciáveis

No Amazonas, por exemplo, o PT apoia a candidatura ao governo do David Almeida (PSB), cujo candidato ao Senado Chico Preto (PMN) é um entusiasta do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

No Tocantins, o PT apoia o candidato Marlon Reis (Rede), que faz campanha por Marina Silva (Rede). Já os petistas de Rondônia fecharam uma aliança inédita e pela primeira vez vão apoiar um candidato a governador do PSOL.

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