quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Rosângela Bittar: Macaco não olha seu rabo

- Valor Econômico

Ao ataque, à ação. Jogo de palavras é luta desigual

Agora é oficial: o PT avisa, por meio de seu candidato Fernando Haddad, que vai aumentar a ofensiva internacional para garantir a presença de Lula nas eleições. Portanto, acabou o segredo de polichinelo, trata-se realmente de uma campanha, forte, inescrupulosa, liderada pelo partido na mobilização de jornais de esquerda, cientistas políticos, ONGs, governos e Parlamentos desinformados, ou que não querem se informar, sobre as leis, a Justiça e a democracia brasileira.

Segundo Haddad, a estratégia será colocar em questionamento o regime democrático caso Lula seja, de fato, barrado pela Lei da Ficha Limpa. O democrático é o descumprimento da lei, da Constituição, das decisões da Justiça, teria escorregado o candidato se deixassem..

Por que não se faz uma campanha semelhante a essa para mostrar os crimes cometidos, a legislação em que se baseou a prisão, as decisões unânimes da Justiça, em lugar de considerar suficientes os instrumentos diplomáticos, telegramas, cartas e notas? Essa linguagem tem sido tão inútil quanto as 100 embaixadas criadas no governo do PT exatamente para, agora, manipular a propaganda contra o país, servindo a interesses pessoais. A cada ação externa, reagem os agentes internos do partido para corroborar o acerto dos aliados internacionais.

É urgente organizar a contraofensiva, no mesmo tom, com os mesmos instrumentos e as chantagens e ameaças de que o Brasil está sendo vítima.

"A simulacro de processo" e "encarceramento arbitrário" devem corresponder informações e divulgação dos fatos que deram origem às prisões não só de Lula, como de empresários e políticos em geral metidos em crime de corrupção. Se assim não for, a propaganda engole a realidade.

Uma reação à altura está fazendo falta, e não é de agora. Por que pegou no exterior a tese de que o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe? Por que pegou a mentira de que eleição sem Lula é fraude? Porque o Brasil está reagindo com conversa mole enquanto está evidente a onda de falsidades espalhadas mundo afora. Quem conhece os fatos não quer se dar ao trabalho. Diante de uma boa propaganda, de que vale uma verdade?

É de impactar que os agentes internacionais da campanha contra a Justiça brasileira fechem os olhos às suas mazelas, à relação de seus governos com refugiados, à diáspora venezuelana, aos muros do Trump, à separação de pais e filhos na fronteira. Parecem querer nos dizer que acham mais divertido tratar da fuzarca no país do Carnaval, distante do mundo. Povo de índole pacífica, que prefere a esperança de que em algum momento irão todos perceber a verdade.. Isso se estiverem de boa-fé. Se estiverem em campanha político-ideológica, vão rir dos bobos até o fim.

O ex-presidente Fernando Henrique escreveu um artigo publicado ontem pelo "Financial Times" exigindo da pessoa certa, Lula, respeito com o Brasil e os brasileiros. Outras vozes, também conhecidas internacionalmente, devem se juntar a ele. No entanto, é urgente uma reação mais forte, em outra linguagem, pois está a cada dia mais difícil ao país contrapor-se à propaganda.

As respostas da diplomacia têm sido insuficientes e foi isso que, dito aqui na semana passada, desagradou ao governo brasileiro que acredita estar tendo pulso forte. Sabe-se que na campanha estão engajados inclusive alguns diplomatas que serviram em escalões de poder nos governos petistas.

Muito antes do impeachment de Dilma Rousseff esses redutos da esquerda internacional já estavam sendo mobilizados, a partir do mensalão. Com Dilma, iniciou-se a bem sucedida campanha " impeachment é golpe"; em seguida emendando-se com o petrolão que começou exatamente no seu governo, a partir de uma decisão sua sobre a compra do mico Pasadena.

De lá para cá, foram inúmeras viagens ao exterior, visitas de jornais e jornalistas ao Brasil e ao governo brasileiro, périplos da diplomacia petista para reforçar a ideia de que combater a corrupção é perseguição ideológica.

A manipulação política da realidade não teve limite.

O partido, Lula e seus braços na operação foram plenamente bem sucedidos, mais até do que imaginavam. Lula é inelegível e não será candidato, sua prisão não é produto de perseguição política, os processos legais cumpriram todos os seus ritos. Mas o que prevaleceu foi a política, a campanha ideológica,, o ataque ao país.

A nota mais contundente da diplomacia não vale um bordão do PT. Foi do chanceler Aloysio Nunes Ferreira: "Recebi com incredulidade as declarações de personalidades europeias que, tendo perdido audiência em casa, arrogam-se o direito de dar lições sobre o funcionamento do sistema judiciário brasileiro. Qualquer cidadão brasileiro que tenha sido condenado em órgão colegiado fica inabilitado a disputar eleições. Ao sugerir que seja feita exceção ao ex-presidente Lula, esses senhores pregam a violação do estado de direito".

Em carta, o embaixador do Brasil no Chile, Carlos Duarte, cita opiniões publicadas em meios de comunicação e declarações de líderes políticos locais sobre o Judiciário brasileiro e suas decisões. Ele pondera que tais declarações podem fazer parte do jogo político, mas destaca que algumas são desrespeitosas em relação às instituições democráticas brasileiras. Para que pisar tanto em ovos?

Em mensagem enviada ao Senado americano, o embaixador Sergio Amaral fez longo relato sobre a democracia e a legislação do Brasil para atos de corrupção, considerou a manifestação do Congresso americano baseada em argumentos politicamente motivados que tentam manchar antecipadamente as eleições presidenciais de outubro. Mas ele dispersa a reação numa linguagem desproporcional à violência dos ataques.

"Em nome da liberdade de imprensa, cujo objetivo é jogar luz na verdade dos fatos, em nome do governo brasileiro, eu me permito expressas minhas reservas sobre o conteúdo do texto assinado por alguns políticos franceses e europeus, sobre "a situação alarmante do Brasil". Esse é um trecho da reação do embaixador do Brasil na França, Paulo Cesar de Oliveira Campos (POC), um dos dois diplomatas mais próximos a Lula que ganhou o cobiçado posto.

Contraponto de palavras mostra a desigualdade da luta. Simulacro de processo e encarceramento arbitrário exigem resposta à altura, não platitudes de almanaque. Uma boa saída seria uma campanha em defesa da Constituição, da democracia e das instituições brasileiras, no exterior, com explicações claras sobre quem roubou o quê, o enriquecimento pessoal e as ações que só visavam manter o poder. Com as correspondentes ações na Justiça Nacional e Internacional.

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