quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Rosângela Bittar: Traição consentida

- Valor Econômico

Alckmin foi eficiente nas suas opções até aqui

Um dos vídeos que passaram a circular de zap em zap esta semana de gravações para a propaganda eleitoral, mostra o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, partido que conseguiu indicar a senadora Ana Amélia para vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), engajado, em discurso veemente, na campanha do PT do Piauí. Ciro Nogueira é um dos candidatos a senador na chapa do governador Wellington Dias (PT), candidato à reeleição. Exaltam Lula, e a foto do ex-presidente aparece, sobranceira, no outdoor que os une sob o slogan " o time do povo".

A cena ilustra a situação do candidato Geraldo Alckmin no Nordeste. Em todos os Estados da região os partidos do Centrão estão com Lula, e devem permanecer com Fernando Haddad ao ser por ele substituído oficialmente. Em alguns, como Alagoas, Piauí, Ceará e Bahia, tanto o Centrão, como o MDB de Michel Temer, já vinham promovendo seus candidatos em viagens e gravações com Lula, antes mesmo de existirem as atuais alianças com Geraldo Alckmin. Em Pernambuco, o senador Armando Monteiro, candidato a governador por partido do Centrão, esteve à frente de comitiva de senadores que foram a Curitiba adular o cabo eleitoral. Ritmo em que permaneceram mesmo depois da coligação com Alckmin.

No Nordeste, quem não está com Lula está com Ciro Gomes (PDT), ou até um pouco com Jair Bolsonaro (PSL). Na Bahia, ACM Neto (DEM) desertou de candidatura pela força do PT no Estado, mas não acompanhou a aliança formal do seu partido, um dos principais do Centrão, com o PSDB. Desde o início vetava a coligação com Alckmin, verbalizando os problemas do candidato para crescer no Nordeste. Queria aliar-se a Ciro Gomes, e é com ele que vai trabalhar nesta campanha, embora não lhe possa dar tempo de TV e dinheiro do fundo partidário.

O mesmo deve acontecer com o DEM do Rio, onde Eduardo Paes, o candidato, já renegou Alckmin e disse que dará palanque também para Ciro Gomes. O DEM de Paes é o mesmo de Rodrigo Maia, em cuja sombra uniu-se o Centrão em negociação permanente para reconduzí-lo, na próxima Legislatura, à presidência da Câmara. Rodrigo e seu pai trabalharão para Ciro.

O DEM de Minas pende para Ciro Gomes, o PR de Josué Alencar deve trabalhar para o PT, e por ai vai a realidade das coligações brancas nos palanques que dividem o Nordeste e parte do Sudeste e Centro-Oeste entre Lula/Haddad, e Ciro Gomes.

Ciro ainda tem uma vantagem que o PT não tem: em Brasília, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), candidato á reeleição, o apoia, fará campanha aberta e jogou ás favas a neutralidade declarada por seu partido. Em São Paulo, o Solidariedade, outro expoente do Centrão, se engajará à campanha de Ciro. É um partido sindical e 90% dos sindicatos querem Ciro, de quem esperam desistência das reformas trabalhista, da previdência e tributária.

A candidatura Haddad, apoiada por Lula, é muito forte, embora seja também muito forte o palanque espontâneo de Ciro e sua presença no Nordeste. Essa é, porém, uma das chaves dessa eleição: Lula e seu candidato Haddad em disputa com Ciro Gomes.

A aparente terra arrasada na região não significa, entretanto, que Geraldo Alckmin deveria ter dado prioridade a uma estratégia eleitoral para o Nordeste, ou mesmo considerado a região de importância equivalente ao Sul.

O Nordeste já estava perdido. Não daria tempo de traçar um programa para conquistar tão vasto território.

Urgente mesmo era partir para o viável, a reconquista do que foi perdido para Jair Bolsonaro e Alvaro Dias (Podemos): Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e São Paulo.

Claro que haverá campanha de Alckmin no sertão nordestino, no Rio, em Minas, na Bahia, mas, neste momento, com menos sangue nos olhos, se é que o candidato do PSDB tem sangue nos olhos em algum momento ou circunstância. Sua virtude ressaltada é justamente a do equilíbrio.

Meticulosamente, então, o candidato traçou seu caminho eleitoral com a mesma paciência e discrição que escalou a montanha dos passos anteriores: tomou a presidência do PSDB, conseguiu ser efetivado candidato a presidente da República pelo PSDB, venceu a disputa interna com João Dória, conquistou o Centrão para sua aliança, acabou beneficiado pela maior parte do horário eleitoral gratuito. e, por último, a celebrada vice, senadora Ana Amélia, consolidando sua estratégia eleitoral: entrar no Sul, retomar o eleitorado feminino agastado com Jair Bolsonaro, reconquistar o espaço tomado pelo candidato do PSL no Paraná, Santa Catarina e São Paulo.

Ao escolher Ana Amélia, desmontou o palanque de Bolsonaro e de Álvaro Dias na região em que estava bastante vulnerável, mas recuperável, em lugar de partir para a região onde está vulnerável e demoraria meses a chegar pelo menos ao terceiro lugar.

Assim ficou clara a outra chave da disputa: Alckmin contra Bolsonaro. Os analistas consideram que não há lugar no segundo turno para dois c candidatos do mesmo campo. Ou Ciro ou Haddad; ou Alckmin ou Bolsonaro. Antes de pensar em Lula e no Nordeste, a realidade exigia de Alckmin pensar no Sul, em São Paulo, em Santa Catarina, no Paraná, em Bolsonaro, em Álvaro Dias, flancos que provocaram a redução do seu eleitorado.

As decisões de Alckmin foram eficientes e tornaram sua candidatura competitiva, reduzindo o risco, que ainda é grande, de ficar fora do segundo turno. Agora terá que apostar, para puxar o eleitorado de todas as regiões, no que vem falando desde o início: a propaganda eleitoral na TV, e essa o Centrão lhe deu.
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A recusa de Janaina Paschoal a ser candidata a vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL) foi mais uma renúncia. O candidato a presidente queria sua parceria, sobretudo para vencer a barreira erguida pelo voto feminino. Foi vetada, justamente, pelos que não queriam uma candidata mulher, moderada, e sobretudo civil. Sua substituição pelo general da reserva Hamilton Mourão foi um retrato do problema mas não acrescentou um voto a Bolsonaro. Apenas tornou mais duro o núcleo duro da sua candidatura.

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