sábado, 4 de agosto de 2018

Sem alarmismo: Editorial | Folha de S. Paulo

Falta de chuvas reacende sinal de alerta, mas, no pior cenário, nova crise só viria após 2019

Trouxe certa inquietude à população da região metropolitana de São Paulo a notícia de que o sistema Cantareira, seu principal reservatório de água, adentrou agosto em estado de alerta. Alerta, contudo, não traz ensejo para alarme.

A definição é técnica: quando o nível das represas cai abaixo de 40%, o sistema se enquadra na faixa 3 (dita de alerta).

Em condição normal, a faixa 1 (60% ou mais da capacidade de reservação), admitem-se 33 mil l/s. Na faixa 2 (40% a 60%), a produção máxima deve ficar em 31 mil l/s.

Entretanto a retirada do Cantareira está há mais de um ano abaixo do permitido, não ultrapassando 26 mil l/s. Em outras palavras, vem sendo administrado com boa margem de segurança.

Não deixa de suscitar preocupação, decerto, a forte estiagem que marcou o mês de julho, por trazer à memória dos moradores as agruras traumáticas da crise hídrica de 2014-15. Todavia, mesmo que se repita a seca incomum dos anos 2013 e 2014, o Cantareira ainda teria água suficiente para abastecer São Paulo por mais de um ano.

A projeção, apresentada em reportagem desta Folha, é bastante conservadora. Não leva em conta, por exemplo, a possibilidade de reativar recursos empregados na crise, como um racionamento de fato, por meio de redução de pressão na rede ou de bônus na conta d’água para quem reduz consumo e sobretaxa para quem se excede.

Há outros fatores positivos a tomar em conta, como a alteração de comportamento da população na Grande São Paulo. Seu consumo total recuou de 71 mil l/s, em 2014, para 62 mil l/s neste ano.

Além disso, a Sabesp agregou 88 bilhões de litros do sistema São Lourenço ao abastecimento e aumentou a interligação entre os reservatórios, conferindo maior flexibilidade à operação integrada.

Tudo somado, a segurança hídrica na região metropolitana é maior hoje —mas nem por isso deixa de merecer cuidados. Basta contemplar os gráficos para ver que, na maioria dos meses desde 2014, o Cantareira esteve abaixo do nível tido como normal e confortável.

Em tempos de mudança climática, não se pode mais contar com a pluviosidade média indicada nas séries históricas. Se o pior cenário calculado pela Folha se materializar e o Cantareira chegar à estação seca de 2020 no volume morto, estaremos de novo em apuros.

A Sabesp terá à mão arsenal maior de ferramentas para amenizar outra crise, mas não há por que esperar que esta se apresente.

Resta muito por fazer em matéria de prevenção, como seguir reduzindo as perdas de cerca de 30% que ainda se observam entre as represas e as torneiras.

Sobra espaço, também, para progredir em realismo tarifário, cobrando pela água conforme a escassez do recurso e os custos verdadeiros de sua obtenção.

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