sábado, 8 de setembro de 2018

Após ataque, candidatos adotam tom conciliador

Ataque a Bolsonaro freia agressões na campanha

Disputa presidencial retorna com apelo ao diálogo, conciliação e repúdio à violência; episódio será abordado pelos candidatos no horário eleitoral no rádio e na TV

Gilberto Amendola, Adriana Ferraz, Marianna Holanda, Pedro Venceslau e Ricardo Galhardo | O Estado de S.Paulo

O efeito imediato do atentado contra o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, foi frear o clima beligerante que marcava a disputa pelo Palácio do Planalto nas eleições 2018. A campanha presidencial volta às ruas neste sábado, 8, – dois dias após Bolsonaro (PSL) ser esfaqueado durante um ato em Juiz de Fora (MG) – com um novo foco: o apelo ao diálogo e o repúdio à violência. O ataque será abordado pelos presidenciáveis com tom de conciliação em novos programas de TV e rádio, gravados às pressas sob orientação dos marqueteiros. Agendas públicas preveem carreatas e uma caminhada pela paz.

Se em outras eleições a tensão entre os candidatos ia subindo, gradativamente, com a aproximação das semanas decisivas, nesta campanha mais curta e em meio a um cenário político acirrado a fase de ataques já estava em curso. Bolsonaro, que se notabilizou por um discurso antipetista, era alvo constante de adversários. Agora, a ordem geral é evitar qualquer tipo de crítica mais pesada à biografia do candidato do PSL.

A cúpula da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) se reuniu nesta sexta-feira, 7, e decidiu gravar um programa quase todo dedicado ao atentado em Juiz de Fora e com a mensagem de união e pacificação do País. Haverá falas de Alckmin e da candidata a vice, Ana Amélia (PP). Até a agressão, o tucano era o que mantinha a linha mais agressiva contra Bolsonaro na TV e no rádio, com comerciais que citavam seu histórico agressivo, especialmente contra mulheres. Os ataques foram suspensos, ao menos temporariamente.

Pesquisas qualitativas definirão o rumo dos comerciais veiculados pela campanha de Alckmin a partir da semana que vem. Por ora, o plano prevê uma fase mais propositiva.

A campanha de Marina Silva (Rede) agendou para o início da tarde de hoje uma “caminhada pela paz” na rua mais popular de São Paulo, a 25 de Março.

Alvaro Dias, do Podemos, também mudou o planejamento. Ele regravou o programa eleitoral que será veiculado hoje. A agressão a Bolsonaro vai tirar Dias do seu discurso principal, de exaltar a Operação Lava Jato. “Interrompo hoje a campanha no rádio e na TV por causa do atentado contra Bolsonaro, espero que ele se recupere logo. Eu sempre soube que não é na faca e na bala que vamos resolver os problemas”, diz o candidato do Podemos no programa.

“Minha vida inteira foi de combate contra a corrupção, as mordomias e os vagabundos, mas indignação e raiva são coisas bem diferentes. Com ódio ninguém constrói nada.”

Ciro Gomes, do PDT, programou caminhadas em seu reduto eleitoral. Ciro, que também suspendeu críticas mais duras a Bolsonaro, estará em Juazeiro do Norte, no Ceará.

Até quinta-feira, o tom belicoso era uma arma eleitoral adotada sem constrangimento por parte dos candidatos.

A avaliação é de que a campanha mais curta e a percepção de que o eleitor estaria seduzido por uma postura “mais extremada e radical” potencializavam o ambiente eleitoral agressivo.

“Na política, não temos direito de passar com paletó limpo”, afirmou Ciro Gomes durante a sabatina Estadão-Faap, na terça-feira passada, quando questionado sobre seu temperamento intempestivo.
Dois dias depois, horas antes do atentado contra Bolsonaro em Minas, Alckmin – também na sabatina Estadão-Faap – foi questionado sobre a estratégia de sua campanha de usar metade do seu tempo TV com uma campanha negativa contra o candidato do PSL. “Campanha política é para pôr o dedo na ferida. É para isso que tem campanha”, respondeu o tucano.

Nos últimos dias, Bolsonaro, por exemplo, falou em “fuzilar a petralhada” e mandá-la para a Venezuela, em evento no Acre. O clima de campanha está tão fora do tom costumeiro que o próprio presidente da República, Michel Temer, gravou vídeos atacando Alckmin e o petista Fernando Haddad, provável substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato, como candidato do partido à Presidência.

Hegemonia. Para o cientista político Vitor Oliveira, a quebra de hegemonia entre PT e PSDB é um dos fatores desse acirramento. “Esse ano a campanha é curta. E já estamos na metade dela. Além disso, houve uma quebra de hegemonia das duas forças mais relevantes nos últimos anos. Tudo isso somado acirrou a disputa, abriu espaço para competição. Mais competição, mais calor, mais ataques e tentativas de desconstrução. Nós temos exemplos em eleições passadas de que bater funciona.

Carlos Manhanelli, especialista em marketing político, avaliou que a eleição “está contaminada pelas redes sociais”.

O cientista político Rodrigo Prando (Mackenzie) vê nesta campanha resquícios de 2014. “Ainda é uma herança da disputa entre ‘nós ou eles’ ou ‘coxinhas contra mortadelas’ e outras divisões criadas pelos próprios partidos”, disse. “Se o candidato evita esse embate mais duro, pode ser taxado de covarde – o que seria a morte eleitoral. O brasileiro gosta desse elemento virulento.”

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