terça-feira, 18 de setembro de 2018

Joel Pinheiro da Fonseca: O dilema real

- Folha de S. Paulo

Líder no 1º turno, Bolsonaro é o adversário mais fácil para se derrotar

A 19 dias das eleições, Bolsonaro segue numa confortável primeira colocação em todas as pesquisas. É o triunfo de uma direita que por muito tempo não tinha voz, que mesmo hoje costuma ser ridicularizada pelo establishment midiático e intelectual e que está francamente revoltada contra todo o sistema, da imprensa ao Congresso Nacional. Agora ela se faz ouvir.

Jair Bolsonaro não chegou lá à toa. Ele apresenta respostas a preocupações urgentes da população (se essas respostas são eficazes para resolver os problemas é outra história).

Em primeiro lugar, coloca a segurança pública no centro do debate e diz sem rodeios: para enfrentar o crime não basta amor, é preciso força.

O brasileiro está inseguro quanto ao amanhã, perdeu ou teme perder seu emprego, não sabe se seus filhos voltarão vivos para casa. A televisão e os jornais, alheios a tudo isso, empurram uma agenda agressiva de mudança de valores ao mesmo tempo em que hostilizam qualquer um que não se paute por sua régua. Para o caos em que o Brasil está afundado, em Brasília, nas ruas e nos lares, Bolsonaro é a promessa de que é possível impor ordem por meio da violência. A direita —que nunca esteve plenamente em casa no PSDB— agora tem um candidato para chamar de seu.

No entanto, quem está rindo à toa com o cenário eleitoral atual é justamente a esquerda. O líder isolado no primeiro turno é o adversário mais fácil para se derrotar no segundo. Seja Fernando Haddad ou Ciro Gomes, quem enfrentar Bolsonaro no segundo turno provavelmente vence. Sendo assim, um voto para Bolsonaro no primeiro turno auxilia os planos da esquerda de chegar à Presidência da República. Tenho certeza de que essa não é a intenção do eleitorado do capitão. É, contudo, sua consequência previsível.

Nossa eleição se assemelha à eleição francesa em 2017. A direitista Marine Le Pen surpreendeu com seu resultado excelente no primeiro turno. No segundo turno, contudo, foi esmagada pelo centrista Emmanuel Macron. Para o caso brasileiro, a grande diferença é que em vez de um centrista razoável, temos populistas de esquerda, mas que ainda assim conversam melhor com o centro do espectro político do que Bolsonaro, que conta com a rejeição mais alta.

Isso não escapa à estratégia do PT. Bolsonaro é o adversário dos sonhos de Haddad ou de Ciro no segundo turno, e por isso nenhum dos dois usará carga pesada contra ele agora. Pelo contrário: é útil tê-lo como bicho-papão para manter o eleitorado vivo. Sabem que nomes mais centrais como Marina Silva e Geraldo Alckmin são muito mais perigosos para suas pretensões no segundo turno. No clima polarizado em que vivemos, contudo, eles têm dificuldade para subir (ou, no caso de Marina, manter-se no topo).

Bolsonaro tem votos suficientes para levar no primeiro turno? Até agora, tudo indica que não. E, uma vez no segundo turno, mesmo que ele tenha 30% dos votos isso ainda será pouco para vencer. Dos que não votaram nele no primeiro turno, a imensa maioria votará contra ele no segundo. Por isso, na falta de um ganho substancial de intenção de votos nas próximas pesquisas, seus eleitores terão de se confrontar com o duro dilema do voto útil: ou abre mão de Bolsonaro ou entrega a Presidência de mão beijada para a esquerda.

Claro, é sempre possível tapar os ouvidos e jurar que as pesquisas estão mentindo, mas isso não altera o avanço implacável do calendário. Temos 19 dias para decidir e não vale chorar depois.

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