quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Líderes: alta rejeição e baixo patamar de votos

Bolsonaro e Haddad têm a maior rejeição desde 1994 e o menor patamar de votos de líderes em pesquisas desde 2002.


A ELEIÇÃO DOS REJEITADOS

Aversão aos líderes é a mais alta desde 94

Marco Grillo, Miguel Caballero e Daniel Biasetto | O Globo

A análise da série histórica das pesquisas de intenção de voto revela uma situação incomum na eleição presidencial deste ano: o recorde das taxas de rejeição dos candidatos mais bem colocados. Uma pesquisa feita pelo GLOBO nos levantamentos do Ibope entre 2002 e 2014 mostra que o patamar do líder, faltando duas semanas para o primeiro turno, costuma oscilar na faixa entre 20% e 30%.

A sondagem divulgada anteontem pelo Ibope mostra que Jair Bolsonaro (PSL), que está em primeiro lugar com 28% das intenções, é rejeitado por 46% dos eleitores. Já o candidato em segundo lugar, em média, é rejeitado por 23% dos eleitores neste período da campanha eleitoral. Fernando Haddad (PT) chegou a 30%, mas teve exposição menor ao eleitorado, já que só foi oficializado candidato há duas semanas.

Nas entrevistas que medem as intenções de voto, os pesquisadores também perguntam em quais candidatos os eleitores não votariam “de jeito nenhum”. Os entrevistados podem responder mais de um nome.

Para a diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari, a campanha de “desconstrução” que tem sido direcionada a Bolsonaro é um dos fatores que explicam a rejeição recorde do candidato:

— É um conjunto de coisas, não dá para isolar um efeito. Mas tem a campanha de desconstrução, que provoca um efeito na rejeição das mulheres. E teve a confusão da CPMF, que atinge os setores de maior renda.

Em 2002, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderava a disputa no fim de setembro e tinha a rejeição de 26%. O índice de seu principal adversário à época, José Serra (PSDB), era de 29%.

Quatro anos depois, quando foi reeleito, a rejeição de Lula subiu e chegou a 30%, em função de desgastes como o do mensalão e do escândalo dos aloprados. Geraldo Alckmin (PSDB) era rejeitado por 20% do eleitorado.

Em 2010, Dilma Rousseff (PT) já estava à frente e tinha um índice de rejeição baixo para alguém na liderança: 21%. Serra, que tentava mais uma vez chegar à Presidência, ocupava o segundo lugar das intenções de voto e marcava 27% de rejeição.

ÍNDICES ALTOS NO NORDESTE
Já em 2014, Dilma viveu um desgaste semelhante ao de Lula e também viu a rejeição crescer, chegando a 31%. Quatro anos atrás, a duas semanas da eleição, quem estava na segunda posição era Marina Silva, que perderia a vaga no segundo turno para Aécio Neves (PSDB). Marina tinha 17% de rejeição.

Para os números referentes a 1994, os dados disponíveis são do Datafolha. No fim de setembro daquele ano, Fernando Henrique (PSDB), que liderava a disputa e venceria a eleição no primeiro turno, registrava 17% de rejeição. Lula, então o segundo colocado, era preterido por 40% dos eleitores. Não foram encontrados dados referentes a 1998 nos dois principais institutos.

Na eleição presidencial deste ano, as rejeições a Haddad e a Bolsonaro têm crescido conforme o andamento da campanha eleitoral e o aumento da exposição deles ao eleitorado. No recorte por segmento, a maior aversão ao capitão da reserva está localizada justamente nos estratos do eleitorado que demonstravam mais apoio a Lula e que estão se movimentando em direção a Haddad.

No Nordeste, a rejeição a Bolsonaro é de 60%; na faixa dos que têm renda familiar média mensal de até um salário mínimo, 57%; entre as mulheres, 54%. O aumento foi de quatro pontos percentuais na comparação com a pesquisa anterior nos três recortes citados. A maior elevação, no entanto, aconteceu em um grupo que não tem peso eleitoral significativo, mas que é majoritariamente a favor de Bolsonaro: os eleitores com curso superior.

A reprovação ao deputado era de 36% e foi a 47%, salto de 11 pontos. Ele, no entanto, permanece na frente neste segmento: 33% contra 16% de Haddad. Entre os que ganham mais de cinco salários mínimos, o aumento foi de seis pontos (33% para 39%).

Em oposição, o petista enfrenta mais rejeição em setores pró-Bolsonaro: 50% na faixa com renda familiar média mensal acima de cinco salários mínimos e 46% entre os eleitores com curso superior. Os maiores crescimentos na rejeição a Haddad aconteceram nas regiões Norte e Centro-Oeste (quatro pontos, de 29% a 33%) e no segmento que tem entre 45 e 54 anos (cinco pontos, passando de 27% para 32%).

Para Márcia Cavallari, como Haddad ainda é menos conhecido, na comparação com outros candidatos, poderá haver variação na taxa:

— Conforme o candidato se expõe e a imagem vai sendo construída, a rejeição pode variar, para cima ou para baixo. Depende ainda de fatores da campanha: se houver um trabalho de desconstrução eficiente, o número também pode mudar.

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