quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Para evitar uma crise institucional nas eleições: Editorial | O Globo

Crítica perigosa de Bolsonaro à urna eletrônica, agressividade e o não debate degradam a campanha

Candidatos e partidos têm de preservar legitimidade da campanha e da votação. A campanha recebeu um impacto forte, por óbvio, com o atentado contra Jair Bolsonaro, um momento crítico da política nacional desde a redemocratização formalizada na Carta de 1988. O ataque ao menos gerou um armistício, mas não duradouro.

O próprio Bolsonaro, em vídeo emotivo, produzido com ele no leito do Einstein, em São Paulo, tratou de pregar contra a urna eletrônica. Qual a intenção?

Toffoli lhe respondeu de forma adequada: o sistema está aberto a qualquer auditoria de partidos e entidades. Poderia ter acrescentado que nunca se provou qualquer falha nas urnas. Durante 22 anos, completou depois a presidente do TSE, ministra Rosa Weber.

A intenção parece óbvia: se perder, denunciará fraude, o que jogará as eleições numa crise de legitimidade. Bolsonaro segue a mesma cartilha de radicalização adotada há tempos pelo PT, segundo a qual o impeachment bem fundamentado de Dilma foi “golpe” e eleição sem Lula seria “fraude”. Até que os petistas, sem opção, se curvaram à lei, mas criaram o fantoche Fernando Haddad, que aparece na propaganda eleitoral com a trilha sonora da voz de Lula. Se Haddad ganhar, quem governará? Um presidiário? A reverência é tanta que o candidato preposto iniciou a entrevista ao “JN” dando boa noite ao presidiário, que o assistia por certo. Patético.

Além de tudo, há o general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, com suas teses, aí sim, golpistas. Como a do “autogolpe” e da Constituinte sem votos. Defende, ainda, ideias discriminatórias, contra negros e índios, em oposição à miscigenação da população brasileira, ponto forte da nação.

Na rua, Ciro Gomes não falhou: em Boa Vista, Roraima, xingou alguém e o acusou de ser um militante da campanha de Romero Jucá (MDB), pedindo que o prendessem, sem ter poderes para tal. Pode parecer fortuito, apesar do histórico de explosões do candidato, mas engrossa o clima de tensão que começa a voltar a crescer.

Enquanto isso, o tempo passa, faltam poucos dias para o primeiro turno, e ninguém trata do que importa. Ciro, em entrevista ao “Jornal da Globo”, deu detalhes sobre sua proposta de mudança do sistema previdenciário de repartição para capitalização. Segundo ele, custaria ao Tesouro R$ 500 bilhões, por meio da emissão de títulos (dívida, portanto), a serem resgatados à medida que os segurados, donos dos papéis, ou quem os comprar deles, começarem a descontá-los no emissor. É viável, num país com a dívida já muito elevada ? Tem de se discutir a fundo, e o tempo é curto. Outra questão: como o PT vai enfrentar a crise fiscal que Lula e Dilma causaram? Responder “pelo crescimento” é balela. Enfim, não faltam perguntas e escasseiam respostas.

Ainda há tempo para colocar a campanha no prumo e evitar que descambe para um crise institucional, com denúncias de fraude. Depende dos candidatos e partidos, que precisam se entender e discutir o que importa.

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