sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Para preservar campanha, Bolsonaro silencia seu vice

Candidato do PSL foi aconselhado a desautorizar publicamente declaração de Mourão sobre 13º salário

As declarações do general Hamilton Mourão (PRTB), candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), com críticas ao pagamento de 13.º salário e de adicional de férias aos trabalhadores, causaram uma crise na campanha. Bolsonaro usou o Twitter para rifar o vice: “Além de uma ofensa à (sic) quem trabalha”, a crítica aos direitos trabalhistas é de alguém que “confessa desconhecer a Constituição”. Bolsonaro determinou o cancelamento de agendas públicas de Mourão até a eleição. No entorno de Bolsonaro, a conclusão foi de que a prioridade era estancar uma crise com potencial de custar a liderança nas pesquisas. Mourão negou que tenha defendido o fim do 13.º. O general perdeu apoio entre militares, informa a Coluna do Estadão. Na alta cúpula, cogitou-se até em pedir que ele renuncie à vice.

Mourão critica 13º salário e Bolsonaro impõe silêncio

Leonencio Nossa, Constança Rezende, Tânia Monteiro, Fernando Nakagawa e Filipe Strazzer | O Estado de S. Paulo

A declaração do general Hamilton Mourão, vice na chapa de Jair Bolsonaro, sobre o 13.º salário e o pagamento de adicional de férias no País, causou uma crise na campanha do candidato do PSL. Anteontem, em palestra na Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, Mourão criticou os benefícios previstos na lei trabalhista, que foram classificados por ele como “jabuticabas” – ou seja, só ocorrem no Brasil.

Filiado ao PRTB (legenda que se coligou com o PSL), o candidato a vice de Bolsonaro coleciona declarações polêmicas na disputa presidencial. Após a divulgação do vídeo, Bolsonaro, líder nas pesquisas de intenção de voto, usou o Twitter para contestar o próprio vice afirmando que criticar o 13.º salário, “além de uma ofensa à (sic) quem trabalha”, é de alguém que “confessa desconhecer a Constituição”.

Além da resposta dura do candidato, a campanha de Bolsonaro determinou o cancelamento de todas as agendas públicas de Mourão até o dia da votação do primeiro turno. A declaração serviu de munição para os adversários. Na noite de ontem, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, explorou o tema no horário eleitoral na TV, fazendo ainda uma associação com os atos anti-Bolsonaro de mulheres previstos para amanhã: “Campanha de Bolsonaro quer acabar com o 13º. Prepare seu bolso. Ele Não, 13º sim”.

“Esses caras estão com a cabeça no século 19. Abolimos a escravidão e eles não acordaram para isso ainda”, disse o candidato petista Fernando Haddad, em Porto Alegre.

Assessores relataram que o candidato do PSL chegou ao limite de sua paciência com o companheiro de chapa. Internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde se recupera da facada que levou em Juiz de Fora (MG), no dia 6, Bolsonaro fez questão de mandar para o próprio Mourão o texto que publicaria no Twitter ressaltando que o general ofendeu trabalhadores e demonstrou desconhecer a Constituição. “Siga em frente, Bolsonaro”, respondeu o vice, resignado, por mensagem pelo WhatsApp.

Impacto. No entorno de Bolsonaro a conclusão foi de que a prioridade era estancar uma crise com potencial de tirar, na reta final do primeiro turno, a liderança nas pesquisas. Para assessores, não havia sentido em poupar o vice da chapa e deixar a campanha naufragar. Segundo assessores, o impacto da declaração de Mourão no núcleo da campanha foi mais forte que o anúncio do economista Paulo Guedes, conselheiro de Bolsonaro, de criar dois impostos nos moldes da extinta CPMF, na semana passada.

Durante a tarde, até generais próximos de Mourão chegaram a defender em grupos de WhatsApp a possibilidade da retirada do vice da chapa, tamanha a irritação. Bolsonaro acertou com seu vice um encontro assim que ele deixar o hospital. A bronca pública foi fruto de uma máxima conhecida entre a cúpula do PSL de que ninguém deve se meter em conflitos entre o presidenciável e seu vice.

Na palestra no Sul, Mourão tratou dos benefícios trabalhistas ao falar sobre “umas jabuticabas” que “são uma mochila nas costas de todo empresário”. “Jabuticabas brasileiras: 13º salário. Como a gente arrecada 12 (meses) e pagamos 13? O Brasil é o único lugar onde a pessoa entra em férias e ganha mais”, completou. “São coisas nossas, a legislação que está aí. A visão dita social com o chapéu dos outros e não do governo.”

Mourão nunca foi a primeira opção de Bolsonaro para a vice. Em julho, quando o então pré-candidato à Presidência buscava um parceiro de chapa, o general da reserva era considerado apenas um entre vários jogadores que estavam no “banco” como opção para a vaga. Antes de optar por Mourão, Bolsonaro tentou o senador Magno Malta (PR-ES), o general da reserva Augusto Heleno Ribeiro (PRP) e a professora Janaína Paschoal (PSL). Heleno, a figura que Bolsonaro tem mais apreço no setor militar, estava filiado ao partido de Antony Garotinho, o que dificultou a escolha de seu nome.

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