quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Proposta de imposto provoca confusão na campanha de Bolsonaro

Paulo Guedes é cobrado pelo candidato, que nega criação de ‘nova CPMF’ e fala em baixar carga tributária

O candidato Jair Bolsonaro (PSL) recorreu duas vezes às redes sociais ontem para negar que, se eleito, criaria uma “nova CPMF”. A proposta de um imposto sobre movimentações financeiras, ainda não aprovada pelo candidato, foi mencionada por seu escolhido para ministro da Fazenda em um eventual governo, o economista Paulo Guedes, a investidores em São Paulo. Guedes, que recebeu telefonema de Bolsonaro cobrando explicações, disse ao GLOBO que o imposto em estudo substituiria de quatro a seis tributos federais existentes. “Não é a CPMF. Seria um imposto único’’, afirmou Guedes. Bolsonaro disse que seu objetivo é reduzir a carga tributária. Os adversários pretendem explorar o tema em seus próximos programas na TV.

A CONFUSÃO DO NOVO IMPOSTO

Criação de tributo expõe divergências entre Bolsonaro e seu guru econômico

Eduardo Bresciani, Marcello Corrêa, Gustavo Schmitt, Silvia Amorim, Luís Lima e Sérgio Roxo | O Globo

BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO - A proposta de criar um imposto sobre movimentações financeiras, revelada pelo economista Paulo Guedes a um grupo de investidores, gerou confusão na campanha presidencial de Jair Bolsonaro (PSL), cujo discurso é o de redução da carga tributária. O candidato, que continua internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, se recuperando do atentado sofrido há duas semanas, ligou logo pela manhã para cobrar explicações do seu principal assessor econômico e teve que ir duas vezes às redes sociais afirmar que descarta o aumento de impostos. Os adversários de Bolsonaro aproveitaram o episódio para atacar o líder nas pesquisas de intenção de voto, e pretendem explorar o tema nos próximos programas eleitorais.

Apontado como ministro da Fazenda em caso de vitória de Bolsonaro, Guedes falou sobre a criação de um imposto sobre movimentações financeiras, comparado pelos adversários à extinta CPMF, para um grupo de investidores, como revelou a “Folha de S.Paulo”. Referência do plano econômico de Bolsonaro, que o chama de “Posto Ipiranga” para questões da área, Guedes também precisou se explicar para tentar baixar a poeira de sua declaração.

Bolsonaro não tinha sido consultado sobre o plano e reclamou com Guedes, por telefone, que a forma como o assunto chegou à imprensa obrigava a campanha a esclarecer detalhadamente como seria eventual implementação.

Antes mesmo de Guedes se explicar, Bolsonaro afirmou em rede social: “Nossa equipe econômica trabalha para redução da carga tributária, desburocratização e desregulamentações. Chega de impostos é o nosso lema! Somos e faremos diferente. Esse é o Brasil que queremos!”. À noite, o candidato do PSL voltou a tuitar: “Ignorem essas notícias mal intencionadas dizendo que pretendemos recriar a CPMF. Querem criar pânico pois estão em pânico com nossa chance de vitória. Ninguém aguenta mais impostos, temos consciência disso”.

GUEDES: “NÃO É A CPMF”
Em Bauru, no interior de São Paulo, o candidato a vice na chapa de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, afirmou que “criar imposto é dar um tiro no pé”, acrescentando que “isso deve ser decidido entre o candidato e o economista”.

Em entrevista ao GLOBO, Guedes tratou a tributação sobre movimentações financeiras como uma alternativa em estudo para substituir entre quatro a seis tributos. Afirmou ainda que a proposta concorre com a ideia de criar um imposto sobre valor agregado (IVA), em análise por outros candidatos.

—Não é a CPMF. A primeira diferença é que a CPMF é um imposto a mais. (A nossa proposta) seria um imposto único. Não é aumento de imposto de jeito nenhum, é uma simplificação (tributária) brutal — afirmou o economista ao GLOBO. — Estamos examinando pegar quatro, cinco, seis impostos e criar um imposto único federal. Não faz o menor sentido aumentar impostos, criar uma CPMF. Não foi isso que foi falado. A pessoa que passou a informação lá deve ter sido eleitor do PT, do Alckmin, ou coisa assim.

A surpresa com a proposta não foi apenas do presidenciável. Na mesma terça-feira em que debateu o tributo com investidores, Guedes se reuniu com os principais integrantes da campanha e nada falou sobre o tema. O presidente do PSL de São Paulo, deputado Major Olímpio, foi um deles.

— Ele disse que estava fazendo uma fala com um grupo de pessoas, e que a informação vazou por alguém que não entendeu a proposta. Ele me disse que deixou claro que há vários planos, além de ter ressaltado que a decisão será do Bolsonaro. Falou ainda que todas as propostas são para diminuir tributos —disse Olímpio.

Outro integrante do núcleo duro da campanha, o general da reserva Augusto Heleno foi no mesmo tom:

—Ele (Guedes) tem muita cancha e resolveu falar isso em tuíte logo pela manhã para desmentir Paulo Guedes principal assessor econômico de Bolsonaro REUTERS numa palestra restrita. Mas hoje tudo vaza, e a repercussão não foi boa. Não é nada que não seja explicável e nesse formato de substituição é até saudável. Mas claro que as coisas não vão acontecer em toque de mágica. São etapas que vão ter que ser vencidas, não se faz isso com varinha de condão.

Geraldo Alckmin (PSDB) explorou o noticiário sobre a proposta do economista da campanha do PSL.

— Quem fala em nome do Bolsonaro, o Paulo Guedes, quer recriar a CPMF. Vão fazer mais imposto para passar a conta para o povo. Nós somos contra mais impostos —disse o tucano.

Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT) focaram suas críticas na proposta de Guedes de unificação da tarifa de imposto de renda para pessoa física. Segundo o economista disse ao GLOBO, esta alíquota poderá variar de 15% a 20%.

—É um pequeno desastre. Um desastre porque vai fazer pobre, que já paga mais imposto que o rico, pagar ainda mais —disse Haddad.

Ciro, por sua vez, afirmou que todo mundo “sério” cobra imposto de forma progressiva, ou seja, menos de quem pode pagar menos e mais de quem pode pagar mais:

— O que o posto Ipiranga do Bolsonaro está propondo é o inverso: propõe pegar as pessoas que pagam hoje 7,5% ou 10% de IR e passar a pagar 20%.

Em sabatina da “Veja”, a candidata da Rede, Marina Silva, condenou a criação de uma nova CPMF.

— Eu sou contra recriar a CPMF, e nós temos uma proposta de Reforma Tributária.

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