terça-feira, 11 de setembro de 2018

Raymundo Costa: Todos na caça aos votos de Lula

- Valor Econômico

Haddad tem 27 dias para repetir feito de mais de ano de Dilma

Está aberta a temporada de caça aos votos de Lula, algo em torno de 40% do eleitorado, segundo as últimas pesquisas feitas com o nome do ex-presidente como o candidato do PT. Em princípio, a maior parte do espólio deveria ir para Fernando Haddad, candidato a vice-presidente na chapa e o nome sagrado por Lula para substituí-lo. A demora na troca, no entanto, pode comprometer a estratégia lulista.

A quatro semanas da eleição, o tempo é curto para a transferência expressiva de votos. As pesquisas registram uma diluição dos votos de Lula entre os candidatos. Antes do atentado a Jair Bolsonaro (PSL), o Ibope havia testado o nome de Haddad em todos os Estados. Seu melhor desempenho é no Piauí, onde Lula liderava com 65% e Haddad ficava com 6%, quando o nome do padrinho é retirado das pesquisas.

"O tempo é curto para massificar Haddad a ponto de herdar a principal parte do patrimônio eleitoral de Lula", diz o jornalista Weiller Diniz, vice-presidente da Máquina Cohn & Wolfe, responsável por um detalhado estudo que relaciona as intenções de voto em Lula e Haddad nas 27 unidades da federação. O trabalho do PT não será pequeno.

A comparação possível é com Dilma Rousseff, em 2010, que virou candidata sem nunca ter disputado sequer uma eleição e ganhou a disputa contra o PSDB. Mas as diferenças são significativas. Primeiro, Lula começou a trabalhar o nome de sua então chefe da Casa Civil um ano antes da eleição - uma pesquisa do Ibope de setembro de 2009 já mostrava Dilma com 14% das intenções de voto. A poucos dias da eleição, Haddad tem um dígito.

A série de pesquisas do Datafolha no ano da eleição de 2010 mostrava que Dilma em abril já estava com 28% do eleitorado. Era o ano do crescimento econômico de 7% e Lula caminhava para um recorde de popularidade nunca visto antes de um presidente. Em julho Dilma estava empatada tecnicamente com Serra, em agosto assumiu a liderança da disputa, pela primeira vez, e no início da segunda semana de setembro - e campo realizado mais ou menos à esta altura - disparou à frente do PSDB, com 51% das intenções de voto contra 27% de José Serra.


Haddad deve ser confirmado hoje, se o STF mantiver o entendimento de que a substituição deve ser imediata e não até 17 de setembro como queria Lula mais que o PT. A 27 dias da eleição. Menos de um mês. Com Lula na prisão e a popularidade corroída, embora não tenha deixado de ser o maior líder popular da história desde Getúlio Vargas. O PT também é o partido com a preferência de 24% do eleitorado, muito acima dos os demais partidos, todos na casa de um dígito.

A velocidade da transferência de votos "vai depender da eficiência da TV e também dos efeitos do atentado a [Jair] Bolsonaro" afirma Diniz. A pesquisa da Máquina Cohn & Wolfe sobre o desempenho comparado de Lula e Haddad nos Estados e Distrito Federal não é animadora para o PT. O melhor desempenho de Haddad, como já se disse, é no Piauí, onde tem só 10% das intenções de voto de Lula.

Em São Paulo e na Bahia, que abrigam o primeiro e quarto maiores colégios eleitorais do país, Haddad chega a 5% das intenções de voto nas pesquisas feitas antes da impugnação definitiva de Lula e do atentado a Bolsonaro. Haddad saiu praticamente escorraçado da Prefeitura de São Paulo, na eleição de 2016, mas a Bahia tem sido, junto com Pernambuco, um fiel curral eleitoral de Lula. O virtual candidato do PT tem 4% em Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Maranhão, outro reduto lulista.

Ao dissecar as pesquisas eleitorais nos Estados, Diniz não encontrou "até aqui uma relação direta entre as altas intenções de voto de Lula e o desempenho de Fernando Haddad". No Amazonas, por exemplo, onde Lula lidera, Haddad ocupa a lanterna com apenas 1% das intenções de voto. O ex-prefeito de São Paulo perde até do Cabo Daciolo (Patriota) e dos candidatos Henrique Meirelles (MDB) e Vera Lucia, do PSTU.

Merece destaque a explosão dos votos em branco, nulos e não sabe/não respondeu quando Lula não está entre os candidatos. Em todos os Estados os percentuais mudam significativamente. Em algumas unidades da federação, o não voto supera os 50%, como é o caso do Rio Grande do Norte: quando Lula é apresentado na lista, o percentual de não votos é de 17%. Quando o nome do petista é substituído por Fernando Haddad, 51% entram para a categoria do não voto.

"O RN é um dos exemplos extremos, mas o fenômeno também se repete com intensidade em outros Estados da região Nordeste", afirma Diniz. Na Paraíba salta dos 14% para 40% de votos brancos, nulos, não sabem ou não responderam. No Maranhão os índices são quadruplicados saindo de 9% para 37% de não votos. Em Pernambuco o não voto mais que triplica - vai de 13 para 44%. No Piauí o salto é de 10% para 35% que optam por não escolher ninguém sem Lula na pesquisa.

O mesmo fenômeno é observado nas demais regiões do país, mas em escala menor. No Tocantins o não voto dobra de 14% para 30% com Lula substituído por Haddad. No Rio Grande do Sul, território hoje dominado por Bolsonaro, vai de 25% para 36%. No Rio de Janeiro e Minas Gerais, Estados em que o PT venceu as últimas eleições presidenciais, os índices saltam de algo em torno dos 25% para 39%. A menor oscilação é em São Paulo, onde os não votos vão de 21% com Lula para 29% com Haddad. Com a saída de Lula, apenas 4 estados teriam modalidade de não votos abaixo de um quarto dos eleitores - Ceará, Amapá, Pará e Acre.

Os não votantes passam de 28,1 milhões para 49,5 milhões de eleitores quando Lula sai do cenário. Esse é o território de caça especialmente de Haddad, mas também de Ciro Gomes (PDT) Marina Silva (Rede Sustentabilidade), Geraldo Alckmin (PSDB) e até de Bolsonaro. Embora tenha apresentado declínio em pesquisas mais recentes, o não voto preocupa pois pode levar à eleição de um presidente minoritário - é o que acontecerá se 49,5 milhões de pessoas não votarem e os 100 milhões restantes forem distribuídos na proporção das pesquisas atuais.

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