domingo, 9 de setembro de 2018

Vinicius Torres Freire: O sangue na eleição, após a facada

- Folha de S. Paulo

Candidatos vão falar em paz por um tempo; depois, decidem se atacam

Os candidatos ora mais relevantes vão passar a próxima semana a falar de pacificação do país, a condenar o ódio político; Jair Bolsonaro será deixado em paz. Por enquanto.

Sim, por enquanto. Cogita-se que a onda de comoção talvez tenha alcance mais restrito do que se supunha nas primeiras especulações. É o que está na cabeça de gente que faz campanha com o coração no freezer.

Essa deve ser a estratégia das turmas de Marina Silva (Rede), no seu caso uma ênfase maior na paz, de Ciro Gomes (PDT) e de Geraldo Alckmin (PSDB).

Mesmo os bolsonaristas têm uma ala mais apaziguadora, comandada pelo coordenador da campanha, Onyx Lorenzoni, e pelo próprio general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, que serenou um tanto no dia seguinte ao atentado.

Comandada é modo de dizer. Outros bolsonaristas de proa e seus seguidores fazem campanha furibunda contra "comunistas", "marxistas" e mesmo "petistas", acusados de um modo ou outro pelo que aconteceu a Bolsonaro.

Não foi possível descobrir o que fará o PT, se por mais não fosse porque o partido não encontra nem paz interna, pois ainda há tentativas de sabotar Fernando Haddad poucos dias antes do provável lançamento de sua candidatura.

Gente da cúpula das candidaturas mais relevantes faz análises muito parecidas sobre o rumo da política eleitoral nos próximos dias.

Primeiro, esses analistas observam que as publicações em redes sociais a respeito do atentado ora não indicam onda de comoção que poderia carrear muito mais apoio para Bolsonaro, sinal captado também em entrevistas com eleitores. Como a candidatura do capitão causa divisões extremadas no eleitorado, pouco da solidariedade considerável que recebe viria a se traduzir em mais votos. É uma análise preliminar.

Segundo, dizem que Lula sai do centro das atenções, em especial por causa do interesse pelo destino de Bolsonaro. O ex-presidente teria também perdido o "monopólio do papel de vítima". O tumulto do atentado tornaria ainda mais difícil e menos visível o arrastado lançamento de Haddad.

Além do mais, adversários dos petistas dizem ter captado nas "qualitativas" um problema de imagem do ex-prefeito de São Paulo, um lugar-comum que tem fundo de verdade, uma confirmação de clichês. Parte do eleitorado não entenderia quem é Haddad, de onde veio, o que fala. O ainda vice teria ficado um pouco com a imagem de "pau mandado" de Lula.

O que fazer com o PT, tido como um adversário duro na disputa de vaga no segundo turno? Depende, para começar, do Datafolha a ser divulgado no início desta semana. Seria a primeira pesquisa a mostrar claramente o efeito do início do horário eleitoral, imagem no entanto nublada pelo atentado à vida de Bolsonaro.

A depender dos votos extras que Bolsonaro venha a receber nos próximos dias e do sentimento que vai restar depois de passada uma semana do ataque, vai se pensar se é o caso de bater no capitão da reserva ou de atacar o PT, dilema mais extremo na candidatura de Alckmin.

Como seria razoável imaginar, espera-se imagem mais definida de quem é o adversário a bater para se chegar ao segundo turno. O foco, porém, vai demorar mais a aparecer, devido ao tumulto. Mas Bolsonaro pode voltar a ser alvo, sim, ainda que em outros termos. Mas, caso o capitão pareça se confirmar no segundo turno, as campanhas dos candidatos na parte de cima da tabela eleitoral vão todas atacar o PT e, pois, provavelmente, Haddad.

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