terça-feira, 9 de outubro de 2018

A renovação no Congresso feita pelo eleitor: Editorial | O Globo

Não se sabe se qualidade do Legislativo melhorará, mas voto muda a Câmara

A renovação dos quadros políticos é termo quase tão repetido quanto a reforma política. E se esta não tem sido executada pelo Legislativo com a velocidade e profundidade requeridas, a primeira acaba de ser feita no domingo pelo próprio eleitor. Se a qualidade do Congresso, sempre tão criticada, e com razão, melhorará, ainda não se sabe. Mas ocorreu a maior troca de deputados por estreantes em 20 anos: 243 para 513 cadeiras. Ou 47,3%.

A chamada onda bolsonarista, impulsionada por diversas forças — o conservadorismo, a irritação da população com a falta de segurança e o antipetismo, por exemplo — gerou fatos que seriam inimagináveis pouco tempo atrás.

Nomes de ampla vivência no Congresso, alguns caciques foram varridos pelos eleitores. Além de outros, bem colocados em pesquisas e conhecidos, que não conseguiram se eleger. Caso de Dilma Rousseff (PT) e Cesar Maia (DEM), que não conseguiram apoio dos eleitores mineiros e fluminenses para entrar no Senado.

Entre os chefes políticos, o MDB teve baixas consideráveis: Romero Jucá (RR), Edison Lobão (MA) e Eunício Oliveira (CE), este presidente do Senado. Lobão, por sua vez, simboliza a derrota do clã Sarney no Maranhão, cujo principal adversário, o governador Flávio Dino (PCdoB), se reelegeu. A família emplacou apenas um deputado estadual.

Ainda no aspecto das famílias, alguns filhos também foram rejeitados nas urnas. Como Marco Antônio, filho de Sérgio Cabral; Danielle Cunha, filha de Eduardo Cunha, e Crivella Filho, do prefeito do Rio.

Entre os partidos, PSDB e MDB sofreram as maiores avarias. Os tucanos, na esteira do grande fracasso da candidatura presidencial de Geraldo Alckmin, tiveram a bancada na Câmara podada de 54 para 29 cadeiras, 25 a menos. O MDB, por sua vez, encolheu de 66 para 34, menos 32 cadeiras. E o PT, o maior partido da Casa, passou de 69 para 56, com menos 13 deputados. Mas continua sendo a maior bancada.

Na prática, significa que o eixo político-partidário que dominou o período da Nova República, da redemocratização, sofreu pesados danos. O que virá por aí, a ver.

Coerente com o crescimento eleitoral de Jair Bolsonaro, seu partido, o ex-nanico PSL, ganhou 52 assentos na Câmara dos Deputados, só superado pelo PT. Como é tradição na política brasileira, caso Bolsonaro vença, funcionará como um ímã a atrair aqueles parlamentares cuja especialidade é viver às sombras do poder. Congregam-se no chamado centrão.

Se esta renovação pode não se traduzir num Congresso de melhor qualidade, do ponto de vista da pulverização partidária, o cenário piorou: de 25 legendas, a Câmara passou a ter 30, antes da aplicação da cláusula de barreira.

Diante ainda de algumas indefinições, o certo é que o esquema urdido para permitir uma renovação mínima frustrou-se.

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