quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Candidatos derrotados criticam declarações de Bolsonaro como presidente eleito

Geraldo Alckmin, Marina Silva e Guilherme Boulos usaram as redes sociais para se posicionar contra Jair Bolsonaro

Luiz Raatz e Paulo Beraldo, O Estado de S.Paulo

Três candidatos derrotados à Presidência da República criticaram as primeiras entrevistas do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) um dia após a definição do resultado das urnas. Presidente do PSDB, Geraldo Alckmin criticou as falas de Bolsonaro sobre retirar verbas públicas dos veículos de imprensa que se comportarem de maneira "indigna". Marina Silva, líder da Rede, se posicionou contra a proposta do presidente eleito de alterar o Estatuto do Desarmamento. Por sua vez, Guilherme Boulos (PSOL) disse que Bolsonaro manteve o "discurso de ódio" e afirmou que o presidente precisa saber que "não se acaba com movimento social com decreto ou violência".

Alckmin fez suas críticas nas redes sociais após Bolsonaro dizer ao Jornal Nacional, da TV Globo, que pretende tirar recursos do governo federal de veículos de imprensa que se comportarem de maneira "indigna" como é supostamente o caso, segundo Bolsonaro, do jornal Folha de S. Paulo.

Na primeira manifestação de Alckmin desde o primeiro turno da eleição, no qual o tucano terminou em quarto lugar, com 4,76% dos votos, o ex-governador disse que Bolsonaro começou mal.

"A defesa da liberdade ficou no discurso de domingo. Os ataques feitos hoje pelo futuro presidente à Folha de S. Paulo representam um acinte a toda a Imprensa e a ameaça de cooptar veículos de comunicação pela oferta de dinheiro público é uma ofensa à moralidade e ao jornalismo nacional", disse Alckmin em sua conta no Facebook.

Ao JN, Bolsonaro prometeu respeitar a liberdade de imprensa, mas disse que o repasse de verbas de anúncios da União é uma coisa diferente. "Sou totalmente favorável à liberdade de imprensa, mas temos a questão da propaganda oficial de governo, que é outra coisa”, disse. “Não quero que (a Folha) acabe. Mas, no que depender de mim, imprensa que se comportar dessa maneira indigna não terá recursos do governo federa. Por si só esse jornal se acabou."

Para o presidente do PSDB, as declarações de Bolsonaro sinalizam que o presidente eleito pretende substituir a liberdade de Imprensa pelo clientelismo de Imprensa. "Alguns fazem críticas aos seus críticos porque não conhecem seus próprios limites. O futuro Presidente vai ter de conviver e de respeitar todos e, em especial, os que a ele dirijam críticas", disse.

Alckmin não divulgou voto no segundo turno e o PSDB manteve-se neutro na eleição. Seu afilhado político, João Doria, eleito governador de São Paulo, aderiu com afinco a campanha do candidato do PSL. No discurso da vitória, o ex-prefeito de São Paulo elogiou Bolsonaro e disse "o meu PSDB tem lado".

Marina Silva
Marina Silva (Rede) disse que a entrevista concedida à Record TV, de 30 minutos de duração, foi "preocupante" porque Bolsonaro tenta induzir as pessoas a acreditarem que podem resolver o a violência "fazendo justiça com as próprias mãos". "É espantoso o anúncio do presidente eleito de que uma de suas primeiras medidas após a posse será enviar para o Congresso uma proposta para facilitar o acesso às armas de fogo. Qualquer tentativa de revogar e desconfigurar o Estatuto do Desarmamento é um retrocesso lastimável!", escreveu Marina em suas redes sociais.

A presidenciável que ficou em oitavo lugar na disputa eleitoral, com 1% dos votos, disse que a crise de segurança pública não será resolvida armando a população, e sim com integração e valorização das polícias, inteligência e tecnologia para combater o crime organizado. "As armas de fogo são responsáveis por 71% dos homicídios registrados no Brasil. Por isso, não canso de repetir o que venho dizendo: quanto mais armas, mais violência".

Guilherme Boulos
Boulos, do PSOL que teve 0,58% dos votos na disputa presidencial, criticou as falas de Bolsonaro contra movimentos sociais. "O presidente eleito manteve o discurso de ódio do candidato. É importante que saiba que não se acaba com movimento social com decreto ou violência. Isso não resolve a falta de terra e teto para milhões. Daí nascem os movimentos", escreveu.

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