terça-feira, 16 de outubro de 2018

Luiz Carlos Azedo: A volta do marmiteiro

- Correio Braziliense

“A campanha nas redes sociais continua sendo um fator decisivo na eleição. Com a paridade de tempo de televisão, ganha ainda mais importância”

Na pesquisa do Ibope divulgada ontem, na qual Jair Bolsonaro (PSL) aparece com 59% dos votos válidos e Fernando Haddad (PT), com 41%, o dado mais significativo é a rejeição. O candidato do PSL tem mais simpatizantes convictos: 41% votariam nele com certeza e 35% não votariam de jeito nenhum, enquanto 47% não escolheriam o petista em nenhuma hipótese e 28% manifestaram certeza na escolha. Esses dados sinalizam certo congelamento do cenário eleitoral, apesar do reinício da campanha de tevê e rádio, com muita virulência de ambas as partes.

Bolsonaro não tem nenhum motivo para mudar o rumo de sua campanha, ainda mais agora, que conseguiu a paridade estratégica do tempo de televisão e rádio, o que não acontecia no primeiro turno. Está apenas afinando o discurso, para reforçar sua posição defensiva em relação aos ataques do petista quanto a temas como misoginia e homofobia, além de conter a violência dos seus cabos eleitorais. No mais, o discurso é o mesmo. Não houve um fato novo de campanha que o obrigasse a mudar de postura. Já o cavalo de pau de Haddad na própria campanha, que no primeiro turno ignorou Bolsonaro e concentrou seus ataques no tucano Geraldo Alckmin, não foi convincente para mudar os índices de rejeição dos eleitores em relação a Lula e ao PT.

O candidato petista não fez autocrítica dos erros do PT e não se desvinculou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; de certa forma, está engessado quanto a isso, pois provocaria uma crise na campanha. A chantagem moral como tática para atrair setores do chamado “centro democrático” também não funcionou. Até Fernando Henrique Cardoso, que sempre se mostrou aberto ao diálogo com Haddad, reclamou dessas pressões. A pesquisa também mostra que 9% do eleitorado pretendem votar nulo ou branco. É um resultado muito próximo do segundo turno de 2014, disputadíssimo, no qual somaram pouco mais 7%. Àquela época, Dilma Rousseff (PT) derrotou Aécio Neves (PSDB) por 51,64% a 48,36% dos votos.

Bolsonaro já abriu 18 pontos percentuais de vantagem nos votos válidos desde o primeiro turno, quando ficou à frente de Haddad por 46% a 29%. A campanha nas redes sociais continua sendo um fator decisivo na eleição. Com a paridade de tempo de televisão, ganha ainda mais importância. “Nos últimos dias, as menções aos candidatos têm ficado numa proporção média de 60 x 40, com ampla vantagem para o capitão. O grande volume de menções ao candidato do PSL revela que a sua militância venceu a guerra da internet e o impulsiona nesta reta final. Sem um fato novo, as eleições estão definidas”, avalia o analista digital Sérgio Denicoli, da AP Exata. Segundo ele, há uma relação direta entre o volume de menções nas redes sociais e a intenção de votos, num universo de 145 cidades brasileiras.

Bateu no teto
“Fernando Haddad chegou a crescer nas redes, no início da semana, cooptando alguns eleitores que não o escolheram no primeiro turno, mas parece ter batido num teto e pode até mesmo encolher, se não mostrar alguma liderança que atraia forças à sua campanha. Nos últimos dias, as redes mantiveram Bolsonaro como o candidato com mais menções”, avalia Denicoli.

“Qualquer declaração do candidato do PSL tem um reflexo imediato, o que revela que os seus apoiadores estão mais engajados, conseguindo uma grande presença on-line, que consolida e cristaliza a posição de liderança que alcançou”. Nas últimas 48 horas, a hashtag mais usada no Twitter, nas 145 principais cidades do país, foi #marmitadecorrupto, uma alusão às declarações de Bolsonaro relacionadas às visitas de Haddad ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba.

Por ironia, Bolsonaro exuma um chiste da campanha eleitoral de 1945 que derrotou a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (UDN). Numa manobra de última hora, os getulistas apoiaram o marechal Eurico Gaspar Dutra (PSD). O candidato da UDN havia declarado que não precisava dos votos da “malta de desocupados” que apoiava Vargas e, por isso, foi acusado de desprezar os trabalhadores que levavam marmitas para o trabalho.

Uma marchinha de Waldomiro Lobo, na voz de Murilo Caldas, liquidou a fatura: “Marmiteiro, marmiteiro, / Todo mundo grita / Porque lá na minha casa / Só se papa de marmita / Vamos entrar pro cordão dos marmiteiros / E quem não tiver pandeiro / Na marmita vai tocar / E quem não tocar / Quá, quá, quá / Nós vamos cantar, nós vamos cantar.”

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