terça-feira, 23 de outubro de 2018

Marina Silva declara apoio crítico a Fernando Haddad

Para a ex-senadora, a campanha de Bolsonaro é um perigo à democracia

Patrícia Pasquini, Marina Dias | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A candidata derrotada à Presidência Marina Silva (Rede) declarou apoio crítico ao petista Fernando Haddad nos últimos dias da corrida presidencial.

Uma pesquisa Datafolha divulgada no dia 10 de outubro mostrou que os eleitores de Marina eram mais favoráveis a um apoio dela a Haddad —37% escolheram o petista e 18%, o capitão reformado. Outros 33% votariam branco ou nulo e 11% não souberam dizer.

"Sei que, com apenas 1% de votação no primeiro turno, a importância de minha manifestação, numa lógica eleitoral restrita, é puramente simbólica. Mas é meu dever ético e político fazê-la", diz.

Marina Silva ficou em oitavo lugar na corrida presidencial. Foi a pior derrota nos três pleitos que disputou.

No discurso de apoio ao petista, ela afirmou que a campanha do candidato Jair Bolsonaro (PSL) é um perigo à democracia, ao meio ambiente, ao respeito à diversidade e aos direitos civis.

"Vejo no projeto político defendido pelo candidato Bolsonaro risco imediato para três princípios fundamentais da minha prática política: primeiro, promete desmontar a estrutura de proteção ambiental conquistada ao longo de décadas. Chega ao absurdo de anunciar a incorporação do Ministério do Meio Ambiente ao Ministério da Agricultura. Segundo, é um projeto que minimiza a importância de direitos e da diversidade existente na sociedade, promovendo a incitação sistemática ao ódio, à violência, à discriminação. Por fim, em terceiro lugar, é um projeto que mostra pouco apreço às regras democráticas, acumula manifestações irresponsáveis e levianas a respeito das instituições públicas e põe em xeque as conquistas históricas desde a Constituinte de 1988", diz Marina.

O capitão reformado já informou que pretende unir dois ministérios: Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário. Se eleito, o cotado para assumir a pasta é o amigo Luiz Antonio Nabhan Garcia, 60.

Após o resultado do primeiro turno, Marina chegou a dizer que tinha "fortes críticas" a Haddad, mas via no candidato do PSL um perigo para grupos vulneráveis.

A ex-candidata também colocou como ponto decisivo para o apoio ao petista a consciência cristã. "A pregação de ódio contra as minorias frágeis, a opção por um sistema econômico que nega direitos e um sistema social que premia a injustiça, faz da campanha de Bolsonaro um passo adiante na degradação da natureza, da coesão social e da civilização. Não é um retorno genuíno ao mandamento do amor, é uma indefensável regressão e, portanto, uma forma de utilizar o nome de Deus em vão."

Minutos após a divulgação do apoio de Marina Silva, Haddad publicou em suas redes sociais que ficou honrado "por tudo que ela representa e pelas causas que defende".

"Nossa convivência como ministros foi extremamente produtiva e até hoje compartilhamos amizades de brasileiros devotados à causa pública. Esse reencontro democrático me enche de orgulho", escreveu o petista.

Dentre os atores políticos que Haddad tentava atrair para uma frente democrática contra a candidatura de Bolsonaro, Marina era a que menos despertava expectativa de aderência nos petistas.

Eles alegavam que a ex-senadora estava "muito magoada" e "agressiva" em relação ao PT desde a eleição de 2014 --quando a equipe de Dilma Rousseff fez uma campanha pesada para desconstruir a candidatura de Marina, que chegou a liderar a corrida pelo Planalto, mas acabou fora inclusive do segundo turno.

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