quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Rosângela Bittar: O novo em casa velha

- Valor Econômico

Ibaneis saiu do traço para a liderança das pesquisas no GDF

Durante muito tempo a melhor escada para ascender à política partidária foi a política estudantil, a União Nacional dos Estudantes (UNE). Produziu políticos de esquerda e de direita, sem distinção. Muitos dos que hoje ainda estão em cargos de comando ou mandatos sucessivos vieram daí. Depois, o filhotismo, sobretudo pelo comando político dos coronéis do Nordeste, tornou-se ficha de entrada ampla e geral para o Congresso e as Assembleias. Isso permanece como um caminho seguro para muitos que desejam ingressar na política, principalmente na região onde os velhos caciques ainda controlam as regras.

Este ano, Brasília, que tem um lamentável escrete político que torna a escolha eleitoral um parto, notadamente na Câmara Distrital, deu uma contribuição importante à inovação e renovação. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) transformou-se em propulsão de acesso à política, com a candidatura de Ibaneis Rocha ao Governo do Distrito Federal.

Até a atual campanha, ninguém que não seja advogado filiado à Seccional da OAB do DF, ou que não tenha precisado do serviço de um escritório de advocacia especializado em ações trabalhistas, portanto representando o corporativismo exaltado que em Brasília é sinônimo de profissão e vida, tinha ouvido falar nele. Sua vivência política girou entre a advocacia trabalhista e os cargos de representação na OAB, de onde foi presidente da seccional e, ainda é, diretor do Conselho Federal e Corregedor da entidade.

Ele, também, nunca tinha se programado para ingressar na política que não fossem as eleições nacionais para escolha dos dirigentes da Ordem. Com 47 anos, Ibaneis nasceu em Brasília, no Hospital de Base, mas viveu a infância e adolescência no Piauí, entre os 8 e os 15 anos, na cidade de Corrente, terra de seus pais. Voltou e escolheu para fazer direito em uma tradicional universidade privada, o Uniceub.

Formou-se em direito e fez pós-graduação em processo do trabalho e processo civil e é mestrando em gestão e políticas públicas pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa.

Formado, lançou-se ao trabalho como advogado, em que amealhou sua fortuna. Sim, Ibaneis é rico, tem um patrimônio de cerca de R$ 94 milhões reunidos em causas de servidores públicos, planos econômicos e tudo o mais que em Brasília afirma-se resultar dos problemas do governo, "bom pagador".

No ano passado, quando decidiu disputar eleições que não as da OAB, ingressou no MDB. Este ano propôs ao partido sua candidatura e avisou que os dirigentes não precisavam gastar um tostão com ele, pois bancaria suas campanha. Não é milionário como Henrique Meirelles e João Amoêdo, candidatos a presidente que também bancam suas campanhas, mas tem bastante.

O MDB, que não sabia o que seria de si, aceitou. A política de Brasília sempre girou em torno do partido, que era forte em Goiás e transplantou para o Distrito Federal Joaquim Roriz, morto esta semana, em torno de quem foram se criando outros grupos: José Roberto Arruda, Jofran Frejat, Alberto Fraga, crias do sistema Roriz, embora filiados a outros partidos que não o braço longo do MDB.

Houve um interregno de dois governos do PT mas com reconhecido insucesso na gestão. Na última eleição, a população resolveu buscar uma alternativa e escolheu Rodrigo Rollemberg, do PSB, que estudou e viveu na capital. Candidato à reeleição, ainda não saiu do terceiro e agora quarto lugares.

Embora depois da propaganda de Ibaneis na TV apareça o presidente do MDB, Tadeu Filippelli, antigo vice-governador, agora candidato a deputado, o eleitorado não está fazendo a menor relação de um com o outro. Ibaneis conseguiu não ser identificado com o MDB, com os velhos políticos e com a política. Está aí um nome novo, que se apresenta como ficha limpa, tem uma postura normal e um discurso mais simples ainda.

O que acaba de acontecer é que Ibaneis virou fenômeno, um novo em partido velho cuja presença no candidato não se identifica. No primeiro debate ninguém fez perguntas a ele.

Saiu de último lugar, tinha traço no início da campanha, para primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto no Datafolha da semana passada, desbancando o atual governador e a candidata que liderava com folga a disputa. No último levantamento, entre 26 e 28 de setembro, em uma semana, cresceu 11 pontos e passou ao primeiro lugar com 24%, Eliana Pedrosa, uma ex-deputada distrital do Pros que liderava, tem 16% e Rollemberg 12%. O levantamento está registrado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Distrito Federal sob o protocolo DF-03047/2018.

Alberto Fraga (DEM), que já esteve em segundo, caiu de 14% para 10% e Rogério Rosso (PSD), que já foi governador, oscilou negativamente, de 11% para 8%.

Em um eventual segundo turno, Ibaneis venceria Eliana com 47% dos votos, contra 32% da candidata do Pros. Ela, por sua vez, supera Rollemberg (44% a 27%).

Ainda não se sabe exatamente qual será o programa real de Ibaneis para Brasilia caso vença as eleições, mas há pistas. Como todos os que pleitearam aprovação do eleitorado de Brasília, não se fala em recuperação do plano diretor de Lúcio Costa - transgride-se a torto e direito. Homem de plano piloto, região central e sede do governo federal, sabe que há muito por fazer para a população que reside na área central, principalmente desenvolver o respeito à arquitetura e plano diretor. A cidade está morrendo aos poucos.

Sabe, também, que agrada a essa população preocupar-se com segurança e saúde, o calcanhar de aquiles de Brasília que nenhum governo conseguiu resolver. Porém, pretende voltar-se muito para as cidades satélites (agora é politicamente incorreto chamar Taguatinga, Gama, Guará, Águas Claras, Sobradinho, Ceilândia e outras de cidades satélites, não se sabe bem porque nem pelo que foi substituída a denominação).

Ao estruturar sua campanha com uma boa dose de eventos nas ruas e nas visitas a essas localidades, o candidato impressionou-se com a pobreza e toda sorte de necessidades.

Certamente uma situação produzida pela expansão promovida por seu partido, com Joaquim Roriz e sua política de farta distribuição de lotes e chamamento à capital, onde formou seu eleitorado cativo enquanto viveu e disputou eleições.
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Em Brasília se dá a única disputa em que, nos debates, surgem perguntas aos candidatos sobre o que farão com relação aos concursos públicos para ocupação de cargos. O governo é o maior empregador da capital.

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