segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Segundo turno precisa discutir, enfim, programas: Editorial | O Globo

Depois das eleições de 2016, PT continua a pagar um preço pela corrupção e a ruína econômica

Eleitores continuam a cobrar do PT a conta da corrupção e dos erros crassos de Dilma na economia, sob as bênçãos de Lula. Em uma campanha fora dos padrões, em que o candidato líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL), passou boa parte do tempo hospitalizado, devido ao atentado que sofreu — sem participar, portanto, de alguns debates e sabatinas —, o primeiro turno confirmou as expectativas de sua vitória.

Chegou-se a prever que ele conseguiria vencer no primeiro turno, dado o crescimento do apoio que passou a ter assim que a candidatura petista de Fernando Haddad acelerou o passo, com a evolução rápida da transferência de votos que eram destinados a Lula antes de o ex-presidente ser impugnado pela Justiça, com base na Lei da Ficha Limpa.

Nesse momento, entrou em ação de maneira clara uma das características desta eleição, o voto antipetista. Se somado, deve representar hoje a força política mais poderosa no Brasil.

A oposição ao PT é um dos vértices do espaço de radicalização que se abriu nestas eleições, entre direita e esquerda. O partido já havia padecido nas eleições municipais de 2016 pelo comprovado envolvimento de importantes líderes seus em esquemas de corrupção. A partir do mensalão, desde o início do primeiro mandato de Lula (2003-6), até o ápice do petrolão, desarticulado pela Lava-Jato a partir de março de 2014, com Dilma Rousseff em campanha para o segundo mandato.

Estas eleições demonstram que o eleitorado continuou a cobrar do PT a conta da corrupção e também dos erros crassos na condução da economia cometidos por Dilma, sob as bênçãos de Lula.

Há resultados emblemáticos. Como, em Minas, além da derrota do candidato petista à reeleição ao governo do estado, Fernando Pimentel, a frustração da tentativa da ex-presidente Dilma de entrar no Senado. Até o momento das urnas, pesquisas indicavam que esta espécie de volta por cima seria bem-sucedida. Frustrou-se, assim, a manobra urdida no Senado, pelo ainda presidente da Casa, Renan Calheiros, junto ao ministro do Supremo, Ricardo Lewandowski, para, de forma exótica, não cassar os direitos políticos de alguém condenado num processo de impeachment. Pois os eleitores mineiros corrigiram em parte aquele golpe de esperteza contra a lei.

A onda antipetista apareceu, ainda, no afastamento do senador fluminense Lindbergh Farias do Congresso e também deixou sua marca na derrota em São Paulo de Eduardo Suplicy, na tentativa de voltar ao Senado. Cabe lembrar que o senador petista fluminense é, ou foi, um vigoroso templário da tropa de choque petista no Congresso.

Parece também haver outra onda, a bolsonarista. Além do antipetismo, ela é alimentada pela própria guinada ao conservadorismo na sociedade refletida no discurso do candidato e pelo clamor da população por segurança, por meio do endurecimento do Código Penal e apoio às polícias, também defendidos por Bolsonaro. É o que ficou evidente na vitória, no Rio de Janeiro, do ex-juiz federal Wilson Witzel (PSC), adversário de Eduardo Paes (DEM) no segundo turno. Há outros exemplos país afora. Caso de Minas, em que Romeu Zema (Novo) —que declarou apoio a Bolsonaro — surge à frente de Anastasia (PSDB), com quem disputará o segundo turno, enquanto, na corrida pelo Senado em São Paulo, o Major Olímpio, do partido do candidato a presidente, chegou na frente.

O segundo turno, no caso da eleição presidencial, é a chance que se tem da efetiva discussão de propostas dos candidatos para o enfrentamento dos problemas nacionais. Que são grandes.

Por diversos motivos — não estão entre eles o tempo mais curto de campanha —, não se debateram propostas objetivas. Em alguns casos, porque não foram formuladas. Ou, se existiam, deixaram de ser divulgadas. O exemplo mais evidente é do candidato Jair Bolsonaro.

Já Fernando Haddad demonstrou herdar um programa de cuja construção não participou. Foi feito para Lula, com um viés de radicalismo com o qual Haddad parece não concordar. A ideia ilegal de convocação de uma Constituinte, por exemplo, não conta com o apoio entusiasmado de Haddad.

Esta incompatibilidade entre candidato e programa precisa ser esclarecida. E tudo bem esmiuçado, o que também vale para Bolsonaro, por óbvio.

A disputa entre Bolsonaro e Haddad simboliza a radicalização no choque entre direita e esquerda, que se manterá. Nada que possa assustar, se todas as forças políticas se submeterem às regras do estado democrático de direito. Com alguns percalços — resistência do PT a se submeter ao Judiciário, declarações exóticas, algumas retificadas, da chapa Bolsonaro-Mourão —, o primeiro turno transcorreu como se espera num país estável institucionalmente.

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