quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Eleitorado limitou o poder e a agenda de Donald Trump: Editorial | O Globo

Oposição consolida hegemonia na Câmara, aumentando bancada de 193 para 222 deputados

A Casa Branca tem um problema: com a perda da hegemonia no Congresso, na eleição de terça-feira, está ameaçada a agenda legislativa do presidente Donald Trump para os últimos dois anos do seu mandato.

Com Trump, os republicanos ampliaram o controle do Senado, avançando de 49 para 51 senadores. Os adversários democratas, porém, consolidaram uma vitória expressiva na Câmara, aumentando a bancada de 193 para 222 deputados.

O presidente apostou alto no domínio do Legislativo, transformando a eleição num plebiscito sobre o seu modo de governar. Isso realça o resultado obtido pela oposição.

Ele se empenhou como se já estivesse em campanha para reeleição em 2020. Apelou à retórica inflamada, apresentou migrantes como “inimigos” dos EUA —nação formatada por imigrantes —, e até antecipou a “culpa” democrata pelo seu eventual fracasso administrativo.

O eleitorado não se comoveu. Dividiu o poder no Congresso.

Os eleitores deram um “sim” a Trump, com a maioria republicana no Senado, permitindo-lhe prosseguir em iniciativas como a tramitação rápida da nomeação de juízes conservadores nas cortes federais.

Registraram nas urnas, simultaneamente, um enfático “não” ao presidente, ao entregar o controle da Câmara à oposição. Deram ao Partido Democrata poder para bloquear mudanças relevantes, por exemplo, nas políticas de saúde e de imigração. Essa maioria oposicionista é suficiente até para iniciar um processo de impeachment, possível por maioria simples mas sem chance de aprovação no Senado.

A nova moldura política americana limita as perspectivas da reeleição presidencial. Confirma-se que o maior adversário de Donald Trump é mesmo Donald Trump, um líder cuja peculiar percepção do exercício do poder ajuda a dissimular as fragilidades de administrador, e requer supervisão permanente de uma equipe focada na preservação dos interesses estratégicos do país.

Agora, ele terá de conviver com a crítica resiliente, inclusive de republicanos como o senador eleito Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts, seu adversário em 2016.

Outra mudança importante é a maior diversidade na composição do Congresso por gênero, origem e religião. Num exemplo, as mulheres conquistaram representação inédita na Câmara, aumentando em 13% a bancada de deputadas.

É muito significativo quando se considera a prevalência de uma percepção negativa do eleitorado feminino sobre o governo Trump.

O presidente é aficionado ao culto do politicamente incorreto e, assim, não tem perdido a chance de responder de forma tosca aos protestos e reivindicações femininas por igualdade de direitos.

Nesse caso, pode-se afirmar que Trump colheu nas urnas precisamente aquilo que plantou no governo.

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