sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Governadores eleitos do PSDB articulam apoio a Bolsonaro

Em trégua com Alckmin por sucessão no partido, Doria se une a Leite e Azambuja por suporte à agenda do futuro governo

Silvia Amorim | O Globo

SÃO PAULO - Os três governadores eleitos pelo PSDB — João Doria (São Paulo), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e Reinaldo Azambuja (Mato Grosso do Sul) — se reuniram ontem para manifestar apoio à agenda de reformas do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Vitoriosos na eleição, os três declararam apoio ao presidenciável do PSL durante a disputa. Reunidos em São Paulo, eles afirmaram que não se tratava de uma defesa de adesão do PSDB ao futuro governo. O gaúcho Eduardo Leite declarou apoio às “reformas e à retomada da confiança dos investidores”.

— Não se trata de fazer adesão ao governo Bolsonaro, mas de fazer adesão ao Brasil e às boas práticas. Vamos apoiar todas as iniciativas econômicas e institucionais que vierem ao encontro dos brasileiros, sobretudo os mais pobres e mais humildes — afirmou Doria, após o encontro com os tucanos, em São Paulo.

A reunião foi organizada por Doria, que, desde o fim da eleição, tem feito movimentos para se firmar como uma liderança nacional dentro e fora do PSDB. Um novo passo nesse sentido foi dado ontem ao acertar uma trégua com o candidato derrotado do partido à Presidência, Geraldo Alckmin.

Ambos acordaram durante um almoço que a atual direção partidária cumprirá seu mandato em sua totalidade, ou seja, até maio de 2019. Foi o primeiro encontro deles após o segundo turno. Aliados do governador eleito vinham pressionando para que Alckmin abreviasse seu mandato no partido. Apoiadores de Doria defendem o deputado federal Bruno Araújo (PE) para ser o novo presidente do PSDB.

Desde que saiu da eleição como o grande vencedor do PSDB, Doria não tem economizado esforços para ampliar sua influência política. Ele já esteve com três governadores eleitos por outros partidos — Wilson Witzel (PSC), do Rio, Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal, e Gladson Cameli (PP), do Acre — na tentativa de construir uma pauta conjunta para levara Jair Bolsonaro (PSL), com quem se reuniu anteontem.

Ontem, Doria tomou café com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), para sondar as chances de aprovação da reforma de Previdência ainda este ano, e visitou o presidente Michel Temer no fim da tarde.

O GLOBO procurou ontem Doria para falar dessas movimentações políticas, mas ele não se manifestou.

O governador eleito tem feito uma defesa enfática da aprovação da reforma da Previdência ainda este ano, como pressiona a equipe de Bolsonaro. Ele conversou ontem por telefone com o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.

SEM APOIO FORMAL
Apesar de toda a movimentação, Do ria ainda não conseguiu convencera atual direção do PSD B afaze ruma declaração de apoio ao governo Bolsonaro. Alckmin, presidente do partido, ainda não marcou reunião para discutir o tema. Aliados dele disseram que não há urgência.

— Até o fim do ano vamos nos reunir, mas não tem necessidade de urgência — disse o deputado e tesoureiro do PSDB, Silvio Torres.

Entre os deputados federais, atuais e eleitos em outubro, o assunto já é tema de conversas reservadas desde o fim do primeiro turno. A avaliação inicial é de que o partido deve dar apoio as pautas do futuro presidente, como as reformas, mas mantendo-se distante de participação no governo.

Abancada do PSDB na Câmara passou por um encolhimento nesta eleição—dos 49 atuais para 29 deputados na próxima legislatura. Um encontro entre as duas bancadas está previsto para meados deste mês em Brasília.

Doria deverá encontrar resistência junto à atual direção para conseguir do PSDB um apoio a Bolsonaro. Alckmin defende a neutralidade e já demonstrou pouca disposição numa aproximação do partido com o futuro presidente. Na semana passada, ele criticou Bolsonaro num debate sobre a liberdade de imprensa. “É pretender substituir a liberdade de imprensa pelo clientelismo de imprensa. O futuro presidente vai ter de conviver e de respeitar todos e, em especial, os que a ele dirijam críticas”, escreveu ele no Twitter.

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