domingo, 25 de novembro de 2018

José Roberto Mendonça de Barros: O tempo urge

- O Estado de S.Paulo

No Brasil, o caminho para uma economia mais eficiente e competitiva continua árduo

Há uma enorme convergência na ideia de que a condição necessária para o eventual sucesso do novo governo é o ataque à questão fiscal, agudizada pela derrocada das finanças da maior parte dos Estados e por desatinos de um Congresso em fim de mandato. E tudo tem de começar pelo projeto de reforma da Previdência.

Este tem de ser forte o suficiente para mudar a trajetória do crescimento vertical do déficit previdenciário, mas factível de ser aprovado no Congresso, já em 2019. Um projeto aguado vai entornar o caldo; um inexequível politicamente, idem.

Ao lado disso, muitas outras ações serão necessárias para colocar adiante a possibilidade de voltarmos a crescer com sustentabilidade. Chamo a atenção para os seguintes pontos: relações internacionais, a tabela de fretes e a política de subsídios ao diesel.

No plano das relações internacionais, já haviam causado espanto durante a campanha eleitoral as declarações do então candidato Bolsonaro criticando a China, inclusive no que tange a seus investimentos no Brasil. Na mesma direção foi a afirmação de que o País mudaria nossa embaixada para Jerusalém, o que certamente causaria problemas com os países árabes. Finalmente, o novo chanceler brasileiro, em textos razoavelmente confusos, declarou que a globalização (ou “globalismo”) seria fruto de uma conspiração maoista contra o mundo cristão!

Fica então a pergunta: qual será nossa política externa? Vamos nos amarrar à incrível instabilidade do presidente Donald Trump?

Entre muitos outros aspectos, vale a pena chamar a atenção para o fato de que nos últimos anos apenas o agronegócio cresceu, na produção e na produtividade. Entre 2013 e 2017, o PIB diminuiu mais de 5%; os serviços, 4%; e a indústria, incluindo o setor de construção, caiu incríveis 16%. Enquanto isso, a agropecuária cresceu 15%.

Ora, esse crescimento dependeu tanto do mercado interno, que sentiu o baque da recessão, quanto das exportações. E nesse caso temos de observar que, embora nosso País venda para o mundo todo, nossas exportações são bastante concentradas. No mundo, a balança comercial agrícola é fortemente negativa apenas na China (-US$ 80 bilhões), no Japão (-US$ 63 bilhões) e no Oriente Médio (-US$ 55 bilhões). Essas regiões são decisivas para nós e nosso maior concorrente nesses mercados são os Estados Unidos.

Daí a questão: qual será a orientação da política comercial externa brasileira a partir de janeiro? Vamos buscar elevar mercados ou vamos nos perder mais uma vez em decisões ideológicas, só que agora à direita?
*  *  *

Todos lembram que durante a greve dos caminhoneiros, em maio, a fragilidade do governo atingiu o auge. E, assim enfraquecido, tomou duas iniciativas: criou uma tabela de fretes obrigatória e concedeu um subsídio para reduzir o preço do diesel, apesar de nossa frágil situação fiscal.

A tabela incluiu o frete de retorno, algo que nunca existiu na contratação de cargas, além de outros erros (por exemplo, caminhões depreciados em apenas seis anos, um absurdo), que elevaram os custos de logística de forma incrível. Isso num país que, em proporção ao PIB, já gasta muito mais em logística do que seus concorrentes.

Em consequência, grandes distorções apareceram, como dificuldade para fechar vendas futuras de produtos agrícolas, paralisia de cargas e pura desobediência da tabela. Muitas companhias resolveram reabrir seu departamento de transportes para se livrar da elevação de custos.

Tudo isso sem que o básico fosse resolvido: continuamos com mais caminhões do que cargas. Na verdade, teremos ainda mais veículos em operação, como se depreende da atual fila de espera nas montadoras para receber suas encomendas.

A recente derrocada dos preços do petróleo e a valorização do real abrem uma oportunidade que não pode ser perdida, a de eliminar o subsídio ao diesel. Além disso, seria muito relevante acabar com a tabela de fretes, algo que o novo governo poderia fazer no conjunto de mudanças que deverá empreender.

No Brasil, o caminho para uma economia mais eficiente e competitiva continua muito árduo.
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* Economista e sócio da MB Associados

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