domingo, 11 de novembro de 2018

Merval Pereira: O PSDB no divã

- O Globo

Secretário-geral do PSDB identifica gênese dos problemas do partido na delação da Odebrecht e no caso Joesley

Há duas semanas, os líderes do PSDB têm em mãos um diagnóstico sobre o que provocou sua derrota, e o que fazer para dar a volta por cima depois da eleição geral deste ano que provocou uma ruptura do sistema político-partidário como nós o conhecemos há 25 anos pelo menos.

A análise foi feita pelo secretário-geral do partido, Marcus Pestana, ele mesmo derrotado nas urnas, e entregue aos presidentes do partido, Geraldo Alckmin, e do Instituto Teotônio Vilela, Tasso Jereissati, a Fernando Henrique Cardoso e ao candidato derrotado ao governo de Minas, senador Antonio Anastasia. “Primeiro, temos que colar os cacos e curar as feridas de nossa maior derrota, depois de um espetacular desempenho em 2016”, diz ele, que identifica a gênese dos problemas do PSDB em 2017 e 2018, a partir da primeira delação da Odebrecht e em seguida o caso do empresário Joesley Batista e seus desdobramentos.

Antes disso, Bolsonaro ficava entre 6 e 8% nas intenções de votos, lembra Pestana. Para ele, será inevitável um processo de reestruturação partidária, pois nenhuma democracia funciona com 30 partidos no Congresso. Esse, para Marcus Pestana, é mais um impulso para a reaglutinação partidária, pois “muitos estão esquecendo de que, nas eleições municipais de 2020, as coligações proporcionais estão proibidas”.

No caso específico do PSDB, diz seu secretário-geral, há que testar se é possível uma convivência das diversas correntes e personalidades. “Fusão, novos partidos, são assuntos para o segundo semestre de 2019, já com a nova direção eleita. Fomos protagonistas das eleições presidenciais desde 1994, com um expressivo resultado em 2014”, lembra, “mas quem achou que o modelo clássico de fazer política e campanhas funcionaria, se frustrou”. Pestana vê na eleição de Bolsonaro e de diversos outsiders, como governadores (MG, RJ, SC, AM, RR), “o fim do ciclo histórico da redemocratização e da Nova República”.

Algumas elites tradicionais conseguiram manter sua hegemonia política regional (casos do Pará e Alagoas), o PT e as esquerdas mantiveram a liderança no Nordeste. Mas a marca dominante das eleições de 2018 foi “a vitória da chamada “nova política” —seja lá o que isso signifique —sobre a “velha política”. Mesmo as vitórias tucanas de João Dória em São Paulo e Eduardo Leite no Rio Grande do Sul, avalia, “têm interface e traços comuns com este novo universo da política nacional”. Na sua análise, o PSDB “experimentou sua maior derrota”, perdendo a centralidade da dinâmica política nacional que havia sido mantida nas eleições de 2014 e 2016. “Temos, finalmente, a presença de uma direita organizada e expressiva”, adverte.

“O PSDB precisa se transformar para sobreviver. Ou nos enraizamos solidamente na sociedade, construindo um partido orgânico com vida intensa, ou seremos dizimados dentro do mapa político brasileiro”, adverte Marcus Pestana, que considera que a derrota impõe ao PSDB uma “severa e profunda autocrítica. Diagnóstico crítico, realinhamento, reinvenção, refundação”. O secretário-geral do PSDB toma cuidado ao falar em “um processo criativo, inovador e democrático de fusões e reaglutinação de forças”. Para ele, é preciso, para além do PSDB, reinventar o campo do “centro democrático”. É preciso “estar com a alma, a cabeça e o espírito abertos para o aprendizado” da derrota.

O sentido político
Na coluna de ontem, citei como sendo de dona Ruth Cardoso a frase “O PFL de Antonio Carlos não é o meu”. Na verdade, a então primeira-dama comentou que o PFL não era apenas Antonio Carlos, governador da Bahia, e citou vários líderes do PFL como de sua preferência, como Gustavo Krause e Reinold Stephanes. O sentido político é o mesmo, mas a frase original foi de Tancredo Neves, na cerimônia de filiação de Miguel Arraes ao MDB: “O MDB de Arraes não é o meu MDB, nem o meu MDB é o MDB de Arraes”.

Esclarecimento
O deputado federal reeleito Alessandro Molon diz que conversou com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a situação política do país, mas que não pretende sair do PSB. O que há, segundo ele, é a discussão sobre a formação de um bloco de oposição reunindo PSB e PDT.

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