quarta-feira, 14 de novembro de 2018

O caixa do BNDES: Editorial | Folha de S. Paulo

Banco de fomento pode elevar desembolsos em bases mais sustentáveis a partir de 2019

A indicação de Joaquim Levy para o comando do BNDES sugere que o banco federal de fomento dará prosseguimento, no próximo governo, à reorientação estratégica iniciada sob Michel Temer (MDB).

Findou-se, em meio à ruína das finanças públicas, o gigantismo patrocinado pelos governos petistas, que injetaram na instituição cerca de R$ 500 bilhões (ou 9,5% do Produto Interno Bruto) entre 2008 e 2014 —na tentativa fracassada de elevar o investimento e formar empresas campeãs nacionais.

Caminha-se agora no sentido de reduzir o volume de crédito para grandes negócios, de um lado, e incentivar o financiamento para infraestrutura e inovação, de outro.

Nesse escopo também se insere a assistência técnica para privatizações e obras públicas, áreas de competência do banco, o que pode resultar em parcerias com governos estaduais e municipais ávidos por novos recursos.

No último quadriênio, o BNDES encolheu rapidamente. Seus desembolsos, de quase R$ 190 bilhões (3,3% do PIB) em 2014, ficaram pouco acima dos R$ 40 bilhões de janeiro a setembro deste ano (0,9% do produto do período).

O banco vem devolvendo recursos ao Tesouro Nacional, o que diminui o caixa para financiamentos. Fora isso, a economia em ritmo lento limita a demanda por crédito.

Com alguma aceleração da atividade, a expectativa é que as operações retomem a expansão em 2019, mas em bases mais sustentáveis. A troca da taxa de juros adotada pela instituição, em particular, busca eliminar gradualmente o subsídio concedido aos tomadores.

Se bem gerido, o banco pode ter um papel importante para o desenvolvimento do país. O que não faz sentido é mantê-lo como fonte solitária de recursos para empreendimentos de longo prazo, num mercado de taxas escorchantes.

Nesse sentido, a queda da inflação e dos juros do Banco Central se mostra promissora para a normalização futura da oferta nacional de crédito, desde que se persista no ajuste das contas públicas.

Joaquim Levy já deu mostras de alinhamento a essa agenda. Seu malogro à frente da Fazenda, no governo Dilma Rousseff (PT), deveu-se, basicamente, à falta de respaldo político. O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), tem falado em "abrir a caixa-preta do BNDES"; se isso significar uma gestão transparente e impessoal, ótimo.

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