domingo, 25 de novembro de 2018

Ranier Bragon: Revolução dos bichos

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro emplaca seu 1º estelionato eleitoral, mas alguém está surpreso?

“É governar pra todos e ponto final. Não é para esse ou aquele setor, é pra todo mundo.” A promessa feita e refeita por Jair Bolsonaro representa, até agora, o mais vistoso estelionato eleitoral de uma gestão que ainda nem recebeu a faixa.

Justiça seja feita. O então candidato sempre deu insofismáveis sinais de que faria um governo que pode ser qualquer coisa, menos “pra todos”.

Ele está, por enquanto, seguindo à risca o que esgoelou em entrevistas e nas redes sociais, apesar de vez ou outra ter “dado uma fraquejada” ao prometer unir o país ou formar um ministério exclusivamente técnico e de reconhecida qualificação.

Assim como no comunismo pintado por George Orwell, no bolsonarismo todos são iguais, mas tem gente que é muito mais igual. Ruralistas, pastores evangélicos e empresários, por exemplo. Na economia desponta o ultraliberalismo. O Ministério da Agricultura virou de vez puxadinho da bancada ruralista. No Itamaraty, a resistência ao comunismo que ameaça dominar o planeta, vide a Ursal, determinou a escolha.

Mas nada se assemelha, em tragédia, à definição do ministro da Educação. Ricardo Vélez Rodríguez, mais um da cota do baboseirólogo Olavo de Carvalho, é entusiasta do Escola sem Partido, aquele projeto que alguém salvou dos escombros do Império Bizantino, e assume sob a bênção de líderes evangélicos. Os mesmos que enxergam um Che Guevara em cada professor e militam por ideias que ampliam a discriminação a gays nas escolas e na sociedade.

Bolsonaro venceu a eleição e tem ampla legitimidade para implantar o governo que propalou nos palanques. E sempre repete que a minoria tem que se curvar à maioria.

Nunca é demais definir essa “minoria” —47 milhões votaram contra o bolsonarismo no segundo turno. Outros 11 milhões apertaram branco ou nulo, ou seja, também não corroboraram essas propostas. A soma representa 50,1% dos que foram às urnas. Será muito salutar ao país que Bolsonaro entenda que a cadeira presidencial não é palanque eleitoral.

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