quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Vera Magalhães: Principal e acessório

- O Estado de S.Paulo

O debate ruidoso em torno do projeto Escola sem Partido é um exemplo literalmente gritante do risco de que discussões acessórias do ponto de vista das necessidades do País se sobreponham às essenciais no governo Bolsonaro

Uma das maiores armadilhas do governo Jair Bolsonaro, já é possível constatar, será o risco de que discussões acessórias do ponto de vista das necessidades do País se sobreponham às essenciais.

Na Educação, o debate ruidoso em torno do projeto Escola sem Partido é um exemplo literalmente gritante desse risco. São muitos e complexos os desafios para melhorar os indicadores educacionais no Brasil. E eles em nada têm a ver com a discussão obscurantista e um tanto infantiloide proposta pelo tal projeto, que mobiliza o Congresso há algumas semanas e deve continuar na pauta em muito pelo fato de ter sido abraçado como bandeira de campanha pelo bolsonarismo.

A Constituição estabelece, no artigo 206, como princípios para a Educação a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber e o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.

Querer estabelecer, por lei, uma neutralidade que teria de ser seguida pelos professores sob pena de sanções, além de ferir esses princípios, cria um fator de subjetividade – o que é debate plural e o que é doutrinação, do ponto de vista da aplicação de uma lei? – altamente deletério para o desenvolvimento do ensino.

Enquanto se gasta energia com um debate que, sob pretexto de “desideologizar” a educação, leva a ideologização ao paroxismo, se deixa de enfrentar temas mais prementes e de difícil equacionamento, como o que colocar no lugar do Fundeb, a principal fonte de financiamento da educação básica, cuja vigência acaba em 2020.

Bolsonaro já disse que o problema da educação não é de falta de recursos, mas de sua aplicação desproporcional. Então qual será a nova destinação de recursos à educação infantil, fundamental, média e superior? Como fazer para evitar os índices vergonhosos de evasão escolar no ensino médio, a falta de proficiência dos alunos em aptidões básicas de matemática e linguagem?

Ninguém diz. Aliás, não se sabe ao certo qual a equipe que Bolsonaro formou e quais os especialistas que tem consultado para formar um arcabouço – aí sim – livre de ideologia obscurantista na área que é crucial para definir se o País vai avançar rumo ao desenvolvimento ou seguirá marcando passo nesse pântano de desinformação e debate enviesado.

MIMETIZAÇÃO
‘Bolsodoria’ dá as cartas na formação de governo em SP

João Doria Jr. gosta de encarnar personagens. Na campanha de 2016, foi o João Trabalhador. Na curta gestão à frente da Prefeitura de São Paulo, foi gari, marronzinho da CET e pedreiro, dentro da narrativa de que estaria nas ruas como gestor. Agora, na segunda campanha em dois anos, virou Bolsodoria. E o personagem está ativo na composição do governo. Mimetizando o presidente eleito, o tucano nomeou um general para a Secretaria de Segurança. Se a ligação do presidente eleito com as Forças Armadas é genuína e histórica, a de Doria parece puro modismo.

NAMORO
Por Maia, DEM pode dar apoio formal a Bolsonaro

A reunião de ACM Neto com Onyx Lorenzoni na semana que vem pode ser o primeiro ato da adesão formal do DEM ao governo Bolsonaro. Todas as nomeações de filiados do partido até agora passaram ao largo da cúpula, mas, caso haja apoio à reeleição de Rodrigo Maia para a presidência da Câmara, o namoro pode virar casamento.

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