quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Hélio Schwartsman: Por um governo feliz

- Folha de S. Paulo

Jair Bolsonaro e seu círculo íntimo acumulam dissabores

Parafraseando Tolstói, podemos dizer que todas as Presidências felizes parecem-se entre si; já as infelizes o são cada uma à sua maneira. Ainda é cedo para estabelecer se a administração Bolsonaro vai ser feliz ou infeliz, mas o futuro dirigente e seu círculo íntimo vão acumulando dissabores numa escala incomum para quem ainda nem assumiu o governo.

Transições tendem a ser mesmo confusas. Membros do grupo que chega não estão entrosados e ainda não têm noção do novo peso que suas declarações adquiriram.

O que confere certa especificidade à administração Bolsonaro, além de um improvisado redesenho da estrutura ministerial, são seus filhos. Dois deles foram eleitos para cadeiras no Legislativo. Embora não sejam mais do que parlamentares, por vezes falam como se fossem primeiros-ministros, ampliando desnecessariamente os desencontros, que já causaram fissuras no PSL.

Normalmente, presidentes eleitos já enfrentaram as acusações levantadas durante a campanha e ainda não tiveram tempo de se envolver nas novas, pelas quais responderão no futuro. Bolsonaro e familiares, porém, conseguiram enrolar-se numa suspeita que veio à tona durante a transição. O fato de ter-se apresentado como candidato anticorrupção exige que Bolsonaro dê tratamento rápido e duro para o caso, sob pena de desgaste precoce.

De modo geral, presidentes iniciam já na transição as negociações com partidos para obter maioria no Legislativo. Isso é especialmente importante quando há necessidade de aprovar emendas constitucionais impopulares, como a reforma da Previdência. Mas Bolsonaro, prometendo romper com a tradição de fisiologismo, se recusa a fazê-lo. Pode ser um ponto positivo, se ele tiver uma estratégia funcional para assegurar a aprovação das medidas. Caso contrário, pode ser o início de uma relação complicada com o Parlamento, o que prenuncia um governo infeliz.

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