quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Rosângela Bittar: Tudo como dantes

- Valor Econômico

O imposto de renda terá alíquota única de 20%, sem deduções

A reunião do PT no último fim de semana, em Brasília, que tinha tudo para ser importante, com Diretório Nacional, Executiva e direção antiga e atual, os cabeças, à exceção de Lula, não moveu um milímetro o partido e seus dirigentes em qualquer direção. A frase que ecoou, ao final, nas conclusões, foi a da atual presidente, Gleisi Hoffmann. Para ela, não há autocrítica, revisão, reconstituição e avaliação político-eleitoral a serem feitas porque nada tinham de dar satisfações à mídia. Disso fica, com clareza, o seguinte: para o PT, a revisão é uma necessidade que só a mídia tem, só a sociedade fã do petismo exige. O partido e seus dirigentes vão bem. Nada mais distorcido e desanimador.

O PT é uma marca, ainda. Um guarda-chuva que abriga parlamentares e dirigentes enrolados com a Justiça e os últimos crentes na ressurreição de seu lider máximo e da volta ao poder. Filiados e dirigentes se servem do PT, não ao PT.

O partido é conduzido, na temporada da atual direção, como uma estudantada. O documento básico do encontro de dirigentes repetiu documentos, conceitos e argumentos de documentos anteriores. Dele foram retirados à última hora, numa picuinha ao que parece com a mídia, que segundo Gleisi é só quem quer a revisão, todas as palavras que poderiam dar a impressão de que estavam concordando com a necessidade de autocrítica.

O estilo PT, algumas derrotas e prisões depois, também é o mesmo, sem correções. Um símbolo da imutabilidade foi a viagem recente do candidato derrotado a presidente da República, Fernando Haddad, a Nova York. Como se ainda estivesse em campanha, fez palestra na Universidade de Columbia, para onde levou entourage brasileira, inclusive fotógrafo. Seu discurso foi de ataques ao Brasil por tabela, de críticas ao brasileiro diretamente, como têm feito Lula, o diplomata Celso Amorim, Dilma e todos os que optaram pela campanha internacional contra as escolhas do eleitorado brasileiro.

Lula não aceitou, ainda, ser um homem comum. Dificilmente o PT voltará para o povo, uma das suas intenções mais propagadas. Nada dessas intenções transpareceu nos trabalhos dos dirigentes no último fim de semana.

Para os não filiados, o PT está virando uma espécie de entretenimento. Um show para a sociedade. Seus mecanismos de análise ficaram anacrônicos, e não se vê o menor sinal de reconhecimento dessa realidade. Aliás, a ligação do PT com a realidade é irreal. O partido está falando para quem? Seus eleitores que votaram com Haddad para ser contra Jair Bolsonaro? Seus eleitores filiados e militantes? O conjunto do eleitorado? Para a sociedade? Ou para seus dirigentes?

O que o PT está fazendo não tem mais influência sobre a política. Quase já não é mais partido. O candidato também derrotado Ciro Gomes tentou mostrar isso a Lula, ao partido de Lula, aos seus amigos da esquerda, em vão. O seu recado ao PT era: saiam da frente para a esquerda passar. Nessa avaliação, o PT deixou de ser ponte para ser barreira, e a esquerda não passou.

O PCdoB, que permaneceu fiel ao esquema petista, perdeu até a cláusula de barreira, e também ainda não fez sua autocrítica.

A nova linguagem da eleição não foi aprendida por nenhum desses partidos perdedores, na órbita do PT ou não. Apenas entretendo, o PT não percebeu que surgiu um novo padrão de relação do eleitor com o eleito. Um novo padrão voluntário, não coercitivo como o partido de Lula gosta. É preciso reaprender, e os atuais dirigentes não querem.

Uma avaliação do ex-deputado petista, o sociólogo Paulo Delgado, em permanente revisão do PT em suas palestras, define a situação: " O PT não tem mais linguagem suficiente para entender ou explicar a realidade. Partido de esquerda que não muda a sua mentalidade não muda a linguagem".

Já o ex-deputado e economista Roberto Campos, falecido, dizia: "O problema da esquerda é que mesmo quando está convertida, não está convicta".

Imposto de Renda
O imposto de renda será uma peça fundamental do discurso de posse do presidente eleito Jair Bolsonaro. Ele anunciará, no ato inaugural do seu governo, se já não o fizer antes do dia 1º de janeiro, que haverá apenas uma alíquota para o imposto de renda. Será de 20%. Mas vão acabar as deduções. Serão canceladas as oportunidades de abatimento de pagamentos a médico, dentista, escola e tudo o mais que entra nesse item. Quem viu as contas acredita que a vantagem para o contribuinte é inquestionável.

Operação triangular
Para quem não entendeu ainda a indicação de Osmar Terra, o mesmo do Temer, para o governo Bolsonaro, em cargo de grande importância, o Ministério do Desenvolvimento Social, informa-se: houve uma operação triangular, feita para dar mandato a Darcísio Perondi, que ficou na primeira suplência. Perondi é grande amigo de Bolsonaro e a partir de janeiro deputado na vaga de Terra. De quebra, são do MDB, o que compromete o partido com o novo governo.

Embora com o objetivo de levar Perondi de volta à política, informa-se que o convite foi adequado. Foi Terra que, durante a campanha, ofereceu a Bolsonaro a solução para pagar o 13º salário do Bolsa Família.

Ministério Anticorrupção
Na divisão do Ministério do Trabalho em três partes, o governo Bolsonaro anunciou que o setor mais suscetível à corrupção, responsável pela autorização de funcionamento de sindicatos, passará para o Ministério de Sergio Moro, o da Justiça e Segurança Pública. O Ministério da Justiça, se esse critério fosse estendido a outros setores, poderia ficar maior que o Ministério da Economia, criado para Paulo Guedes.

Por esse critério, deveriam passar para o Ministério do Moro órgãos já atingidos por escândalos que em diferentes épocas abalaram o país. Como Correios, Infraero, Detran, Funasa, Inspeção Animal, aprovação de livros didáticos, fundos de pensão e até o setor que autoriza realização de cesarianas, no Ministério da Saúde.

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