Governo deveria focar no que de fato é prioridade para prosseguir nas reformas do Estado, em vez de apostar em um pacote inviável de ser aprovado até dezembro
O menor dos problemas da lista de novas prioridades do governo para este ano é ser requentada. O que chama atenção é o tamanho de sua ambição. É difícil crer que rol tão ousado quanto caudaloso avance num ano eleitoral, sob gestão cuja força política e apelo popular são frágeis.
A lista, com 15 pontos, foi apresentada ao público à guisa de servir como substituta ao naufrágio da reforma da Previdência, inviabilizada de vez depois da intervenção federal na segurança pública do Rio. No afã de mostrar serviço, o governo transpareceu agir de forma açodada.
Em seus menos de dois anos de existência, a gestão Michel Temer já mostrou a que veio. Mudou a agenda do país e, com isso, conseguiu resultados dignos de nota. Herdou uma nação destroçada e vai entregar ao sucessor uma casa bem mais arrumada. Quem nega isso desconhece o óbvio.
Os indicadores econômicos estão aí para todo mundo ver: a inflação que namora mínimas históricas, o juro básico que jamais foi tão baixo e, sobretudo, a volta do crescimento econômico. Saímos da recessão para expansão próxima a 1% em 2017, segundo estimativa do Banco Central divulgada no início da semana, e rumamos para o (bom) patamar de 3% neste ano.
Alguns poderão questionar: mas e todo o resto? Sim, as mazelas, os problemas, as deficiências permanecem. Mas quem, em sã consciência, pode cobrar que se mude estado tão deteriorado das coisas - que é, nunca se deve esquecer, como o PT deixou o Brasil - em tão curto período? Reconstruir custa trabalho, muito trabalho, e tempo.
É muito relevante que a economia nacional esteja se reerguendo. Sem crescimento econômico, nada mais se ajeitará. Não haverá produção, nem emprego e muito menos o dinheiro dos impostos de que o Estado precisa para cuidar melhor das enormes carências do povo brasileiro.
Michel Temer e seu governo têm o mérito inegável de ter trazido as reformas estruturais de volta à pauta nacional, depois de mais de uma década de ausência e sabotagens. Perseverar nesta direção é o que importa, e é mais que suficiente para os dez meses - ou cerca de metade disso, se considerarmos o ritmo de trabalho do Congresso em ano de eleição como este - que faltam para o fim deste mandato.
A lista de prioridades divulgada anteontem mais parece um programa para quem tem quatro anos de governo, tamanha a sua pretensão. Embora insuficiente para compensar o enterro da reforma da Previdência e apaziguar a situação fiscal, praticamente tudo ali é relevante. Mas, convenhamos: é impossível realizar até dezembro.