quinta-feira, 10 de maio de 2018

William Waack: Sem ‘outsider’

- O Estado de S.Paulo

Nós, brasileiros, criamos mais um paradoxo: queremos o ‘novo’ mantendo o ‘velho’

Tenho grande apreço pelo ex-ministro Joaquim Barbosa, que conheço pessoalmente, mas não o suficiente para dizer se ele é fã de Tom Jobim. É atribuída ao maestro a frase “o Brasil não é para principiantes”. Ao desistir da candidatura que nem sequer tinha sido oficializada, Joaquim Barbosa confirmou o cerne da mensagem de Tom Jobim: no sistema político-partidário brasileiro, prosperam apenas os profissionais.

A grosso modo, esse sistema vigora desde a redemocratização e favorece estruturas partidárias estabelecidas e seus respectivos caciques. Nunca foi atropelado por fora – Collor em 1989 já era um conhecido governador e Lula venceu em 2002 quando já era suficientemente parte desse mesmo sistema.

Ele perdura, e impede que o Brasil, nas próximas eleições, possa ser comparado a uma França (Macron fundou um partido um ano antes de se eleger). Frente à realidade das nossas estruturas políticas, Joaquim Barbosa e Luciano Huck preferiram (pelo bem deles e pelo bem geral) cuidar por enquanto das próprias vidas.

A complicação expressada nos “fracassos” de Barbosa e Huck frente ao sistema político é muito maior do que terem embaralhado por algum tempo a corriqueira dança das articulações políticas e as possíveis alianças eleitorais. Pois o que atropelou por fora nosso sistema político foi a Lava Jato, que em boa parte o destruiu, mas não o substituiu por qualquer outra coisa.

Além de ter trazido algo realmente inédito comparado às últimas eleições: a campanha anticorrupção encurralou também a máquina do governo e, ao lado da extraordinária impopularidade do atual presidente, impediu um candidato “governista” capaz de desfrutar da capilaridade e força da estrutura de distribuição de benesses comandada pelo Executivo.

Bruno Boghossian: Lula enfrentará 'inverno rigoroso'

- Folha de S. Paulo

Derrota no STF e pressão interna por plano B podem reduzir força do ex-presidente

A mais recente derrota de Lula no Supremo marca o início de um “inverno rigoroso”, nas palavras de um dirigente do PT. O ex-presidente completou 32 dias na prisão com caminhos jurídicos cada vez mais escassos, mobilização enfraquecida e uma pressão crescente pela ativação de um plano B para a eleição.

Os principais aliados de Lula mantinham alguma esperança de que o líder petista fosse solto três ou quatro semanas depois de ser levado para a cadeia. Acreditavam que a prisão cumpriria um papel simbólico nesse período e ele poderia voltar às ruas fortalecido.

Esse tempo passou e o voto de Gilmar Mendes que formou maioria no Supremo contra um pedido de liberdade do petista, nesta quarta (9), fechou a porta. Sua defesa ainda mira o STJ, mas estima que o julgamento de recursos na corte levará meses.

O PT agora enfrenta uma encruzilhada com o discurso de manutenção da candidatura de Lula à Presidência. Se o partido sustenta que o processo contra seu líder tem o objetivo de tirá-lo da eleição, fica cada vez mais frágil a crença de que ele poderá participar da disputa.

Roberto Dias: Ciro paz-e-guerra

- Folha de S. Paulo

Tudo indica que o pré-candidato do PDT à Presidência quer ser o Lula de 2002

Desde a redemocratização, alguns candidatos se notabilizaram por concorrer repetidas vezes à Presidência. Nomes como Lula, Eymael, Levy Fidelix, Enéas e José Maria de Almeida.

Nenhum deles cumpriu um hiato tão grande quanto o de Ciro Gomes, que após 16 anos volta à disputa que já percorreu duas vezes (comparação que, vale dizer, usufrui do direito de não acreditar que a nova investida presidencial de Fernando Collor sobreviverá até 7 de outubro, data do primeiro turno).

Em 2002, ano da última tentativa de Ciro, o mundo tinha, como agora, uma Argentina pendurada no FMI, e o Brasil, novidade nenhuma, um governo ruim de voto.

A corrida pelo Planalto incluía um candidato que tentava se despir da imagem de radical e outro com imagem de arestoso demais. A Folha sabatinou os dois, e os títulos falam por si. Do primeiro foi: “Evasivo, Lula poupa bancos, mídia e FHC”. Do segundo saiu: “Ciro afronta mercado, ataca Lula e critica FHC”.

Maria Cristina Fernandes: O encontro dos eleitores de Lula e Joaquim

- Valor Econômico

Até outubro, duelo será entre alienação e resistência

Foi a ausência desesperada por uma alternativa eleitoral que contemplasse o discurso anticorrupção e o combate à desigualdade que inflou o balão de Joaquim Barbosa. O ex-ministro nunca disse sim ou não. Foi sem nunca ter sido. Despistou jornalistas e pré-candidatos em busca de imagens para seus panfletos eletrônicos. Nem equipe deixou que fosse contratada para evitar que os gastos do partido o comprometessem irremediavelmente com uma campanha. A perspectiva de ser alçado, em breve, ao topo da disputa, o amarraria ainda mais. A decisão é fruto deste momento.

As razões são outro capítulo. Os personagens não lhe eram estranhos. Alguns chegavam a lhe lembrar colegas do seu tempo na alta magistratura. Todos os acontecimentos da política nacional da redemocratização pareciam, de uma forma ou de outra, ter passado por eles. Ao contrário do Supremo, no entanto, não teria como virar o enredo com um voto. Precisaria de muitos. Não teria como mudar a política sem nela mergulhar. Seria obrigado a consertar o motor com o carro andando. Ou, ainda mais difícil, subir ao palco do espetáculo cuja censura fez sua fama.

O alcance que sua candidatura tomara agrava os sintomas da desistência. Em 2014 cruzou a fronteira para fugir do assédio do candidato depois flagrado na esparrela de um grampo telefônico. Desta vez, caminha para traçar a mesma rota. Seu eleitor parece partilhar do desencanto, mas é obrigado, pela ausência de alternativas, e pela lei, a votar.

Todos os candidatos já se preparam para tentar fisgar o voto de Barbosa. Jair Bolsonaro quer pegar o eleitor que só pensa em por bandidos cadeia. Ciro Gomes vai atrás daquele que via no ex-ministro uma alternativa entre PT e PSDB. Marina Silva mira o voto anti-sistema. Fernando Haddad, o anti-desigualdade. Até Geraldo Alckmin acha que pode lhe sobrar alguma coisa. Nenhum deles, porém, parece mais aparelhado para captar o voto do ex-ministro do que a alienação eleitoral.

Bernardo Mello Franco: O impeachment vai ao cinema

- O Globo

Numa reunião a portas fechadas, senadores discutem estratégias para defender o mandato de Dilma Rousseff. Sem o tom inflamado da tribuna, a petista Gleisi Hoffmann admite que a queda da presidente é questão de tempo. “Nós vamos perder na comissão, isso está claro”, diz. “Vamos falar sério aqui. Se ela voltar, não tem condição de governar”, acrescenta.

A cena está em “O Processo”, de Maria Augusta Ramos, que chega aos cinemas na semana que vem. Será a primeira estreia da safra de documentários filmados durante a crise do impeachment.

A diretora focou suas lentes no Senado, onde se desenrolou o último capítulo da novela. A ação vai de abril a agosto de 2016, quando a presidente é afastada definitivamente. Foram quatro meses e meio de debates inúteis. Quando a partida começou, os dois lados já sabiam qual seria o placar. Mesmo assim, era preciso cumprir o rito previsto na Constituição.

O filme expõe o lado mais farsesco do processo que instalou Michel Temer no poder. Os senadores se atrapalham com os termos da acusação, baseada em pedaladas fiscais e decretos de crédito suplementar. No fim, a autora do pedido de impeachment reconhece que era tudo pretexto. Nas palavras dela, Dilma não seria derrubada por “questões contábeis”.

Ricardo Noblat: Por que não haverá frente de esquerda para a sucessão de Temer

- Blog do Noblat | Veja

Cada um por si e o eleitor por quem quiser

Somente Lula, hoje condenado, encarcerado e impedido de se candidatar, seria capaz de liderar uma frente de partidos de esquerda para concorrer às eleições presidenciais de outubro próximo.

E como o PT não renunciará ao lançamento de candidato próprio à vaga de Michel Temer, não haverá frente. Outros partidos de esquerda terão seus próprios candidatos. Já os têm. Simples assim. E assim será.

Em nova carta do cárcere, divulgada ontem, Lula reafirmou que é candidato porque é inocente. E que não deixará de ser candidato. Tem razões de sobra para proceder assim até a véspera da eleição.

Se desde já abençoasse outro nome do PT, correria o risco de ser esquecido em Curitiba. A força de sua benção se diluiria até o início da campanha. E, com outras palavras, estaria admitindo ser culpado.

Lula entende que é vital para a sobrevivência do PT que o partido dispute as eleições com um candidato para chamar de seu. Outros partidos, não, preferem apostar na eleição de deputados federais.

Luiz Carlos Azedo: Bolsonaro e Lula

- Correio Braziliense

A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou ontem um pedido de liberdade apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, numa votação virtual que está em 4 a 0. Votaram contra o pedido os ministros Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato, e Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandovski. Falta votar o ministro Celso de Mello. Conhecida como Jardim do Éden, porque tem uma maioria de ministros garantistas, que frequentemente concede habeas corpus aos réus, a decisão de ontem é uma pá de cal nas pretensões do petista de concorrer à Presidência da República até que a sua inelegibilidade tenha transitado em julgado no Supremo. Sinaliza que não sairá da cadeia antes da eleição.

No mesmo dia em que Lula sofreu mais uma derrota acachapante na Justiça, seu principal Cavalcanti, editor de Política do Correio, e a colunista Denise Rothenburg (Brasília-DF), no programa CB Poder, da TV Brasília. Acompanhado em tempo real no Facebook, a entrevista teve 7,9 mil comentários, 1,7 mil compartilhamentos e 79 mil visualizações, a maioria esmagadora em apoio às declarações do ex-militar (veja o resumo na edição de hoje do Correio) e atacando os dois jornalistas. Qualquer declaração estapafúrdia do entrevistado era veementemente endossada por seus apoiadores. É um fenômeno semelhante ao que aconteceu na eleição de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, que derrotou a democrata Hilary Clinton. Qualquer desatino de Trump fazia sucesso entre seus eleitores.

Tendo o ex-presidente Lula como inimigo principal, Bolsonaro construiu uma campanha cujas características principais são um discurso duro e reacionário, que agora começa a derivar para a centro-esquerda, tipo todo mundo é farinha do mesmo saco; segundo, uma agenda focada na segurança pública e de conteúdo conservador nas questões de gênero; terceiro, uma base de apoio radicalizada, que se organizou nas redes sociais e tem poder mobilização onde quer que seu candidato vá. Bolsonaro é um gênio fora da garrafa; não volta mais. Os seus eleitores, digamos assim, não têm vergonha de ser feliz e pensam igualzinho ao seu candidato.

Há pelo menos duas razões robustas para o enraizamento da candidatura de Bolsonaro, ambas têm a ver com os governos Lula e Dilma Rousseff. A primeira é o hegemonismo petista no campo da esquerda, que passou a ser sinônimo de incompetência e corrupção. Quanto mais o PT desqualifica os demais partidos de esquerda, mais fortalece essa tendência. A segunda é a captura dos governos petistas pelo patrimonialismo, o fisiologismo e a corrupção, o que agora permite que o foco de Bolsonaro derive com força para a questão ética, no estilo do velho “udenismo”. De certa forma, a antiga oposição também preparou o terreno para isso, embora agora também esteja em chamas.

*José Serra: Transparência nos subsídios creditícios

- O Estado de S.Paulo

Eis uma boa agenda para o Congresso Nacional, em prol da estabilidade fiscal

No início da atual legislatura, tramitou no Congresso Nacional a Medida Provisória (MP) 663, que autorizava a União a equalizar taxa de juros nas operações de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no âmbito do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). Nessa oportunidade foi aprovada emenda que tornou obrigatória a publicação bimestral, pelo Ministério da Fazenda, do impacto fiscal das operações do Tesouro Nacional com o BNDES, juntamente com a metodologia de cálculo utilizada. Essa foi uma providência correta, com vista a maior transparência dos subsídios fiscais.

De fato, o relatório Boletim de Subsídios do Tesouro Nacional no âmbito do PSI e nos empréstimos ao BNDES – criado para atender a exigência da emenda – tem sido importante fonte de informação sobre o custo fiscal das operações realizadas pelo banco. Note-se que os subsídios creditícios dos empréstimos ao BNDES atingiram nada menos que R$ 15,7 bilhões em 2017.

No ano passado o Congresso aprovou a substituição da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) pela Taxa de Longo Prazo (TLP) nos novos financiamentos do banco, com um prazo de adaptação de cinco anos.

Depois de intensos debates no Senado e na Câmara dos Deputados, prevaleceu o texto elaborado pelo Poder Executivo, com poucos ajustes. Em resumo, o custo dos empréstimos com a TLP serão muito próximos do custo de captação do Tesouro Nacional em títulos de cinco anos, inclusive com o componente inflacionário.

Nas discussões havidas demonstramos que a medida teria impactos orçamentários adicionais decorrentes da elevação dos custos de captação do banco. É simples: a redução dos subsídios implícitos, almejada pelo Ministério da Fazenda, levaria a um aumento dos subsídios explícitos no Orçamento.

Zeina Latiff: Precisamos todos rejuvenescer

- O Estado de S.Paulo

Manter o modelo atual de gestão implicará mais desperdício de recursos

Há avanços no debate econômico, mas também resistem muitas ideias do passado que não deram certo. O País clama por renovação, principalmente da agenda econômica.

Salvo raras exceções, há amplo reconhecimento entre os pré-candidatos à Presidência de que o envelhecimento da população impõe desafios. Do lado fiscal, pelos gastos crescentes com a Previdência; do lado do crescimento, pela menor razão entre população em idade ativa e idosos. Serão menos pessoas para carregar o piano e este ficará mais pesado. A produtividade precisa aumentar. Espera-se um detalhamento das propostas dos candidatos.

Afinal, economistas não são políticos e devem basear suas recomendações em análises de impacto e custo-benefício. Por ora, há apenas rascunhos e, em alguns casos, inconsistências e ideias ultrapassadas de ativismo estatal e proteção de setores.

Ciro Gomes, por exemplo, abraça o compromisso com a disciplina fiscal, mas ao mesmo tempo defende a flexibilização da regra do teto para elevar os gastos públicos com investimento. Ciro defende o protagonismo do Estado na promoção do crescimento, enquanto afirma que poderá rever programas de concessão ao setor privado. Nitroglicerina pura. Junta-se a ineficiência do Estado com a quebra de contratos, o que afugenta o capital privado.

Míriam Leitão: Filmes de época

- O Globo

Crise na Argentina e atos de Trump cabem em filmes de época. A Argentina vive nos últimos dias cenas de um filme de época: congelamento de preços, ida ao FMI, crise cambial, os maiores juros do mundo. Nos Estados Unidos, os atos encenados por Donald Trump, também parecem filme antigo, com surtos de protecionismo e o conflito com o Irã de volta. No Brasil o dólar tem subido. Mas não é filme velho, é uma nova temporada da série.

O dólar está subindo no mundo inteiro em relação a várias moedas. Essa alta tem sido forte no Brasil. Mas, como disse o presidente do Banco Central Ilan Goldfajn, no “Jornal das 10”, da GloboNews, o país está preparado para enfrentar as turbulências internacionais. O fato de Ilan ter demonstrado calma diante da volatilidade deixou alguns analistas nervosos. Achavam que ele deveria ter demonstrado mais preocupação e dado sinais de que vai continuar oferecendo operações de swaps para conter as altas.

No começo de 2016 o dólar valia R$ 4,00. Na época, o Brasil tinha perdido o grau de investimento e havia uma enorme incerteza sobre o governo Dilma. Depois disso, a cotação começou a cair. Agora voltou a subir. O câmbio a R$ 3,6 como estava cotado ontem é bem mais baixo, portanto, do que estava há pouco mais de dois anos. Períodos de altas e quedas são normais no câmbio flutuante. Sempre haverá temporada de elevação, por razões internas ou externas. A grande pergunta é que fragilidades o país tem quando está diante das oscilações de moedas.

A Argentina está com muitos pontos fracos e é por isso que começa a viver as velhas cenas de idas ao FMI, ou altas bruscas das taxas de juros para tentar conter a disparada do dólar. O presidente Mauricio Macri errou quando decidiu pelo ajuste gradual. Não conseguiu vencer a crise que herdou, e os avanços da conjuntura — maiores reservas, menor inflação, correção tarifária — vão se perder exatamente nessa crise na qual o país está vivendo situações que lembram o passado. A Argentina, como o Brasil, enfrentou nos anos 1980, 1990 e começo dos 2000 crises inflacionárias e cambiais. Lá, a alta do dólar tem elementos das crises do passado. Aqui, faz parte do contexto de oscilação cambial que sempre ocorre quando a incerteza no mundo aumenta. São movimentos de natureza diferente.

Carlos Alberto Sardenberg: A lição argentina

- O Globo

FMI empresta dólares a juros baixos, mas governo precisará aprofundar o ajuste fiscal e macro. Nada fácil politicamente

O presidente argentino, Mauricio Macri, deu azar. A política econômica que tentou — do ajuste gradual ou do liberal com coração — só daria certo em um ambiente externo muito favorável aos países emergentes, como ocorreu até pouco tempo. Ou seja, a aposta de Macri não era maluca. Fazia sentido. Mas não contava com o aquecimento da economia americana e com tensões internacionais.

O mundo estava assim: dólar barato e abundante, disponível para investimentos e empréstimos; juros internacionais muito baixos; forte crescimento global, elevando demanda e preços de commodities.

Com isso, Macri conseguiu regularizar a situação externa do país — encerrando uma moratória de décadas e captando empréstimos novos de nada menos que US$ 100 bilhões. Havia confiança no governo e na sua política de desmontar os estragos da era Kirchner, promovendo o equilíbrio das contas internas e externas de maneira gradual.

Foi um erro, muitos dizem hoje. Mas, na hora, quando se elegeu em 2015, era diferente. Os preços estavam congelados; as tarifas eram baratas à custa de subsídios pagos pelo governo; este se financiava com dívida cada vez mais cara ou, especialmente, imprimindo dinheiro e fazendo uma baita inflação. E, para completar, os Kirchner haviam feito uma intervenção no IBGE deles e entregavam números falsos. A inflação real passava dos 50%. No oficial, aparecia como menos de 15%.

Ribamar Oliveira: Queda de braço entre o TCU e a Receita

- Valor Econômico

Guardia e Rachid tentarão resolver o problema

Na semana passada, os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) decidiram se abster de expressar conclusão sobre a confiabilidade e a transparência das informações referentes a créditos tributários a receber a cargo da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB). A decisão, que é inédita, consta do acórdão 977/2018.

Os técnicos do TCU informaram aos ministros que, no decorrer de uma auditoria sobre as contas de créditos tributários a receber e da dívida ativa tributária, constantes do balanço patrimonial do Ministério da Fazenda, solicitaram diversas informações à RFB, que foram negadas sob o argumento do sigilo fiscal.

Eles explicaram também que, apesar de terem sido disponibilizadas duas salas para a equipe de auditores, "apenas foi realizado o cadastro de acesso à rede interna (intranet) para os membros da equipe" e que "nenhum acesso de consulta aos sistemas da RFB foi efetivamente concedido".

Por causa do que chamaram de "restrições de acesso" às informações econômico-fiscais dos contribuintes, os auditores disseram que "não foi possível atestar os valores da conta de créditos tributários em nível de transação ou registro, haja vista a impossibilidade de adentrar nos dados individualizados". Por isso, "a equipe de auditoria não teve outra alternativa a não ser propor se abster de expressar conclusão sobre a confiabilidade e a transparência das informações referentes aos créditos tributários a receber".

A recomendação dos auditores foi acolhida pelos ministros do TCU. O presidente do Tribunal, ministro Raimundo Carrero, propôs que fosse incluído no acórdão um item determinando que o presidente Michel Temer seja informado de que "a obstrução aos trabalhos de fiscalização ocorrida na auditoria financeira realizada nas demonstrações contábeis do Ministério da Fazenda do ano de 2017 pode impactar no exame da prestação de contas do governo federal no referido exercício". A proposta foi aprovada.

Arida diz que próximo presidente tem que zerar déficit em dois anos

Por Vandson Lima | Valor Econômico

BRASÍLIA- Responsável pela formulação do programa econômico de pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, o economista Persio Arida pregou a necessidade de que o próximo presidente faça uma política fiscal dura, que permita zerar o déficit público em, no máximo, dois anos.

Em reunião da Executiva tucana ontem, em Brasília, Arida foi apresentado a parlamentares da do PSDB junto com Luiz Felipe d'Avila, que ficará responsável pela comunicação; e Lula Guimarães, que fará a estratégia de campanha. A continuidade da linha reformista adotada pelo governo do presidente Michel Temer foi vista com bons olhos pelos participantes. Já a formalização de uma aliança com o MDB, segundo interlocutores de Alckmin, está mais complicada.

A reunião foi fechada. Segundo participantes, Arida falou da necessidade de investir em uma agenda de desburocratização, privatizações, abertura econômica e mudanças constitucionais que permitam melhor manejo do orçamento.

Ele ainda não apresentou a proposta, adiantada por Alckmin, para dobrar a renda do brasileiro em um período determinado. Arida deixou o encontro sem falar com a imprensa. "Vamos estabelecer em quantos anos dobrará a renda do brasileiro. Obviamente não será em um mandato [de quatro anos]", afirmou Alckmin.

Já o déficit, contou o pré-candidato, tem urgência. "Zerar o déficit não pode gastar nem meio mandato". E garantiu de ter meios para alcançar o objetivo. "Em São Paulo, atravessei toda a crise com superávit. Nós sabemos fazer isso", assegurou.

Na avaliação do circulo próximo de Alckmin, a aproximação com Temer "esfriou" nos últimos dias. A aliança ainda pode ocorrer, mas ficou menos provável.

Segundo duas fontes ouvidas pelo Valor, Alckmin se irritou e atribuiu ao Palácio do Planalto o vazamento da informação de que ele entrou em contato telefônico com o presidente, na semana passada, para marcarem "um café". "Era início de namoro, uma coisa cuidadosa, e o Temer espalhou pros jornais. Inadmissível. Alckmin ficou muito bravo", atestou um interlocutor.

Tanto é que, apesar de estar em Brasília, Alckmin não havia marcado o referido encontro com Temer. Despachou na sede do PSDB pela manhã, comandou à tarde a reunião da Executiva em um hotel e, à noite, participaria do jantar anual da Associação de Transporte de Cargas e Logística.

Questionado, assegurou que não havia, de fato, agenda prevista com o presidente. "Vou no jantar e amanhã embarco no primeiro voo a São Paulo".

Sobre a possibilidade de defender o legado de Temer, Alckmin disse: "Isto não está colocado neste momento. O que defendo é falar do futuro, esperança. Estamos fazendo conversas com partidos que não terão candidatos".

Num chiste, Alckmin acabou explicitando a distância que há neste momento dele e do MDB ao falar do ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (MS), que cobrou a defesa das realizações da gestão Temer como contrapartida à aliança. "Tenho grande apreço pelo Marun. Meu vizinho. Só o que nos separa é o Rio Paraná", sorriu, lembrando o rio que separa os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Saída de Joaquim pressiona por definições: Editorial | O Globo

Em uma campanha curta, candidatos já devem começar a expor suas propostas sobre questões básicas para o país, o que facilitará a escolha pelo eleitor

A desistência do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que sai da corrida presidencial antes mesmo de formalizar sua entrada pelo PSB, significa menos um concorrente com a característica de outsider, muito valorizada num momento em que o político tradicional virou sinônimo de corrupção, de cadeia e de rejeição popular. Antes, refugara o apresentador Luciano Huck, e outro com pedigree semelhante, João Doria (PSDB), já havia sido batizado na vitória surpreendente na eleição municipal em São Paulo e resolveu tentar o Palácio dos Bandeirantes, sem competir com o ex-patrono Geraldo Alckmin para o Planalto. Não são desprezíveis os quase 10% de apoio a Joaquim Barbosa detectados em pesquisas, e que já estão sendo disputados pelos demais candidatos. Como a campanha desta vez é mais curta, entende-se que a caça a alianças se acelere, para a captura não só dos eleitores egressos do ex-ministro do Supremo.

Do ponto de vista do eleitorado importa saber em que bases os acordos estarão sendo costurados e, mais do que isso, o que pensam, enfim, os senhores e senhoras candidatos. O tempo passa, e questões sérias estão colocadas à frente do país.

O candidato Jair Bolsonaro (PSL) acaba de falar sobre a Previdência, problema-chave do Brasil, e defender um sistema para os jovens, a fim de evitar uma transição “tumultuada”. É pouco e ininteligível.

Entende-se que possa haver uma prevalência da órbita política numa fase inicial das conversas para montagem de alianças. Está presente, também, o cuidado em atrair aliados que somem tempo de TV na campanha eleitoral dita gratuita. E assim como existe a busca pelo outsider — por enquanto atenuada com a defecção de Joaquim Barbosa —, há a procura pela ocupação do centro no mapa ideológico. O ponto médio entre Bolsonaro e Boulos.

A recuperação da Petrobrás: Editorial | O Estado de S. Paulo

Ao alcançar seu maior valor de mercado, graças sobretudo ao desempenho econômico e financeiro que vem apresentando, a Petrobrás dá um claro exemplo de que, se gerida com competência técnica e responsabilidade, produz resultados altamente positivos para seus acionistas e para o País. Um dia depois de anunciar seu resultado financeiro do primeiro trimestre do ano, a empresa atingiu a cotação recorde de R$ 312,5 bilhões em bolsa. É uma demonstração de que sua imagem – corroída por anos de funcionamento de um amplo esquema de pilhagem que nela foi instalado pelas administrações lulopetistas – vem sendo pacientemente reconstruída, e com grande êxito, pela diretoria presidida por Pedro Parente, que a conduz desde junho de 2016, logo após o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Livre da sujeição a uma política de controle de preços, marca da desastrosa gestão de Dilma Rousseff, seguindo uma política prudente de venda de ativos para reequilibrar suas finanças e beneficiada pelo aumento do petróleo, a Petrobrás conseguiu aumentar os lucros ao mesmo tempo que reduziu os custos não voltados à sua atividade principal. No primeiro trimestre, seu lucro alcançou R$ 6,96 bilhões, 57% maior do que o de um ano antes. É o melhor resultado dos últimos cinco anos, o que permitirá à empresa voltar a remunerar seus acionistas. Houve ainda uma importante redução da dívida em proporção ao resultado operacional.

Diante dos resultados agora alcançados, podemos imaginar o que seria a Petrobrás não fossem os danos causados pela sanha da tigrada que anunciou planos mirabolantes de produção e se locupletou com o petrolão.

Fantasmas argentinos: Editorial | Folha de S. Paulo

Governo Macri busca o socorro do FMI, o que deve levar ao endurecimento do ajuste econômico

O surpreendente pedido de ajuda do governo argentino ao Fundo Monetário Internacional (FMI), de valores e condições ainda pouco esclarecidas, pode até ter boas razões econômicas. O país vizinho ganharia fôlego para enfrentar uma crise de confiança e persistir em sua agenda de ajustes.

Do ponto de vista político, contudo, trata-se de um desastre com consequências em potencial para as eleições presidenciais do ano que vem. É um golpe duro, afinal, no prestígio da administração de Mauricio Macri, até agora saudada como reformista e responsável.

Não há dúvida de que o mandatário argentino, eleito em 2015, assumiu um país em situação ainda pior do que a brasileira —embora o desequilíbrio orçamentário seja um pouco menos acentuado lá.

No início do mandato de Macri, estavam suspensos os pagamentos da dívida externa, o que na prática impedia o acesso de governo e empresas ao mercado internacional.

As políticas populistas de Cristina Kirchner, como congelamento de tarifas públicas e subsídios de todo tipo, legaram um quadro de desordem administrativa completado pela inflação sem controle, camuflada nas estatísticas oficiais.

No atual governo, a renegociação dos compromissos com credores estrangeiros foi concluída, abrindo espaço para a captação de novos recursos nos últimos dois anos.

Trump amplia riscos globais ao romper acordo com Irã: Editorial | Valor Econômico

As ações do presidente Donald Trump deixam claro que os maiores riscos econômicos e políticos para a ordem mundial vêm da Casa Branca. Um estimulo fiscal a uma economia em pleno emprego está antecipando o cronograma do Fed para os juros e o dólar forte daí decorrente já derrubou a Argentina e provoca fortes desvalorizações em moedas de vários países. A guerra comercial com a China está apenas no início, mas Brasil e outros parceiros dos EUA foram atingidos com tarifas. Anteontem, Trump retirou os EUA do acordo feito com o Irã, que também tem como signatários o Reino Unido, França, Rússia, Alemanha e China, criando novo foco de instabilidade no explosivo Oriente Médio, além de jogar para cima o preço do petróleo, com chances de empurrar para cima também a inflação americana.

O governo Trump só tem disparado ultimatos a seus aliados, enquanto desdenha apelos sensatos vindos deles. Seus toscos métodos antidiplomáticos tornaram-se uma marca registrada e em algum momento produzirão grandes reveses. O fim do acordo do Irã envolve sérios riscos. Não há um único motivo para que os EUA se retirem agora do acordo, que, como atestam aliados e a minuciosa averiguação da Agência Internacional de Energia Atômica, vem sendo cumprido à risca pelo Irã. A guerra comercial idealizada na Casa Branca é uma resposta errada ao problema do déficit comercial americano, mas os EUA ganham alguma coisa com isso. É difícil vislumbrar qualquer benefício na atitude em relação ao Irã.

A política externa americana agora está sendo guiada por pessoas como John Bolton, que tinha propostas para lidar com os programas nucleares da Coreia do Norte e do Irã - ataques militares preventivos. Na ausência deles, os EUA pedem coisas impossíveis de serem atendidas pelo Irã, com condições difíceis de serem cumpridas também por seus aliados europeus.

Populistas de extrema direita se unem aos antissistema para governar Itália

Coalizão. Sinal verde de Berlusconi, nove semanas após eleição, permite aliança do Movimento 5 Estrelas, fundado pelo comediante Beppe Grillo, com a Liga, de extrema direita; movimentos antagônicos têm em comum a aversão à União Europeia e a imigrantes

Ansa | O Estado de S. Paulo.

Após nove semanas de impasse, o ex-premiê Silvio Berlusconi deu ontem sua ‘bênção’ para uma aliança entre o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e o partido ultranacionalista Liga. O aval do líder conservador era o principal entrave para a coligação inédita de alas políticas opostas. A negociação foi iniciada ontem para impedir que o presidente italiano, Sergio Mattarella, nomeasse um primeiro-ministro apartidário.

A Liga tem uma linha ideológica clara e se beneficiou do crescimento das ideias de extrema direita e ultranacionalistas na Itália. Já o M5S cresceu graças a um difuso sentimento antipolítica no país e é ideologicamente bastante heterogêneo.

Os dois partidos se mobilizaram para encerrar o impasse político provocado por eleições inconclusivas e tentar formar um novo governo na Itália. Eles pediram um prazo de 24 horas para tentar estabelecer aquela que seria a primeira coalizão de forças antissistema no país.

Mattarella deu um prazo até amanhã. Um premiê apartidário, como o que seria indicado por ele, comandaria um governo “neutro” para preparar o país para eleições antecipadas, possivelmente em julho.

Construção. O Movimento 5 Estrelas propôs várias vezes formar um governo com a Liga, mas com a condição de que ela rompa com sua aliada Força Itália (FI), partido liderado por Berlusconi.

O líder da Liga, Matteo Salvini, vinha rejeitando se desvencilhar do ex-premiê por lealdade à aliança de centro-direita. O M5S considera Berlusconi, de 81 anos, condenado por evasão fiscal, um símbolo da corrupção na política italiana.

Bolsonaro estimula militares na política

Por Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - Sem perspectiva de conquistar o apoio de partidos grandes em um eventual governo, o deputado federal e presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro (RJ), aposta na eleição de militares para construir uma base mínima de sustentação no Congresso e nos Estados. Por isso o parlamentar, que é capitão do Exército, tem estimulado a participação de integrantes das Forças Armadas na disputa eleitoral.

"O partido do Exército é o Brasil. Eles [militares] nunca tiveram candidatos. Agora, querem participar do futuro da nação", defendeu Bolsonaro ao ser questionado sobre o crescente interesse de integrantes das Forças Armadas na política. A declaração ao Valor foi feita após a cerimônia que oficializou o general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira no Comando Militar do Sudeste.

Na ocasião, Bolsonaro ainda reiterou a promessa de um governo composto por militares. "Não sei porque alguns têm preconceito. Até há pouco tínhamos corruptos e terroristas loteando ministérios e ninguém falava nada. Se eu chegar lá, quase a metade dos ministros, será militar, com toda a certeza. A honestidade e o patriotismo têm que valer mais para você administrar bem o país", declarou.

A lista de pré-candidatos militares não está fechada. Até o momento são 71 em 26 Estados. Por ora, o Acre é a exceção. "Criamos um grupo de WhatsApp. Alguns que não vão concorrer e eram cotados pediram para sair, enquanto outros pediram para entrar. Estamos em permanente atualização", diz o general Roberto Peternelli, responsável pelo levantamento.

Dos 71 postulantes, 25 concorrem a deputado estadual e distrital, 39 a deputado federal, dois ao Senado e três a governador (CE, DF e MA), além de Bolsonaro, que disputará o Planalto. O tenente coronel Arnoldo (PRP-DF) ainda não definiu o cargo. De olho em uma vaga na Câmara Distrital, a coronel Regina Moézia (PRP) é a única mulher na lista, que tem o PSL como principal porta-voz dos militares, com 35 pré-candidatos.

Temer estuda medidas que aumentem cacife de apoio a PSDB

Por Marcelo Ribeiro | Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer está atuando em diversas frentes para vender caro o apoio do MDB e da máquina federal à pré-candidatura do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, do PSDB, à Presidência da República. Diante de sua impopularidade e do desempenho fraco nas pesquisas de intenção de voto, o emedebista encomendou ao ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, um estudo para levantar possíveis medidas para baratear o preço dos combustíveis, como a tarifa da gasolina.

Temer acredita que com a adoção da medida conseguirá ver uma melhora da avaliação do governo em pesquisas futuras, o que poderá tornar mais pesada a moeda de troca pelo seu apoio nas urnas.

Ainda que partidos do centro político tenham demonstrado disposição em articular a criação de uma ampla aliança isolando PSDB e MDB, Temer decidiu ampliar suas investidas sobre as legendas do bloco. Pensando em valorizar seu passe nas negociações pela composição de uma candidatura única do centro político, o presidente resolveu retomar a interlocução com legendas como o PRB, que tem o empresário Flávio Rocha como pré-candidato ao comando do Palácio do Planalto, e o PR e o PP, que não apresentaram candidatura própria.

Ontem, em reunião com o deputado Fausto Pinato (PP-SP), Temer teria falado em alianças regionais entre emedebistas e progressistas, mas também colocou na mesa que seria interessante que "os partidos pudessem jogar juntos" na corrida presidencial. Na terça-feira, as investidas foram sobre o ex-ministro Marcos Pereira, que é presidente do PRB.

Segundo auxiliares do Planalto, Temer acredita que, se o flerte com PRB, PP e PR vingar, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que é pré-candidato à Presidência pelo partido comandado pelo prefeito de Salvador ACM Neto, deixará de resistir à possibilidade de fazer parte de uma composição com as demais legendas do centro.

Caso esse cenário se concretize, Temer terá mais fichas na mesa para negociar por mais espaço na chapa única do centro político. Em conversas reservadas, o emedebista tem afirmado a interlocutores que o cenário ideal é que o centro consiga compor uma aliança formada por pelo menos nove siglas em torno de uma candidatura. "Ele quer que se juntem com o MDB o DEM, PSD, PP, PR, PTB, Solidariedade, PRB e PSDB", afirmou um aliado de Temer ao Valor.

Temer desiste e atua por Meirelles

Sem apoio do PMDB, o presidente Michel Temer confirmou a aliados próximos que não disputará a eleição e sinalizou que atuará nos bastidores pela candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.

Temer desiste e atua por Meirelles na eleição

Sem apoio do PMDB e temendo virar alvo fácil na campanha, presidente já anunciou decisão a ministros

Robson Bonin e Bruno Góes | O Globo

-BRASÍLIA- Em conversa com aliados do seu círculo pessoal, no Palácio da Alvorada, na tarde de domingo, o presidente Michel Temer confirmou que não irá disputar as eleições de outubro. Reunido com o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles e com dois de seus auxiliares mais próximos, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, o presidente deixou claro que pretende sair de cena como candidato e deu sinais de que irá atuar nos bastidores pela candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.

Desde que anunciou o desejo de disputar a reeleição, Temer experimentou o avanço do noticiário policial — ele responde a dois inquéritos no STF — sobre seu grupo político e familiar. Também enfrentou resistências dentro do seu próprio partido, preocupado com os prejuízos financeiros de uma campanha presidencial centrada na sua reeleição. Para auxiliares do presidente, a escalada de notícias negativas e a devassa no passado de Temer tenderiam a piorar muito durante a campanha, o que deixaria o presidente sob constante tiroteio dos candidatos.

— Imagine como seria a cobertura da imprensa de um presidente candidato, com todos os repórteres que já cobrem o Planalto indo a todo evento dele? O Michel não teria um segundo de paz. E tudo que ele precisa agora é tocar o governo e deixar de ser alvo — diz ao GLOBO um auxiliar direto de Temer.

Além de ter sido aconselhado a sair dos holofotes eleitorais, Temer decidiu trabalhar pela construção da candidatura de Meirelles por considerar o ex-ministro o único que poderá fazer a defesa do seu governo durante a campanha. A recente aproximação com Geraldo Alckmin, na última semana, manteve o diálogo aberto com o PSDB. Temer, no entanto, sabe que o pré-candidato tucano jamais defenderia o governo na campanha — e tampouco interessa ao PSDB atrair para sua candidatura a impopularidade do presidente.

Internamente, no PMDB, Temer também foi convencido das resistências ao seu nome dentro dos diretórios regionais. Ao longo de três jantares com lideranças peemedebistas nas últimas semanas, o clima entre os líderes regionais era de angústia. Os dirigentes estaduais do PMDB apresentaram uma série de dificuldades políticas ante a possibilidade de terem que sustentar uma candidatura de Temer nos estados. Sem recursos próprios para bancar o projeto, Temer teria de utilizar as verbas do seu partido, o que prejudicaria a distribuição de dinheiro para campanhas de parlamentares e de governadores país afora.

Meirelles diz que não será vice em chapa com PSDB

Daniel Weterman Felipe Frazão / O Estado de S. Paulo.

BRASÍLIA - O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles afirmou ontem que mantém sua intenção em ser candidato à Presidência pelo MDB e não considera a hipótese de ser vice em uma eventual chapa encabeçada por outro presidenciável. Enquanto o presidente Michel Temer tem conversado com o PSDB, que lançou o ex-governador Geraldo Alckmin como pré-candidato, Meirelles disse que uma aliança com os tucanos só é possível se o partido aceitar a vaga de vice em uma chapa encabeçada pelo MDB.

“Se é possível fazer imediatamente uma aliança com o PSDB? Certamente, não há dúvida, desde que o PSDB aceite uma candidatura à vice.”

Ele também disse que não acredita em “acordo de bastidor” e que o critério para definir candidatos em aliança deve ser o potencial eleitoral. “Outros poderão tomar a mesma decisão, acredito que essa consolidação será natural porque eu não acredito muito em acordo de bastidor”, declarou. “Só o potencial eleitoral, de fato, é que vai definir isso.”

Alckmin. Depois de participar de reunião da Executiva do PSDB, em Brasília, Alckmin disse que não discute a defesa de um legado do governo Michel Temer, apesar de o Palácio do Planalto ter iniciado conversas com a cúpula tucana para eventual formação de aliança.

Alckmin afirmou que tal defesa “não está colocada em discussão no momento”. O tucano disse que seria uma “indelicadeza” porque o MDB tem como pré-candidato à sucessão de Temer o ex-ministro da Fazenda. “O que estamos fazendo nesse momento é uma conversa com partidos que certamente não terão candidato.”

“Novo legislativo”: STF discute ampliação de nova regra do foro

Ministro Dias Toffoli propõe estender mudanças a Executivo e Judiciário

Câmara dos Deputados também instala comissão para rever legislação sobre o tema

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, encaminhou ontem à presidente Cármen Lúcia proposta para estender a restrição do foro privilegiado a todas as autoridades, além de deputados e senadores. Desde a decisão do STF na semana passada, 44 processos e inquéritos envolvendo políticos já deixaram a Corte. A Câmara instalou comissão especial para analisar proposta sobre o tema.

Decisão em cascata

Dias Toffoli propõe restringir foro a todas as autoridades federais, estaduais e municipais

Carolina Brígido, Renata Mariz e Bruno Góes | O Globo

-BRASÍLIA- Depois de uma semana de polêmicas e dúvidas sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que restringiu a regra do foro privilegiado, o ministro Dias Toffoli enviou ontem para a presidente da Corte, Cármen Lúcia, duas propostas de súmula vinculante — um instrumento para unificar decisões de tribunais de todo o país — nas quais sugeriu estender a nova regra a todas as autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário em nível federal. Toffoli também quer eliminar a prerrogativa de foro para autoridades dos estados e municípios, prevista nas constituições locais. A decisão do ministro é mais um capítulo da discussão que se formou desde que a Corte decidiu aplicar restrições ao foro privilegiado.

Na semana passada, o STF decidiu que deputados e senadores só teriam o direito de serem processados e julgados na Corte por crimes cometidos durante o mandato e relacionados à atuação parlamentar. Ao propor as súmulas, Toffoli sustenta que as medidas vão eliminar controvérsias nos tribunais que possam gerar “grave insegurança jurídica”. Isso porque mais cortes podem estender a interpretação da restrição do foro para outros cargos.

Na segunda-feira, o ministro Luiz Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), usou o princípio da simetria e aplicou o entendimento do STF para um processo contra o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB). Os governadores têm direito ao foro no STJ, mas o ministro enviou a investigação para a primeira instância. Salomão também abriu discussão sobre a possibilidade de aplicar o entendimento a integrantes do Judiciário e do Ministério Público.

Para uma súmula ser aprovada, são necessários votos de oito dos 11 ministros. Antes, Cármen precisa pautar o julgamento. Ainda não há previsão de quando isso acontecerá. No STF, a ideia de Toffoli repercutiu. Luiz Fux ponderou que uma súmula só pode ser aprovada quando a decisão é tomada repetidas vezes pelo tribunal. No caso do foro, houve só um julgamento em que foi discutida apenas a situação de deputados e senadores.

— É necessário um julgamento de casos referentes a outras categorias para se chegar a uma conclusão global e fixar uma súmula — disse Fux.

Charles Baudelaire: A giganta

Pois quando a Natureza, em seu capricho exato,
Gerava estranhos seres raros, dia a dia,
Uma giganta moça – eis do eu gostaria,
Para viver-lhe aos pés com a volúpia de um gato.
Ver seu corpo florir com a flor de sua alma
E crescer livremente em seus terríveis jogos;
Ver se não teria no peito alguma oculta chama,
Com as chispas molhadas que mostra nos olhos.
Percorrer à vontade a realeza das formas,
Escalar a vertente dos joelhos enormes
E, quando os sóis do estio, à complacência alheios,
Estendem-na, cansada, ao longo da campina,
Dormir descontraído à sombra dos seus seios,
Como abrigo tranqüilo ao pé de uma colina.