“É neste sentido que as lideranças políticas que assinam este manifesto conclamam todas as forças democráticas e reformistas a se unirem em torno de um projeto nacional, que a um só tempo, dê conta de inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento social e econômico, a partir dos avanços já alcançados nos últimos anos, e afaste um horizonte nebuloso de confrontação entre populismos radicais, autoritários e anacrônicos”
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quarta-feira, 6 de junho de 2018
*José Antonio Segatto: Infortúnios políticos
- O Estado de S.Paulo
A exumação de um anacronismo pelo PT é mero simulacro de um passado infausto
Há momentos em que a História parece repetir-se, reavivando vestígios e elementos do passado. Muitas das ações e proposições histórico-políticas, incluídas as extemporâneas, insistem em sobreviver, em prosseguir influenciando e direcionando a intervenção de organizações, movimentos, protagonistas. Karl Marx, ao analisar o fardo de determinadas ideologias e práxis pretéritas no presente, lembrou certa feita que, em muitos casos e ocasiões, “a tradição de (...) gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”; e posteriormente completou, ao advertir que “somos atormentados pelos vivos e, também, pelos mortos”.
Uma amostra indicativa desse fenômeno pode ser situada na conduta do Partido dos Trabalhadores (PT) na atual conjuntura. Suas ações e retórica apresentam aproximação e mesmo equivalência às do Partido Comunista Brasileiro (PCB) nos anos 1948-54. Em 1945, no bojo do processo de democratização, o PCB conquistou a legalidade e transformou-se num partido de massas e de caráter nacional-popular.
Chegou a ter 200 mil filiados, adquiriu um porcentual eleitoral significativo, criou uma imprensa com diversos jornais e revistas, conquistou o apoio de extensos setores do proletariado urbano, das camadas médias e da intelectualidade. Fez-se presente na luta pela democracia com uma política de “união nacional, dentro da lei e da ordem, para a consolidação democrática”, assentada num “regime republicano progressista e popular”, como a definiu seu então venerável líder, Luís Carlos Prestes.
O período de legalidade foi, no entanto, curto – os reflexos da guerra fria, juntamente com as pressões de forças conservadoras, acarretaram a ilegalização do PCB (1947). Clandestino e perseguido, isolou-se e adotou uma política sectária, de confrontação e desdém pela liberal-democracia. Enformado por um marxismo dogmático e vulgar, retomou o projeto nacional-libertador com apelo insurrecional. Com uma retórica estridente e intolerante, passou a insultar os adversários chamando-os de “agentes do imperialismo” e/ou “do latifúndio”, “direita fascista”, “traidores do povo”, “vendilhões da pátria”, “escribas da imprensa reacionária”, “lacaios da burguesia”, além de outros termos desabonadores. Essa política começou a ser superada em meados dos anos 1950, quando iniciou um processo renovador – sob os influxos da desestalinização da URSS (1956) – que o levaria a valorizar a democracia, a ação política institucional e a via pacífica para o socialismo.
Merval Pereira: A velha política
- O Globo
Centro-direita e esquerda passam pelas mesmas perplexidades: temem perder a eleição se não se unirem em torno de uma só candidatura. As pesquisas mostram que os candidatos de partidos pequenos e que têm menos tempo de televisão, com estruturas precárias pelo país afora, são os que aparecem nos primeiros lugares: Bolsonaro, Marina Silva e Ciro Gomes.
No entanto, os partidos tradicionais teimam em unir as forças de seus campos políticos, de acordo com os parâmetros a que estão acostumados e que controlam. A velha política. A polarização entre PT e PSDB é o sonho de consumo dos líderes dos dois partidos, que não levam em conta uma substancial mudança de ânimo dos eleitores em relação aos políticos tradicionais. Os especialistas em pesquisas também apostam neste cenário, que até agora não se concretizou.
Ao contrário, os exemplos que temos de pleitos recentes, tanto em Manaus quanto em Tocantins, mostram uma tendência ao voto em branco ou nulo, e o aumento de abstenções. A rejeição aos políticos tradicionais, aí incluídos Lula — que está preso —, seu indicado para substituí-lo na urna eletrônica e Alckmin, que não consegue melhorar nas pesquisas, é uma realidade nova.
A esquerda está amarrada à estratégia do ex-presidente Lula de manter sua candidatura até o último momento possível, o único trunfo que tem para não se tornar irrelevante no processo eleitoral. A centro-direita, acossada pelo surgimento de Bolsonaro, tenta se unir, mas não tem nenhum candidato até agora com chance de vitória. Alckmin é o único com potencial de crescimento, menos por ele, mais pela estrutura partidária do PSDB — se é que essa será uma variável de peso durante a campanha.
Nos últimos dias, vários movimentos vêm sendo tentados em ambos os lados. Lula enviou um recado duro para Ciro Gomes, o candidato da esquerda melhor colocado nas pesquisas — que deveria ser a melhor opção desse espectro político, na impossibilidade de Lula conseguir registrar sua candidatura. Lula mandou dizer que Ciro é um bom quadro, mas não um líder.
O espectro político de centro-direita tenta se unir, mas encontra dificuldades, insuperáveis aparentemente. Primeiro o grupo se classifica de centro, fugindo da ligação com a direita representada por Bolsonaro. Classifica de “extremos” tanto a direita quanto a esquerda, e buscam pontos comuns que possam favorecer a escolha de um candidato único, temendo não chegar ao segundo turno.
Mas o lançamento do manifesto, ontem, já contou com um desfalque de peso. O DEM não compareceu, e aparentemente mantém a candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para futuras negociações. Há também o próprio Temer como obstáculo, que tem o MDB como suporte teórico que daria a quem tiver seu apoio uma estrutura partidária nacional e o maior tempo de televisão.
Rosângela Bittar: As cartas são essas e o jogo não tem curinga
- Valor Econômico
É impossível fazer hoje prognóstico honesto para eleição
Levando-se em conta que o presidente da República pode ser preso dentro de seis meses, que um ex-presidente é presidiário, e que uma ex-presidente e dois outros ex-presidentes estão implicados em inquéritos e processos correntes, todos pelas mesmas razões, não é de se estranhar que o Brasil tenha, no rol de candidatos a presidente que está oferecendo ao eleitorado, os nomes que aí estão. A fábrica dessa geração de políticos, digamos sem abuso da generalidade, pois há exceções, produziu essas espécimes que todos já sabem como são.
Não é de repente que, saindo do buraco onde se encontra, o país encontrará o paraíso. Candidatos intelectualmente preparados, probos, nobres, inteligentes e justos, constituem uma demanda sem oferta.
Não há luz no fim desse túnel de outubro? Há, a luz de um trem que vem em direção contrária, em sua direção. A velha piada foi resgatada por um pessimista inveterado. Contando com a sorte, o imponderável e o acaso, o otimista, na sua vez, diz esperar que alguém diferente ainda apareça, ou que a disputa pelos que atualmente constam das enquetes se eleve a partir da formação da candidatura, com seu lastro. Ou seja, com ajuda, os pecadores se converterão em suas sombras puras.
Essas preocupações, em pleno junho, faltando três meses para a escolha compulsória, são graves e denotam a existência de uma maioria abúlica.
O sociólogo e cientista político Antonio Lavareda é um dos otimistas. A seu ver, o quadro vai desembaralhar. "Isso não significa prosperar numa boa direção, mas essas coisas vão se afunilando a partir de um determinado momento". Que todos, o professor e os candidatos, localizam no início da campanha na TV e no rádio.
"Define-se aí umas cinco candidaturas competitivas", afirma Lavareda. O que é tecnicamente uma candidatura competitiva? A seu ver, é a candidatura que passa dos dois dígitos, 10% em diante.
Mas ainda assim a campanha será uma coisa embaralhada, nervosa, prevê. "Essa eleição vai ter essa característica, não adianta esperar o contrário".
O segundo turno se definirá, segundo diz, "no olho mecânico". Mais ou menos o que aconteceu em 1989, quando Lula passou para o segundo turno com apenas 0,6% em distância de Brizola.
E ainda há o que ele chama de ponto de corte, também semelhante a 1989: "O ponto de corte pode ficar em torno dos 17 pontos". Portanto, esse seria o percentual necessário a passar para o segundo turno. "Dois candidatos que ultrapassem 17%, nessa hipótese de eleição muito fragmentada, podem estar no segundo turno".
Bruno Boghossian: Curto circuito
- Folha de S. Paulo
'Centro' vaga sem rumo em deserto de candidaturas competitivas na eleição
O consórcio partidário que tenta assumir a marca de “centro” vaga sem rumo a quatro meses da eleição. Confrontadas com uma possível derrota nas urnas, as siglas que deram sustentação ao governo Michel Temer decidiram ensaiar um movimento de união, mas veem suas tensões internas se acumularem.
No PSDB, a estagnação de Geraldo Alckmin levou o ex-governador paulista a um desabafo incomum. Pressionado por aliados, o tucano reconheceu dificuldades e se irritou com as cobranças frequentes para que deslanche nas pesquisas.
O fantasma de João Doria ronda Alckmin como um possível substituto na campanha, mas as sondagens mais recentes mostram que o ex-prefeito tem um desempenho tão tímido quanto o de seu padrinho. A constatação serve de alívio para o ex-governador, embora revele que o PSDB tem poucas alternativas.
A esperança dos tucanos é manter uma estratégia de eliminação sucessiva de potenciais adversários, em uma espécie de jogo de “Resta Um” que acabaria beneficiando Alckmin.
O movimento liderado pelo PSDB para unir candidaturas de centro parece, por ora, um esforço frustrado nessa direção. O lançamento de um manifesto nesta terça (5) em Brasília reuniu basicamente deputados tucanos e alguns poucos parlamentares de outros partidos.
O DEM de Rodrigo Maia boicotou o encontro. A cúpula da legenda decidiu empurrar para julho a definição do caminho que seguirá na corrida presidencial. Apesar dos laços históricos da sigla com o PSDB, dirigentes afirmam que podem buscar outras direções e que será preciso fazer uma “aposta” no escuro.
A fritura de Henrique Meirelles no MDB é mais um sintoma do abatimento desse campo. O ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) disse que o partido pode abrir mão da candidatura do ex-chefe da Fazenda para apoiar outro nome. Foi logo desautorizado pela cúpula da sigla.
Em um deserto de candidaturas competitivas, as propostas de unificação ainda são apenas miragens.
Vera Magalhães: Bolsonaro sem marcação
- O Estado de S.Paulo
Ou os adversários se dão conta de que precisarão confrontar o presidenciável ou a cristalização de seus votos se tornará maior
Não entendo patavinas de futebol americano, mas uma das imagens mais recorrentes do jogo é aquela em que jogadores dos dois times ficam se pegando no meio do campo e um escapa e corre até fazer o touchdown. A campanha presidencial brasileira está nesse estágio: um monte de candidato próximo ao traço nas pesquisas se engalfinhando no centro enquanto Jair Bolsonaro corre várias jardas com a bola, sem marcação.
O deputado do PSL acaba de cruzar a barreira dos 20% com certa margem, de acordo com levantamento do instituto DataPoder360. O mais impressionante é que a retirada de nada menos que nove postulantes num dos cenários testados não altera em nada o quadro: Bolsonaro segue impávido, e aquele que espera se beneficiar da tal união no centro, Geraldo Alckmin (PSDB), empacado em 6% ou 7%.
Havia uma suspeita (desejo?) de que o ex-capitão tivesse alcançado seu teto num patamar pouco inferior, na casa de 17%, mas isso ainda não se mostrou verdadeiro.
Alheios aos números e à resiliência bolsonariana – que tem eleitores convictos, militantes e cada vez menos “envergonhados” da escolha –, nomes como Alckmin e mesmo aqueles com índices ainda mais raquíticos, como Henrique Meirelles (MDB), insistem de forma um tanto arrogante na tese (desejo, de novo?) de que ele vai minguar quando a campanha começar de fato e não tiver tempo de TV ou estrutura partidária.
Com base nessa “certeza”, adiam entendimentos políticos para reduzir o bolo no meio de campo, uma pulverização que não atende a um recorte da sociedade – basta para constatar isso o fato de que poucos desses nove candidatos têm mais que 1% de intenção de votos –, mas a tentativas dos partidos de se cacifar ou a capricho pessoal dos postulantes.
Parece uma aposta fundada em velhos paradigmas, que têm sido desafiados dia a dia não só no caso brasileiro, mas no mundo. Ou os adversários se dão conta de que precisarão confrontar Bolsonaro – suas ideias para o Brasil, sua noção de democracia, sua trajetória parlamentar, seus aliados, sua base partidária, sua plataforma para a economia – ou a cristalização de seus votos se tornará maior. Jogar parado não parece ser uma boa ideia numa eleição que será disputada tão no corpo a corpo quanto uma partida de futebol americano.
Ricardo Noblat: Fica mais longe o sonho de um candidato do centro
- Blog do Noblat | Veja
Quem mais perde é Alckmin
Se depender dos atuais candidatos do centro que aspiram suceder Michel Temer, não haverá um só, mas muitos candidatos de centro a disputarem a eleição presidencial de outubro próximo.
Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (REDE), Rodrigo Maia (DEM), Henrique Meirelles (PMDB), Álvaro Dias (PODEMOS), nenhum deles compareceu ao ato de lançamento em Brasília do manifesto que prega a união dos partidos de centro.
Quem perdeu mais com isso foi Alckmin. Porque o manifesto foi concebido e assinado basicamente por políticos de vários partidos que o apoiam.
Um único nome de peso do PSDB apareceu – nem mesmo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Havia apenas 19 deputados. Presidente de partido somente um – Roberto Freire, do PPS. O ato foi ostensivamente sabotado pelo DEM de Maia.
A campanha eleitoral no rádio e na televisão começará no final de agosto. Se até lá os partidos de centro não tiveram se unido, dificilmente se unirão mais tarde, a não ser no segundo turno. Quer dizer: se algum candidato do centro disputar o segundo turno.
Em lançamento de manifesto, lideranças do PPS afirmam que Brasil precisa se unir para evitar desastre político
O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, advertiu os presentes ao lançamento do “Manifesto por um Polo Democrático e Reformista”, nesta terça-feira (05), para a preocupação de, ao reunir forças nessa iniciativa, não se criar inimigos também. “Temos que superar a ideia que, infelizmente, tomou conta do Brasil, do nós contra eles”, afirmou, ao discursar na solenidade, que ocorreu no Salão Verde da Câmara dos Deputados. “Estamos fazendo uma opção política, não criando inimigos”, insistiu.
Segundo o presidente do PPS, se vai haver apenas um candidato representando o espectro que se formou em torno das ideias do manifesto, “só o processo vai dizer; mas hoje demos o primeiro passo”. Freire sugeriu uma reunião com os partidos políticos para discutir com os candidatos, levando o manifesto. “Será passo a passo. Se não conseguirmos, algo de importante daqui sai: tem que ter pacto de não-agressão, tem que ter compromisso com princípios fundamentais da República, das instituições republicanas, da democracia, das liberdades, coisa que o bolsonarismo e o lulopetismo não têm”.
O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) foi quem elaborou, junto com o secretário-geral do PSDB, deputado Marcos Pestana (MG), o texto do manifesto. Cristovam disse que o que trazia ele e aqueles que “não estão nos extremos populista e autoritário” a lançar o documento era a percepção do processo de desagregação do tecido social brasileiro. “Basta ver o incêndio de ônibus na semana seguinte a uma greve de caminhoneiros”. Além dessa desagregação, disse, há um vácuo político. “É um cenário terrível. Não seria assim se a sociedade brasileira pudesse ir às urnas com esperança, mas ela vai com raiva, que não é uma boa conselheira das urnas”, acrescentou. Para ele, o perigo é o brasileiro ter que escolher entre catástrofe e desastre.
“Por isso, estamos aqui, lançando esse apelo aos candidatos que têm compromisso social, espírito democrático e responsabilidade econômica; que não são autoritários, nem fecham os olhos à nossa população”, declarou Cristovam. A ideia, definiu, é sugerir aos candidatos com esse perfil que se unam, escolham entre eles um candidato para que o Brasil possa ter uma campanha com esperança. “A bola está com os candidatos, mas vamos querer estar junto deles para ver como fazem o gol, não para fazer pressão, mas para conversar, parlamentar”. O senador acrescentou que os presidentes de partidos e os parlamentares também são importantes no projeto. “Quem sabe esse manifesto tenha uma consequência, de unir os que não são extremos”.
O deputado federal Rubens Bueno (PPS-PR) disse que a escolha de um candidato de vários partidos pode evitar o que ocorreu na eleição de 1989, quando foi eleito Fernando Collor de Mello. “A história quando se repete o faz como tragédia. Não podemos deixar que ela nos abata”. Ele informou que há alguns meses um grupo de parlamentares vem discutindo a criação do polo democrático.
Bueno se disse preocupado com a crise econômica, política e social que o país atravessa. “Temos que dar a resposta, encontrar um nome que possa reunir vários outros e seus respectivos partidos e então ver quem vamos apoiar com um programa consistente, a começar da liberdade e da democracia”.
A deputada federal Carmen Zanotto (PPS-SC), que também assinou o documento, disse que “o manifesto é uma contribuição inicial importante para deslanchar o debate em torno do que queremos para o nosso País”.
Veja abaixo a íntegra do manifesto.
Lideranças de centro lançam manifesto com aceno para eleitores da esquerda e da direita
Texto fala em manutenção do Bolsa Família e tolerância zero com o crime organizado
Daniel Carvalho | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Diante do protagonismo de pré-candidaturas mais à esquerda e à direita do espectro político, lideranças de partidos como PSDB, MDB, PPS, PV, PSD e PTB lançaram nesta terça-feira (5) um manifesto para tentar evitar a fragmentação das legendas de centro na eleição presidencial. Um site para reunir propostas também será criado.
O texto de oito páginas já tem 27 signatários, entre políticos e intelectuais como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e agora busca apoio de outras pessoas.
O DEM, partido com três deputados aparecendo como apoiadores, informou que, por uma questão de timing interno, não estava assinando o documento.
"Nós não assinamos. Como a gente está num processo de discussão interna, de respaldo interno à posição de Rodrigo [Maia], eu participei de toda a discussão, apoio a tese da discussão em si, mas me resguardei para um segundo momento. Temos um alinhamento total com Rodrigo", afirmou o deputado Mendonça Filho (DEM-PE), contrariando o idealizador do manifesto, Marcus Pestana (PSDB-MG), que diz que os parlamentares do DEM haviam assinado o texto.
Pré-candidato à Presidência da República, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), negou que tenha orientado seus correligionários a retirar assinaturas.
Acenando à direita, o "Manifesto por um polo democrático e reformista" fala em “postura firme” na segurança pública, “tolerância zero” com o crime organizado e desburocratização de licenciamento ambiental.
À esquerda, o grupo fala expressamente em continuar com o Bolsa Família, programa cuja manutenção foi uma das principais pautas da disputa entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) na eleição de 2014.
"O Brasil precisa recuperar a confiança no seu futuro. Não chegaremos lá voltando ao passado do autoritarismo ou ao passado mais recente do lulopetismo", disse FHC em uma mensagem lida pelo deputado Betinho Gomes (PSDB-PE). "As lideranças política precisam enxergar que está em jogo a recuperação da legitimidade democrática da autoridade pública ou a desorganização política, econômica e social do Brasil", afirmou o ex-presidente.
“O movimento não visa substituir o protagonismo de pré-candidatos ou dos partidos. Não é um movimento partidário. O manifesto não defende nomes, mas ideias e a convicção de que, se as forças democráticas se dividirem, teremos chance de repetir [a eleição de] 1989, quando essa fragmentação produziu a disputa entre extremos no segundo turno, Collor e Lula”, disse Pestana, um dos idealizadores do manifesto.
Os principais alvos do movimento -Jair Bolsonaro (PSL), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PDT)- não foram citados.
"Não estamos aqui criando inimigos, mas definindo posição política", disse o deputado Roberto Freire (PPS-SP).
Políticos de centro lançam frente contra ‘radicalismo’
Grupo é formado por integrantes de sete partidos e conta com apoio de FH
- O Globo
-BRASÍLIA- Parlamentares lançaram ontem, na Câmara dos Deputados, o “Manifesto por um polo democrático”, documento que conclama as forças “reformistas” a se unirem durante a disputa eleitoral deste ano. O movimento, idealizado pelo senador Cristovam Buarque (PPS-DF) e pelo secretário-geral do PSDB, Marcus Pestana (MG), ganhou o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de cientistas políticos. A ideia é criar um canal de diálogo com pré-candidatos e consolidar um grupo de oposição a candidaturas consideradas por eles “radicais”, como as de Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D’Ávila (PCdoB).
Com o crescimento nas pesquisas de Jair Bolsonaro e a desarticulação do centro, o propósito é aglutinar forças e dar sustentação a um candidato do que chamam “campo democrático". Assinaram o manifesto, entre outras pessoas, 16 deputados e um senador de sete partidos (PSDB, PPS, DEM, PTB, PV, PSD e MDB). No fim do ato, o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE) leu uma mensagem do ex-presidente Fernando Henrique:
— O Brasil precisa recuperar a confiança no seu futuro. Não chegaremos lá voltando ao passado do autoritarismo ou ao passado mais recente do lulopetismo. O país precisa da convergência das forças políticas que possam ter propósitos semelhantes — diz a mensagem de FH.
O ex-presidente argumenta que está em jogo “a recuperação da legitimidade democrática da autoridade pública ou a desorganização política, econômica e social do país”. No ato, o presidente do PPS, Roberto Freire, desenvolveu pensamento parecido ao comentar as reações à greve dos caminhoneiros. Segundo ele, assistiu-se, nas últimas semanas, a “uma simbiose do petismo com o bolsonarismo”, pois “as duas forças se uniram ao locaute” e demonstraram “descompromisso com a democracia”.
Marcus Pestana diz que o grupo vai dialogar com os précandidatos Rodrigo Maia (DEM), Marina Silva (Rede), Álvaro Dias (Podemos), Geraldo Alckmin (PSDB), Flávio Rocha (PRB), Paulo Rabello de Castro (PSC) e João Amoêdo (Novo). Um site também será criado para divulgar os propósitos do grupo.
No documento, são listados 17 compromissos assumidos pelos signatários. Entre os pontos, estão a “defesa intransigente da liberdade e da democracia”, a “luta contra todas as formas de corrupção”, “a busca incansável do equilíbrio fiscal”, a reforma do “sistema previdenciário injusto e insustentável” e “o combate a todas as formas de autoritarismo e populismo”.
“Tudo que o Brasil não precisa, para a construção de seu futuro, é de mais intolerância, radicalismo e instabilidade”, diz o texto.
À frente do movimento, Cristovam Buarque diz que o momento é muito ruim para o país, pois a população está inclinada a “votar com raiva” e que é preciso tomar cuidado com as escolhas políticas.
Para FHC, ‘autoritarismo’ não pode voltar
Ex-presidente teve mensagem lida em evento esvaziado que lançou manifesto pela união de partidos de centro
Igor Gadelha / O Estado de S. Paulo.
BRASÍLIA - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou ontem, em mensagem lida durante o lançamento de um manifesto pela união dos partidos de centro, que as eleições deste ano representam a chance de recuperar a “legitimidade democrática” no País. O manifesto, cujo teor foi antecipado pelo Estado em 17 de maio, foi lançado na Câmara, em um evento esvaziado e sem a presença de nenhum pré-candidato à Presidência.
“As eleições de outubro serão um divisor de águas na história do País. As lideranças políticas precisam enxergar que está em jogo a recuperação da legitimidade democrática da autoridade política ou a desorganização política, econômica e social do Brasil”, disse FHC na mensagem, sem mencionar o nome do presidente Michel Temer, que chegou ao poder em 2016 após o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff (PT).
O ex-presidente afirmou que o Brasil precisa recuperar a confiança no futuro e que não será possível chegar lá “voltando ao passado do autoritarismo ou ao passado mais recente do lulopetismo”. “O manifesto é um chamado à consciência sobre a gravidade do momento atual e sobre as consequências profundas e duradouras que terão nossas ações e inações”, disse o tucano, que não compareceu ao evento.
O manifesto tem nomes de 30 intelectuais e políticos do PSDB, MDB, PSD, PPS, PV e PTB, mas o lançamento foi prestigiado só por lideranças dos quatro primeiros partidos. Dos 19 políticos presentes, a maioria (13) era do PSDB, legenda que tem o ex-governador Geraldo Alckmin como presidenciável.
O documento divulgado traz como apoiadores políticos do DEM, mas integrantes da sigla negam que tenham assinado o manifesto. “Participamos das reuniões de discussão, mas não assinamos em respeito à candidatura do Rodrigo (Maia)”, disse o deputado Mendonça Filho (DEM-PE). Além do nome dele, o documento trazia como apoiadores os deputados do DEM José Carlos Aleluia (BA) e Heráclito Fortes (PI), na casa de quem foram feitas algumas das discussões sobre o manifesto. O deputado Marcus Pestana (MG), secretário-geral do PSDB e principal articulador do manifesto, por sua vez, garante que os parlamentares do DEM assinaram o documento.
“Não queremos substituir a iniciativa e o protagonismo dos pré-candidatos, que são os maiores atores. Queremos nos restringir ao papel de fermento”, afirmou Pestana. “Não estamos criando arqui-inimigos, estamos definindo posições. Se vai ter a unidade de apenas um candidato, isso só o processo vai dizer”, disse o presidente do PPS, Roberto Freire.
No manifesto, eles apresentaram 17 propostas para o País. Entre as medidas, estão reformas da Previdência, com adoção de um sistema único para servidores e trabalhadores da iniciativa privada, e tributária, sem aumento de impostos. Também pregam a manutenção do Bolsa Família, mas “recuperando seu caráter educacional”.
Manifesto para unir centro não empolga e expõe divisão
Vera Rosa | O Estado de S. Paulo
O lançamento do manifesto Por um Polo Democrático e Reformista mostrou que a proposta de união do centro político, no primeiro turno da campanha eleitoral, é cada vez mais difícil de sair do papel. Nos bastidores, dirigentes de partidos do bloco dizem que a ideia tem o objetivo de alavancar a pré-candidatura do exgovernador Geraldo Alckmin (PSDB), em dificuldades nas pesquisas.
Com a chancela do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – que não compareceu ao ato no Salão Verde da Câmara, mas enviou mensagem pregando convergência –, o manifesto não pareceu empolgar nem mesmo quem deveria se interessar por ele. Nenhum dos pré-candidatos à Presidência apareceu.
A proposta feita dois dias antes pelo ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, foi chamada de “utópica” e criticada dentro do seu próprio partido, o MDB. Marun sugeriu que todos os presidenciáveis de centro retirem suas pré-candidaturas e durante um mês discutam um programa “arrojado” para o País, antes de decidirem quem será escolhido para liderar a chapa e para ser vice. “Ou os partidos que fizeram o impeachment (da ex-presidente Dilma Rousseff) se unem ou é a derrota, porque o segundo turno será entre os extremos”, afirmou Marun. O ministro admitiu até a possibilidade de apoio do MDB ao PSDB na disputa.
“Discordo frontalmente de Marun, que não tem autoridade partidária para retirar nenhuma candidatura”, disse ao Estado o presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR). “Não vamos abrir mão do Meirelles. A escolha de um candidato não é prova oral para ser feita por uma comissão, como quer Marun. Precisamos mesmo ter nervos de aço nessa campanha.”
Idealizador do manifesto, o secretário-geral do PSDB, deputado Marcus Pestana (MG), ditou a receita para nada mais desandar. “Queremos fazer o papel do fermento, e não da massa do bolo”, resumiu ele, ao garantir que ninguém ali roubará o protagonismo dos pré-candidatos. Para o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que também ajudou a preparar o documento, a constatação de que a iniciativa foi feita sob medida para jogar holofotes sobre Alckmin “não faz sentido”, mas revela o racha do centro político.
União do 'centro' é defendida em evento esvaziado
Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico
BRASÍLIA - Num evento esvaziado, sem representantes dos principais partidos que o grupo pretendia atrair, aliados do pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, lançaram ontem manifesto "por um polo democrático e reformista" com o objetivo de unir as candidaturas de "centro" em torno de um único nome já no primeiro turno da eleição.
O secretário-geral do PSDB, deputado Marcus Pestana (MG), principal articulador do movimento ao lado do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), citou como candidatos do "centro" o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), o senador Alvaro Dias (Pode-PR), a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o empresário Flávio Rocha (PRB). No ato, contudo, não havia representante desses partidos.
A maioria dos 19 deputados presentes era do PSDB, com um parlamentar do PSD, três do PPS - incluindo seu presidente, Roberto Freire (SP), que já declarou apoio a Alckmin - e um do MDB, o deputado Jarbas Vasconcellos (PE). O MDB governista, ligado ao presidente Michel Temer, passou longe do lançamento.
Três deputados do DEM chegaram a participar da elaboração do documento, mas decidiram não aparecer no ato ontem e dizem que não assinaram o texto, apesar de aparecerem como signatários. "Participamos da ideia, mas não poderíamos fazer nada que gerasse atrito com o partido, que tem pré-candidato próprio", disse José Carlos Aleluia (BA).
O grupo lançará um site para que o manifesto receba adesões da sociedade e os pré-candidatos à Presidência serão procurados. Alguns, como Dias e Maia, já rejeitaram compor com o PSDB.
Alckmin perde a paciência e pergunta se tucanos querem outro candidato
Em jantar com líderes, presidenciável foi cobrado por falta de coordenação da pré-campanha
Igor Gielow | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Pressionado a deslanchar sua pré-campanha ao Planalto,Geraldo Alckmin perdeu a proverbial paciência beneditina.
Cobrado por lideranças do PSDB sobre falta de coordenação nessa etapa da corrida, o ex-governador paulista jogou um guardanapo sobre a mesa e perguntou aos presentes se eles preferiam ter outro candidato —e, nesse caso, disse para que eles o escolhessem.
A cena ocorreu, conforme a Folha apurou, durante jantar em um hotel do bairro paulistano dos Jardins, na noite de segunda (4). Estavam presentes diversos expoentes do tucanato, como os ex-governadores Marconi Perillo (GO) e Beto Richa (PR), os líderes de bancada Paulo Bauer (Senado) e Nilson Leitão (Câmara), o ex-ministro Bruno Araújo (PE), o ex-senador José Aníbal (SP) e o coordenador de campanha Samuel Moreira.
No cardápio, menos a conhecida inanição das intenções de voto do tucano (que patina pouco abaixo dos 10% nas pesquisas) e mais o diagnóstico consensual no partido de que a pré-campanha está com problemas organizacionais.
Alguns dos presentes relataram situações estaduais sem encaminhamento e o que consideram um problema crônico de comunicação. Foi a famosa "lavagem de roupa suja", mas segundo a reportagem apurou, com o comedimento típico das reuniões com Alckmin e com tom propositivo por parte dos presentes.
Alguns dos presentes relataram situações estaduais sem encaminhamento e o que consideram um problema crônico de comunicação. Lideranças tucanas de fora de São Paulo vêm se queixando, há meses, da falta de interlocução com Alckmin —que designou nomes com pouca densidade nacional para representá-lo, o trio Sílvio Torres, Luiz Felipe D´Ávila e o próprio Moreira.
O ex-governador ouviu até explodir, dando um susto nos comensais. Elevou a voz, fez o discurso em que sugeriu que escolhessem outro nome para a vaga de presidenciável e na sequência os admoestou. Disse que todos sabiam exatamente qual o trabalho que deveriam fazer e que não lhe caberia indicar nomes para todas as tarefas.
Alckmin reclama de aliados do PSDB
O pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, tem acusado aliados do partido de fazer corpo mole. Para o tucano, eles estariam mais preocupados com suas campanhas nos estados. Estagnado nas pesquisas e irritado com as críticas, Alckmin chegou a dizer, em jantar com tucanos, que, se quisessem, poderiam retirar a sua candidatura.
Alckmin acusa aliados de corpo mole na campanha
Irritado, ex-governador chegou a sugerir a líderes que o substituam
Silvia Amorim, Cristiane Jungblut e Maria Lima | O Globo
-SÃO PAULO E BRASÍLIA- O pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, manifestou de forma dura o descontentamento com o corpo mole dentro do partido, especialmente em São Paulo, estado que governou por sete anos. E admitiu que sua campanha apresenta desempenho negativo até o momento. Em um jantar com lideranças tucanas na capital paulista, anteontem, o tucano chegou a sugerir, em tom de desabafo, que a legenda poderia substituí-lo, caso não estivesse satisfeita. O resultado foi imediato. Ontem mesmo, a bancada do PSDB da Câmara fez uma verdadeira fila para gravar mensagens de vídeo, de 20 a 30 segundos de duração, em apoio ao colega.
A reunião em São Paulo havia sido marcada pelo presidenciável para discutir questões de organização para as eleições estaduais e nacional. Mas acabou servindo para uma ampla avaliação da campanha. E para uma discussão sobre mudanças de rumo e cobranças pela definição de um coordenador político de peso. Bastante nervoso e mostrando cansaço, Alckmin, segundo os presentes, “explodiu”.
— Eu estou fazendo tudo que posso, estou andando, viajando sem parar, resolvendo problema de Minas Gerais, Maranhão. O que vocês querem que eu faça mais? O PSDB me escolheu como candidato, preciso de ajuda nos estados — desabafou Alckmin.
Um dos presentes avalia que Alckmin está nervoso por causa de delações que podem impactar sua campanha, e pela divulgação de pesquisas em que aparece atrás de Marina Silva e Ciro Gomes.
— Nós falamos que é preciso ele ter um coordenador político para tomar conta das articulações. Ele não pode fazer tudo sozinho. O pessoal vê a estrutura de campanha do (João) Doria em São Paulo azeitada, muito bem estruturada, com uma equipe de comunicação que funciona, e olha para a campanha nacional e não vê nada disso, cobra — disse um dos presentes.
Alckmin diz que Bolsonaro não vai para o segundo turno das eleições
Ex-governador de São Paulo afirmou que pleito está muito indefinido e que a corrida eleitoral só deve começar, de fato, após a largada campanha
Marcelo Osakabe, O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - Apesar de estar na liderança de todas as pesquisas de intenção de voto nos cenários em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não está presente, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) não deve chegar ao segundo turno, afirmou nesta terça-feira, 5, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
"Acho que ele (Bolsonaro) não chega no segundo turno. Vocês (jornalistas) se impressionam com pesquisa antes da hora", afirmou o pré-candidato tucano, que participou de um encontro da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib).
Sem entrar em detalhes sobre as razões pelas quais descarta o deputado fluminense na segunda etapa de votação, Alckmin repetiu o mantra de que a eleição só começa depois de definidos os candidatos.
"Depois de acabar a Copa do Mundo e depois de umas duas semanas de (campanha na) televisão e rádio, aí você esta mais perto e a população está interessada. Aí é que começa a corrida eleitoral", resumiu. A menos de duas semanas da Copa, Alckmin continua estagnado nas pesquisas de intenção de voto, o que causa apreensão em seus aliados.
Elogios a Marina Silva
Geraldo Alckmin também teceu elogios à sua adversária nas eleições deste ano, a ex-senadora Marina Silva (Rede), dizendo que ela é uma "pessoa de convicções, mas sem radicalismos". "Tenho grande respeito pela Marina desde a época de ministra. Pessoa idealista, correta, tem espírito público", disse.
Questionado sobre a possibilidade de uma eventual união com Marina Silva, em chapa única, Alckmin manteve o seu estilo comedido. "Não posso cometer uma indelicadeza dessa com alguém que é candidata. Mas independentemente de disputar ou não, é uma pessoa por quem tenho até apreço pessoal. Gosto do estilo da Marina", declarou.
Segundo o ex-governador, a última vez em que os dois estiveram juntos foi durante o Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, no início de abril. Questionado sobre se acredita que a ex-senadora tem se mostrado mais disposta ao diálogo que nas eleições anteriores, Alckmin disse achar que sim.
Sobre a possibilidade de união de centro, Alckmin disse ser importante evitar uma fragmentação do centro político. "Não vai ter convergência de todos, mas se tiver um mínimo de convergência é bom para todos".
Alckmin acena e Marina nega articulação para aliança
Por Fernando Taquari e Daniela Chiaretti | Valor Econômico
SÃO PAULO - De olho em uma eventual aliança na eleição presidencial, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) fez ontem uma série de elogios à ex-senadora Marina Silva e sugeriu que uma aproximação com a pré-candidata do Rede Sustentabilidade seria bem-vinda. O tucano, porém, procurou ser cauteloso ao tratar da possibilidade de um acordo com a ex-senadora, cuja a premissa seria ter ele na cabeça de chapa.
"Não posso cometer uma indelicadeza dessas com um pré-candidato que está trabalhando [para se viabilizar]. Independentemente de disputar ou não, Marina é uma pessoa pela qual tenho até apreço pessoal. Eu gosto do estilo da Marina", disse Alckmin após encontro, na capital paulista, com empresários da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB).
As declarações do tucano foram dadas no mesmo dia em que foi lançado, em Brasília, um manifesto suprapartidário pela união das candidaturas presidenciais de centro. Há especulações de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos signatários da iniciativa, estaria propondo, em conversas de bastidores, uma aproximação entre Alckmin e Marina.
Aliados do ex-governador avaliam que a aliança com a ex-senadora seria positiva. No entanto, não acreditam nesta hipótese. Argumentam que nenhum dos dois pré-candidatos ao Palácio do Planalto estão dispostos a abrir mão da cabeça de chapa.
Em meio aos rumores, o presidenciável do PSDB fez questão de ressaltar as qualidades da ex-senadora ao classificá-la como "idealista, correta e com espírito público". Alckmin disse, inclusive, que Marina amadureceu e parece mais disposta ao diálogo. "É uma pessoa lúcida, amadurecida. Tem convicções, mas não radicalismos", frisou.
Pode? 'Usei boné e camiseta com seu nome', afirma Bretas ao lembrar que já militou por Lula
Juiz da Lava-Jato disse ter ido a um comício do então candidato petista nas eleições de 1989
Jeferson Ribeiro / Juliana Castro | O Globo
RIO — Ao final do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que durou cerca de 1h, o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal, disse que já foi a comício do petista no Rio, vestindo boné e camiseta do então candidato à Presidência, em 1989. O magistrado afirmou ainda reconhecer a relevância política de Lula.
— Muito obrigado pela sua postura no depoimento. É relevante sua história para todos nós, para mim inclusive que quando tinha 17, 18 anos, fui num comício na Avenida Presidente Vargas, com um milhão de pessoas, e o país vivia outro momento — disse arrancando risos do ex-presidente dos presentes na audiência.
E completou:
— Eu estava usando um boné e uma camiseta com seu nome — contou o juiz, admitindo ter sido fã do ex-presidente, que agora cumpre pena por corrupção, em Curitiba.
Lula entrou no clima da brincadeira ao final do depoimento e disse que ia chamar Bretas para um futuro comício.
— Quando eu fizer um comício agora, eu vou lhe chamar para participar — disse o ex-presidente também fazendo a plateia rir.
Lula foi ouvido como testemunha de defesa do ex-governador Sérgio Cabral no processo da Operação Unfair Play. O emedebista é acusado pelo Ministério Público de participar de um esquema de compra de votos para fazer do Rio de Janeiro a sede da Olimpíada em 2016. A mesma ação penal levou à prisão o então presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman.
O petista foi ouvido por videoconferência, porque está preso desde abril, na Policia Federal, em Curitiba, após ser condenado a 12 anos e um mês por corrupção. Cabral foi autorizado a deixar o complexo penitenciário de Bangu para acompanhar o depoimento.
*Almir Pazzianotto Pinto: Greve ou motim?
- O Estado de S.Paulo
O fato de deter um monopólio não dá à Petrobrás o direito de ignorar os consumidores
O movimento desencadeado por caminhoneiros, sacrificando a vida de milhões de pessoas, causando prejuízos irrecuperáveis e expondo a fragilidade do governo, deve ser objeto de análise, conquanto difícil de ser feita agora por nos acharmos sob o impacto dos acontecimentos.
Exercício do direito de greve, assegurado pelo artigo 9.º da Constituição, não houve. Avaliações superficiais tentaram nos convencer de que motoristas autônomos de caminhões e carretas teriam entrado em greve para reivindicar da Petrobrás a redução do preço do óleo diesel. Não foi o que aconteceu. A paralisação caracterizou-se pela voluntariedade, ignorou as organizações sindicais e logo se espalhou em razão da postura autoritária da empresa, que errou ao subestimar a força dos adversários.
A mobilização explodiu de baixo para cima, impulsionada por repetidos aumentos do preço do óleo diesel. O governo federal, aturdido e incapaz, revelou-se desinformado. Afinal, era impossível não imaginar, diante da agressiva política da empresa, insuportável para transportadores autônomos, que, dia mais, dia menos, a revolta explodiria como panela de pressão sem válvula de segurança.
Distribuição de combustíveis é atividade essencial (Lei n.º 7.783/1990). Não pode ser interrompida (Constituição, artigo 9.º). Greve ocorre, segundo a definição legal, quando há cessação coletiva, total ou parcial, dos serviços prestados ao empregador. Antes de deflagrá-la o sindicato deve ouvir os trabalhadores em assembleia geral e definir as reivindicações. Houvesse greve, competia ao Ministério Público do Trabalho ajuizar dissídio coletivo com o objetivo de encerrar o movimento (Constituição, artigo 114, § 3.º). Se não o fez, é por não haver relação de emprego entre caminhoneiros autônomos e Petrobrás. Como não houve greve, não poderia haver locaute, prática que ocorre quando o empregador cessa as atividades para frustrar negociação com os empregados.
No caso dos petroleiros, cujos sindicatos falaram em paralisar refinarias, o Tribunal Superior do Trabalho fez o que dele se esperava: por decisão liminar da ministra Maria de Assis Calsing, considerou que havia perigo iminente de greve política e fixou multa diária no valor de R$ 2 milhões em caso de desobediência. Os sindicalistas recuaram e o trabalho não foi interrompido.
Elio Gaspari: A Petrobras corre real perigo
- O Globo
Desde a crise dos caminhoneiros, nada aconteceu de bom com a Petrobras e ela tomou o caminho da empulhação
A Petrobras arruinou-se no mandarinato petista por diversos motivos. Deles, o mais pueril foi a retórica da arrogância. Infelizmente, dela e do governo têm partido declarações destinadas a iludir a boa-fé do público fingindo desconhecer a barafunda criada pela política de preços dos combustíveis. Podiam ficar só nisso.
A retórica da arrogância foi exercitada à exaustão pelos petrocomissários. Basta que se recapitule um caso. Em 2012, um funcionário da companhia holandesa SBM denunciou suas maracutaias internacionais. Elas foram confirmadas por uma investigação interna que resultou numa indenização milionária ao governo holandês. Sabia-se, pela denúncia, que a SBM teria distribuído pelo menos US$ 139 milhões a intermediários e hierarcas da estatal brasileira para azeitar contratos de aluguel de plataformas.
Dois anos depois, uma equipe da Petrobras foi à Holanda verificar o caso e anunciou-se que nada acontecera de anormal. Engano, pois a SBM começaria a negociar um acordo de leniência com a Controladoria-Geral da União. Até hoje ele não foi concluído.
Entre 2012 e 2015 foram para a cadeia os ex-diretores Pedro Barusco e Renato Duque, ambos mimados pela SBM. O representante da empresa no Brasil, Julio Faerman, passou a colaborar com a Justiça e repatriou US$ 54 milhões.
Varrida pela Lava-Jato, a doutora Dilma colocou na Petrobras Aldemir Bendine, que estava no Banco do Brasil. Ele levou consigo para uma diretoria Ivan Monteiro. Num dos lances grotescos do período, Bendine chegou a anunciar que a Petrobras “talvez” voltasse a contratar serviços e equipamentos da SBM, “uma importante fornecedora". Como, não explicou.
A retórica da arrogância era um pastel de vento. Não havia como esconder a roubalheira denunciada em 2012 e, em 2015, não era possível contratar a SBM para coisa alguma.
Monica de Bolle: Reservas, para que te quero
- O Estado de S.Paulo
Pelo menos US$ 140 bi das reservas externas excedem ao recomendado pelo FMI. Qual o melhor uso para elas?
Experiência recente revelou para mim o quão complicado está tecer análises ou aventar ideias que fujam dos dogmas de diferentes grupos. Começo esse artigo, portanto, com uma ressalva e um alerta. A ressalva é que se trata de uma reflexão sobre as nossas reservas internacionais, hoje em cerca de US$ 380 bilhões. O alerta é para que, sabendo que alguns haverão de distorcer ou desqualificar o que tenho a dizer sobre o assunto, haja cuidado para diferenciar discordâncias saudáveis de ataques pessoais. Triste ter de começar um artigo assim, mas, adiante.
Há vários debates econômicos que jamais desaparecem. Dentre essas discussões está o nível adequado das reservas internacionais. Nos anos 90, quando das crises em série nos países emergentes, concluiu-se que o mais prudente era estocar o máximo de reservas possível para fazer frente às turbulências. Durante os anos 2000, tal estratégia foi possibilitada pelo bom momento da economia internacional, a alta dos preços das commodities, as reformas que muitos países emergentes haviam feito. Havia comprovação empírica de sobra para justificar colchões de reservas como medida precautória: as reservas eram um seguro contra crises financeiras. Contudo, sempre houve custo associado ao colchão: as reservas, como são mantidas em ativos líquidos e de baixo rendimento justamente para que possam ser usadas em caso de necessidade, não podiam ser aplicadas em investimentos de risco mais elevado e retorno maior.
A existência de um benefício – o seguro – e de um custo, isto é, a oportunidade perdida ao não se poder investir em ativos mais rentáveis, levou a intenso debate sobre o nível “ótimo” das reservas, aquele que maximizaria o benefício, ou minimizaria o custo. Na ocasião, o FMI produziu diversas análises que buscavam estabelecer o nível ótimo das reservas internacionais de cada país. Ao final, concluiu-se que o ótimo não existia, dada a complexidade de se mapear cenários. Mais produtivo seria calcular o nível adequado das reservas diante das necessidades de dólares e de outros ativos externos de cada país.
Vinicius Torres Freire: Medo e desejo de ser Venezuela
'Venezuela' como metáfora é sintoma da degradação do embate político e ideológico
A Venezuela entrou de vez no vocabulário do conflito social e político brasileiro.
Ainda é mais frequente que se recorra ao nome do desgraçado país vizinho como apenas outro insulto do glossário do ódio: "fascista", "bandeira vermelha", "petralha", "chavista" etc. Nas duas últimas semanas, pelo menos, a menção a "Venezuela" ganhou novos sentidos, sintoma da nossa degradação.
Durante o caminhonaço, empresários e executivos mencionavam o "risco", o "medo" ou o "surto" de "venezuelização do Brasil". Pibopesquisa Ibope encomendada pelo governo mostrou que 59% dos brasileiros acreditavam que era possível "acontecer no Brasil o que aconteceu na Venezuela" caso persistisse o paradão caminhoneiro.
O resultado da pesquisa parece apenas uma comparação óbvia e trivial, restrita à hipótese de que a interrupção do transporte causaria escassez crítica de bens, a imagem mais midiática do colapso liderado por Nicolás Maduro. Ainda assim, é uma imagem que vai pela cabeça dos brasileiros, que poderiam por um motivo ou outro negar a semelhança entre os países.
"Risco de venezuelização" era também um ataque a políticas ditas de esquerda, mais restrito aos embates de facções mais militantes e ideológicas da opinião pública. Mais recente é seu uso como metáfora em conflitos mais cotidianos.
"A Venezuela começou assim", disse nesta terça-feira (5) Leonardo Gadotti, presidente da Plural, associação de distribuidores de combustíveis. Criticava o tabelamento do diesel, um dos termos da rendição incondicional de Michel Temer ao caminhonaço.
A crítica de Gadotti é apenas um conflito derivado da aceitação das exigências do paradão caminhoneiro, que emergem mesmo dentro da coalizão que apoiou, sem mais, o caminhonaço.
Associações de produtores de soja, que deram corda à paralisação, agora criticam o tabelamento do preço do frete. Governadores estão fulos com a perda de receita de impostos. Persiste a fúria extensa contra a Petrobras que "lucra para servir ao mercado".
Cristiano Romero: Lições não aprendidas do outono de 2013
- Valor Econômico
País parece não estar preparado para ter economia de mercado
Não há sociedade de consumo de massa mais parecida com a americana do que a brasileira. A exemplo dos americanos, os brasileiros poupam muito pouco e, quando a conjuntura permite, consomem além do necessário. Nos tempos de bonança, endividam-se sem prudência alguma para consumir já, agora, sem nenhuma preocupação com o futuro que legarão a seus descendentes.
A semelhança que faz do Brasil uma espécie de Estados Unidos com 50 anos de atraso - o avanço tecnológico lá está aumentando de forma muito rápida a distância entre as duas economias em termos de desenvolvimento - decorre do fato de americanos e brasileiros não possuírem traços culturais ou religiosos que amaldiçoem o consumo. Uma diferença é que, aqui, o lucro é visto como sinônimo de ganância, enquanto, no país mais rico do mundo, trata-se de uma virtude. De toda forma, abençoados pela natureza, EUA e Brasil são os países da abundância, logo, do gasto excessivo, do consumo inconsequente e insustentável, do desperdício - tudo isso está mudando, mas as características típicas da exuberância de ambos seguem hegemônicas.
No último boom econômico (2004-2010), milhões de brasileiros tiraram proveito do aumento da renda e da taxa de câmbio valorizada para passar férias nos EUA. A maioria voltava intrigada com alguns fatos: os preços de produtos de qualidade bem superior aos encontrados aqui são bem menores lá; a variedade de marcas oferecidas no mercado americano é infinitamente superior; serviços como hotel, em geral, são melhores e mais baratos; a infraestrutura de estradas, trens, metrôs e aeroportos, por onde trafegam os turistas, é incomparavelmente mais ampla, funcional e arrojada.
É natural que, depois de conhecerem Miami, Nova York, Chicago, San Francisco ou Los Angeles, brasileiros se perguntem por que as coisas deram certo lá e aqui, não; por que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA é mais de dez vezes o do Brasil; por que nascem no ambiente universitário americano as principais inovações tecnológicas; por que os gringos conseguiram ficar tão ricos e nós continuamos sendo "o país do futuro" que nunca chega - a profecia de Stefan Zweig tem mais de 80 anos -, uma vez que os dois países são tão parecidos - em território, riquezas naturais, sistema político (presidencialismo), regime econômico, sociedade de consumo de massa, valores culturais etc.
O PCC ameaça a democracia: Editorial | O Estado de S. Paulo
O poderio bélico e econômico e a periculosidade do Primeiro Comando da Capital (PCC), quadrilha formada há 25 anos no Centro de Reabilitação Penitenciária de Taubaté, no Vale do Paraíba, já eram tristemente conhecidos. Entretanto, o assassinato de Rogério Jeremias de Simone, o “Gegê do Mangue”, um dos líderes do bando, desencadeou uma investigação que revelou detalhes do funcionamento da facção criminosa capazes de estarrecer até os que se debruçam sobre ela por dever de ofício.
Os documentos apreendidos pela polícia revelam a estrutura operacional montada pelo PCC para extrapolar os limites de São Paulo, ampliar sua presença em outros Estados e operar no tráfico internacional de drogas. A facção criminosa já está presente na Colômbia, no Paraguai, no Peru, na Bolívia e na Guiana. Apenas no Brasil, cerca de 30 mil criminosos fazem parte da folha de pagamento da facção.
Uma série de ataques coordenados a ônibus e agentes de segurança pública de Minas Gerais e do Rio Grande do Norte mostra a força dessa política expansionista do PCC. Áudios obtidos pela Polícia Militar (PM) de Minas Gerais indicam a responsabilidade da facção nos ataques. Entre domingo e segunda-feira, 24 ônibus foram incendiados em 17 cidades mineiras. Em Natal, um ônibus foi queimado e um PM foi assassinado. “Parece-nos que houve, em parte, a orquestração de facção criminosa, mas não podemos determinar isso. A investigação é que vai ditar se esses áudios correspondem aos ataques que foram efetivados”, informou o major Flávio Santiago, porta-voz da PM mineira.
De acordo com a apuração feita pelo Estado, os ataques teriam sido represálias ao que o PCC chama de “opressão” supostamente praticada em presídios de MG e do RN. É sabido, no entanto, que o emprego da violência em ações espetaculares é uma tática do PCC para marcar “território”.
A obsessão dos políticos por subsídios: Editorial | O Globo
A proximidade das eleições estimula Planalto e Congresso a buscarem fórmulas que transfiram para o contribuinte aumentos de custo em combustíveis
A discussão no governo sobre a definição de uma política de preços para a Petrobras que atenue a ligação direta entre a bomba dos postos com o preço internacional do petróleo e o câmbio interno reúne vários ingredientes que atraem os políticos. É assim mesmo, pois eles têm mandato para tratar de temas de interesses da sociedade. Este é um deles.
O risco é que, por se tratar de um assunto que afeta de maneira instantânea o bolso das pessoas, há uma tendência de certos políticos de serem supostamente magnânimos com a população, transferindo custos da nova fórmula de ajuste dos combustíveis para o conjunto dos contribuintes, na forma de subsídios pagos pelo Tesouro.
Quase sempre estas operações são dissimuladas e mesmo os alegadamente beneficiários ajudam a pagar a conta final. Acontecerá com os caminhoneiros no congelamento do diesel por 60 dias. Pagarão mesmo sem saber.
A proximidade das eleições excita ainda mais o espírito de benemerência dos políticos populistas, estejam eles no Planalto, no Congresso, onde for. Um caminho para o exercício da demagogia pode ser o tal “colchão” que seria criado para absorver parte ou o todo do impacto direto nas bombas da elevação do custo do petróleo.
Lições orçamentárias: Editorial | Folha de S. Paulo
Custos de concessões dão mostra da necessidade de adaptação a um cenário de escassez
Por vezes parecem demasiado abstratas as noções de que o dinheiro do governo é de todos e, sobretudo, de que é finito. Já no Brasil de hoje, tais fatos estão visíveis a olho nu.
Por aqui, estreitou-se dramaticamente a margem do poder público para a ampliação de sua dívida —o expediente de que os Estados nacionais se valem para acomodar mais despesas em seus Orçamentos, tornando menos perceptíveis os conflitos por recursos escassos.
Na atual situação do país, cada compromisso adicional assumido em favor de um determinado setor da sociedade implica perdas claras e imediatas para outros.
Nesse sentido, foi quase pedagógico o recente episódio da paralisaçãodos caminhoneiros e das concessões feitas pelo governo Michel Temer (MDB) à categoria.
A um custo total estimado em R$ 13,5 bilhões neste ano, tomaram-se decisões para baratear o óleo diesel: eliminar a cobrança da Cide, um tributo regulador, e baixar as alíquotas de PIS e Cofins sobre o produto, cujo preço também será diretamente subsidiado com verbas do Tesouro Nacional.
Greve dos caminhoneiros impacta balança comercial: Editorial | Valor Econômico
O comércio exterior foi uma das várias atividades econômicas indiscutivelmente prejudicadas pela greve dos caminhoneiros em maio. A média diária das exportações entre os dias 21 e 31 caiu 36% em comparação com a das três primeiras semanas do mês, de US$ 1,063 bilhão para US$ 679 milhões. As importações também diminuíram, embora menos, 26%, de uma média diária de US$ 702 milhões nas três primeiras semanas do mês para US$ 516 milhões nas duas de paralisação.
No mês fechado, as exportações somaram US$ 19,2 bilhões, 10,7% a menos do que no mês anterior, e com aumento de apenas 1,9% em relação a maio de 2017. A queda das exportações teria sido maior não fosse a existência de soja, carnes e algumas mercadorias básicas estocadas nos portos quando a greve começou. Além disso, outros produtos importantes da pauta brasileira, como minérios, chegam aos portos principalmente por ferrovias. De toda forma, todos perderam. Mais dependentes das rodovias, os produtos manufaturados foram os mais afetados, com redução de 46% nas exportações durante a paralisação na comparação com o período anterior. Houve queda de 30% nos embarques de calçados, de 23% das autopeças e de 17% de automóveis. Já as exportações de semimanufaturados caíram 37%; e a de produtos básicos, 31%.
As importações totalizaram US$ 13,3 bilhões, com queda de 8,6% em relação a abril e salto de 14,5% na comparação anual. Houve queda de 16,1% nas compras de bens de capital; de 9,1% de produtos intermediários; de 21,7% de bens de consumo duráveis; e de 1,5% de combustíveis e lubrificantes. Apenas as importações de bens de consumo não-duráveis aumentaram no mês, 5,7%. Em relação a maio de 2017, cresceram 14,5%.
No balanço final, o superávit comercial de maio ficou em US$ 5,981 bilhões, cerca de 20% abaixo da expectativa média do mercado. No ano, o superávit comercial soma US$ 26,155 bilhões. O governo ainda espera que a balança feche o ano com saldo acima de US$ 50 bilhões. No mercado financeiro, as previsões são mais elevadas. Pesquisa Focus realizada pelo BC mostrou que a previsão das instituições financeiras e consultorias para o saldo comercial do ano ficou praticamente inalterada, em US$ 57 bilhões.
Greve expôs fragilidades, diz Arida
Por Sergio Tauhata | Valor Econômico
SÃO PAULO - - A greve dos caminhoneiros expôs fragilidades e problemas estruturais do país, avaliou Persio Arida, coordenador do programa econômico do pré-candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) e um dos idealizadores do Plano Real. O economista, que participou de evento na Casa do Saber, em São Paulo, explicou que o país vive hoje "um momento de desalento e de descrença nas instituições, [no qual as pessoas pensam] nossos partidos não nos representam, o Congresso não nos representa e o Judiciário não funciona".
Segundo Arida, existe uma frustração com a retomada da atividade. "O cenário de recuperação econômica, que se achava vigorosa, cada dia que passa perde ímpeto e agora todas as previsões estão abaixo de 2% ao ano."
Para o coordenador de campanha de Alckmin, "bastou uma pequena virada de vento no exterior, com a subida dos preços do petróleo, para mostrar nossa fragilidade". O economista listou uma série de exemplos de como o mau planejamento ficou explícito no episódio: uso excessivo de rodovias em lugar de ferrovias, distorções causadas pelo sistema tributário, fábricas em Manaus que têm incetivo tributário, mas a mercadoria vai a Porto Alegre.
Conforme Arida, os governos petistas, com políticas intervencionistas, criaram "uma sobra de caminhões, agravada pelo subsídio do BNDES para produzir caminhões".
O economista apontou ainda a falta de competição no sistema de refino de óleo no Brasil. "A Petrobras que é monopolista na prática simplesmente repassa o preço, tem de ter um sistema mínimo de competição e só aí apareceram vários defeitos de infraestrutura", afirmou.
O economista do PSDB também criticou a estratégia de preços implementada pela Petrobras. "A regra diária de reajuste de preços de combustíveis foi uma regra mal pensada." Segundo Arida, se houvesse uma previsibilidade, pelo menos, semanal já ajudaria o setor de transporte a se planejar.
Arida também não poupou a reação do governo Michel Temer à crise do transporte. "O governo deixou que a greve bloqueasse as estradas, o Brasil se tornou complacente, bloqueia-se o direito de ir e vir e fica por isso mesmo", disse.
De acordo com o economista, "a decisão de subsidiar o preço do diesel é espantosa, porque então não subsidiar o preço do GLP, que subiu igual e muito mais gente depende dele?" Arida acrescentou ainda que "não bastasse essa confusão o governo tabelou o preço do frete e agora quer impor na marra que a queda do preço anunciada".
João Cabral de Melo Neto: O Cão sem plumas
A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.
Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.
Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos povos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.
Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.
Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.
Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos povos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.
Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.