quinta-feira, 5 de julho de 2018

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

"Sou otimista no sentido que, em certos momentos da história brasileira, foi possível criar um movimento coletivo capaz de fazer as pessoas se unirem, acreditarem que, além das nossas diferenças, há uma coisa que pode nos levar juntos para um novo caminho. Isso está em jogo, agora. A eleições é um momento oportuno para isso acontecer"

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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da República, em debate na Confederação Nacional da Indústria (CNI), Valor Econômico, 4/7/2018

William Waack: Demanda eleitoral

- O Estado de S.Paulo

Tendência no Brasil é de que candidatos ‘rompedores’ se sobressaiam aos ‘reformistas’

Qual candidato no Brasil atende melhor ao que especialistas estão chamando de “demanda” por parte dos eleitores? As consultorias internacionais e nacionais que se esforçam em explicar a política brasileira para investidores (portanto, com viés de avaliação de risco e oportunidades) estão solidificando um consenso: o de que as eleições aqui são parte de uma grande tendência internacional de “rompimento” com o que estava estabelecido. E que as “demandas” colocadas por eleitores no Brasil não são assim tão diferentes daquelas registradas na França, Espanha, Itália, Estados Unidos e, por último, México.

Ditadas por “raiva” e “indignação” de parcelas da população que se sentem menosprezadas por elites, abandonadas por partidos, negligenciadas pelos serviços públicos de baixa qualidade e assustadas com violência e desemprego, além de horrorizadas com a corrupção, essas “demandas” seriam similares em sua essência e razoavelmente comparáveis quanto ao objetivo: derrubar o que está aí na política, cada vez mais desprezada. Se assim é, falta explicar como se chega a resultados tão diferentes, em termos de “rompimento” ou “coesão” dos diversos sistemas políticos.

O México trouxe um interessante exemplo no último domingo de “rompimento” do que existia – a recém-reconquistada predominância de um partido que fora hegemônico, o PRI – por um movimento político que não existia há dois anos, que se diz de esquerda, e que alcançou em prazo recorde o controle inédito das casas do congresso, grande número de governos estaduais e a presidência. Em outras palavras, a refundação de uma espécie de PRI com outro nome (Morena). A capacidade do novo presidente mexicano de sobreviver às receitas que apregoa, e que levaram ao desastre econômico onde quer que foram aplicadas, é um outro capítulo e fica para depois.

Bernardo Mello Franco: Bolsonaro bate continência para o PIB

- O Globo

Há 28 anos, Jair Bolsonaro é pago para elaborar leis e fiscalizar o Orçamento. O deputado está prestes a concluir o sétimo mandato, mas ainda não encontrou tempo para estudar o básico sobre contas públicas. É o que ele mesmo tem repetido quando comparece a sabatinas com os presidenciáveis.

“Sou capitão do Exército, sou artilheiro. Mas de economia... eu não estudei economia”, disse ontem, em encontro promovido pela Confederação Nacional da Indústria. “Será que nós temos que entender de tudo?”, questionou.

Enquanto os adversários apresentavam ideias para resolver o desequilíbrio fiscal, Bolsonaro tentava desconversar. “Quem botou o Brasil nessa situação, se não foram os economistas?”, disse. Em seguida, ele pareceu mudar de ideia. Pediu que as perguntas da plateia fossem encaminhadas ao economista Paulo Guedes, que o apoia: “A pessoa adequada é ele, não eu”.

O presidenciável adotou a mesma tática para fugir de uma questão sobre educação. “Não quero falar daquilo que não domino”, escapuliu. “Quem tem competência pra tudo? Se nós temos de nos socorrer da esposa para administrar uma casa, quanto mais para administrar um país”.

Apesar de admitir que não entende de economia, Bolsonaro não vacila ao dizer que tomará o lado dos patrões em disputas com empregados. “Tem que fazer valer a vontade dos senhores”, disse, diante da plateia de empresários. “A grande mídia tem que parar de ver os senhores como bandidos. Ser patrão no Brasil é ser bandido”, continuou, sob aplausos.

O candidato acrescentou que, se for eleito, os trabalhadores terão que decidir entre ter “menos direitos e emprego ou todos os direitos e nenhum emprego”. O capitão já havia batido continência para o PIB na terça-feira. Em encontro com empresários em São Paulo, ele se comprometeu a manter as reformas do governo Temer e a ampliar as privatizações.

Embora se esforce para vestir a farda de liberal, o deputado ainda tropeça no histórico de defesa das corporações. Na sabatina de ontem, ele disse que os militares merecem se aposentar mais cedo e defendeu que alguns políticos acumulem vencimentos acima do limite constitucional. “Quem tem aposentadoria, dá um extrateto, se for o caso”, disse. l

Bruno Boghossian: Sindicato dos patrões

- Folha de S. Paulo

Patrões cobram menos interferência do governo na produção, mas querem benefícios

A cada quatro anos, a indústria expõe suas contradições ao convocar para um beija-mão os principais candidatos à Presidência. Desta vez, a crise econômica apagou o constrangimento de um setor que cobra a redução de benefícios trabalhistas, enquanto estende o chapéu ao governo para pedir incentivos.

Em sabatina com seis postulantes ao Planalto, nesta quarta (4), o presidente do sindicato das construtoras reclamou que o Ministério Público e a legislação ambiental são uma “parafernália” que cobra um preço alto da indústria. Disse que essas regras são ineficientes e precisam mudar.

A manifestação carrega uma compreensível reivindicação pela redução de custos burocráticos e da carga de impostos pagos pelos produtores. Seria um belo discurso, caso a indústria não fosse tão dependente do peso do próprio Estado.

Como se a crise econômica não tivesse sido acentuada por esse antigo vício, os empresários acenaram com pedidos de estímulo (leia-se subsídios) e intervenções do governo para baratear a oferta de crédito.

Como de hábito, os candidatos tentaram agradar. Henrique Meirelles (MDB) e Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, prometeram reduzir os impostos cobrados das empresas.

Jair Bolsonaro (PSL) foi quem vestiu com mais entusiasmo o uniforme de industrial. “Não faremos nada da nossa cabeça. Os senhores que estão na ponta das empresas serão os nossos patrões”, afirmou.

Sob aplausos, o capitão da reserva seduziu a plateia: disse ser possível “vencer os problemas ambientais” e sentenciou que a indústria não deve ser tratada como inimiga. Declarou ainda ter ouvido que os trabalhadores precisarão escolher entre ter “menos direitos e emprego” ou “todos os direitos e desemprego”.

Ciro Gomes (PDT) foi vaiado ao dizer que vai rever a reforma que flexibilizou direitos dos empregados. Prometeu um ambiente de negócios mais favorável, mas se estranhou com o PIB. “Ganhar dinheiro é importante, mas temos um povo para alimentar. Vou prestigiar essa gente.”

Maria Cristina Fernandes: Disputa de ofício

- Valor Econômico

Em 30 dias, STF tira poderes conquistados pelo MP em 30 anos

Da promulgação da Constituição de 1988 até o início do mês passado, em apenas uma ocasião o Supremo Tribunal Federal decidiu arquivar um inquérito à revelia da Procuradoria-Geral da República. Nos últimos 30 dias, foram seis os arquivamentos de ofício. São assim nomeados pelo jargão jurídico os processos encerrados pelo juiz da causa sem a provocação do ministério público, encarregado da investigação.

O levantamento é de Vladimir Aras. Integrante da força-tarefa do Banestado nos anos 1990 e das operações transnacionais da Lava-Jato, o procurador da República hoje atua em Brasília e é diretor de assuntos legislativos da associação nacional de sua corporação.

O ativismo do Supremo na matéria, somado à decisão que autorizou o Judiciário a homologar delações da polícia sem consulta aos procuradores, ameaça retroagir, em 30 dias, os poderes conquistados pelo MP nos últimos 30 anos.

Visto de fora, o embate entre procuradores e magistrados tem as tintas de briga corporativa, mas vai muito além disso. É o equilíbrio de forças estabelecido pela Constituição de 1988 que está em jogo. O juiz autoriza busca e apreensão, interceptação e prisão, mas não é parte da investigação, como nos Estados Unidos e em contraste com a herança ibérica.

Míriam Leitão: Tombo industrial

- O Globo

O tombo da produção industrial já era esperado, por causa da greve do setor de transporte de carga. Mas há, nos últimos indicadores, sinais de uma economia em transição. Estava se recuperando e volta a perder vigor. Mais do que o efeito localizado, a greve foi o ponto que levou o país para outro ritmo. Não apenas pelo movimento, mas pela soma de vários problemas em que se destaca a incerteza política.

A produção industrial caiu 10,9% em maio. Uma queda que fez o país recuar anos. Mas, ao mesmo tempo, no acumulado de janeiro a maio, o setor de bens de capital teve alta de 9,5%, o que é sempre indicação de investimento. Os dados da balança comercial de junho mostram uma retração de 7,7% na importação de combustíveis e lubrificantes, em decorrência da dúvida sobre os preços do diesel. Mas as importações gerais cresceram 17%, e as de bens de capital subiram 33,8%.

Há retrato e filme. O retrato é de um país que em maio despencou o nível de atividade e teve um salto nos preços por causa do violento impacto da greve que uniu caminhoneiros e empresários do setor. A inflação de junho deve ficar em 1,1%, dado que será divulgado na sexta-feira. Nos preços, o efeito pode ser mais temporário, mas no nível de atividade, não.

O Itaú Unibanco estima que a indústria voltará a crescer 10,9% em junho, recuperando a perda de maio. Mas não há consenso no mercado. O UBS, por exemplo, estima crescimento de 7%. O banco ressalta que só houve três momentos piores do que a queda de maio: no plano Collor, em 1990, na greve dos petroleiros, em 1995, e na crise financeira de 2008.

Everardo Maciel: Incentivos fiscais, mais uma vez

- O Estado de S.Paulo

A competição fiscal lícita é tão antiga quanto a história dos impostos

Se tributo constitui uma indispensável intervenção do Estado, que contrapõe o interesse público à liberdade individual, evitá-lo ou reduzi-lo pode ser um valioso instrumento à disposição dos entes tributantes (países, Estados e municípios) para fomentar o desenvolvimento.

É nessa perspectiva que devem ser entendidos incentivos fiscais motivados pelos interesses de um país, no contexto da competição internacional, ou pela pretensão, no âmbito de uma jurisdição nacional, de corrigir desigualdades regionais de renda.

A fixação de regras, por meio de tratados internacionais ou de legislações nacionais, delimita a possibilidade de utilização de tributos na atração de investimentos ou para evitar que se relocalizem. Configura-se, nessas circunstâncias, a competição fiscal lícita, que é tão antiga quanto a história dos impostos.

A prática da competição fiscal lícita pode, sem dúvida, não corresponder ao melhor padrão de eficiência econômica.

No caso dos incentivos fiscais regionais, o que prevalece, todavia, é a unidade nacional, cuja relevância é igual ou superior à da eficiência econômica.

No Brasil, a correção das abissais desigualdades regionais converteu-se, a propósito, em um dos objetivos fundamentais da República (artigo 3.º, III, da Constituição) e constitui critério, também constitucional, para a partilha de rendas e a alocação de recursos orçamentários.

Vinicius Torres Freire: O Brasil quer ir para os pênaltis

- Folha de S. Paulo

Economia será essa lerdeza até 2019, raiva popular cresce e flertamos com um desastre político

O estado da economia até a eleição será mais ou menos este que podemos ver por agora, pouco mais do que uma estagnação manchada de horrores.

Quer dizer, será isso caso não sobrevenha tumulto financeiro causado por Donald "Nero" Trump ou pela possível vitória de um programa de governo demente na eleição presidencial de outubro.

Poderia ter sido um pouco melhor, mesmo com as expectativas reduzidas pela mediocridade do início do ano. Mesmo a sensação térmica, a experiência do povo comum, poderia vir a mais agradável no terceiro trimestre, que pareceria mais animado do que indicaria o crescimento de apenas.

Os efeitos diretos do caminhonaço e o choque político causado pelo surto nacional de insensatez de maio enterraram o restante das esperanças de crescimento melhorzinho e acelerando. Vamos crescer 1,6%, se tanto, sem tendência de alta relevante até meados do ano que vem. Dá cerca de 0,8% per capita, o que quase ninguém vai perceber.

CAMINHONAÇO
A produção da indústria afundou 11%, soubemos nesta quarta-feira (4) pelo IBGE. Não foi tão ruim quanto se estimava, na média. Assim, aumenta a chance de que tenhamos escapado de uma regressão do PIB neste segundo trimestre.

Há indícios de que em junho as fábricas tenham ao menos compensado as perdas de maio. É um alívio para quem gosta de ver o copo meio limpo.

"Os primeiros indicadores coincidentes (confiança da indústria, utilização da capacidade instalada, dados semanais de comércio exterior e consumo de energia, licenciamento de veículos, entre outros) sinalizam alta de 10,9% dessazonalizada em junho (avanço de 0,9% na comparação anual)", escreveram os economistas do Itaú em relatório sobre o desempenho da indústria.

Ribamar Oliveira: Solução das 'pedaladas' agravou a recessão

- Valor Econômico

Estudo avalia efeitos da regularização das despesas escondidas

Um estudo, recentemente concluído, sustenta que o reconhecimento e a regularização em 2015 das despesas públicas que não tinham sido contabilizadas anteriormente - as famosas "pedaladas fiscais" do governo da ex-presidente Dilma Rousseff - agravaram a recessão da economia brasileira, que teve início no segundo trimestre de 2014. Pela primeira vez, economistas procuraram dimensionar os efeitos macroeconômicos de todo esse processo que, no campo político, terminou com o impeachment da ex-presidente.

A tese central defendida pelos autores é que a gradual explicitação da existência e a magnitude dos passivos fiscais, que foram escondidos pela "contabilidade criativa", teriam provocado uma série de choques nos agentes privados (chamados de "choques informacionais" no estudo) ao longo de 2015. Os choques aumentaram a percepção de risco em relação à sustentabilidade da dívida pública brasileira.

Com isso, os agentes privados passaram a esperar um ajuste fiscal mais profundo do que o antecipado anteriormente pelo governo para a estabilização das contas públicas. Diante da nova realidade e da implementação do programa de ajuste, eles teriam sido levados a rever suas decisões, reduzindo consumo, poupança, investimentos e a produção.

A principal hipótese do estudo, que será publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), como texto para discussão, é que, até o final de 2014, os agentes privados não conheciam a real situação das finanças públicas do país. E que, a partir do último trimestre daquele ano, eles tiveram sucessivas "surpresas" com os dados cada vez mais preocupantes sobre o "buraco" nas contas públicas.

Naquela época, é bom relembrar, a explicitação dos passivos foi sendo feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU), com o governo evitando se pronunciar com clareza sobre o assunto. Com base nas novas informações que iam surgindo, os agentes passaram a refazer suas contas sobre o tamanho da despesa para 2015, sobre o superávit primário necessário para a estabilização das contas e o impacto de tudo isso na dívida pública.

Luiz Carlos Azedo: A liturgia do cargo

- Correio Braziliense

Dias Toffoli assumirá a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro e já toma decisões levando em conta a expectativa de poder que o mundo jurídico lhe reserva

“Não há limite. Vamos pensar: os caras são vitalícios, nunca serão responsabilizados via STF ou via Congresso e ganharão todos os meses o mesmo subsídio. Sem contar o que ganham por fora com os companheiros que beneficiam. Para que ter vergonha na cara?”, disparou a procuradora da República Monique Cheker no Twitter, logo após criticar o líder do governo, deputado André Moura (PSC-CE), por indicar “advogados, primos e dona de salão” para a Dataprev. A frase foi interpretada como uma crítica aos ministros do STF, o que a procuradora nega em outro post: “Não há menção a ministros do STF”.

Em reação à procuradora, o integrante do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) Luiz Fernando Bandeira de Mello encaminhou à Corregedoria Nacional do MP um pedido para que seja apurada a eventual menção da procuradora da República a ministros do STF que ganhariam “por fora com os companheiros que beneficiam”. No documento, Bandeira pede para que seja investigada a real autoria da publicação nas redes sociais e, se confirmada, a “eventual infração disciplinar”. Em outro post, Cheker não deixa por menos. diz que CNPM “é um órgão extremamente importante para o controle disciplinar de membros do MP mas está enfrentando uma péssima fase, olhando twitters e postagens no Facebook, sem qualquer indícios de falta disciplinar, quando há muito o que fazer no combate à corrupção.”

Na verdade, o clima esquentou entre procuradores e ministros do Supremo por causa de decisões da Segunda Turma do STF e algumas decisões monocráticas de ministros do STF libertando presos da Operação Lava-Jato e arquivando inquéritos que, depois de sucessivas prorrogações, não apresentaram provas cabais contra os indiciados. Líder da força-tarefa que investiga a Lava-Jato em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol, por exemplo, não digeriu a soltura do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu: “Min. Toffoli mantém preso réu que furtou uma bermuda de 10 reais. Já Dirceu, que desviou milhões e também tem mais de uma condenação em seu histórico, foi solto pelo mesmo ministro, que foi subordinado ao réu na Casa Civil”, disparou.

“Dirceu foi preso p/ cumprir pena qd vigiam cautelares (como tornozeleira). Em seguida, 2ª Turma suspendeu pena contra decisão do STF q permite prisão em 2ª instância Naturalmente, cautelares voltavam a valer. Agora, Toffoli cancela cautelares de seu ex-chefe (sic)”, escreveu o procurador. Desafeto de Dellagnol, o advogado Rodrigo Tacla Duran, investigado pela Lava-Jato, não perde uma oportunidade para atacar o procurador no Twitter: “Repudiar e desrespeitar decisão judicial de instância superior virou hábito dos que naturalmente não investigam ex-colegas e se fazem de rogado. Buscam desviar o foco com opiniões contraditórias corporativistas e hipócritas”, provocou.

Roberto Freire: Alegria e esperança

- Blog do Noblat/Veja

Revi, um dia desses, o filme chileno “NO”, indicado ao Oscar de “Melhor Filme Estrangeiro”, em 2012.É sobre o plebiscito que o ditador Pinochet convocou para legitimar-se aos olhos da opinião pública internacional.

O “SI” implicava na continuidade do regime, o “NO”, em sua queda. As pesquisas davam como certa a vitória do ditador, que investia nos resultados econômicos, em detrimento da liberdade.

As oposições democráticas resolveram participar. Havia uma corrente que não acreditava na vitória e queria usar o espaço para, com os olhos no retrovisor, apenas denunciar os crimes da ditadura.

Prevaleceu o entendimento de apontar para a frente e opor à ditadura a alegria, a alegria da restauração do império das liberdades democráticas.

O símbolo da campanha do “NO” era um arco-íris, representativo da diversidade das correntes democráticas. Era o “NO más”.

Pinochet tentou dar um golpe de mão, quando as urnas revelaram a vitória oposicionista, mas foi impedido pela maioria dos seus generais, acuados pelas reações da opinião pública chilena e temerosos das pressões internacionais.

A vitória do “NO” levou à redemocratização e à pacificação nacional.

Na campanha do “NO” formou-se o que veio a ser a consertação, o bloco de forças democráticas e reformistas que governou o Chile contemporâneo, vitorioso na maioria das eleições subsequentes à derrocada do regime de Pinochet.

Guardadas as devidas proporções e os momentos históricos distintos, estamos em uma situação no Brasil em que temos a aprender com os acontecimentos chilenos. Precisamos mirar as forças democráticas e reformistas na restauração da alegria. E acoplar a esperança.

Alegria e esperança em dias melhores, com a melhoria das condições de vida e trabalho da população e a preservação do reino das liberdades democráticas.

Pré-candidatos têm baixa interação com demandas dos eleitores

Por Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - Levantamento realizado em maio e junho pela consultoria.MAP, proprietária do Índice de Positividade Brasil Opinião (IP Brasil-Opinião), que mede, nas redes sociais, o apoio da sociedade aos principais temas da atualidade, revela uma baixa interação entre as demandas dos eleitores e os principais temas discutidos pelos pré-candidatos à Presidência da República.

Líder nas pesquisas de intenção de voto no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) aparece como o presidenciável mais citado nas redes sociais (34,8%), com 39% de manifestações positivas. O parlamentar fluminense, no entanto, concentrou a maior parte de seus posts (60%) nos últimos dois meses para falar de si ou de sua pré-campanha.

A pré-campanha de cada postulante foi neste período o fato político mais destacado pela sociedade nas redes sociais, embora por apenas 18%. "Esse dado revela um descasamento entre o eleitorado e os pré-candidatos de um modo geral, e não só o Bolsonaro, já que nenhum deles aborda outros assuntos demandados de uma forma mais ampla em seus posts", afirma Marília Stábile, diretora-geral da.MAP.

Citado por 31,7% dos usuários, Lula conta com mais menções favoráveis (45%) que Bolsonaro. O petista, que está preso desde abril, dividiu seus comentários entre sua pré-campanha (37,3%) e a Operação Lava-Jato (35,1%), pela qual foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, e que com 9% foi a segunda questão política mais debatida pelos usuários.

O ex-ministro Ciro Gomes aparece como o terceiro mais comentado (13,5%), com 28% de menções favoráveis. O pedetista também focou em si próprio (60,5%), embora, ao contrário de Bolsonaro, tenha apresentada uma pauta mais diversificada e alinhada com o eleitorado ao tratar, ainda que em alguns casos de forma residual, de outros temas debatidos nas redes sociais, como o governo Michel Temer, o desemprego, a corrupção, o machismo e o racismo.

Com menos citações, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o empresário Flávio Rocha (PRB) tiveram percentuais parecidos com os registrados por Bolsonaro e Ciro em suas interações com os usuários no que se refere à própria pré-candidatura. Mas a exemplo do pedetista e na contramão do parlamentar, os três presidenciáveis falam, mesmo que de maneira breve, de outros assuntos.

Alckmin crê em 'arrancada fulminante'

Por Raymundo Costa | Valor Econômico

BRASÍLIA - O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) acredita que pode vencer a eleição numa campanha fulminante nos últimos 30 dias do horário eleitoral gratuito, quando ele espera que prevaleça uma "onda de racionalidade". Na opinião do tucano, sem a televisão nenhum candidato tem chance. Ele menciona a eleição recente para governador de Tocantins, onde os candidatos que lideravam 30 dias antes nem foram para o segundo turno.

Contador de causos, Alckmin lembra-se de um episódio ocorrido em janeiro, quando ainda era governador, que vem em socorro de sua convicção. Depois de uma solenidade, estava de volta ao Palácio quando parou em um semáforo fechado. Uma "senhorinha" o cumprimentou. Ele respondeu, mas se deu conta que ela o reconhecia, mas não lembrava seu nome. O sinal abriu e ela se despediu: "Tchau doutor Paulo Maluf".

Alckmin projeta ser o ganhador na reta final
O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) quer ganhar a eleição numa campanha fulminante nos últimos 30 dias do horário eleitoral gratuito, quando então prevalecerá, segundo acredita, a "onda da racionalidade". O momento atual é dominado pelo que chama de "onda do radicalismo", algo que considera natural no início das campanhas.

Alckmin circulou ontem pela arena da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com um discurso fiscal ajustado, mas quem surfou a crista da onda foi Ciro Gomes. Para atender à clientela do PDT, Ciro atacou a reforma trabalhista e foi vaiado pelos empresários. O tucano ficou com a aprovação da plateia mas também com a desconfiança sobre sua viabilidade eleitoral.

O horário eleitoral gratuito começa em 31 de agosto. Antes disso, o ex-governador acredita que nenhum candidato tem chance de reverter situações delicadas como a dele nas pesquisas eleitorais. Menciona a eleição recente para o governo de Tocantins - os candidatos que lideravam 30 dias antes nem sequer foram para o segundo turno.

Sob aplausos de empresários, Alckmin defende a desburocratização da economia e redução do IR de pessoa jurídica

BRASÍLIA - O presidente nacional do PSDB e pré-candidato do partido à Presidência, Geraldo Alckmin, foi aplaudido em pelo menos três momentos. Primeiro quando anunciou sua proposta de reduzir o Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas, como alternativa para se aumentar o investimento e também estimular a criação de novos empregos no país.

“Nós vamos reduzir o Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, ou seja, o imposto corporativo. Para quê? Para atrair empresas e investimento no Brasil e que as empresas reinvistam, reduzindo como os Estados Unidos fizeram. Nós vamos ter uma política muito ativa na questão do emprego e da renda”, explicou Alckmin depois em coletiva à imprensa.

O pré-candidato tucano também foi aplaudido quando se comprometeu em desregulamentar e desburocratizar a economia brasileira e quando destacou que caberá ao próximo governo criar um ambiente seguro para se empreender no país. Ele finalizou sua participação no evento da CNI demonstrando confiança no seu desempenho na disputa presidencial.

“Vocês não perguntaram se eu tenho chance, mas eu vou dizer: eu vou ganhar a eleição!”, afirmou Alckmin, mais uma vez arrancando aplausos da plateia.

Seguem os principais trechos da entrevista coletiva:

Reformas
Quem for eleito, vai ter aí 55, talvez se aproxime de 60 milhões de votos, o que traz uma legitimidade muito grande. O novo governo tem que aproveitar o início do governo, a força do voto, ter a sociedade junto. E explicar as razões, como a simplificação tributária, que pode trazer um ganho de quase um ponto porcentual do PIB, uma boa simplificação tributária, a reforma da previdência – que não é para tirar direito de ninguém – mas é para ter um sistema mais justo e equilibrado do ponto de vista financeiro.

Redução do IR para Pessoa Jurídica
Eu citei aqui e quero dar um destaque que nós vamos reduzir o imposto de renda de pessoa jurídica, ou seja, o imposto corporativo. Para quê? Para atrair empresas e investimento no Brasil e que as empresas reinvistam, reduzindo como os Estados Unidos fizeram. Nós vamos ter uma política muito ativa na questão do emprego e da renda.

Setor elétrico
Esse foi um dos setores mais prejudicados pelo intervencionismo do governo anterior. Com a privatização, um bom marco regulatório e agências de fiscalização despartidarizadas, você traz ganhos de eficiência e você traz de outro lado também investimento. É preciso estimular também as energias renováveis. Outro grande problema do custo de energia é tributário. Não pode neste momento, ficar dizendo que vai reduzir, mas é preciso buscar uma redução tributária.

Pesquisas
O povo brasileiro ainda não sabe quem são os candidatos, quem não é candidato, qual é a aliança, o que defende, quais as suas propostas. Não tenho a menor preocupação com pesquisa neste momento. Não temos aliança fechada, mas bem encaminhada com 5 partidos, o que nos coloca, praticamente, com 20% do tempo do rádio e da televisão.

Jantar com “blocão”
Fui convidado para o encontro com o bloco entre 4 e 5 partidos. Aliança não se faz de qualquer jeito, deve se fazer baseada em propostas, em programa e com o objetivo da governabilidade . É preciso ganhar a eleição e é preciso fazer um bom governo. As duas coisas são necessárias para o povo brasileiro. Não é só ganhar, é ganhar e fazer um bom governo. Nós acreditamos que temos alguns partidos que têm uma afinidade maior do ponto de vista de visão de mundo, do ponto de vista na área econômica, como retomar o crescimento da economia, medidas que são necessárias.

“A democracia é a pedra basilar da civilização”, diz Alckmin

O presidente nacional do PSDB e pré-candidato à Presidência da República, Geraldo Alckmin, defendeu, na tarde desta quarta-feira (04/07), a garantia da liberdade de expressão durante encontro com empresários de rádio e TV, membros da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT).

“A democracia é a pedra basilar da civilização. É a pedra fundamental e ela só existe com a garantia da liberdade de expressão.”, afirmou.

Alckmin ressaltou que, apesar da liberdade de expressão estar expressa na Constituição Federal Brasileira, muitos grupos agem com radicalismo e atacam, principalmente, a imprensa.

“Liberdade de expressão estar expressa de maneira claríssima na Constituição Brasileira, mas ela precisa existir na prática. E a gente vê bomba em prédio de rádio, de televisão, ataque a jornalistas no dia-a-dia. Então, não pode haver impunidade. Na prática nós devemos garantir essa liberdade de expressão”, defendeu.

Ao final do encontro, Alckmin atendeu aos jornalistas que o indagaram sobre possíveis mudanças no funcionamento e no aumento do quadro de ministros do Supremo Tribunal Federal.

“Primeiro, não vejo nenhuma razão para aumentar o número de ministros do Supremo. Essa não é a reforma que se imagina. Não tem cabimento isso. A forma de escolha é o notável saber jurídico, a indicação do presidente e o crivo do poder legislativo do Senado Federal, que entendo também ser importante. Em relação ao mandato, ser vitalício ou mandato de 15, 20 anos, é uma questão que merece ser estudada, mas não simplesmente aumentar o número de ministros. Isso é coisa da ditadura e para poder ter maioria folgada queria aumentar o número de ministros”, disse.

Candidatos falam em controle do câmbio e em corte de imposto

Presidenciáveis propõem cortar IR e controlar juro

Propostas são apresentadas durante evento em Brasília com a presença de dois mil empresários; possibilidade de alteração da reforma trabalhista é criticada

Fernando Nakagawa, Felipe Frazão, Leonencio Nossa e Renan Truffi | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Em um encontro realizado nesta quarta-feira, 4, com cerca de 2 mil empresários, em Brasília, pré-candidatos à Presidência da República nas eleições 2018 apresentaram propostas econômicas como o controle do câmbio e dos juros e a redução de impostos para as empresas. A primeira medida foi defendida pelo presidenciável do PDT, Ciro Gomes, que também prometeu usar bancos públicos do País para baratear o crédito. Ainda no evento, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), enquanto o tucano Geraldo Alckmin falou em diminuir o Imposto de Renda das companhias, Marina Silva (Rede) gerou reação negativa da plateia ao prometer rever pontos “draconianos” da reforma trabalhista. Ciro também disse que pretende mudar o texto aprovado pelo Congresso.

Ao prometer reduzir o imposto das empresas, o presidenciável tucano citou como exemplo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Veja que nos Estados Unidos o presidente Donald Trump reduziu o imposto. Temos de estimular novos investimentos e fazer com que venham para cá”, afirmou Alckmin. Após a palestra, porém, coube ao assessor econômico de Alckmin, Persio Arida, explicar que a queda de arrecadação seria compensada com a adoção de um novo imposto. Ele incidiria sobre os dividendos pagos pelas empresas a seus acionistas – uma pauta polêmica e defendida, historicamente, pela esquerda.

Presente na plateia, o industrial do ramo cerâmico Francisco Xavier de Andrade afirmou que a redução de impostos poderia ter efeito positivo sobre as contas públicas, ao estimular o aumento de empregos formais. “Com alíquota menor, a informalidade diminui, o que aumenta a arrecadação.”

Câmbio. Ciro Gomes, do PDT, também escolheu para sua fala dois temas caros aos empresários – câmbio e juros. “Vou agir nos dois preços centrais que estão desindustrializando o Brasil”, disse ele. Sem citar valores, defendeu um patamar para o dólar que estimule as exportações. No caso da taxa de juro, disse que pretende usar o Banco do Brasil e a Caixa para baratear o crédito, citando na sequência uma das operações mais comuns na contabilidade das empresas – o desconto de duplicata. Segundo ele, o juro nessa operação poderia cair pela metade, para 0,75% ao mês. O uso dos bancos públicos também foi um dos instrumentos adotados pela presidente cassada Dilma Rousseff para forçar as instituições privadas a cortar suas taxas.

José Luis Korman, empresário do ramo de tecnologia do Rio Grande do Sul, viu colegas aplaudindo a proposta, mas demonstrou contrariedade. “É um canto de sereia de curto prazo. A experiência já mostrou que o controle de preços é o pior cenário”, disse.

O custo do crédito também foi citado por Henrique Meirelles, pré-candidato do MDB, e por Marina Silva, da Rede, que prometeram adotar medidas para baratear o custo dos empréstimos, mas sem interferência de bancos públicos.

Ciro recebe vaias ao dizer que reforma trabalhista é 'selvagem'
A promessa de rever pontos da reforma trabalhista, ao contrário, gerou reação negativa dos empresários. Marina prometeu rever pontos “draconianos”, enquanto Ciro disse que a mudança foi “selvagem”, o que provocou vaias de alguns presentes. “Fui vaiado por uma pequena fração, mas não estou preocupado.”

O deputado Jair Bolsonaro defendeu a ampliação do espaço da iniciativa privada na economia e a redução do Estado, com corte no número de ministérios. Ele voltou a dizer que pretende indicar mais militares para cargos-chave da sua administração. Mas o pré-candidato do PSL foi criticado por alguns participantes por não ter detalhado nenhuma proposta de maior interesse dos empresários, como a reforma da Previdência. /

Candidatos a presidente criticam o Supremo

Em evento voltado a empresários industriais, presidenciáveis questionam decisões do STF

Felipe Frazão, Fernando Nakagawa, Renan Truffi, Leonêncio Nossa e Vera Rosa | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Pré-candidatos à Presidência da República nas eleições 2018 se posicionaram nesta quarta-feira, 4, sobre propostas que afetam o Supremo Tribunal Federal (STF), como o tempo de mandato e a forma de escolha dos ministros da Corte, durante debate organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os presidenciáveis, de diferentes espectros ideológicos, fizeram críticas a recentes decisões do STF, numa reação ao que é considerado no meio político como “ativismo jurídico”.

A pressão sobre o Supremo aumentou, nas últimas semanas, depois de uma série de decisões favoráveis a réus da Operação Lava Jato, tomadas pela Segunda Turma da Corte. No evento desta quarta-feira, os pré-candidatos ao Planalto também cobraram harmonia entre os Poderes e segurança jurídica.

Um dos líderes nas pesquisas de intenção de voto, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) propôs mudar a composição do Supremo. Bolsonaro afirmou que o STF tem legislado no lugar da Câmara e do Senado e que, se essa situação continuar, o País ficará “ingovernável”. O parlamentar quer elevar de 11 para 21 o número de magistrados. “É um recado que estou dando: com esse Supremo, vai ficar ingovernável”, afirmou.

Bolsonaro citou decisão monocrática do ministro Ricardo Lewandowski, que proibiu a venda, sem autorização prévia do Legislativo, de ações de empresas públicas, sociedades de economia mista e suas subsidiárias ou controladas – a questão poderá ser analisada pelo plenário da Corte, após o recesso do Judiciário. O questionamento na Nova Lei das Estatais foi feito por entidades representativas de funcionários públicos. “Será uma liminar ideológica? Acho que é mais ideológica, para garantir emprego dos companheiros que o indicaram para lá”, disse o presidenciável.

O senador paranaense Alvaro Dias, pré-candidato do Podemos à Presidência, afirmou que a indicação de ministros deve ser feita por meio de lista tríplice, seguindo critérios de meritocracia e atividades na carreira dos candidatos – atualmente, a indicação é prerrogativa do presidente da República e passa por votação no Senado.

Até 2022, o futuro presidente do País poderá indicar pelo menos dois ministros para o STF, porque Celso de Mello e Marco Aurélio Mello se aposentarão. Dias afirmou que a medida poderia “eliminar suspeições” que pairam sobre decisões dos ministros e que, atualmente, as leis são interpretadas “ao sabor de conveniências e circunstâncias” pelos magistrados.

Empresário aplaudem Bolsonaro e vaiam Ciro

Na CNI, pedetista defendeu rediscussão da reforma trabalhista; ‘os senhores são nossos patrões’, afirmou deputado

Daniel Carvalho e Marina Dias Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Pré-candidato à Presidência da República, o ex-governador Ciro Gomes (PDT-CE) chamou nesta quarta-feira (4) o presidente Michel Temer de quadrilheiro e foi vaiado por empresários ao dizer que vai rediscutir a reforma trabalhista.

A industriais de todo o país reunidos em evento da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ciro disse não ter poder para revogar a reforma trabalhista, mas que seu compromisso é retomar a discussão. Ele chamou a mudança na legislação feita pelo Congresso de selvageria e disse estar do lado dos trabalhadores.

"Meu compromisso com as centrais sindicais é botar esta bola de volta para o meio de campo."

Neste momento, foi vaiado.

"Pois é, vai ser assim mesmo. Se quiserem presidente fraco, escolham um desses aí que vêm com conversa fiada para vocês", reagiu Ciro à plateia.

"Confiança não é simpatia. Confiança é não mentir", disse o pré-candidato, que ao final do encontro, pediu desculpas por qualquer veemência, mas afirmou aos jornalistas não ter se sentido agredido.

Em entrevista após o evento, ao ser questionado sobre o episódio, se mostrou desconfortável. Quando comparada a reação da plateia à fala dele e à de seu adversário Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que foi aplaudido diversas vezes, disse que são "sinais dos tempos".

O presidenciável demonstrou incômodo com a insistência dos repórteres neste assunto e em perguntas que abordavam seu temperamento.

"Escrevam o que vocês quiserem. Já estou acostumado", afirmou, indagando a uma das jornalistas quem era o dono do veículo para o qual ela trabalha.

Sem partidos, Marina Silva faz aposta em alianças simbólicas

Pré-candidata diz que elo com movimentos de renovação política é coligação com a sociedade

Joelmir Tavares | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Quem não tem cão caça com gato. Talvez incômodo para uma ambientalista como Marina Silva, o ditado popular resume a situação da Rede em meio às negociações de alianças para a campanha.

Sem a adesão de outros partidos até agora, a pré-candidata apostará em coligações simbólicas: com movimentos que pregam renovação política.

Agora!, Acredito, Brasil 21 e Frente Favela Brasil estão entre os gruposque o entorno da ex-senadora considera peças importantes na candidatura. São, na visão da equipe, alianças não convencionais.

"Estamos fazendo alianças com a sociedade", disse Marina em evento da CNI (Confederação Nacional da Indústria), nesta quarta (4), em Brasília.

"Até o dia 4 de agosto [data da convenção da Rede], temos bastante tempo. Nenhum candidato definiu nem vice nem alianças", afirmou ela.

O partido conversa com legendas pequenas, como PHS, PMN, PPL e Pros, mas internamente já há resignação com a hipótese de que não seja fechada nenhuma coligação.

Na prática, a parceria com as organizações de renovação é diferente da união com siglas. Alianças formais em âmbito nacional seriam importantes para o tempo de TV. Sozinha, a presidenciável tem 8 segundos.

Nos movimentos, Marina encontrará principalmente apoios individuais. Dos coletivos que se aproximaram dela, só o Brasil 21 fechou apoio à candidatura. Nos demais, o esperado é que alguns membros se engajem na campanha.

O Agora!, que tem entre os participantes o apresentador Luciano Huck, decidiu que só tomará partido de algum candidato no segundo turno.

Na CNI, Ciro é vaiado; Alckmin cita Trump

2018 Candidato do PDT desagrada ao tratar da reforma trabalhista; Bolsonaro evita responder a perguntas

Bruno Góes e Cristiane Jungblut | O Globo

-BRASÍLIA- Em encontro com empresários na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os principais pré-candidatos à Presidência da República apresentaram ontem suas ideias para tentar conquistar a simpatia de um dos grupos mais relevantes da economia brasileira. Participaram da sabatina da CNI os presidenciáveis Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Alvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB). Eles trataram de temas caros ao setor, mas nem todos agradaram os industriais. Enquanto Marina e Ciro causaram desconforto ao criticar a reforma trabalhista — o pré-candidato do PDT chegou a ser vaiado —, Bolsonaro e Alckmin foram aplaudidos diversas vezes. O deputado do PSL, no entanto, preferiu não responder a algumas das perguntas feitas no evento. No encontro, os empresários aproveitaram para entregar aos presidenciáveis um conjunto de 43 propostas para “estimular a economia nos próximos quatro anos”.

Primeiro a falar, Geraldo Alckmin prometeu, caso seja eleito, realizar reformas ainda no primeiro semestre de 2019. O ex-governador apontou a necessidade simplificar a tributação e fazer as reformas política e da Previdência. Além disso, se comprometeu a zerar o déficit público em dois anos e a dar impulso às privatizações. Aplaudido pelos empresários ao prometer reduzir o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), Alckmin citou como exemplo o presidente dos EUA, Donald Trump, que diminuiu impostos corporativos.

— Temos um verdadeiro manicômio tributário. O presidente Trump reduziu o imposto de renda corporativo. No mundo todo você tem um IVA, um imposto por valor agregado. Você faz uma transição do modelo tributário. Tendo um modelo tributário menor é possível ir reduzindo a carga tributária.

Bolsonaro evitou responder a alguns questionamentos feitos no evento e sugeriu que fossem encaminhados ao economista Paulo Guedes.

FH e Alvaro Dias conversam sobre unidade

Ex-presidente vem insistindo na tese de candidatura única de centro

Dimitrius Dantas e Silvia Amorim | O Globo

-SÃO PAULO- O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu ontem o pré-candidato à Presidência da República Alvaro Dias (Podemos) em São Paulo para uma conversa sobre a união de candidaturas de centro nesta eleição. O encontro foi no apartamento de FH, na capital paulista. Depois da reunião, o ex-presidente viajou a Brasília.

Dias é o primeiro presidenciável com quem FH conversa reservadamente após o lançamento do manifesto por um polo democrático e reformista. O movimento tenta unificar as pré-candidaturas à Presidência identificadas como de centro — Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Álvaro Dias (Podemos).

Apesar da ofensiva, os três presidenciáveis têm rejeitado abrir mão de uma candidatura. Senador eleito pelo Paraná, Dias é apontado no PSDB como um dos entraves para o crescimento do presidenciável tucano no sul do país. O senador apareceu em quinto lugar na pesquisa Datafolha divulgada em junho com cerca de 4% das intenções de voto. Alckmin teve 6% e Marina, 15%.

O partido de Dias acompanha o movimento capitaneado por Fernando Henrique junto com PSDB, Rede, PPS, DEM e Novo. No último dia 28, a senadora Rose de Freitas foi a emissária de Dias no lançamento do polo em São Paulo, evento que contou com a presença do ex-presidente.

Na ocasião, Fernando Henrique foi enfático ao defender a unidade das campanhas, mas não precisou se ela deve ocorrer antes do primeiro turno.

— Não podemos perder muito tempo — disse. — Se for necessário, unamo-nos no primeiro turno, se não for possível, unamo-nos no segundo turno. Mas unamo-nos porque senão o pior pode acontecer.

Para as lideranças do centro democrático e reformista, há três momentos possíveis de união: antes das convenções, durante o primeiro turno ou no segundo turno. O temor, no entanto, é de que os candidatos do campo fiquem de fora. Deputado federal do PSDB, Marcos Pestana chegou a citar a possibilidade de que os candidatos renunciem à campanha caso seja necessário um voto útil naquele que estiver mais bem colocado.

Na conversa com o senador, que já foi do PSDB, o ex-presidente tucano alertou para os riscos de uma eleição marcada pela fragmentação das candidaturas de centro e a importância de uma convergência ainda no primeiro turno.

Rejeição à urna: Editorial | Folha de S. Paulo

Pesquisas detectam crescimento de intenções de votos nulos e brancos, refletindo desgaste de políticos

Realizado em 24 de junho, o segundo turno da eleição suplementar para o governo do Tocantins —que tinha por objetivo preencher a vaga da chapa do ex-governador emedebista Marcelo Miranda, cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral— registrou o impressionante índice de 35% de abstenção.

Ainda que fosse um pleito convocado em circunstâncias excepcionais, o desinteresse demonstrado parece confirmar a tendência, que se faz notar nos últimos anos, de desencanto de setores da sociedade em relação à política.

A mais recente pesquisa Datafolha de intenção de voto para o Palácio do Planalto, publicada em junho, revelou que, nos cenários sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a soma de votos brancos e nulos e entrevistados indecisos alcança cerca de um terço do total.

Em 2010, na mesma época, essa fatia era de 13%. Quatro anos depois, quando a Lava Jato teve início, o número subiu a 30%.

Reportagem publicada por esta Folha ouviu seis eleitores que se encaixam no perfil dessa parcela que pretende transformar o ceticismo em rejeição ao voto.

A corretora de imóveis Maria Christina Baseggio, 65, apontou um dos motivos mais óbvios de tal sentimento de revolta —os escândalos de corrupção que atingem representantes de todas as faixas do espectro partidário.

Eleitora assídua, ela considera que não teria hoje a quem dar seu voto. “Essa sujeirada toda, não só de um partido”, disse, a deixou “sem ninguém em quem acreditar”.

A aversão aos desvios e irregularidades cometidos por políticos é decerto reforçada pela impressão de que dirigentes públicos se beneficiam de maneira indevida e desproporcional dos recursos arrecadados do contribuinte.

Esse impulso já estava presente nos protestos de junho de 2013, quando as insatisfações explodiram nas ruas. Desde então, os índices de apoio aos governantes e partidos se mantêm em baixa.

Há, como se sabe, riscos inerentes a esse cenário, como já se constatou em situações análogas em outros países. Um deles é a exacerbação do voto de protesto, direcionado a candidatos folclóricos ou de plataformas exóticas.

Outra possibilidade é a busca de postulantes sem vínculos com os quadros e legendas tradicionais, com o perigo evidente de favorecer um aventureiro ao qual faltará estrutura para o exercício do poder.

Cabe apontar, de todo modo, que o debate eleitoral deste ano ainda se mostra incipiente. As chapas nem mesmo estão oficializadas, e a propaganda de rádio e TV só terá início em 31 de agosto. Haverá tempo e oportunidades para seduzir os votantes até o dia do pleito.

Limites ao poder monocrático: Editorial | O Estado de S. Paulo

Aprovado recentemente em caráter conclusivo pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei (PL) 7.104/2017 é muito oportuno nestes tempos de protagonismo judicial. Ele estabelece que, no caso de Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) e de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), a concessão de medidas cautelares depende exclusivamente da aprovação da maioria absoluta dos membros do tribunal competente.

Na realidade, o art. 10 da Lei 9.868/99 já prevê essa condição, mas como os tribunais, especialmente o Supremo Tribunal Federal (STF), têm ignorado a exigência, é conveniente pôr um esclarecedor ponto final a esse desequilíbrio institucional, que, além de provocar insegurança jurídica, interfere abusivamente na relação entre os Poderes. Hoje, uma lei aprovada pelo Congresso, que cumpriu integralmente o rito legislativo, tem muitas vezes sua eficácia suspensa por decisão de um único ministro do STF, sob a justificativa de que seu conteúdo contraria a Constituição. É muito poder para uma única pessoa.

EUA inicia guerra tarifária que pode se tornar global: Editorial | Valor Econômico

O governo americano imporá tarifas de 25% a 818 produtos provenientes da China a partir de amanhã, em um alvo de US$ 34 bilhões em mercadorias. Pequim revidará na mesma medida e na mesma hora. É a primeira vez desde a ascensão da China a potência econômica mundial que o país é alvo de uma retaliação comercial massiva e, o que é pior, proveniente da maior economia mundial. O início de uma guerra comercial e o som e a fúria das novas ameaças feitas na Casa Branca deixaram os mercados intranquilos, desvalorizou a moeda chinesa, depois que as demais emergentes perderam valor há semanas, sacudiu as cotações de várias commodities e causa danos nos mercados acionários ao redor do mundo.

O início das retaliações é menos preocupante em si - o valor das mercadorias cujas tarifas foram elevadas equivale a um mês de exportações chinesas - do que a progressiva escalada de Trump, que dá sinais cada vez mais evidentes de que, desta vez, não irá se restringir a palavras. Em mais um golpe desferido na China, os EUA negaram autorização para que a estatal China Mobile possa oferecer serviços de telecomunicações a partir dos EUA para os mercados externos. A justificativa para o ato é explícita ao citar que os serviços de inteligência chineses, via China Mobile, poderão coletar informações estratégicas ao operar no mercado e pôr a segurança nacional em risco.

É essencial mobilizar para vacinação: Editorial | O Globo

Preocupa que o índice de cobertura da população por vacinas esteja baixo, não só no sarampo, e venezuelanos entrem no país sem estar imunizados

No ano passado, houve evidências de que a barreira de proteção da população, por vacinas, havia sido rompida. A febre amarela migrou de seus santuários nas florestas e invadiu áreas urbanas no Sudeste. Houve ações de vacinação localizadas, mas a população não pode ter certeza de que o perigo foi afastado.

Para agravar as suspeitas de fragilidades sanitárias no país, a crise terminal por que passa a Venezuela — em que o bolivarianismo chavista desmontou o setor produtivo privado e desorganizou o Estado — deflagrou êxodo da população, principalmente rumo à Colômbia e ao Brasil, com ela veio o vírus do sarampo e talvez outras doenças. Por isso, no Norte, multiplicam-se os casos.

No Amazonas, onde não se registrava a doença há 18 anos, já existem aproximadamente dois mil casos suspeitos. E exames sobre a genética do vírus constataram que ele é o mesmo que circula na Venezuela.

Vinicius de Moraes: O verbo no infinito

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito…