segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Opinião do dia: Steven Levitsky

• O senhor cita no livro alguns critérios que permitem identificar um político autoritário. Algum dos candidatos à Presidência no Brasil se enquadra nessa categoria? 

Não sou especialista em política brasileira, mas fizemos uma investigação e constatamos que sim, que Jair Bolsonaro (PSL) se revela como potencialmente autoritário.

Ele já se manifestou a favor da ditadura militar, já pediu o fechamento do Congresso, disse que pretende governar com as Forças Armadas, questionou a legitimidade do sistema eleitoral. Para mim, são evidências de que não está comprometido com as regras democráticas.

• O que explica o apelo popular de tantos líderes autoritários? 

O Brasil é um bom exemplo. Vocês enfrentam ao mesmo tempo uma tremenda crise econômica e a pior crise de corrupção que já se viu numa democracia. É uma tempestade perfeita.

Em momentos assim é muito comum a aparição de populistas que prometem limpar o sistema, combater a classe política. Resulta atrativo para a população. O desafio do Brasil é sobreviver à tormenta sem eleger um autoritário.

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Steven Levitsky, professor de ciência política da Universidade Harvard, tem 50 anos. Desenvolve pesquisas sobre América Latina, sistemas políticos, democracias e ditaduras. Escreveu, com Daniel Ziblat, o livro “Como as Democracias Morrem”, que sai em setembro no Brasil. Entrevista, Folha de S. Paulo, 12/8/2018.

Marcus André Melo: A improvável morte das democracias

- Folha de S. Paulo

O iliberalismo à esquerda e à direita é o perigo real

No livro “Como as Democracias Morrem”, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (professores de Harvard) discutem uma ameaça que provavelmente nunca se concretizará: a morte da democracia nos EUA, ou em qualquer outro país da primeira ou segunda onda da democracia.

A primeira delas (1820- 1922) envolveu 29 nações; a segunda (1945- 1962), 36. A terceira onda começa com a Revolução dos Cravos (1974) e se estendeu à América Latina e ao Leste Europeu. Nesse grupo de cerca de 60 democracias, várias são atualmente vulneráveis.

“A democracia é um bem de luxo”: a demanda por esse tipo de regime aumenta com a renda. A conclusão é de Adam Przeworski, baseada em evidências para o período 1950- 2000.

Embora existam países ricos autocráticos, a resiliência democrática é tanto maior quanto maior a renda (pelo efeito sobre educação, formação de classe média robusta, redução da desigualdade etc.).

A probabilidade estimada de colapso da democracia em um país com renda per capita superior a US$ 6.055 (paridade do poder compra), equivalente a da Argentina em 1975 (cerca de US$ 26 mil hoje), é zero.

Fernando Limongi: Independentes sem juízo

- Valor Econômico

Candidatura avulsa favoreceria estrelas de TV e endinheirados

"Eu nunca submeti minhas opiniões ao credo de um partido, na religião, na filosofia, na política, ou em qualquer outra coisa em que eu fosse capaz de pensar por mim mesmo. Esse vício é a degradação mais completa de um agente moral e livre. Se eu só pudesse ir ao paraíso juntando-me a um partido, eu não iria lá de forma alguma." Esse é Thomas Jefferson, em tradução livre. Sabe-se lá se Jefferson teve seu acesso ao paraíso franqueado, mas se sabe que, quando tratou de chegar à Presidência, não hesitou em organizar o primeiro partido político da era moderna.

Partidos políticos não são bem vistos. É natural que seja assim. Jefferson sintetiza bem as razões desse descrédito generalizado. Integrar um partido corresponderia à perda da independência e da autonomia, sacrificando o juízo próprio.

Partidos, além disso, dividem a sociedade. Por definição, são partes que querem governar a todos. Difícil conciliar as duas pontas desta proposição, a de serem partes e a de pretenderem representar o interesse geral. Por isto mesmo, não é difícil acusar partidários de se servirem do governo para promover seus interesses particulares, de serem os veículos de que se servem os ambiciosos para chegar ao poder.

No mundo ideal do governo representativo, não há lugar para partidos. A política seria um reino frequentado apenas pelos indivíduos dotados de autonomia moral, intelectual e econômica. Os verdadeiramente independentes estariam acima dos interesses que dividem a sociedade e, porque dotados dessa superioridade, seriam capazes de agir como magistrados, governando sem tomar partido nas controvérsias que colocam os demais em confronto quando se trata de discutir religião, filosofia e, sobretudo, distribuir bens materiais. Homens com essas qualidades não se candidatariam; seriam convocados a servir ao interesse público.

Fernando Gabeira: Eleger ou derrubar

- O Globo

Uma leitura cautelosa destas eleições mostra esquerda fragmentada, direita em ascensão, crise econômica

Em plena campanha, não sei se estamos realmente escolhendo um presidente ou cavando uma crise para que ele se afunde, como afundaram seus antecessores. O Congresso votou uma bomba fiscal e o STF, um aumento que vai repercutir nas contas públicas. No calor da luta política, os candidatos falam em investir. Mas como, se as despesas da máquina do governo vão aumentar?

Tive de explicar a alguns amigos por que tenho uma relação cordial com Bolsonaro. Não sabiam que o conheço há duas décadas, e convivemos no Congresso durante 16 anos e inúmeras viagens Rio-Brasília. Foram 16 anos de divergência no campo dos costumes sem que se tenha perdido o diálogo.

Da mesma forma, conheço quase todos os outros candidatos. Admiro sua coragem. Nunca estive com o Cabo Daciolo, por exemplo, mas o considero uma versão light do russo Iorudivi, um louco de Deus.

Ele não usa correntes amarradas no corpo, mas tem as mesmas visões de cura. Daciolo afirmou que soube por Deus que a deputada Mara Gabrilli iria andar em breve.

São homens e mulheres que se dedicam a uma tarefa muito difícil. É possível que alguns não saibam o quanto. E que alguns tenham até más intenções.

Considero fundamental que todos possam apresentar suas ideias. Na última eleição entrevistei os que estavam fora do debate, porque não pontuaram o suficiente nas pesquisas.

Demétrio Magnoli: A máquina da polarização

- O Globo

Quando, em 2002, Lula da Silva lançou a Carta ao Povo Brasileiro, o PT reconhecia que a maioria do eleitorado situava-se no centro do espectro político. A disputa pelo centro marcou as eleições cruciais da Nova República: o triunfo de FHC, em 1994, e o do próprio Lula, no ano da Carta. Nada indica que o eleitorado mudou, ao menos no que concerne a valores ideológicos. Mas, paradoxalmente, a campanha eleitoral inicia-se sob o signo da polarização.

A lógica em curso, no horizonte do primeiro turno, organiza-se em torno da disputa pelos extremos. De um lado, Ciro Gomes concorre com Fernando Haddad, o avatar de Lula, por um lugar no turno final. Do outro, Geraldo Alckmin concorre com Jair Bolsonaro pelo outro posto disponível no turno decisivo. Henrique Meirelles, que carrega o cadáver do governo Temer, está virtualmente fora do jogo, embora tire votos preciosos de Alckmin. Marina Silva, que tira votos dos dois polos, e Alvaro Dias, um dreno de votos de Alckmin no Sul, excluíram-se voluntariamente do debate ideológico principal, escolhendo a posição de “candidatos da Lava-Jato”.

A crise terminal da Nova República é o pátio no qual opera a máquina da polarização. O lulopetismo invoca o impeachment como pretexto para interditar a revisão crítica da política econômica que conduziu o país à depressão e a condenação de Lula como álibi para evitar o confronto com o tema da corrupção. A gritaria sobre o “golpe”, que se mantém mesmo depois dos pactos eleitorais com os “partidos golpistas”, forma a moldura de uma plataforma negacionista. Recusando-se a tomar conhecimento do colapso fiscal, Haddad promete um retorno aos “anos dourados”. Sem medo de ser feliz, nadando nas águas mornas do populismo, o corpo substituto de Lula rejeita o teto de gastos, a reforma previdenciária e a reforma trabalhista.

Eduardo Oinegue: Marina e o parlamento Jekyll e Hyde

- O Globo

Candidata da Rede à Presidência critica centrão, mas não governaria sem os votos dos deputados dessas legendas

Imagine um lugar que reunisse centenas de pessoas como o médico Henry Jekyll, figura ilustre que convivia com dupla personalidade. Ora alguém de hábitos relativamente normais, ora o monstruoso Edward Hyde. Pela lógica da candidata Marina Silva, esse lugar passará a existir. Será o novo Congresso Nacional, que tomará posse em janeiro do ano que vem.

A presidenciável tem dito que, se eleita, construirá com o Legislativo uma relação baseada em princípios. E, baseada em princípios, transformará o Brasil com seus projetos de lei, medidas provisórias e emendas constitucionais. Mas, se o candidato Geraldo Alckmin for eleito, alerta Marina, as relações éticas talvez deem lugar ao fisiologismo. Isso porque, ao contrário dela, o tucano montou uma ampla coligação com partidos dados ao toma lá dá cá.

E aí entra o Congresso com dupla personalidade. O parlamento que sairá das urnas em outubro não depende da eleição presidencial. Terá a mesma composição, não importa quem venha a ocupar o Palácio do Planalto. Por que parlamentares que exigem cargos e favores de um presidente apoiariam outro com base em princípios? Ou pelo inverso: por que parlamentares dispostos a agir por princípios cobrariam cargos e favores de outro? Só pode ser a dupla personalidade.

Na noite da última quinta-feira, durante o debate dos presidenciáveis do Grupo Bandeirantes, Marina repetiu seus ataques à aliança de Alckmin com o centrão. Não exagerou ao descrever as práticas nocivas adotadas por vários dos integrantes das oito legendas que se juntaram ao PSDB. Só que Marina fala como se o Brasil possuísse dois congressos, um onde reina o centrão, e outro onde ele não manda nada. Marina pode repetir seu raciocínio quantas vezes quiser. A recorrência não mudará a aritmética da maioria parlamentar.

Celso Rocha de Barros: Primeiro debate

- Folha de S. Paulo

Líderes nas pesquisas, Bolsonaro, Marina e Ciro buscam votos de adversários

O debate entre os presidenciáveis da última quinta-feira (9) na TV Bandeirantes teve poucas propostas e poucos conflitos, mas foi bastante informativo. O debate não mexe nas alianças nem nas disparidades de estrutura partidária. Mas testa os discursos que serão utilizados na comunicação direta com a população.

Isso é especialmente importante para os atuais líderes das pesquisas. Bolsonaro, Marina e Ciro só perderam nas negociações partidárias do mês passado. A eles só resta explorar todo espaço de mídia que lhes for oferecido.

Marina passou a atacar Alckmin. Faz todo sentido. Se conseguir barrar o crescimento de Alckmin denunciando suas alianças com o Centrão, Marina pode chegar no final embolada com Bolsonaro e o candidato da esquerda (Haddad ou Ciro). Nesse caso, pode atrair para si o voto útil dos Alckmistas que rejeitem Bolsonaro.

Marina também voltou a explorar sua origem pobre, tentando conquistar pela identificação biográfica o apoio popular que Haddad espera ganhar com a indicação de Lula.

Ciro moderou seu discurso depois que o PT lhe negou alianças à esquerda. Não acho, inclusive, que a escolha de Katia Abreu como vice tenha sido só falta de opção.

Vinicius Mota: Traços e heranças

- Folha de S. Paulo

Pesquisas mostram relação entre opções do passado e desempenho atual das nações

Ninguém que esteve na escola pública durante a ditadura se espantou com a fala do general Hamilton Mourão, candidato a vice de Jair Bolsonaro, sobre a herança sociorracial do brasileiro.

Essa era uma das marcas do atraso intelectual na formação dos oficiais brasileiros, que até 1985 se disseminava para fatias mais extensas da população pelo fato de eles terem comandado o poder de Estado.

O racialismo é a ideia de que contrastes sutis na biologia dos povos determinam diferenças fundamentais no seu comportamento social. Teve seu apogeu entre o final do século 19 e a década de 1930, ajudou a produzir barbaridades como o extermínio em massa de judeus sob o nazismo e declinou desde então.

Se o substrato genético não é capaz de explicar as diferenças brutais no desenvolvimento civilizacional das comunidades humanas, o que as determinaria? A geografia? Traços culturais, como a religião? Ou organizacionais, como as instituições?

Há muita pesquisa de bom nível tentando responder a essa indagação com técnica. Parece haver correlação positiva entre diversidade étnica e corrupção, embora não se possa dizer que uma cause a outra.

Ricardo Noblat: Alckmin cresce

- Blog do Noblat

Por ora é segredo

Geraldo Alckmin decidiu não fazer alarde em torno de novos números de pesquisas que recebeu no último fim de semana sobre sua candidatura a presidente da República pelo PSDB. Alckmin finalmente começou a subir a ladeira, devagar ainda, mas ele espera que sem volta.

Ceará, um caso exemplar do poder das oligarquias

Política de pai para filho, de irmão para irmão, de marido para mulher

A proximidade de eleições escancara por toda parte o domínio da política por grupos familiares, mas o caso do Ceará, pelo menos no momento, é o que mais chama a atenção.

Ali, um Ferreira Gomes (Ciro) é candidato a presidente. Outro (Cid), a senador. O terceiro (Ivan) é prefeito de Sobral. O quarto (Lúcio), secretário de Estado. O quinto (Lia), candidata a deputada estadual.

Ciro é irmão de Cid, que é irmão de Ivan, que é irmão de Lúcio, que é irmão de Lia, a caçula. Ciro e Cid já governaram o Ceará. Antes foram deputados, assim como Ivan.

Os cinco são netos de José Euclides Ferreira Gomes que dá nome ao anexo da Assembleia Legislativa do Ceará, onde foi deputado no início do século passado. A cidade de Sobral é o berço político deles.

Cida Damasco: Longe do eleitor

- O Estado de S. Paulo

Promessas são inconsistentes ou genéricas. E não garantem alívio ao quadro econômico

Em qualquer roda de conversa informal sobre o sufoco da população nos últimos tempos, o desemprego aparece como a preocupação número um, expressa na sensação de “logo pode ser comigo”. Mas não é a única. Quem tenta fazer um crediário ou tomar um empréstimo para cobrir um buraco no orçamento fica assustado com as taxas cobradas pelos bancos, e chega a duvidar das afirmações de que o juro é o menor da história. Da mesma forma, quem faz as contas dos aumentos explosivos em alguns serviços básicos, como luz e plano de saúde, também vê com ceticismo a inflação baixa, nos índices gerais.

Com tudo isso, é natural que os planos de zerar dívidas e voltar ao consumo fiquem cada vez mais distantes para muitas famílias, principalmente nas faixas de menor renda. Pois bem. Tanto as entrevistas dos candidatos à Presidência e seus assessores como o primeiro e morno debate entre oito deles, promovido pela TV Bandeirantes na quinta-feira, mostram que seus programas eleitorais e sua comunicação estão muito longe dos interesses concretos dos eleitores. Não se trata apenas de vocabulário fora do alcance do cidadão comum, como o economês dos “spreads e Selics” do tucano Geraldo Alckmin. Ou de promessas ambiciosas e genéricas, como o “vamos criar 2 milhões de empregos em um ano”, na boca de Ciro Gomes (PDT). Mas trata-se da falta de estratégias consistentes e específicas para dar resultados inclusive a curto prazo.

Angela Bittencourt: A hora é de Lula ou é o PT que volta ao jogo?

- Valor Econômico

Haddad defende reformas e ganha pontos no mercado

Termina na quarta-feira, 15 de agosto, o prazo para que os partidos registrem, na Justiça Eleitoral, seus candidatos às eleições de outubro. A campanha mal começou, mas já revela alta complexidade, seja pelo ineditismo da informal chapa "tríplice" de esquerda que será depurada se o PT pretende seguir rumo ao Palácio do Planalto; seja pela fragilidade da economia brasileira e a permanente carestia dos cofres públicos; ou, ainda, pelo fato de o cenário internacional estar mudando. E para pior. Nesta segunda-feira, a Turquia volta a ser termômetro sobre o humor dos investidores globais com relação às economias emergentes depois que a lira entrou em colapso, na sexta-feira, e o presidente Donald Trump colocou um prego no caixão da Turquia ao dobrar as alíquotas de importação do aço e do alumínio daquele país.

Turbulência externa é uma constante desde que Trump desembarcou no Salão Oval da Casa Branca. Mas uma turbulência externa prolongada é um problema adicional para o Brasil neste 2018 por agravar um leque de incertezas que se abre com as eleitorais.

Sensíveis aos movimentos cambiais, as contas externas do Brasil vão bem, mas podem ser comprometidas e, no médio prazo, frustrar investimentos essenciais a um ciclo de crescimento. O governo Temer tem quatro meses pela frente, mas dois deverão ser dedicados à transição. E, no Congresso, não faltam decisões relevantes pendentes. Duas delas: as condições em que vão ocorrer os leilões do petróleo pré-sal e a privatização da Eletrobras. Também não se deve desprezar que a taxa de juro brasileira deixou de ser a mais atraente do mundo e que as maiores economias voltaram a pagar juros positivos, após anos de taxas negativas.

A conta de capital do Brasil mostra que, nos 12 meses até junho, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 64,3 bilhões, 3,25% do PIB. De janeiro a junho deste ano, porém, esse tipo de investimento alcançou US$ 29,878 bilhões, uma queda de 17,5% ante US$ 36,221 bilhões registrados em igual período de 2017. No ano passado inteiro, o Brasil recebeu US$ 70,6 bilhões de investimento direto, mas, em 2014, às vésperas de perdas inéditas de Produto Interno Bruto (PIB), o ingresso superou US$ 97 bilhões.

Os investimentos de estrangeiros em portfólio estão positivos em US$ 1,854 bilhão de janeiro a junho deste ano, mas foram negativos em US$ 1,074 bilhão em 2017 e em US$ 19,361 bilhões em 2016.

Hoje, a economia brasileira tem de consistente uma inflação sob controle e a menor taxa de juro de sua história. Contudo, esse saldo pode ser modesto num cenário de aperto global de condições financeiras - cenário que torna a eleição presidencial ainda mais relevante, porque se espera que da eleição saiam os principais agentes de mudança.

Também por essa razão, cresce a expectativa em torno do registro da candidatura do ex-presidente Lula, pelo PT, à presidência da República. Nome mais votado nas pesquisas de opinião quando mencionado, Lula tem no candidato da direita Jair Bolsonaro (PSL) seu principal adversário. Sem Lula na parada, Bolsonaro é líder na preferência do eleitor.

Inelegível, segundo especialistas em Direito eleitoral, por estar enquadrado na Lei da Ficha Limpa, Lula já fortalece seu candidato a vice, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo. Por sua vez, Haddad, que pode vir a ser cabeça de chapa caso a candidatura do ex-presidente seja impugnada, também tem sua candidata a vice: a deputada Manuela D'Ávila, do PC do B.

Esse arranjo de difícil compreensão para quem não está familiarizado com a política brasileira põe Haddad sob holofotes como se viu na semana passada, durante um evento promovido pelo banco BTG Pactual, em São Paulo. Caiu bem entre os convidados da instituição Haddad ter considerado exemplar o "método de trabalho" de Lula quando no governo, ao reconhecer quando não conhece um assunto e chamar para o diálogo".

Durante o debate do BTG, o ex-prefeito perdeu pontos ao classificar o teto gastos de "ingenuidade política porque não inibiu nenhuma das pautas-bombas", mas os pontos foram recuperados por ter defendido urgência para a reforma da Previdência.

Esta fase terminal para os registros das candidaturas é relevante. Pode haver desistência de pré-candidatos que vinham negociando apoio com outras legendas tendo, como consequência, o fortalecimento desta ou daquela chapa. E sua capacidade de articulação no Congresso.

Até duas semanas atrás, o mercado financeiro se mostrava refratário a qualquer candidato além de Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT). Eles eram apontados como os mais prováveis protagonistas de um embate que poderia ser o ápice da campanha para presidente do Brasil. Contudo, nos últimos dias, alguns profissionais já não consideravam despropositada a possibilidade da dupla ser desbancada por Geraldo Alckmin (PSDB) e Haddad.

Leandro Colon: Contradições do Supremo

- Folha de S. Paulo

Não há dinheiro nem ambiente político em período eleitoral para aprovar reajuste

Soa ingenuidade torcer pelo bom senso de congressistas que, na véspera do recesso de julho, aprovaram uma pauta-bomba para as contas públicas. Mas não surpreenderá um veto deles à proposta fora de hora dos ministros do STF para aumentar os próprios salários.

Os parlamentares têm razões de sobra para ignorar o lobby dos magistrados. As duas mais óbvias são a falta de dinheiro para conceder o reajuste de 16,4% no contracheque em todo o país e a inexistência de um ambiente político favorável para levar adiante uma pauta extremamente impopular em período eleitoral.

Reportagem de Bernardo Caram, publicada na Folha neste domingo (12), mostra que o Judiciário é o único dos três Poderes que não tem respeitado a regra de limite de gasto para o crescimento com despesas.

Cacá Diegues: Soprando contra o vento

- O Globo

Não podemos aceitar de novo o populismo caudilhesco como uma forma de atraso a que estamos condenados

Governador de Minas, senador e ministro, eterno pré-candidato à Presidência da República, Magalhães Pinto dizia que a política é como as nuvens no céu. Você as contempla e, quando logo olha de novo para elas, já estão com outro irreconhecível e perturbador desenho. Nem parecem mais as mesmas nuvens.

Essa metáfora esperta serve sobretudo à política num ambiente democrático, onde tudo ocorre ao sabor dos ventos das ideias, sempre em conflito para que o mundo avance, e a vida se aperfeiçoe em cada crise. Quando as nuvens têm uma única e permanente forma, é porque estamos vivendo sob um regime autoritário onde não bate vento algum, onde não se permite contestação, nem mudança nos rumos da sociedade.

Nesse primeiro debate de presidenciáveis na televisão, tive a sensação de que as nuvens negras e inflexíveis a que nos acostumamos recentemente estão começando a ter vontade de bailar no céu da política brasileira. Elas talvez estejam adquirindo, para nossa contemplação inquisitiva, novas formas que podem ser mais lógicas e razoáveis, embora ainda meio tímidas pela falta de hábito de discussões que precisam ter consequência.

Vi na telinha pessoas que se dedicam à política para, certas ou não, levarem o país na direção que julgam mais conveniente. Uns são mais inteligentes; alguns se expressam com mais convicção; há os que têm um programa definido; outros ainda não sabem direito o que fazer. Mas vi o debate indispensável sobre o país sair da histeria e da intolerância das ruas digitais para a tentativa de encontrar uma saída, sem apelo à exceção antidemocrática. Mesmo que, às vezes, certos candidatos repitam barbaridades que me assustam sempre.

Para quem está atento à vida pública do país, faltou alguma coisa. E essa ausência nos deixou uma sensação amarga de que tudo aquilo podia ter sido melhor. Ou mais completo. O candidato do PSOL foi o primeiro e o único do grupo ase referira essa incompletude, ao que nos faltava na telinha: o ex-presidente Lula.

Já votei em Lula no passado, mais de uma vez. Como também já me desgostei bastante dele. Não sei se votaria nele agora, acho que não. Mas ninguém pode dizer, em sã consciência, que não sente falta de sua presença nas urnas, no próximo mês de outubro. Para consagrá-lo como um desses salvadores da pátria latino-americanos ou para mostrar, no voto, que o povo brasileiro está em outra.

Politicamente, acho um erro que um líder coma aprovação popular de Lula seja impedido de concorrera um cargo público. Isso seria a negação da vontade de grande parte do povo, do direi todos que desejam elegê-lo. Mas também acho que ignorar sua condenação e as consequências dela é uma atitude de desrespeito à ordenação do país e a todos que a seguem. Pois toda lei é um acordo entre cidadãos que desejam permanecer juntos, unidos numa mesma nação, com os mesmos fins. E, afinal, a Lei da Ficha Limpa foi sugerida pelo PT e sancionada pelo próprio Lula, quando presidente da República.

Apesar de disputa entre Ciro e Temer, MDB e PDT são aliados em sete estados

Presidenciável chamou partido do presidente de quadrilha que precisa ser destruída; palanques regionais ignoram rixa

Gustavo Uribe | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O discurso do candidato a presidente pelo PDT, Ciro Gomes, de que o MDB “é uma quadrilha” e que “precisa ser destruído” não tem se reproduzido nos estados. A sigla está em sete estados na mesma coligação da legenda do presidente Michel Temer. Em dois, o PDT apoia candidatos a governador do MDB.

Publicamente, Ciro tem descartado, caso seja eleito presidente, governar com o MDB e, em carta recente, referiu-se ao partido como inimigo da pátria e traidor da nação.

“O MDB está no poder, destruiu o projeto do PT e do PSDB e precisa ser destruído desta feita. Sempre lembrando que destruir aqui é pelo mecanismo democrático, que é simples: basta cortar a torneira da roubalheira que eles entram em extinção”, disse em junho.

Uma das alianças é no Paraná. Após a desistência da candidatura do ex-senador Osmar Dias ao governo, o PDT decidiu apoiar o deputado federal João Arruda (MDB).

Em Alagoas, o partido de Ciro fará campanha pela reeleição do governador Renan Filho, filho de Renan Calheiros (MDB-AL), que tentará reeleger-se ao Senado.

O MDB retribuirá os apoios do PDT no Amapá, onde dará respaldo à reeleição do governador Waldez Góes, e no Rio Grande do Norte, onde se aliou ao ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo, que terá em sua chapa ao governo a candidatura do senador Garibaldi Alves (MDB-RN) a mais um mandato parlamentar.

País tem recorde de partidos, mas fragmentação deve refluir

Brasil registra 35 legendas, contra 5 em 1983; apontada como culpada, legislação permissiva vai mudar

Simon Ducroquet | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Quem se dispuser a ver a propaganda eleitoral neste ano vai se deparar, novamente, com um cenário partidário complexo.

Entre velhos conhecidos, siglas que viraram slogans e debutantes, serão 35 partidos políticos. Mas isso nem sempre foi assim.

Em 1983, o Congresso que assumia estava dividido em cinco partidos. Dois deles, PMDB e PDS, eram herdeiros do sistema bipartidário permitido pela ditadura, em que havia apenas o oposicionista MDB e o governista Arena.

A esquerda era representada por três partidos trabalhistas, PT, PDT e PTB. O gráfico nesta página, uma atualização da “Genealogia dos Partidos” publicada pela Folha em 2010, mostra como esses cinco partidos evoluíram ao longo das últimas décadas.

Após desmembramentos e fusões, esses partidos formaram a base das grandes legendas que detiveram hegemonia das cadeiras ao longo dos anos 90 e começo dos 2000.

Mas, nos últimos anos, eles vêm sofrendo com a ameaça de um enxame de partidos nanicos.

Aglutinados como “centro”, já que não se identificam claramente com ideologias ou programas e negociam apoio com quem estiver no Planalto, são os responsáveis pela confusão de siglas de hoje.

Bruno Bolognesi é professor de ciências políticas da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e coordena o Laboratório dos Partidos Políticos e Sistemas Partidário, onde busca entender a forças por trás da complexa dinâmica partidária brasileira.

Ministro prega cassação de aliados do crime

- O Globo

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse que é preciso “monitorar” aliados do crime organizado que queiram disputar a próxima eleição e, caso sejam eleitos, cassá-los.

Como O GLOBO revelou ontem, 1,7 milhão de eleitores fluminenses votam em áreas dominadas pelo tráfico ou por milícias.

— Há que monitorar seus aliados e representantes (do crime). Impedi-los de concorrer e, se eleitos, cassá-los —defendeu Jungmann.

O ministro disse que, em 2008, quando era deputado, ajudou a sedimentar um acordo com o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ayres Britto, o exministro da Defesa Nelson Jobim e o ex-ministro da Justiça Tarso Genro para combater a influência do crime sobre eleitores no Rio:

— Eu era deputado; e o ministro Ayres de Brito, presidente do TSE. Eu já o alertava para o controle do crime sobre as eleições, o que redundou num acordo com Nelson Jobim e o ministro da Justiça da época para combater o que chamo de “coração das trevas” existente no Rio.

Para Jungmann, ao eleger sua bancada, “o crime indica os seus no loteamento dos cargos”.

A trégua das agências de risco: Editorial | O Estado de S. Paulo

Num lance muito oportuno para o País, e especialmente para o próximo governo, grandes agências de classificação de risco resolveram reafirmar as notas de crédito do Brasil, apesar da incerteza quanto ao futuro das contas públicas e à orientação do novo presidente. Rebaixadas mais de uma vez a partir de 2015, no fim do governo da presidente Dilma Rousseff, as notas estão abaixo do nível de investimento, reservado aos países considerados seguros para financiadores e investidores. Comprometido explicitamente com a austeridade e o ajuste, o atual governo tem tido graves dificuldades políticas para impedir uma deterioração maior das contas públicas. Apesar disso, mantém a expectativa de fechar o ano com o déficit primário abaixo do limite de R$ 159 bilhões. Se conseguir, será mais um avanço, insuficiente, mas importante, no rumo da estabilização fiscal. Mas a cada instante uma nova armadilha pode surgir, preparada por parlamentares empenhados em distribuir favores fiscais a setores empresariais e a grupos aliados.

Esse perigo constante se materializou mais uma vez, nos últimos dias, na manobra da bancada ruralista para restabelecer a renegociação – ou mesmo perdão – de dívidas estimadas em R$ 17 bilhões. Se der certo, essa jogada produzirá mais desastre financeiro para o setor público. O Executivo tentará neutralizar esse novo assalto ao Tesouro e eliminar mais um risco para a nova administração federal.

A crise financeira dos Estados: Editorial | O Estado de S. Paulo

Diante da dramática situação financeira dos Estados, agravada nos últimos anos pela queda da arrecadação em razão da crise econômica e pelo crescimento contínuo das despesas – especialmente com pessoal –, é até surpreendente que 60% dos governadores pretendam renovar seus mandatos na eleição de outubro. Estarão dispostos a enfrentar nos próximos quatro anos os graves problemas que não enfrentaram com a coragem necessária durante o mandato que se encerra no dia 31 de dezembro? Infelizmente, o acompanhamento da evolução recente das finanças estaduais sugere que não.

A recessão teve papel decisivo na redução das receitas nos últimos anos. Entre 2015 e 2017, como mostrou reportagem do Estado, a receita dos Estados poderia ter sido R$ 278 bilhões maior do que o valor efetivamente arrecadado caso se mantivessem as condições econômicas anteriores. Como disse o economista Raul Velloso, esse é o dinheiro adicional que teria entrado nos cofres estaduais caso o País não tivesse mergulhado na recessão.

Estados mais industrializados perderam mais receita, proporcionalmente e em valores, porque a crise afetou mais duramente, e por mais tempo, a produção de bens industriais. No Rio de Janeiro, a receita caiu até mesmo em valores nominais.

Candidatos devem propostas sobre os gastos com pessoal: Editorial | O Globo

O tamanho proporcional da folha de servidores no Brasil supera o de países ricos e em desenvolvimento

Candidatos à Presidência e aos governos estaduais devem aos eleitores explicações objetivas sobre os respectivos planos para resolver a situação crítica das despesas com o funcionalismo.

É muito simplório, para não dizer raso, o discurso de campanha contra a legislação que limita a expansão das despesas públicas. A ideia da revogação do teto de gastos estatais, por exemplo, tem sido propagada por alguns candidatos presidenciais como elixir para o déficit público. É falso, como sabem.

O problema está na realidade. União, estados e municípios se encontram em situação pré-falimentar. Iniciada em 2014, sob a gestão rudimentar de Dilma Rousseff, a atual série de déficits do governo central acompanhará o futuro presidente por dois terços do mandato.

Faltam incentivos para que ofício de professor se torne mais atraente: Editorial | O Globo

Salários mais altos não bastam, é necessário que se criem políticas específicas para o magistério

A campanha eleitoral confirma que melhorara qualidade da educação pública é consenso. Nas anteriores foi o mesmo. Os governos, desde a era FH (1994-2002), de forma explícita, destacam a atividade como uma das prioridades de seus programas. Esta concordância entre as forças políticas vem de longe.

O problema está nos resultados. Avançou-se, mas não o suficiente. Criaram-se exames e testes para avaliação da qualidade do ensino; indicadores passaram a servir de radar para o acompanhamento do que acontece nas salas de aula; metas foram pactuadas e hoje se tem instrumentos eficazes de rastreamento do setor. Cabe frisar que de uma educação fraca derivam várias mazelas: baixa remuneração, pobreza, violência etc.

Por óbvio que seja, vale destacar que um ensino de qualidades e basei anum bom professor. Não apenas, mas, sem ele, nada se consegue. Há iniciativas nesta direção em políticas educacionais: para melhoria de salários, condições de trabalho etc. Mas, como tudo na educação, por maior que seja o esforço, parece insuficiente diante das carências.

Uma boa proposta: Editorial | Folha de S. Paulo

Ao menos quatro presidenciáveis indicam apoio a mesma estratégia para a reforma tributária

Há boas razões para acreditar que a disputa presidencial deste ano vá ser mais franca e propositiva. Trata-se de uma efeito do cenário econômico hostil, decerto, mas também um aprendizado após a indigência do debate na eleição passada e suas consequências nefastas.

Já se pode citar hoje um exemplo promissor na reforma tributária, em torno da qual parece se formar um alinhamento de algumas das principais candidaturas.

Ao menos Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Haddad (provável postulante do PT), diretamente ou por meio de assessores, já manifestaram apoio às linhas gerais da proposta elaborada pelo Centro de Cidadania Fiscal, que visa uma drástica simplificação do sistema de impostos.

Em essência, trata-se de substituir gradualmente o conjunto de cinco tributos incidentes sobre a venda de bens e serviços —PIS, Cofins e IPI, federais, ICMS, estadual, e ISS, municipal— por uma única cobrança, que incidiria sobre o valor agregado em cada etapa da cadeia produtiva até chegar ao consumidor final.

Uma decisão que pode ter inviabilizado o teto de gastos: Editorial | Valor Econômico

Não foi apenas a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), anunciada na semana passada, de propor reajuste de 16,38% no subsídio dos ministros da Corte que causou perplexidade. O que mais estarreceu aqueles que acompanham o dramático quadro das contas públicas brasileiras foi o argumento utilizado na nota que informou a decisão, divulgada na semana passada.

Segundo a nota, que pode ser lida na página do STF na internet, "o reajuste não impacta no valor total da proposta orçamentária (do Supremo) para 2019", pois para cobrir o custo da medida, estimado em R$ 2,8 milhões, "será realizado remanejamento de despesas de custeio do Tribunal".

Certamente, o texto da nota não foi submetido aos ministros da Corte Suprema, pois eles não desconhecem o inciso V do artigo 93 da Constituição. Nele, está escrito que o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a noventa e cinco por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal. Os subsídios dos demais magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, não podendo exceder a noventa e cinco por cento do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores.

Mario de Sá Carneiro: Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que,desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...