sábado, 25 de agosto de 2018

Opinião do dia: Fernando Gabeira

O chamado socialismo do século 21 foi pro espaço. Seus estilhaços caem dentro do território brasileiro, na forma de onda migratória, crise energética, revolta e violência. Logo no Brasil, arruinado por uma experiência de esquerda e hoje governado pelos parceiros eleitorais do PT.

Não sei se isso vai repercutir na campanha eleitoral brasileira. É tudo tão longe. E aqui não temos o hábito de avaliar criticamente o passado. A esquerda comporta-se como se nada tivesse acontecido. Sua proposta nostálgica é uma viagem ao início do século, voltar a ser feliz.

Não se discute o processo de democratização, sua esperança de usar o Estado para a redução das desigualdades, superar por meio de uma ação de governo todos os grandes problemas do País. A própria Constituição foi escrita nessa ânsia de promover a justiça social, com juros limitados a 12% e uma previsão de imposto sobre grandes heranças. Ficou no papel, mas revela um pouco do espírito da época, que acabou encontrando sua maior expressão no governo de esquerda.

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Fernando Gabeira é jornalista. “Uma visão da campanha”, O Estado de S. Paulo, 24/8/2018.

João Domingos: Fantasmas de Bolsonaro

- O Estado de S.Paulo

Há rótulos que pegam e não saem. Esse de ‘machista, homofóbico e racista’ é um deles

A cômoda posição que o deputado Jair Bolsonaro (PSL) desfruta na corrida presidencial desde a prisão de Lula começa a ser ameaçada por fantasmas criados no passado pelo próprio candidato. Quanto mais o tempo passa, quanto mais se afunila o processo eleitoral, mais parece grudar em Bolsonaro o rótulo de “machista, homofóbico e racista”. O deputado se defende, diz que na verdade é o único que procura proteger as mulheres da ameaça de estupro, que é a favor da castração química voluntária de estupradores, mas não adianta. É só verificar quão pequena é a aceitação dele pelo eleitorado feminino, conforme mostram as pesquisas sobre intenção de voto que medem também o eleitorado por sexo.

Bolsonaro sabe que não se livrará dessas questões nas entrevistas e nos debates. Está na cara que a ex-ministra Marina Silva (Rede) tem ganhado pontos e votos ao confrontar com Bolsonaro, como fez na RedeTV!. E se ele, na resposta, levantar a voz, responder com ironias, só vai perder votos no eleitorado feminino. Há rótulos que pegam e não saem mais. Esse que o tempo consolidou em Bolsonaro parece que foi pregado com cola-tudo.

O reflexo de tudo isso que está acontecendo com o deputado pode ser visto nas simulações para os confrontos do segundo turno. De acordo com o mais recente Datafolha, Bolsonaro só não seria derrotado por Fernando Haddad, o “plano B” do PT. O candidato do PSL estaria em desvantagem contra todos os outros do pelotão intermediário: Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva. Sem falar que de Lula ele tomaria uma surra. Só que Lula dificilmente vai concorrer.

Para piorar a situação, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), antecipou para a próxima terça-feira, 28, o julgamento para decidir se a Corte vai ou não acolher denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra o deputado por crime de racismo. Há o risco de Bolsonaro virar réu no STF antes mesmo do início da propaganda eleitoral. Nesse caso, surge outro problema para o candidato, um problemão, diga-se. O STF já decidiu que réus não podem fazer parte da linha de substituição do presidente da República. Tal decisão impediu que Renan Calheiros (MDB-AL), réu na Corte, e então presidente do Senado, pudesse substituir Michel Temer quando este estivesse ausente do País.

Por analogia, um réu no STF poderá assumir a Presidência da República, caso Bolsonaro consiga chegar ao segundo turno, superar todos os obstáculos que tem e vencer a eleição? É uma questão que deve ser decidida pela Corte, opinou o ministro Celso de Mello. Portanto, nesse momento, há fantasmas sobrevoando Bolsonaro tanto nas urnas quanto no STF.

Alckmin e as redes sociais. Último do pelotão intermediário, Geraldo Alckmin resolveu mexer na sua equipe de campanha responsável pelas redes sociais. Não estaria a equipe de profissionais que trata do assunto encontrando um jeito de “desconstruir” Bolsonaro, que só no Facebook possui 5,5 milhões de seguidores, enquanto Lula tem 3,7 milhões. Alckmin ainda não chegou a 1 milhão. O tucano precisa ter calma, visto que se trata de algo novo.

Rede social é um fenômeno coletivo, mas também individual, por dar direito a voz e opinião a quem não o tinha. Mistura emoção e, às vezes, chega à paixão. À exceção dos que o fazem por motivo profissional, o seguidor de um líder político costuma ser um convertido. Quem acredita em Bolsonaro dificilmente vai ser desconstruído. Talvez Alckmin fizesse melhor se usasse a rede social para divulgar propostas de governo para o País, com detalhes que a TV e o rádio não têm espaço para dar.

Merval Pereira: Obstáculos no Nordeste

- O Globo

A dúvida, ressalta Jairo Nicolau, é até que ponto Ciro Gomes, que fez sua carreira no Ceará, poderá ser barreira ao PT

A partir das eleições de 2006, o Nordeste passou a ser um reduto eleitoral petista. Foram seis turnos de vitórias avassaladoras. Em trabalho recente, o cientista político e professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Jairo Nicolau analisa fatores que podem afetar a intensidade da transferência de votos no principal reduto petista, sem a presença de Lula nas campanhas e, sobretudo, na urna eletrônica.

Em 2006, Lula obteve 60% dos votos dos eleitores nordestinos no primeiro turno, o maior percentual alcançado na história das eleições presidenciais por um candidato em uma determinada região, ressalta Nicolau. Ainda que Dilma Rousseff tenha obtido em 2010 e 2014 um percentual levemente menor do que Lula, a ideia de reduto se manteve.

No primeiro turno das eleições de 2014, 27% dos eleitores que compareceram para votar moravam no Nordeste. Desse modo, um candidato que receba 50% dos votos na região já garante cerca de 13,5% em âmbito nacional. Lula tem até 80% em certos estados nordestinos.

Jairo Nicolau diz que ninguém pode ter dúvida de que Fernando Haddad crescerá no Nordeste à medida que se torne conhecido dos eleitores da região. Existe uma versão corrente que sugere que essa transferência de votos de Lula será simples e automática, mas Nicolau lembra que, embora isso possa acontecer, há alguns obstáculos. O reduto petista no Nordeste foi consolidado quando o partido estava à frente da Presidência. As eleições de 2006, 2010 e 2014 tiveram um caráter plebiscitário, a favor ou contra as políticas públicas do governo petista, fator que não estará presente este ano. Jairo Nicolau lembra que temas centrais da campanha ainda não estão postos. “Será a divisão entre os que apoiam e rejeitam Bolsonaro? Ou a crise econômica e as melhores propostas para superá-la? Ou até, quem sabe, uma mera ênfase nos atributos dos candidatos, sem grandes discussões sobre o país”, questiona o cientista político.

Para o PT, diz Nicolau, interessa recolocar o tema plebiscitário em outras bases, em torno de uma nova agenda: os que defendem a “volta do PT” versus os que são “contra a volta do PT”. A polarização pode ter um papel fundamental para impulsionar a transferência de votos no Nordeste.

*Marco Aurélio Nogueira: Tempo de choques e atritos

- O Estado de S.Paulo

Urge uma candidatura democrática capaz de promover uma união que abra as portas do futuro

Basta passar os olhos pelos debates e entrevistas eleitorais para constatar: os candidatos são o que são. Nenhum deles exibe poderio político extraordinário, nem particular força de persuasão. Cada um tem seu gueto, seu estilo, suas convicções, seu séquito. Mas nenhum ainda conseguiu sair de si, ultrapassar os muros de proteção, chegar aonde o povo está. Uns acreditam que conseguirão isso com a televisão, outros com as redes. Ninguém sabe quão potentes serão esses meios.

O tempo é de choques e atritos. Não há por que fugir dele à espera de um candidato ideal ou de uma candidatura que reúna os “melhores”. Isso não acontecerá, e talvez seja até bom que não aconteça. Democracia é pluralidade, divergência, confronto de opiniões, manifestação de preferências. É uma oportunidade para a sociedade olhar-se no espelho, mostrar sua cara, conhecer suas falhas, imperfeições e possibilidades. Numa época de partidos e verdades em crise, pregar a ordem unida é caminhar às cegas, sem poder de convencimento.

Os candidatos lutam pela própria afirmação, atropelam-se uns aos outros. É da lógica eleitoral. O sangue que deles escorre pode adubar candidaturas indesejáveis ou beneficiar quem menos se espera. São efeitos colaterais não previstos, riscos, preço da democracia.

A sabedoria está em minimizar os efeitos, evitar que os choques se traduzam em agressão e ruptura. Mentiras escabrosas e campanhas negativas de desconstrução são tóxicas, envenenam a democracia. Não se trata somente de cordialidade, mas de bater sem deixar marcas e sem poupar o adversário principal, facilitando-lhe a vida.

O campo da democracia no Brasil vive hoje um dilema: é possível trabalhar para que se tenha uma mudança que mexa nas estruturas, nos sistemas em geral, nas instituições, nos hábitos políticos, que produza mais vida civilizada? De que modo: mediante ataques frontais e explosões de indignação, ou por negociações longas, transações difíceis, de modo incremental? Alianças à direita ou com a “velha política” impedem a mudança necessária ou precisam ser toleradas? O que fazer com o “Centrão” e com as bancadas setoriais, que burlam os partidos e chantageiam o Executivo?

Mudar tornou-se um imperativo. Virá mais cedo ou mais tarde, já está vindo sem que percebamos bem, cegos que estamos por disputas e polarizações paralisantes. Não devemos exagerar no argumento. O Brasil não é um doente terminal, não vai acabar nem descarrilar depois das eleições, seja quem for o próximo presidente. Não há por que ficar parado perante um inimigo da democracia, nem temer os populistas de plantão. Não haverá salvadores da pátria e todos terão de cooperar entre si, fazer alianças, negociar, assimilar a velha política, pedir ajuda ao mercado e à população. Errarão e acertarão, uns mais, outros menos. Perigos e ameaças virão mais de uns do que de outros. Mas a roda continuará a girar.

*José Antonio Segatto: Corporativismo voraz

- O Estado de S.Paulo

Os candidatos abordam o problema de forma lateral ou mitigada, alguns nem o aventam

Não é nenhum contrassenso a asserção segundo a qual o corporativismo foi tornado elemento essencial na cultura política do País, entranhando-se em quase todas as relações sociais. Amalgamado a concepções e práticas seculares do clientelismo e do patrimonialismo, germinou em terreno fértil, estercado, décadas a fio, pelo positivismo. Além de impregnar, integralmente, as esferas da vida sociopolítica, passou a mediar, de forma perene, os nexos entre a sociedade civil e o Estado, as normas e os institutos, os valores e as ideologias.

Introduzido no Brasil nos anos 1930, e mais especificamente e com maior eficácia na ditadura estado-novista (1937-1945), tornou-se política de governo ou mesmo de Estado. O corporativismo pressupunha que a sociedade deveria ser organizada pelo Estado, por meio de corporações econômicas e de critérios que excluíam a representação eleitoral, os partidos políticos, as ideologias liberais ou socialistas, etc. O Estado, no papel de organizador e regulador da sociedade, teria de garantir a harmonia, a paz social e o progresso – antagonismos sociopolíticos e/ou conflitos entre capital e trabalho não eram admitidos. Getúlio Vargas já em 1931 afirmava que isso seria alcançado na medida em que estivessem reunidos e congraçados “plutocratas e proletários, patrões e sindicalistas, todos representantes de classe, integrados no organismo do Estado”.

Resultado exemplar dessa política foi a decretação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. Inspirada na Carta del Lavoro do fascismo italiano, a CLT foi assentada em três pilares – estrutura sindical, Justiça do Trabalho e legislação trabalhista –, tendo como fundamento o corporativismo. Juntamente com a regulamentação das relações de trabalho se criou um sindicalismo vertical e subordinado ao Estado, delimitado pela unicidade e sustentado por imposto compulsório. Esse arranjo institucional, além de implicar o estabelecimento de mecanismos inibidores da organização e da intervenção autônoma dos trabalhadores e também do empresariado, instaurou direitos de cidadania regulados e restritos, do mesmo modo que acarretou a cooptação de parte expressiva da sociedade civil. Tendo sobrevivido a vários testes históricos, a CLT preserva, ainda hoje, seus elementos essenciais, que persistem reavivados por força de poderes e privilégios, mesmo antiquados ou extemporâneos.

Luiz Carlos Azedo: O voto útil

Correio Braziliense, publicado em 24/08/2018

“Há dois tipos de indecisos: o que não está nem aí para a política e decide de última hora; e o que escolheu um campo político, mas não sabe qual é o candidato com mais chances de ir ao segundo turno”

Um dos ingredientes da democracia é o imponderável nas eleições, sem o qual não haveria alternância de poder. Num país de dimensões continentais como o Brasil, com um contingente eleitoral de 147 milhões de eleitores, a 44 dias das eleições, nada mais natural que o mercado ter uma crise de nervos por não saber quem ganhará o pleito. Objetivamente, as pesquisas mostram isso. É natural que os analistas façam interpretações e tentem antecipar resultados. Acertar com essa antecedência é um bilhete premiado na loteria das consultorias políticas. Para as futuras eleições, é claro. Na atual, é pura adivinhação.

Conversando com um amigo macaco velho do jornalismo político, ele fez uma observação muito pertinente sobre as duas últimas pesquisas eleitorais: “Não sei ainda em quem vou votar, mas sei em quem não voto de jeito nenhum. O que vai decidir essa eleição é o voto útil!” Não vou revelar o “não-voto” do amigo, mas o raciocínio serve para muita gente. Há dois tipos de indecisos: o eleitor que não está nem aí para a política e decide de última hora; e o que já escolheu um campo político, mas não sabe qual é o candidato com mais chances de ir ao segundo turno.

Sem fazer previsões precipitadas, diria que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu se tornar um grande eleitor da disputa, mesmo estando preso em Curitiba, cumprindo pena de 12 anos e 1 mês de reclusão, após ter sido condenado em segunda instância por causa do triplex de Guarujá. A narrativa do golpe contra Dilma Rousseff e a vitimização do petista colaram numa fatia do eleitorado, que já era simpática ao ex-presidente da República. Fosse mesmo candidato pra valer (sua candidatura será impugnada), Lula estaria no segundo turno e poderia até voltar ao poder, como aconteceu com Getúlio Vargas (PTB), em 1950.

Lula opera uma estratégia de risco, afronta a Justiça e as regras do jogo democrático, mas os adversários precisam reconhecer que o plano funcionou: pode até chegar ao horário eleitoral gratuito como candidato. Ganha com isso o PT, que conseguiu varrer para debaixo do tapete os escândalos do mensalão e da Petrobras para evitar uma nova derrocada eleitoral, como a de 2016, quando perdeu 59,4% das prefeituras. Vêm daí as apostas de que Fernando Haddad estará no segundo turno das eleições, beneficiado pela combinação da transferência do prestígio de Lula e do apoio da militância petista nas redes sociais.

Ricardo Noblat: Operação Segura Tropa

- Blog do Noblat | Veja

Bolsonaro radicaliza para não perder votos

Há menos de um mês, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) concluiu que estava na hora de tentar avançar sobre fatias do eleitorado que resistem aos seus encantos. A melhor maneira para isso seria suavizar seu perfil de líder duro e repleto de ideias extremas.

Assim tentou se apresentar em sabatinas e nos dois primeiros debates de televisão entre candidatos a presidente da República. Não gostou dos resultados. Menos ainda de ter sido alçado pelas pesquisas à condição de o candidato mais rejeitado.

Então com medo de que parte do seu eleitorado cativo desertasse, deu meia volta volver. É o que se vê desde o início da semana. Voltou a radicalizar seu discurso. Pior do que simplesmente não crescer seria começar a diminuir de tamanho.

É necessário armar as crianças e ensiná-las a atirar, pregou no interior de São Paulo. Quem reagir a assaltos será condecorado se ele for eleito. Rasgue-se o Estatuto da Criança e do Adolescente. Confine-se em campos especiais quem peça refúgio ao Brasil.

Sabatinas? Nunca mais. Bolsonaro “está de saco cheio com elas” e tem mais o que fazer. Debates? Irá a mais três, se tanto. Depois, só se disputar o segundo turno. É pau, é pedra, bateu, levou. Não bateu? Mesmo assim poderá levar.

Bolsonaro de raiz na veia para quem gosta dele.

Que país será esse?
Pergunta que não quer calar

Eleitor capaz de acreditar que Lula é candidato, Jair Bolsonaro não é político e Michel Temer é o principal culpado pela herança maldita que recebeu de Dilma Rousseff, que Brasil de fato ele quer?

Julianna Sofia: De pijama no Planalto

- Folha de S. Paulo

Temer é favorecido pela inércia para reduzir seu índice de reprovação

Sentado na principal cadeira da República e de posse da faixa presidencial, Michel Temer começa a ser esquecido ainda no cargo. Privado de uma agenda midiática devido às restrições da legislação eleitoral, o emedebista alcançou o feito de ver a reprovação popular a seu governo cair.

Segundo a última pesquisa Datafolha, depois de atingir o maior patamar da história política recente, o percentual dos brasileiros que classificam a gestão do presidente como ruim ou péssima recuou de 82% (junho) para 73%. Aqueles que consideram a administração regular passaram de 14% para 21%, enquanto a avaliação ótima ou boa teve pequena oscilação de 3% para 4%.

A mudança na percepção dos entrevistados, na opinião do diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, pode ser explicada pela dinâmica das eleições deste ano. “Ele perdeu protagonismo para o processo eleitoral e se poupou.” Num vocabulário menos cortês: em meio à corrida maluca em que se transformou a disputa à Presidência, ninguém mais liga para o que o atual mandatário pensa, diz ou faz.

Hélio Schwartsman: Pelo fim das fronteiras

- Folha de S. Paulo

Do ponto de vista racional, imigração é a solução para vários problemas globais

Imigração é um fenômeno estranho. Do ponto de vista puramente racional, ela é a solução para vários problemas globais. Mas, como o mundo é um lugar menos racional do que deveria, pessoas que buscam refúgio em outros países costumam ser recebidas com desconfiança quando não com violência, o que diminui o valor da imigração como remédio multiuso.

No plano econômico, a plena mobilidade da mão de obra seria muito bem-vinda. Segundo algumas estimativas, ela faria o PIB mundial aumentar em até 50%. Mesmo que esses cálculos estejam inflados, só uma fração de 10% já significaria um incremento da ordem de US$ 10 trilhões (uns cinco Brasis).

Uma das principais razões para o mundo ser mais pobre do que poderia é que enormes contingentes de humanos vivem sob sistemas que os impedem de ser produtivos. Um estudo de 2016 de Clemens, Montenegro e Pritchett estimou que só tirar um trabalhador macho sem qualificação de seu país pobre de origem e transportá-lo para os EUA elevaria sua renda anual em US$ 14 mil.

Míriam Leitão: PSL: o liberal e o capitão

- O Globo

Convicção de ideias liberais do economista Paulo Guedes vem da vida toda, já a do candidato Jair Bolsonaro, ainda não se sabe se existe

A grande dúvida econômica em relação à campanha de Jair Bolsonaro é se as ideias liberais de Paulo Guedes entraram na cabeça do candidato do PSL à Presidência. “Não sabemos o quanto disso vai se converter em ideias liberais”, admitiu Guedes. “O economista vai propor coisas duras, o presidente vai dar uma amaciada, o Congresso vai dar outra amaciada, e vai sair de lá um negócio que não é o que o economista quis, mas também não é o que a turma queria.”

Qualquer processo de negociação altera o teor dos projetos, mas neste caso a dúvida é maior. Não há qualquer ponto de contato entre o liberal e o capitão. Ao longo da vida pública, o deputado Jair Bolsonaro votou contra todas as propostas de privatização, quebra de monopólio, previdência e até o Plano Real. Votou a favor de privilégios de parlamentares e entrou na carreira política em defesa do soldo de militares e policiais. Nada que nem remotamente lembre a pregação liberal de Paulo Guedes em toda a sua carreira de economista e empreendedor.

E o que está no programa, ou tem sido defendido por Paulo Guedes, é radical. Na entrevista que concedeu à Central das Eleições da Globonews, ele confirmou que calcula em R$ 2 trilhões o valor da venda de todas as participações do governo em estatais e de 700 mil imóveis da União. Na lista dos bens a serem privatizados está a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa. Tudo. A Eletrobras, também. “Vamos fazer o que o Temer está fazendo, só que mais rápido do que ele. A convicção vem de muito tempo.” A convicção de Paulo Guedes é da vida toda, mas a de Bolsonaro não se sabe se existe.

Paulo Celso Pereira: Deputado reúne núcleo do antipetismo, mas voto útil deve ser obstáculo-

- O Globo

Um detalhamento, ainda inédito, dos índices de rejeição na primeira pesquisa Ibope da eleição deste ano comprova numericamente que Jair Bolsonaro aglutina hoje o núcleo do antipetismo e também boa parte dos eleitores incomodados com políticos tradicionais. Ao mesmo tempo, mostra que o capitão reformado deve enfrentar problemas quando o eleitorado pensar no chamado “voto útil” —situação em que o eleitor abre mão de escolher o nome de sua preferência para optar por outro com mais chance de derrotar o candidato que considera pior.

Como transparece das ruas, o ex-capitão tem entre seus fiéis seguidores a maior massa contrária ao ex-presidente Lula — 53% de seus eleitores dizem que não votariam “de jeito nenhum” no petista —, e também reúne o eleitorado mais insatisfeito com os nomes que já disputaram outras eleições presidenciais.

Hoje, 32% dos bolsonaristas dizem que não votariam de jeito nenhum em Marina Silva; 31%, em Ciro Gomes; 30%, em Geraldo Alckmin. Tratam-se dos mais altos índices de rejeição desses candidatos — exceto, no caso de Alckmin, que é ainda mais refutado, 37%, pelos eleitores de Fernando Haddad. A recíproca também é verdadeira. A impopularidade do capitão reformado, que atinge 37% dos eleitores, superando inclusive os 30% do ex-presidente Lula, dispara entre os que apoiam quatro de seus cinco mais próximos adversários.

Hoje, 53% dos eleitores de Marina Silva não votariam em Bolsonaro, bem como 57% dos eleitores de Ciro Gomes, 74% dos eleitores de Fernando Haddad e 46% dos eleitores de Alvaro Dias. O ex-capitão é o candidato mais rejeitado entre os eleitores dos quatro, assim como entre os que hoje dizem que votariam branco ou nulo —neste caso, 48% não apoiariam o deputado.

Mesmo entre os eleitores do tucano Geraldo Alckmin, o índice de antibolsonarismo é alto: 37%. No eleitorado tucano ele só perde em rejeição para o ex-presidente Lula, refutado por 42%. O petista, por sua vez, sofre ampla rejeição também entre eleitores de Alvaro Dias, 43%.

Embate é essencial entre liberais e conservadores: Editorial | O Globo

Há uma rarefeita oposição à onda de conservadorismo que se espraia na campanha eleitoral

Até pouco tempo atrás, era raro encontrar políticos que se identificassem como conservadores. Quase todos, invariavelmente, se definiam como “de centro” ou de “centro-esquerda”. Agora, uma onda conservadora se espraia pelo Brasil. Assiste-se a um desfile de porta-vozes do conservadorismo em busca de votos. É fenômeno global. Essa temporada eleitoral brasileira alavanca algumas candidaturas ao Executivo e ao Legislativo nas sondagens de intenção de voto. Merece estudo, porque, aparentemente, essa súbita afluência de ideais conservadores decorre de um longo processo de crispação política, protagonizado pelo PT e partidos satélites durante a última década e meia.

Desde 2010, o Ibope retrata o perfil do brasileiro conservador. A metodologia de pesquisas dessa natureza, por óbvio, sempre será passível de arguições. No entanto, deve-se ponderar sobre a relevância das sondagens, porque lançam luz sobre a evolução da sociedade no debate de temas de interesse coletivo, ainda que polêmico. Pesquisadores do instituto percorreram ruas de 142 cidades e ouviram 2.002 pessoas no primeiro trimestre deste ano. Os resultados mostram a prevalência da fração mais conservadora da opinião pública em questões referenciais, tais como aborto, casamento de pessoas do mesmo sexo, redução da maioridade penal e prisão perpétua para crimes hediondos.

O Brasil no clube dos frágeis: Editorial | O Estado de S. Paulo

Jackson Hole, uma pequena cidade na região montanhosa do Wyoming, foi um dos centros mais importantes do mundo financeiro ontem, quando o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, defendeu mais uma vez a estratégia de elevação gradual dos juros nos Estados Unidos. Embora seja uma estação de inverno, ponto de atração de esquiadores, Jackson Hole é internacionalmente mais famosa no verão, quando abriga a conferência anual do Federal Reserve, a mais influente autoridade monetária do mundo. Qualquer pista sobre a evolução dos juros e da política de crédito na maior potência econômica e financeira mexe com todos os mercados, afeta os fluxos de capitais e movimenta o câmbio. Num ano de severa turbulência cambial, com tem sido 2018, a política do Fed é especialmente importante para as economias mais vulneráveis a choques por suas fraquezas externas ou internas. O Brasil é uma delas.

Enquanto o mundo acompanhava o discurso de Jerome Powell, o Dansk Bank, um dos maiores da Europa do Norte e um dos grandes do mercado global, divulgava uma lista de “cinco novos frágeis entre os emergentes”. A relação inclui o Brasil, ao lado de Argentina, África do Sul, Rússia e Turquia. No primeiro conjunto de cinco frágeis, elaborado em 2013 por um analista do banco americano Morgan Stanley, apareciam Brasil, África do Sul, Índia, Indonésia e Turquia. Várias vezes citado em listas desse tipo, o Brasil continua no grupo, embora seu balanço de pagamentos esteja saudável, a dívida externa seja pequena e o País disponha da segurança de reservas superiores a US$ 370 bilhões.

Rússia, África do Sul e Turquia têm problemas diplomáticos com os Estados Unidos, estão sujeitas a pressões e, em alguns casos, até a sanções econômicas. O caso da Turquia é agravado pela má condição de suas contas externas, pela inflação elevada e pela sujeição do banco central à influência do presidente Recep Tayyip Erdogan.

No caso do Brasil, a instabilidade cambial tem sido acentuada, segundo o banco, pela presença do ex-presidente Luiz Inácio da Silva nas pesquisas de intenções de votos e pelo risco de eleição de um político sem compromisso com a recuperação das finanças oficiais. O comentário destaca a dívida pública próxima de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) e o risco de fortes pressões do mercado no caso de vitória de Lula. O cenário básico, segundo o informe, é de vitória de um candidato conservador, mas de muita instabilidade do real antes da eleição.

Portugal e Grécia encontram rota alternativa ao nacional-populismo: Editorial | O Globo

Países concluem programa de assistência financeira e abrem via para crescimento sustentável

Em meio ao avanço da onda populista e eurocética na UE, convém observar os casos bem-sucedidos de Portugal e Grécia que, na esteira da crise global de 2008, se viram obrigados a recorrer a programas de assistência financeira. O primeiro acertou um pacote de ajuda de € 78 bilhões em maio de 2011; e o segundo passou por três acordos (€ 110 bilhões, em 2010; € 164 bilhões, em 2012; e € 86 bilhões, em 2015). Os credores exigiram em contrapartida a realização de reformas estruturais e a adoção de medidas de ajuste financeiro e fiscal, para sanear as contas. Na última segunda-feira, a Grécia concluiu formalmente sua participação no programa; enquanto Portugal ajustou suas contas mais rapidamente e, em 2015, começou a ressarcir os credores. A ajuda se deu em circunstâncias sem precedentes, devido não só ao volume de financiamento, mas também pelo quadro recessivo pelo qual passava a UE. Formou-se então a chamada “troika” —Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia.

Os dois países, ambos com cerca de 11 milhões de habitantes e membros da zona do euro, pagaram o preço de gastar além de sua capacidade, perdendo o acesso a crédito nos mercados internacionais. No caso grego, primeiro país do bloco a requerer assistência, o governo socialista recém eleito encontrou um rombo bem maior do que o anunciado pela gestão anterior. O déficit foi corrigido então de 7% para 12% em relação ao PIB, aniquilando a confiança dos investidores nos títulos do país.

O cerco a Trump: Editorial | Folha de S. Paulo

Novo escândalo envolvendo o presidente dos EUA reaviva debate sobre impeachment

Que Donald Trump se apresentava uma figura inapropriada para ocupar a Presidência dos Estados Unidos, sabia-se desde sua campanha. Uma vez vitorioso, transpôs para o cargo os aspectos condenáveis que exibia ainda candidato, tais como o desprezo à liberdade de imprensa e a promiscuidade entre a vida privada e a pública.

A mais recente prova desse conflito de esferas deu-se na terça (21), quando Michael Cohen, ex-advogado pessoal de Trump, disse à Justiça ter comprado, a mando do então postulante à Casa Branca, o silêncio de uma atriz pornô e de uma ex-modelo que teriam mantido um caso com o republicano —o que pode ferir a lei de financiamento eleitoral.

Bem à sua maneira, o presidente fez pouco do episódio. Declarou que não se tratava de um delito, tampouco “um grande problema”, pois não teria recorrido a fundos de campanha. Reavivou-se, entretanto, o debate sobre a possibilidade de se deflagrar um processo de impeachment.

A cada novo desdobramento do extenso rol de episódios no mínimo desconfortáveis para Trump, parte da opinião pública americana, em especial integrantes do Partido Democrata, volta a cobrar sua remoção. Já se ventilou até uma suposta insanidade como argumento para apeá-lo do poder.

Convém aqui reafirmar que as atitudes de Trump têm diminuído sobremaneira a instituição que representa, em constante desserviço à imagem dos EUA no mundo.

No entanto nenhuma das várias evidências de má conduta, ao menos por ora, justifica o impedimento. O emprego de instituto dessa natureza deve se restringir a situações de fato excepcionais, como a comprovação de um crime que inviabilize politicamente o exercício da função.

Muros permeáveis: Editorial | O Estado de S. Paulo

Foi um erro ter recolhido Lula da Silva, em caráter de exceção, à sede da PF em Curitiba

A condenação e prisão do ex-presidente Lula da Silva por ter praticado os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro foi uma eloquente sinalização de que a igualdade de todos perante a lei não é um princípio vazio de sentido inscrito na Constituição, mas uma realidade há muito tempo ansiada pelos brasileiros. E, se a lei vale para todos, e vale, hão de ser aplicadas ao condenado Lula da Silva as mesmas restrições que são impostas aos demais internos do sistema carcerário. Não é isso que tem ocorrido.

A cela especial que Lula da Silva ocupa na sede da Polícia Federal em Curitiba tornou-se o comitê central da campanha eleitoral do PT. De lá, todos os dias, saem os “salves” – ordens que criminosos emitem aos comparsas que estão extramuros – com as diretrizes do chefão petista sobre os rumos das campanhas à Presidência, aos governos dos Estados em que o partido tem candidatos na disputa e aos cargos no Poder Legislativo. A rigor, a única coisa que difere Lula da Silva dos chefões do Primeiro Comando da Capital (PCC) ou do Comando Vermelho é a natureza dos crimes pelos quais foram condenados. De resto, as ordens do petista são ouvidas por seus destinatários tanto como as ordens dadas por “Fernandinho Beira-Mar” e “Marcola”, presos na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO) e na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), respectivamente.

A permeabilidade dos muros do cárcere de Curitiba revela duas coisas. A primeira é que o PT foi, é e sempre será dependente do destino de seu líder máximo. O PT é Lula da Silva. O futuro da legenda está umbilicalmente ligado ao futuro de um criminoso condenado em duas instâncias judiciais em apenas um dos sete processos em que é réu. A segunda, mais grave por extrapolar a esfera privada em que está circunscrito um partido político, diz respeito ao beneplácito de autoridades públicas sem o qual não seria possível que Lula da Silva, de dentro de sua cela, turvasse o debate eleitoral no País como tem feito, causando enorme dano à Nação.

Petistas têm maior isolamento nos estados em 20 anos

De 16 candidatos a governador, partido disputará sem aliados em 5; em outros 5, terá apenas o apoio do PC do B

João Pedro Pitombo e Catia Seabra | Folha de S. Paulo

SALVADOR E SÃO PAULO - No momento em que inicia uma estratégia de transferência de votos do ex-presidente Lula para o provável candidato a presidente Fernando Haddad, o PT deve enfrentar dificuldade adicional na campanha eleitoral deste ano.

O partido chega às eleições deste ano com o maior nível de isolamento nos estados desde 1998. Ao todo, terá 16 candidatos a governador, cinco deles disputando a eleição sem nenhum aliado e outros cinco com o apoio apenas do PC do B.

Grandes coligações em torno candidatos do PT foram formadas apenas em estados já governados pelo partido, caso da Bahia, Acre, Ceará e Piauí.

Em Minas Gerais, o governador Fernando Pimentel (PT) terá uma coligação mais modesta com apoio do PC do B, PR e DC. Já no Rio Grande do Norte, onde Fátima Bezerra (PT) desponta como favorita, apenas o PC do B e PHS estão na coligação.

Em média, o PT terá 3,7 partidos aliados para cada candidato a governador, número mais baixo desde 1998, quando o partido ainda estava em fase de ascensão e ainda não havia conquistado a Presidência da República.

A situação difere das últimas eleições. Em 2014, os candidatos a governador do PT tinham uma média de 6 aliados.

No Vale do Jequitinhonha, Alckmin garante ações para geração de emprego na região

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, visitou nesta quinta-feira a cidade mineira de Jequitinhonha, onde se comprometeu a concluir a BR-167, idealizada por Juscelino Kubischek, ligando Diamantina ao sul da Bahia. “Temos compromisso com o desenvolvimento da região”, afirmou o presidenciável.

Ao lado do candidato do PSDB do governo do Estado, senador Antonio Anastasia, Alckmin afirmou que haverá uma parceria entre os governos Federal e Estadual para levar irrigação à região.

Ele reforçou a importância da fruticultura local, bem como da agricultura e pecuária, além da economia criativa. “Vamos apoiar nossos artesãos, nossa arte, nossa cultura”, disse.

O presidenciável também tratou da importância da parceria com as prefeituras e afirmou que reduzirá a burocracia para a celebração de convênios com os municípios. Além dos investimentos em saúde, Alckmin reforçou que o grande compromisso de seu governo – para o Vale do Jequitinhonha e todo o Brasil – será a geração de emprego e desenvolvimento. “Para isso, infraestrutura é fundamental”, completou.

*Ouça aqui o áudio da entrevista com Geraldo Alckmin.

Alckmin afirma que troca é ‘ampliação’

Candidato tucano à Presidência diz que a substituição do seu coordenador de redes sociais foi decorrente de uma reestruturação da equipe

Pedro Venceslau / O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, procurou minimizar ontem a crise em sua campanha e afirmou que a substituição do seu coordenador de redes sociais foi decorrente da “ampliação” da equipe.

O Estado mostrou ontem que o publicitário Marcelo Vitorino, responsável pela área digital do comitê tucano desde a pré-campanha, foi substituído na função pelo jornalista Alexandre Inagaki. Vitorino foi deslocado para outra tarefa na área de “mobilização” da campanha.

A reestruturação ocorreu no momento em que dirigentes dos partidos do Centrão – formado por DEM, PP, PR, Solidariedade e PRB – cobram de Alckmin mudanças na estratégia digital para expor fragilidades e contradições de Jair Bolsonaro, candidato do PSL ao Planalto. Na avaliação do bloco, as mídias sociais do tucano estão “burocráticas” e não atraem eleitores.

Ao participar de um evento ontem em Belo Horizonte, o ex-governador disse que Vitorino continua no grupo. “Não houve substituição. O Vitorino continua com a gente. Nós agregamos lá, ampliamos um pouco o time na área de redes sociais”, disse Alckmin após visitar uma entidade de assistência social.

PSDB e DEM atuam para evitar ‘traições’ do Centrão nos Estados

Campanha tucana cria ‘comitês regionais’ para reforçar a imagem de Alckmin, principalmente na Região Nordeste

Yuri Silva / Kleber Nunes / O Estado de S. Paulo

SALVADOR / RECIFE - Com auxílio do DEM, os diretórios estaduais do PSDB vão operar, até outubro, como “comitês regionais” da campanha presidencial de Geraldo Alckmin, com a função de coordenar e supervisionar o trabalho dos demais partidos que formam a coligação. O objetivo é formar uma “retaguarda” para garantir que o nome e a imagem do presidenciável circule nos Estados, minimizando os efeitos das chamadas “traições” regionais.

No Nordeste, em particular, a tática é vista como crucial para aumentar a popularidade de Alckmin. Na região, o PT tem força e o tucano alcança apenas 4% das intenções de votos, no melhor cenário.

Dono da coligação formada pelo maior número de partidos, Alckmin não tem visto sua chapa ser refletida nos Estados. O Centrão – bloco formado por DEM, PP, Solidariedade, PR e PRB – liberou seus diretórios para formar coligações locais conforme seus interesses. Por isso, em diversos Estados, sobretudo os nordestinos, líderes dessas siglas apoiam outros candidatos à Presidência.

No caso mais emblemático, no Piauí, o senador e candidato à reeleição Ciro Nogueira (PP) declarou voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo tendo indicado a senadora Ana Amélia (PP-RS) para o posto de vice do tucano. Embora condenado e preso na Lava Jato, Lula foi registrado pelo PT como candidato ao Planalto.

No Maranhão, a situação é descrita como “terra arrasada” por correligionários. Os cinco partidos do Centrão apoiam a reeleição do atual governador, Flávio Dino (PCdoB). “Claro que eles não vão pedir voto para o Geraldo no palanque. O Centrão no Maranhão é vermelho. O tempo de TV que eles estão dando para Dino vai servir para ele pedir voto para o Lula e para o Ciro (Gomes, do PDT)”, disse o senador Roberto Rocha, presidente do PSDB-MA, que lançou candidatura ao governo para dar palanque a Alckmin no Estado. “Se não fosse por nós, Geraldo não teria nem um lugar para tomar um copo d’água aqui.”

Estratégia. Entre as demandas apresentadas a dirigentes do PSDB e do DEM em reunião na quarta-feira passada, em São Paulo, estão logística de distribuição de material de campanha, reuniões com líderes da coligação, carreatas, caminhadas e “adesivaços”.

Alckmin quer aproveitar tempo na TV para dosar feitos em SP e ataques

Tucano tem quase a metade do horário eleitoral gratuito

Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Apostando na propaganda de televisão para decolar, a equipe de Geraldo Alckmin (PSDB) montou um arsenal de peças de ataque, defesa e exaltação dos atributos do candidato para usar conforme o desenrolar da campanha para a Presidência.

A reação de grupos de eleitores às gravações é testada para burilar a estratégia e fazer ajustes na mensagem.

Seu cerne, porém, já está definido. Segundo a equipe, o tucano será apresentado como o único candidato que tem um portfólio de realizações para mostrar.

Com quase a metade do horário eleitoral gratuito (5 minutos e 32 segundos em cada bloco de 12 minutos e 30 segundos), garantido pelo amplo arco de alianças, inclusive com partidos do centrão, Alckmin poderá dedicar tempo a uma propaganda positiva. Jair Bolsonaro (PSL), seu principal concorrente pelos votos conservadores, tem um tempo ínfimo de exposição televisiva.

Se o capitão reformado atacar o tucano nas redes ou em discursos, a equipe de Alckmin poderá decidir se e como responderá conforme o rumo que a campanha tiver tomado no momento. Da mesma forma, poderá dosar a parcela do horário eleitoral usada para apontar as fragilidades dos adversários.

"Qualquer candidato só cresce em pesquisa de intenção de voto se consegue mudar a opinião de eleitores que estão com outro”, afirma o publicitário Lula Guimarães, marqueteiro de Alckmin. “Mostrar as verdades e as inconsistências é o principal instrumento para fazer as pessoas refletirem."

Redes e mídias serão fundamentais na campanha para atrair eleitores, afirma especialista

As redes e as mídias sociais estão cada vez mais presentes no dia a dia dos brasileiros. A ferramenta terá um papel primordial nas eleições deste ano e será valiosa para que os candidatos possam atingir o máximo possível do eleitorado e expor as suas ideias e propostas. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) publicados no início do ano, o País tem aproximadamente 116 milhões de pessoas conectadas na internet, o que corresponde 64,7% da população brasileira.

Com o objetivo de contribuir com os candidatos do partido na utilização das redes sociais, o Portal do PPS entrevistou o presidente do CAMP (Clube Associativo de Profissionais do Marketing Político), Bruno Hoffmann, que é um dos principais especialistas em marketing político e redes no País. A entidade que ele representa é considerada a primeira iniciativa bem-sucedida de reunir profissionais que atuam em campanhas eleitorais e com comunicação política.

“Com alguns candidatos que tem tempo de TV maior que outros, certos candidatos terão, por necessidade, de se apoiar quase que completamente na internet”. diz Hoffmann. Na entrevista a seguir, o especialista também dá dicas da melhor forma para evitar e combater a fake news neste pleito e fala como os candidatos podem usar as redes sociais para alcançar o voto dos eleitores nas eleições de outubro.

• Portal do PPS – Qual será a importância das redes sociais nestas eleições?

Bruno Hoffmann – As redes sociais estão crescendo a todo momento. Parece que todo ano é o ano das redes sociais. Elas aumentam [de importância] a cada ano. Cada vez mais pessoas tem acesso. A importância neste momento é que é mais uma ferramenta utilizada no processo eleitoral. Uma ferramenta geral de comunicação muito importante neste sentido. Claro que como qualquer outro canal depende muito da imagem do candidato. Por mais talentosa que a equipe de comunicação digital seja, a imagem do candidato é importante. Fica mais fácil você se comunicar nestes meios da maneira como as regras foram estipuladas [pela Justiça Eleitoral], com estruturas de campanha extremamente enxutas. Com alguns candidatos que tem tempo de TV maior que outros, certos candidatos terão, por necessidade, de se apoiar quase que completamente na internet.

Não tem como deixar de exemplificar com o caso do [Jair] Bolsonaro. Ele terá sete segundos e usará a TV justamente para chamar as pessoas para a internet e para os canais que ele possa se comunicar de forma mais detalhada. Bolsonaro é um cara que já tem uma base importante [nas redes sociais]. Tem feito esse trabalho de comunicação com redes sociais e continuará sendo muito forte nas redes. Claro que num cenário em que ele não terá [tempo] TV vai passar a receber muitos ataques de outros candidatos. Não necessariamente ataques, mas comparações e histórias que o público ainda não saiba. Isso pode diminuir o apoio que ele tem. Mas dentro da sua pergunta, as redes sociais, principalmente o Whatsapp, que é um mensageiro eletrônico – o que não deixa de ser uma rede social -, serão mais fáceis de compartilhar e terão um alcance fortíssimo. Com certeza as redes [sociais] serão mais importantes do que no passado.

‘O Brasil está sob riscos’, alerta ex-ministro Pedro Malan

Para ele, eleição traz risco de ‘messianismo salvacionista’ e autoritarismo

Lydia Medeiros | O Globo

RIO - O Brasil está sob riscos. O alerta é de Pedro Sampaio Malan, ministro da Fazenda nos oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). A 44 dias da eleição presidencial, ele acredita que o país vive um “momento de inflexão” e que suas escolhas terão forte repercussão nos próximos anos.

Um dos responsáveis pela condução do Plano Real, que consolidou a nova moeda e derrubou uma inflação de 5.000% ao ano em 1994 (em 2017, o índice foi de 2,95%), Malan acha que o país deve revisitar o passado para evitar esses riscos: o de uma parcela significativa do eleitorado optar pelo “messianismo salvacionista”; a crença no voluntarismo, “em que 2+2 podem ser 5 se houver vontade política para tal”; e a ideia de que os problemas do Brasil podem ser tratados com um exercício de autoridade.

- Cada uma das três é preocupante, e as temos como ameaças pairando sobre o país e seu futuro - afirma.

A relação com o tempo é uma das inquietações de Malan e pontua as 512 páginas de “Uma certa ideia de Brasil”, coletânea de artigos publicados entre 2003 e maio deste ano no jornal O Estado de S.Paulo.

No livro, um trecho de “O círculo dos mentirosos”, do cineasta francês Jean-Claude Carrière, ilustra essas preocupações. “O que é um homem normal?”, quis saber o cineasta do neurologista britânico Oliver Sacks. “Será talvez aquele capaz de contar a própria história. Sabe de onde vem, onde está (a sua identidade) e crê saber para onde vai (tem projetos e a morte no fim)”, respondeu o médico. “E pode-se dizer o mesmo de uma sociedade?” Sacks concorda com a analogia: uma sociedade “normal” precisa ter capacidade de identificar-se, situar-se no tempo histórico.

- A história de um país é um diálogo infindável entre seu passado e seu futuro - diz Malan, de 75 anos. - É preciso que exista uma certa memória do processo através do qual chegamos à situação atual.

O ex-ministro, atualmente presidente do Conselho Internacional do Grupo Itaú Unibanco, compara 2018 a outros pontos de inflexão: a eleição de Lula e a mudança da política econômica, em 2006, com a aceleração do processo de crescimento. Depois da crise de 2008, o país redobrou a aposta em 2010.

- Foi uma decisão: o Estado teria um papel-chave a cumprir na promoção do desenvolvimento econômico e social. Parecia que tudo era possível porque desejado - diz. - O problema é que o Estado não produz recursos.

Graziela Melo: Apito final

Silêncio
na alma
medo
no coração!

É
o ponto
final,

a ultima
estação

dos que
nascemos
juntos,

dos que
vivemos
juntos,

da nossa
geração!

O jogo
Acabou,
o juiz
apitou,

sem
prorrogação...

Se foram
os amores
tardios

ficaram
os
recantos
vazios
e
a solidão!!!