quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Opinião do dia: José Arthur Giannotti

• Há outras razões para o voto nos extremos?

Há. O eleitor vive num mundo violento e acha que só a violência resolve. Para acabar com a violência, ele acha que é bandido na cadeia ou morto. Isso não funciona no mundo real. Você só resolve isso criando instituições democráticas. Você tem de criar empregos, tem de esclarecer como será a reforma da Previdência e acabar com vantagens.

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José Arthur Giannotti é professor de filosofia, em entrevista: ‘Forças ocultas vão ter de se moderar’, Folha de S. Paulo, 16/10/2018

*Almir Pazzianotto Pinto: O pecado da omissão

- O Estado de S.Paulo

O segundo turno deverá determinar o fim do PT como força política

No formoso Sermão da Primeira Dominga do Advento, pregado na Capela Real em Lisboa, no ano de 1650, advertiu o padre Antonio Vieira: “A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete e com mais dificuldade se conhece; e o que mais facilmente se comete e dificultosamente se conhece raramente se emenda”.

A frase do santo jesuíta, a mais poderosa inteligência de Portugal de todos os tempos, deve servir de alerta a quem decidiu conservar-se omisso e indiferente às eleições do próximo dia 28, quando estará em jogo o futuro da democracia brasileira. Frente a frente, submetendo-se ao escrutínio de 147 milhões de eleitores chamados a decidir o futuro da República, estarão o deputado federal Jair Bolsonaro, oficial da reserva do Exército, e Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, advogado, porta-voz e alter ego de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidiário de Curitiba.

O aparentemente impossível aconteceu. No primeiro turno Bolsonaro quase alcançou maioria absoluta; Fernando Haddad, na última semana correndo por fora, conseguiu a segunda colocação. Alguns dos supostos favoritos, como Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Marina Silva, foram avisados de que pertencem ao passado e devem abandonar antigos projetos de exercer a suprema magistratura da Nação.

Aos eleitores, antes de se decidirem, compete examinar o currículo dos dois finalistas e o histórico dos respectivos partidos. Jair Bolsonaro candidatou-se pelo Partido Social Liberal (PSL), em aliança com o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), ao qual coube indicar o candidato à Vice-Presidência, Hamilton Mourão, general da reserva. Fernando Haddad, apesar de relativamente jovem, tem longo passado como militante do Partido dos Trabalhadores (PT). Sua candidata à Vice-Presidência é Manuela d’Ávila, filiada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), fundado em fevereiro de 1962 por João Amazonas, Diógenes Arruda, Pedro Pomar, Maurício Grabois. Desligando-se voluntariamente, ou afastados compulsoriamente, alguns dissidentes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) criaram o PCdoB com o objetivo de “promover a derrubada do sistema capitalista e, através da revolução proletária, realizar a passagem para o socialismo”, conforme se lê no Dicionário Histórico Geográfico Brasileiro Pós-1930 (Ed. FGV-Cepdoc, 2.ª edição, 2001, vol. IV, pág. 4.280). Quem duvidar consulte o livro Combate nas Trevas - A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada, de Jacob Gorender (Ed. Ática, 1987).

Vera Magalhães: Hora de segurar a bola

- O Estado de S.Paulo

No comando da campanha de Jair Bolsonaro prevalece a avaliação de que ele não deveria ir a nenhum debate no segundo turno, nem mesmo o da TV Globo. A principal alegação é clínica, e foi manifestada em termos um tanto escatológicos pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Nesse campo, a palavra final deverá vir de nova avaliação da equipe médica que cuida do candidato.

Mas a razão primordial pela qual aliados defendem que ele não vá aos programas televisivos é mesmo de natureza estratégica, como o próprio Bolsonaro admitiu em uma fala recente. Como um time que vai vencendo a partida decisiva por boa margem de gols, esses apoiadores acham que a campanha deve ser de manutenção nesses 11 dias que restam até o segundo turno.

Aparições nas redes sociais, eventuais entrevistas, tuítes e um programa eleitoral simples e direto seriam a receita para confirmar a vitória apontada pelas pesquisas.

Para se contrapor às acusações de que estaria fugindo da discussão de ideias, a campanha deve intensificar um recurso que começou a ser usado no horário eleitoral: a comparação entre propostas de Bolsonaro e de Haddad (obviamente, a partir do crivo da própria campanha).

No mais, serão explorados ao máximo os reveses da campanha petista, como a canelada que foi dada no PT pelo senador eleito Cid Gomes. A avaliação é de que isso mantém os apoiadores mobilizados nas redes sociais e no WhatsApp, as duas principais arenas em que o bolsonarismo “debateu” nesta campanha peculiar.

Monica De Bolle*: O caminho da prosperidade?

- O Estado de S.Paulo

O plano de Bolsonaro foi feito em power point, não com texto articulado e dados para substanciar propostas

Em 2015, tivemos A Ponte para o Futuro, o plano de governo elaborado pelo então PMDB antes do impeachment de Dilma Rousseff. O documento até que era bom: falava na necessidade de conter gastos, na reforma da Previdência, nas reformas microeconômicas, pincelava algo sobre a reforma tributária, e até fazia acenos ao mundo com diretrizes para a abertura da economia brasileira. Como sabemos hoje, a ponte caiu no meio do caminho e o futuro resvalou para a desilusão e a raiva.

Há quase 20 anos, tivemos um voto indignado no Brasil que elegeu o PT – era a época do “temos de acabar com tudo isso o que está aí”. E por algum tempo, foi possível imaginar que o Brasil tivesse no “caminho para a prosperidade”. Mas, no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho. A pedra não foi fruto do acaso, mas moldada pelo PT e pelos demais partidos responsáveis pela inaudita corrupção que destruiu o Brasil e a civilidade dos brasileiros.

Agora, novamente nos oferecem O Caminho da Prosperidade, o plano de governo do candidato que lidera com margem ampla as pesquisas de intenção de voto. Eu li o plano de Bolsonaro, plano elaborado em power point, não em forma de documento com texto articulado e dados para substanciar propostas. Eis que logo na primeira página dei de cara com uma citação bíblica: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, João 8: 32. Trata-se da primeira vez que vejo a Bíblia citada em um plano de governo, o que não deixa de ser desconcertante. Mas, o que esperar de um candidato cujo mote da campanha é “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”? Quem tem a primazia, o Brasil ou Deus? Pode parecer picuinha semântica, mas não é. Afinal, estamos escolhendo o governante do País, não o líder de uma seita ou igreja. Achei que tivéssemos nos libertado disso quando Lula foi afastado da política.

Fábio Alves: A Previdência de Bolsonaro

- O Estado de S.Paulo

A dúvida é se a proposta de Bolsonaro para a Previdência será dura ou mais aguada

A proposta de reforma da Previdência a ser enviada ao Congresso por Jair Bolsonaro, caso as pesquisas de intenção de voto confirmem sua ampla liderança e ratifiquem a sua vitória na eleição presidencial, poderá frustrar a imagem de reformista que o candidato do PSL tem entre os investidores que lhe bancaram o apoio praticamente unânime.

As mais recentes declarações de Bolsonaro e seus principais auxiliares, como o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), já “nomeado” ministro-chefe da Casa Civil num eventual governo dele, foram na direção de mudanças bem mais graduais e aguadas na Previdência Social em comparação, por exemplo, com o projeto original de reforma enviado por Michel Temer em dezembro de 2016.

Por essas declarações, a idade mínima de aposentadoria, que na versão final do projeto do governo Temer ficou em 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, deve ser mais baixa na reforma que Bolsonaro tentará aprovar no Congresso. É provável que seja mantida a diferenciação na idade de aposentadoria entre homens e mulheres.

Com o histórico de votações de Bolsonaro em 27 anos como parlamentar, como esperar mudanças significativas que afetem os benefícios de militares? É bom lembrar que a bancada no Congresso de representantes dessa corporação aumentou.

Vale destacar que é preciso dar um desconto, neste momento, no discurso de Bolsonaro e de seus auxiliares sobre a reforma da Previdência, pois dificilmente antes da votação do segundo turno um candidato anteciparia uma proposta muito dura de um tema bastante impopular entre os eleitores para não pôr em risco sua vitória.

Merval Pereira: O verdadeiro problema

- O Globo

Lula não é Mandela, embora muitos, no Brasil e no exterior, alimentem essa lenda, por desconhecimento ou má-fé política

O maior problema para o PT não é não ter conseguido formar a tal “frente democrática”; pode até ser que consiga, mas o tempo está curto, e os fatos estão atropelando a estratégia.

O maior problema é não entender que, mesmo se Fernando Henrique, Ciro Gomes, Marina, Joaquim Barbosa e outros que tais cerrassem fileiras em torno de Haddad, provavelmente nada aconteceria, pois os eleitores já foram para onde queriam ir, independentemente da cúpula de seus partidos.

Gestos dramáticos como uma união suprapartidária, ou os eternos abaixo-assinados com milhares de assinaturas de intelectuais, juízes, artistas, professores, simplesmente atingem os convertidos, não mudam o voto de ninguém. E, se juntarem todos esses, é capaz de prejudicar mais ainda a candidatura de Haddad, seria música para os ouvidos de Bolsonaro.

Dirá que são todos farinha do mesmo saco, que a social-democracia levou o país para o buraco, que PT e PSDB sempre estiveram juntos, mesmo quando brigavam. É isso que a grande maioria de seus eleitores pensa, e a união de todos esses contra Bolsonaro só confirmará que é ele o candidato antissistema, que a maioria dos eleitores quer desmontar, mesmo que o que seja colocado no lugar seja uma incógnita, com altos riscos.

Preferem um possível erro novo do que insistir no erro velho, que detectaram muito antes das pesquisas eleitorais. Assim aconteceu com Lula em 2002. Desde 2013 esse sentimento estava latente nas classes média e alta, e se espalhou para as classes populares devido à eclosão da violência e da falta de serviços públicos que atendam razoavelmente às necessidades do dia a dia do cidadão comum. E à controvérsia de valores morais, identificada por muitos como uma marca esquerdista.

Bernardo Mello Franco: Cid Gomes chutou o pau do circo petista

- O Globo

O irmão de Ciro detonou o PT no momento em que Haddad lutava para manter o ânimo. O discurso virou arma para a campanha de Bolsonaro

Quem tem os irmãos Gomes como aliados não precisa de adversários. Na semana passada, Ciro esnobou um convite para coordenar o comitê petista no segundo turno. Declarou “apoio crítico”, fez as malas e se mandou para a Europa. Na segunda-feira, Cid subiu num palanque da campanha de Fernando Haddad. Esculhambou a plateia, atacou o PT e afirmou que o partido vai “perder feio”.

Cid disse verdades que os petistas teimam em não admitir. A sigla deveria ter humildade, pedir desculpas e reconhecer que fez “muita besteira”. A cobrança está correta, o problema foi o resto. Ao proclamar que Haddad será derrotado, o senador eleito deu um presente inesperado a Jair Bolsonaro. Ontem à noite, o capitão exibiu o discurso em seu programa eleitoral na TV.

O irmão de Ciro chutou o pau do circo no momento em que os petistas lutavam para manter o ânimo. A campanha já estava abatida com a desvantagem nas pesquisas. Agora terá que explicar por que nem os aliados acreditam mais numa virada.

Míriam Leitão: Os fios amarram Haddad e o PT

- O Globo

PT é vítima de mentiras nesta campanha eleitoral, mas o maior problema do partido são as verdades que não tem coragem de encarar

São muitos os fios nos quais o PT foi se aprisionando. A candidatura de Fernando Haddad, desde o início, tem tido dificuldade de rompê-los. O evento no Ceará é só a cena pública da incapacidade de o partido olhar com sinceridade para a corrupção que houve nos governos petistas e para o desastre econômico provocado pela adoção das suas teses. Nos dois casos, o PT preferiu a narrativa. Ela reconforta porque parte da ideia de que o inferno são os outros, mas é falsa, como várias das narrativas nesta campanha.

Agora, Fernando Haddad está indo em câmera lenta para algum ponto no centro, mas sem conseguir sucesso em formar a frente ampla. Vai devagar demais para a urgência da hora, porque os fios do núcleo duro do PT amarraram seus gestos e adiam suas palavras. O “assim você vai perder a eleição”, dito pelo ex-governador Cid Gomes, naquele jeito Gomes de ser, é o aviso sincero do desfecho mais provável deste processo eleitoral.

Haddad disse recentemente que os diretores da Petrobras foram deixados “soltos” e isso teria que ser enfrentado num futuro governo do PT. É um avanço em relação à resposta que vinha dando de que há corrupção na Petrobras desde o governo militar, o que é uma forma de fugir da pergunta. Mais do que soltos, os diretores viraram senhores de um compartimento estanque e autossuficiente, com divisões de compra, assessorias, centros jurídicos, tudo separado, como se fosse uma companhia à parte. Eram “babies petrobras”, como explica um dirigente. Eles ficaram soltos, no território de cada um, com muitos poderes internos e blindados contra um olhar externo e até de outra área da própria empresa. Essa governança que favorecia a corrupção já foi desmontada, felizmente.

Elio Gaspari: Caveira!

- O Globo

Comparar Jair Bolsonaro a Donald Trump pode ser até chique, mas é o mesmo que viver na Barra da Tijuca pensando que se está em Miami. A alma da retórica do capitão está bem mais longe, nas Filipinas. Seu presidente chama-se Rodrigo Duterte, prometeu reformas econômicas e celebrizou-se pela política de combate à criminalidade, sobretudo ao tráfico de drogas.

Visitando o quartel do Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio, Bolsonaro disse à tropa que “podem ter certeza, chegando (à Presidência), teremos um dos nossos lá em Brasília”. Em seguida, deu o grito de guerra da corporação: “Caveira!”

Comparado com Duterte, Bolsonaro é uma freira, pois o presidente filipino vai além: “Hitler matou três milhões de judeus. Temos três milhões de viciados, eu gostaria de matá-los.” Está cumprindo. Em dois anos de governo, morreram 4.500 pessoas, segundo as estatísticas oficiais, e 12 mil, segundo organizações da sociedade civil.

Como Bolsonaro e Donald Trump, Duterte manipula sua incontinência verbal. Põe na roda a mãe de quem lhe desagrada, do Papa ao presidente Barack Obama. Quando uma missionária australiana foi morta e estuprada, ele disse que lastimava o crime porque ela “era tão bonita, foi um desperdício”. Em alguns casos, desculpou-se.

Aos 75 anos, tem o cabelo curto e negro de tintura, gosta de andar de motocicleta, teve um divórcio agreste, propala sua virilidade e as virtudes da pílula azul. Ele diz que “meu único pecado são os assassinatos extrajudiciais”.

Roberto DaMatta: O mal-estar eleitoral

- O Globo

É normal que o período eleitoral apaixone. Não é, porém, normal que se transforme numa batalha bíblica entre anjos e demônios

Sendo seres rigorosamente da casa e “de família”, todos temos, além de um nome a zelar, uma enorme ambivalência pela “política”, sobretudo quando ela não pode mais esconder o meio-termo e exige voto e escolha. Criados para aceitar, fingir e não reclamar do que temos e somos (pois há gente pior que nós...), temos um desconforto amigável com os confrontos eleitorais.

Com seu exagero ianque, o professor Moneygrand me assegura que o sistema político brasileiro foi desenhado para não escolher e que, para nós, brasileiros, o inferno é ser obrigado a tomar partido. Neste sentido, diz ele, somos sem querer o país no futuro, já que, na sua percepção, uma “ética da dúvida” será dominante neste planeta canibalizado pelo consumismo...

Não seria um paradoxo sermos apaixonados pela “política” — esse domínio no qual o público e não previsto se manifesta abertamente —quando somos criados para sermos obedientes e honestos em casa, mas treinados par esconder, mentir e ocultar na rua?

Quando foi que o falar (mal) dos outros deixou de ser o assunto mais importante do Brasil? Americanos falam de coisas; nós, de pessoas, aprendi numa América mais para Alexis de Tocqueville do que para Joseph McCarthy.

De fato, em casa tudo nos é atribuído: somos pais, filhos, irmãos, sobrinhos, netos, cunhados... Nela, nada é escolhido, e o comportamento segue a velha e inconsciente hierarquia inibidora do nosso lado público, cidadão e individualista que surge com os amigos que escolhemos no mundo público quando (altamente culpados) estamos livres dos controles da nossa poderosa rede de carne e de sangue.

Em casa somos “educados” e, sobretudo, obedientes — quase reacionários, diz meu amigo Levy... Mas na “rua” assustamos (e escandalizamos) quando nossos “responsáveis” descobrem como um latejar de liberdade combinado a um grama de igualdade nos torna “moleques de rua” e “revolucionários”, desafiando não apenas “tudo isso que aí está” (o que é fácil de dizer e até hoje impossível de fazer), mas igualmente os sofridos corações maternos...

Criados para não discordar, a polarização eleitoral causa mal-estar quando legitima diabolizar adversários políticos mesmo quando eles são da nossa família. A repressão do dissenso em casa revela uma negação absurda da realidade na rua. Ela legitima classificar genitores, professores e amigos como nazistas e como apoiadores do fim do mundo —caso “ele” ou o “outro” seja eleito.

É normal que o período eleitoral apaixone. Não é, porém, normal que se transforme numa batalha bíblica entre anjos e demônios.

Hélio Schwartsman: Guia de voto para os indecisos

- Folha de S. Paulo

Caminhos possíveis para quem não quer nem Bolsonaro nem Haddad

Como deve votar o eleitor que não quer nem Bolsonaro nem Haddad? O dilema pode assaltar mais de 66 milhões de brasileiros que ou votaram em outros candidatos ou não compareceram ou anularam/branquearam seus sufrágios.

A pedidos, esboço um pequeno guia de opções. Pela cartilha democrática, o segundo turno não é o momento de manifestar preferências, mas de tentar exercer o poder de veto. Assim, o mais sensato —e também o mais recomendado para quem acredita no poder das escolhas sociais— é que o eleitor reprima suas reações mais viscerais e vote no candidato que considerar menos ruim.

Para um contingente não desprezível de cidadãos, contudo, ambos os concorrentes são igualmente péssimos. Convenha-se que é fácil encontrar argumentos para não votar seja em Bolsonaro, seja no PT. Para esses eleitores, resta a opção entre abstenção (a multa é irrisória), justificativa (é preciso sair do município de domicílio eleitoral) e o votobranco/nulo.

Uma confusão frequente é afirmar que o branco/nulo beneficia o candidato que está na frente. Isso vale apenas para o turno inicial e só se houver uma chance de o primeiro colocado vencer logo de cara. Como nulos e brancos não são considerados votos válidos, eles reduzem o limiar de sufrágios que o postulante precisa atingir para vencer já no primeiro turno. No segundo turno, um nulo é apenas um nulo. Seu autor até pode ser acusado de omissão, mas não de favorecimento.

Para os espíritos mais hamletianos, que não conseguem mesmo decidir-se, minha sugestão é que esperem até o final. Sempre há a possibilidade de algum candidato dizer ou fazer algo que elimine de vez todas as dúvidas. Convém também ficar de olho nas pesquisas. Se elas apontarem para um quadro irreversível, a escolha pode ficar menos pesada. O que é certo é que o eleitor deve satisfações apenas à própria consciência, o que é o milagre e o perigo da democracia.

Bruno Boghossian: Instintos de autodestruição

- Folha de S. Paulo

Petistas reclamam de omissão diante de Bolsonaro e aliados cobram autocrítica

Tudo indica que o PT fracassou em convencer parte do mundo político de que esta eleição seria mais do que uma disputa pelo poder. Hesitações do partido e a resistência de potenciais aliados estimulam a dispersão daqueles que veem Jair Bolsonaro como uma ameaça.

Irritado com a sigla, Cid Gomes explodiu em um ato de campanha na segunda-feira (15). Disse que os petistas deveriam “reconhecer que fizeram muita besteira” e sentenciou: “O PT, desse jeito, merece perder”.

O ex-governador cearense atribuiu à legenda sua justa dose de responsabilidade e expôs uma insatisfação generalizada com o tratamento dado pela sigla a seus aliados. Cid deixou em segundo plano, porém, algumas consequências coletivas da provável derrota do PT na disputa.

No início de setembro, seu irmão, Ciro Gomes, afirmou que a vitória de Bolsonaro representaria um “suicídio coletivo” para o país. As urnas e as pesquisas mostram que a maioria da população não pensa assim, mas os políticos e partidos que se opõem ao candidato do PSL podem estar seguindo instintos de autodestruição.

Luiz Carlos Bresser-Pereira: A democracia ainda tem uma chance

- Folha de S. Paulo

Mal maior pode ser evitado com Fernando Haddad

Há anos venho lutando por uma política de centro-esquerda, que rejeite o liberalismo econômico com competência e tire o Brasil da armadilha dos juros altos e do câmbio apreciado que vem desindustrializando o país e reduzindo sua taxa de crescimento para um quarto do que era antes de 1980.

Venho explicando esse baixo crescimento pelo domínio de uma coalizão política de centro-direita, financeiro-rentista --que, ao insistir em querer crescer com poupança externa, pratica o populismo cambial--, e por um populismo fiscal de centro-esquerda que, a partir de 2012, levou o país à crise fiscal. E venho defendendo a rejeição dos dois populismos como condição do desenvolvimento brasileiro.

Na minha análise sociopolítica dos embates que definem hoje o capitalismo brasileiro, eu via um "povão" atraído pelo populismo e pela liderança carismática de Lula, os empresários industriais e os intelectuais apostando em um desenvolvimento social de centro-esquerda, e a classe média tradicional, os rentistas e financistas, comprometidos com o liberalismo econômico e a armadilha dos juros altos.

Meu voto em Ciro Gomes nas eleições presidenciais foi a maneira que encontrei de dar expressão a essas ideias, as quais partiam do pressuposto de que a democracia estava consolidada no Brasil. Estas eleições, porém, indicam que eu talvez estivesse enganado em relação a esse último ponto: a democracia saiu gravemente ameaçada.

Vinicius Torres Freire: No mercado, eleição acabou

- Folha de S. Paulo

Apesar de alertas de 'cabeças brancas', juros e preços na praça financeira desabam

Os negociantes de dinheiro parecem agir como se houvesse amanhã um programa de governo Jair Bolsonaro pronto e conhecido.

Os números do mercado, pelo menos, sugerem que a eleição terminou. A distensão dos preços nos negócios financeiros impressiona.

Não falta muito para que taxas de juros e dólar indiquem confiança risonha e franca na nova administração, que por vários motivos, no entanto, ainda é incógnita.

Caso persistam tais sintomas, se o candidato do PSL ou seus assessores não pisarem na bola, o começo da vida de um eventual governo bolsonarista será facilitado.

Uma reviravolta petista teria obviamente o efeito muito contrário.

Desde as vésperas do primeiro turno, as taxas de juros de longo prazo levaram um talho grande, voltando a níveis de maio, antes do tumulto e dos paniquitos provocados pelo caminhonaço, uma queda de mais de 0,6 ponto percentual desde o início do mês.

Rosângela Bittar: Concepção política do governo Bolsonaro

- Valor Econômico

Os militares e os novatos do PSL com seus superpoderes

A concepção política de um governo Jair Bolsonaro, em fase de formulação, segue a seguinte fórmula: "Será um governo baseado em aliança de centro-direita, que vai resgatar a dívida social pelo fortalecimento da economia de mercado", diz uma fonte ligada ao candidato líder na preferência do eleitorado.

O que isso significa, concretamente?

Significa aproveitar politicamente essa grande maioria que chegará ao Congresso, de tendência de centro-direita, para fazer tramitar os projetos mais urgentes, respeitando a manifestação de preferência do eleitorado por um tipo de relação mais avançada com deputados e senadores.

A primeira aposta dos políticos da campanha é na guilhotina da cláusula de barreira, que ocorrerá no ano que vem. O PSL, com 56 deputados, é o segundo da Câmara mas poderá passar a ser o primeiro recebendo filiações do PRP, do Avante, do PRTB e até de alguns partidos da esquerda mais leves que também ficarão pelo caminho a partir de fevereiro, como o Rede, por exemplo. O PCdoB, o PCO, o PSTU também não cumpriram as exigências da lei eleitoral, mas esses dificilmente deixarão de fazer oposição ao novo na bancada da esquerda.

São 14 os partidos que deixarão de ter existência parlamentar e, portanto, ficarão sem fundo partidário no período de 2019 a 2023, e sem acesso ao tempo gratuito de propaganda. Muitos, para sobreviver, devem ingressar em outras agremiações e, sendo o partido do presidente, o PSL deve ser um porto natural para um grande contingente de desabrigados.

Mas o PSL, sozinho, mesmo turbinado, não pode fazer muito. Há outros instrumentos nesse método em gestação. Argumenta-se, na campanha, que há vários governos o partido do presidente da República não faz mais que 20% do Congresso, daí a necessidade de adotar o presidencialismo de coalizão que, no Brasil, transformou-se em cooptação, em negociação de cargos, emendas, verbas e outras trocas do mesmo caráter.

Cristiano Romero: Economia e tirania

- Valor Econômico

Diz-se que o regime militar criou uma economia forte. Ilusão

Muitos no mercado financeiro acreditam na tese de que, para avançar na economia, o Brasil precisa passar por um novo regime autoritário. A democracia, pensam, atrasa o país. O exemplo citado é o do Chile, que, sob a ditadura comandada pelo general Augusto Pinochet entre 1973 e 1990, quando mais de 40 mil pessoas foram vítimas do regime, entre executadas, desaparecidas e torturadas, economistas formados pela prestigiosa Escola de Chicago implantaram uma sólida economia de mercado ao sul da Linha do Equador.

Outro exemplo mencionado é o da China, que, dominada por um regime comunista fechado, conseguiu forjar experimento capitalista que a transformou, em pouco mais de quatro décadas, na segunda maior economia do planeta. O que se diz é que, sem democracia, governos fortes conseguem impor agendas liberalizantes que aceleram o crescimento do PIB, criando as condições para eliminar a pobreza.

No caso da China, poucos analistas identificam as chances de as coisas darem muito errado logo adiante. Cerca de 400 milhões de chineses, da população de 1,39 bilhão, vivem no "maravilhoso" mundo do capitalismo ocidental. Trata-se de uma imensa classe média, mais numerosa que a de qualquer outra nação. Mas, um detalhe é inescapável: mesmo com dinheiro no bolso, esses milhões de cidadãos não têm liberdade para se expressar e seus direitos, inclusive o de ir e vir, são restritos.

Imagine-se o seguinte: se a China não fosse uma ditadura, a maioria dos que vivem no grupo do 1 bilhão, entre gente que vive no campo e nas cidades, sendo que a população urbana já superou a rural, migraria para o "Sul maravilha", onde ficam as províncias capitalistas. Num regime fechado, o Estado escolhe quem salta da Idade Média para o século XXI. Se a escolha fosse livre, as cidades chinesas já teriam favelas mais povoadas, por exemplo, que as de Brasil e Índia, recordistas desse triste ranking.

Luiz Carlos Azedo: Quando as coisas dão errado

- Correio Braziliense

“Haddad está em busca de nomes para compor seu governo, mas não vem obtendo muito sucesso nos convites devido à baixa expectativa de poder que desfruta no momento”

As declarações do ex-governador Cid Gomes (PDT), senador eleito pelo Ceará, no ato de apoio a Fernando Haddad (PT), nas quais criticou duramente o PT e exigiu uma autocrítica da legenda pelos erros cometidos nos governos Lula e Dilma, não foi uma ruptura entre seu irmão, Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado no primeiro turno, e o candidato petista, mas expressou com muita fidelidade as razões do apoio crítico anunciado pelo PDT: os dois irmãos são potes cheios de mágoas. As manobras de bastidor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para deslocar o apoio do PSB a Ciro e enfraquecer sua candidatura, com objetivo de levar Haddad ao segundo turno, deixaram sequelas graves.

Políticos profissionais são mestres em engolir sapos. Caso Haddad estivesse liderando a disputa presidencial, pode ser que os irmãos Gomes fizessem isso, mas não é o que acontece. Ciro venceu as eleições no Ceará e teve uma boa votação no Nordeste. Por essa razão, Bolsonaro não ganhou a eleição no primeiro turno. Era para Ciro ter sido tratado a pão de ló por Haddad, mas não foi o que aconteceu. Prevaleceu a lógica da campanha petista no primeiro turno: contra Bolsonaro, Ciro teria que apoiar o candidato do PT por gravidade. Deu errado.

Agora, a conta ficou mais alta: Cid Gomes tem pretensões à Mesa do Senado. A reaproximação entre os Gomes e Haddad no segundo turno faz parte desse jogo. Ontem, Cid mandou recado pelas redes sociais de que não está rompido com o candidato do PT: “Comparei os dois nomes que estão no 2º turno. O Haddad é infinitamente melhor que o Bolsonaro. Eu não quero me vingar de ninguém. Para o Brasil o menos ruim é o Haddad. Por isso penso que seria melhor que ele ganhasse”, escreveu.

Ricardo Noblat: Voto no segundo turno junta Temer a Renan

- Blog do Noblat | Veja

As voltas que o mundo dá

Michel Temer e Renan Calheiros jamais se deram bem. E a primeira coisa que aconteceu tão logo Temer sucedeu a Dilma Rousseff foi Renan afastar-se dele.

No primeiro turno, não se sabe em quem Temer votou. Ele escondeu o voto até dos seus amigos mais próximos. Renan votou em Fernando Haddad para que o PT apoiasse sua reeleição.

Embora sigam como adversários dentro do MDB, o voto dos dois no segundo turno será igual – Haddad na cabeça. O MDB de raiz, que sofreu o trauma da ditadura de 64 votará em Haddad.
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DEM presta continência a Bolsonaro

O que o partido quer em troca

O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) ainda não desistiu do sonho de se reeleger presidente da Câmara em fevereiro próximo. Por meio de emissários, já mandou dizer a Jair Bolsonaro (PSL) que pode contar com seu apoio para governar.

Em troca, Maia pediu apenas que Bolsonaro se declarasse neutro no segundo turno da eleição do Rio onde ele ainda imagina ser possível a vitória de Eduardo Paes (DEM). Bolsonaro fez a vontade de Maia, mas por enquanto ficou só nisso.

O apoio a Maia para a presidência da Câmara é coisa que Bolsonaro pensará mais tarde. Presidente do DEM, ACM Neto, prefeito de Salvador, reuniu-se com membros graduados da tropa do capitão e garantiu que seu partido o apoiará agora e depois.

Ele não debate: Editorial | Folha de S. Paulo

Bolsonaro nega aos eleitores uma das principais oportunidades proporcionadas pelo 2º turno

Jair Bolsonaro participou dos dois primeiros debates da campanha presidencial em agosto, antes de sofrer o ataque brutal que o forçou a se recolher até poucos dias antes do primeiro turno da eleição.

Na estreia, um candidato adversário mencionou o suposto envolvimento de Bolsonaro no planejamento de um atentado a bomba em 1986, quando estava no Exército.

Na segunda ocasião, o postulante do PSL se mostrou desconexo ao tentar esclarecer seu ponto de vista sobre a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho, assunto em que, segundo ele, o governo não deveria interferir.

Depois de passar por esses embaraços, é possível imaginar o alívio que o presidenciável e seus colaboradores certamente sentiram ao se verem livres de novos desgastes.

Por causa do atentado, que o obrigou a se submeter a duas cirurgias e três semanas de recuperação, Bolsonaro ficou impossibilitado de participar de outros quatro debates no primeiro turno.

Mesmo assim, ele não deixou de gravar mensagens para seus seguidores nas redes sociais e conceder entrevistas a emissoras de televisão quando ainda estava internado.

Bolsonaro teve alta uma semana antes do dia da votação. Permanece de repouso em casa por recomendação médica, mas isso não o impede de manter encontros com correligionários, fazer propaganda na internet e receber jornalistas.

Efeito benéfico da democracia sobre os candidatos: Editorial | O Globo

Bolsonaro e Haddad entendem mensagem da sociedade e moderam o discurso

O momento em que transcorre a oitava eleição presidencial consecutiva, pelo voto popular, algo inédito na República brasileira, é repleto de contingências que a tornam especial.

É translúcido como água limpa que muito do futuro da nação estará em jogo no domingo 28, de que também depende a consolidação de avanços já ocorridos. Em que se destaca a própria democracia representativa, com o rito clássico da rotatividade no poder entre os diversos grupos políticos organizados na sociedade, sempre respeitada a Constituição.

Tem destaque na agenda nacional a própria estabilidade da economia, a ser obtida, ou não, a depender do que fará o próximo presidente com as contas públicas, que se mantêm em elevado déficit. E 2019 será o sexto ano consecutivo de saldo negativo, mantendo-se, nos últimos exercícios, acima dos R$ 100 bilhões. Não é possível continuar assim.

No campo político, começa a vigorar uma tímida cláusula de barreira para os partidos: exigência de um mínimo de 1,5% dos votos totais dados na Câmara, bem menos que os 5% estabelecidos para 2007, infelizmente vetados pelo Supremo. Sem isso, o partido perde prerrogativas no Legislativo, acesso ao Fundo Partidário e ao programa político dito gratuito. Ao menos, é um início, para que acabe a excessiva pulverização de siglas no Congresso, forte incentivo à corrupção na montagem de bases que permitam ao presidente e a aliados governarem.

A longevidade do real: Editorial | O Estado de S. Paulo

A longevidade do real, criado em 1.º de julho de 1994, passou a ser o padrão monetário mais longevo desde o fim dos réis, que circularam do período colonial até 1942. A moeda introduzida pelo Plano Real completou 8.870 dias em 13 de outubro passado, um dia a mais do que o recordista anterior, o cruzeiro, criado no governo de Getúlio Vargas em 1942 e que durou 8.869 dias, até 12 de fevereiro de 1967, quando foi substituído pelo cruzeiro novo. É um feito e tanto, em um país que por muito tempo conviveu com crônica instabilidade monetária - foram nove moedas diferentes ao longo da história brasileira.

O mais notável dessa efeméride é que provavelmente poucos se deram conta dela. Ou seja, o real está tão arraigado no cotidiano das relações econômicas nacionais, desfrutando de confiança aparentemente inquestionável, que nem parece ser mais o caso de celebrar sua solidez. Mas é - especialmente quando aspirantes ao cargo de presidente da República insistem em fazer propostas que, se levadas a efeito, corroerão os fundamentos dessa solidez.

Uma moeda é uma instituição nacional basilar. É na crença de que ela vale o que nela está escrito - isto é, que o emissor honrará o compromisso de preservar seu valor - que todas as relações econômicas se assentam. Ou seja, depende de credibilidade. Uma sociedade que deixa de acreditar em sua moeda, sendo incapaz de estabelecer o valor das coisas, está a meio caminho de se desestruturar, o que inclui a inviabilização da própria democracia, como aconteceu, por exemplo, na Alemanha hiperinflacionária dos anos 20. Portanto, a estabilidade monetária não é uma questão trivial, que possa ser tratada de maneira leviana.

Aquecimento desafia o ritmo da agenda ambiental: Editorial | Valor Econômico

O ambiente se tornará muito mais hostil à vida se a temperatura do planeta subir acima de 1,5o C em relação ao nível pré-industrial e isso está mais perto de acontecer do que se previa. O alerta lançado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Clímáticas (IPCC), órgão da ONU, mostra a urgência de ações mais contundentes para reduzir as emissões de CO2 e realça a debilidade das medidas tomadas após o Acordo de Paris, alcançado a duras penas em 2015.

O relatório do IPCC afirma que a temperatura na Terra já se elevou entre 0,75 e 0,99o C no período de 2006 a 2015 em relação a 1850-1900 e que a trajetória do aquecimento pode ser muito pior do que o previsto em Paris. O limite de 1,5o C está mais perto de ser atingido e poderá ocorrer em algum momento entre 2030 e 2050. Meio grau adicional, o limiar do Acordo de Paris, trará consequências ainda mais severas. Seria importante não chegar lá, sugere o IPCC.

O silêncio com que foi recebido o relatório indica a baixa temperatura da motivação dos governos em relação ao acordo alcançado em Paris. O maior poluidor mundial, os Estados Unidos, anunciaram que se retiraram dele e não apenas isso, se engajaram a partir daí em uma agenda cujo resultado é mais, e não menos, emissões de CO2. Depois de um furacão e uma devastadora tempestade tropical varrerem Estados da Costa Oeste do país, o presidente Donald Trump admitiu que há algo estranho acontecendo com o clima. "Acho que provavelmente existe uma diferença, mas não sei se é causada pelo homem". A convicção de Trump é que os cientistas que alertam para o perigo têm uma "agenda política" hostil.

Manuel Bandeira: Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada