Tradução de Manuel Bandeira
Abril florescia
Na paisagem mansa.
Entre os jasmineiros
E as roseiras brancas
Do balcão fronteiro
Vi as irmãs sentadas.
A menor coisa,
A maior fiava. . .
Entre os jasmineiros
E as roseiras brancas,
A mais pequenina,
Risonha e rosada,
De agulha suspensa,
Sentiu que eu a olhava.
A maior seguia,
Silenciosa e pálida,
O fuso na roca,
Que o fio enroscava.
Abril florescia
Na paisagem mansa.
Numa tarde clara
A maior chorava,
Entre os jasmineiros
E as roseiras brancas,
Ante o branco linho
Que na roca fiava.
— Que tens? perguntei-lhe.
Silenciosa e pálida,
Indicou o vestido
Que a irmã começara:
Na túnica negra
A agulha brilhava;
Sobre o véu luzia
A agulha de prata.
Apontou a tarde
De abril que sonhava:
Naquele momento
Os sinos dobravam.
E na tarde clara
Me ensinou suas lágrimas
Abril florescia
Na paisagem mansa.
Noutro abril alegre,
Noutra tarde clara,
O balcão florido
Solitário estava.
Nem a pequenina,
Risonha e rosada,
Tampouco a irmã triste,
Silenciosa e pálida,
Nem a negra túnica,
Nem a touca branca...
Apenas no fuso
O linho girava
Por mão invisível;
E na obscura sala
A lua do límpido
Espelho brilhava . . .
Entre os jasmineiros
E as roseiras brancas
Do balcão florido,
Minha imagem dava
Na lua do espelho,
Abril florescia
Na paisagem mansa.
Abriu florescia e eu nascia...
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