quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Cora Rónai: As agruras do senhor Messias

- O Globo

Basta olhar para o seu perpétuo ar contrafeito para perceber que não era bem isso que ele tinha em mente quando se lançou a essa aventura

O governo ainda não tem um mês e já coleciona histórias mal contadas suficientes para dez legislaturas na Finlândia. A internet não tem sossego — mal absorve um escândalo e lá vem outro. Tenho pena do Queiroz, que anda tão doente: esse tipo de situação não faz bem à saúde. Chego a temer pela vida do rapaz.

Tenho pena também do senhor Messias, que deu um passo maior do que a perna, e que agora se mostra tão pouco à vontade nas suas novas funções. Tudo o que ele queria era fazer churrasco à beira da piscina e passar o fim de semana de sunga; agora é obrigado a trabalhar, a viajar para lugares onde jamais pensaria em pôr os pés se pudesse escolher por si mesmo e a fugir da imprensa, que insiste em fazer perguntas.

O senhor Messias não tem mais sossego, e basta olhar para o seu perpétuo ar contrafeito para perceber que não era bem isso que ele tinha em mente quando se lançou a essa aventura.

Aquelas fotos do senhor Messias comendo no bandejão do supermercado, por exemplo. Todas as sumidades reunidas ali ao lado, aproveitando os parcos e preciosos momentos em que se encontram para trocar ideias e fazer negócios, almoçando com um olho na comida e outro no futuro, e o senhor Messias sozinho, com os seguranças, tentando vender como humildade o seu tédio e falta de entrosamento.

Nem Temer se viu tão sozinho no mundo.

Em 2009, em Copenhague, Dilma, que ainda não era presidenta e, a bem dizer, não era ninguém na fila do pão, ficou mortalmente ofendida com a ideia de comer no bandejão da Conferência do Clima, e despachou uma de suas assessoras para a fila — onde Angela Merkel conversava, descontraidamente, com Nicolas Sarkozy.

No mundo dos tubarões, até bandejão tem seu modo de usar.

Luís Inácio, aquele, tinha muitos defeitos, mas tinha a manha. Não cometeria um erro bobo desses. Chegava no estrangeiro e, onde quer que fosse, era logo rodeado por gente ansiosa em tirar uma casquinha da sua imbatível popularidade. A elite tem má consciência, e Luís Inácio sabia disso: ele, homem do povo, era um passaporte político e emocional para os poderosos.


“O cara.”
O senhor Messias não. Não só não sabe como o mundo gira, como está pessimamente assessorado. Está criando um legado de imagens risíveis e constrangedoras, confiando num populismo pão com Leite Moça que pode ter funcionado na campanha, mas que não ajuda em nada a sua imagem como presidente.

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Sim, eu sei que o Luís Inácio está preso; Cid Gomes já me disse. E sim, eu sei que ainda é preciso que o senhor Messias se afaste muito mais da senda tortuosa da virtude para sequer começar a emparelhar com os “malfeitos” do PT.

Afinal, Luís Inácio e os seus tiveram 13 anos de governo para azeitar a sua formidável máquina de pilhagem; o senhor Messias mal começou.

Tudo a seu tempo.

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Enquanto isso, fica um conselho para o senhor Messias: se no próximo encontro de potentados lhe faltar companhia novamente, alegue uma indisposição e peça comida no quarto. Não é tão barato quanto o bandejão do supermercado, mas não é nada diante da viagem no Aerolula.

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