segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Disputa por cargos na Câmara divide PSL

Divergências ameaçam acordo anunciado por partido para apoiar reeleição de Maia

Camilla Turtelli Felipe Frazão Mariana Haubert / O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A uma semana da eleição para a presidência da Câmara, o PSL está “rachado” por causa de disputas internas por cargos de comando na Casa. Dono da segunda maior bancada (52 deputados), o partido do presidente Jair Bolsonaro anunciou apoio à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), mas, pela divisão prevista no acerto, há mais postulantes do que vagas. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Câmara e prometida por Maia ao PSL em troca de apoio, é alvo da maior disputa.

Núcleo da base governista, o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, vive uma fase de disputas internas que dividem integrantes da segunda maior bancada da Câmara, a uma semana da eleição e da posse da nova direção da Casa. A divisão dos cargos de comando na Câmara é o novo foco de atrito, além de desavenças que marcam o relacionamento na bancada desde a campanha eleitoral do ano passado.

Há mais postulantes do que cargos, segundo a divisão prevista no acordo para dar apoio à reeleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Para conseguir a promessa dos 52 votos do PSL, Maia cedeu à direção do partido a 2.ª vice-presidência da Mesa Diretora, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), a mais importante da Câmara, e a Comissão de Finanças e Tributação (CFT).

As suspeitas envolvendo o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) – o nome do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro aparece em relatório do Coaf por conta de movimentações financeiras consideradas atípicas – também acirraram as discussões e deixaram mais nítidas as divisões entre deputados. A avaliação é que esses rachas, que incluíram conversas vazadas cuja autoria estimulou desconfiança mútua entre os parlamentares, podem comprometer a base do presidente no Congresso e até dificultar a tramitação de projetos de seu interesse.

A presidência da CCJ é a mais disputada, com ao menos quatro pretendentes. A advogada Bia Kicis (PRP-DF), cuja filiação está “prometida” ao PSL; o deputado Coronel Tadeu (SP), ex-policial militar do Batalhão de Choque; o delegado da Polícia Federal Marcelo Freitas (MG); e o advogado Felipe Francischini (PR), filho do ex-delegado da PF e ex-líder do PSL Fernando Francischini. Os já filiados ao PSL estão insatisfeitos com a candidatura prévia de Bia Kicis. Argumentam que ela não poderia ter uma função de destaque por não estar no partido ainda, embora sua indicação seja defendida por membros da cúpula do partido. A jornalista Joice Hasselmann (SP) também deve disputar uma posição de destaque, que pode ser a presidência da Comissão de Finanças ou a vice-liderança do partido na Casa.

Outro filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP) – que já se referiu ao baixo clero do partido como “favelados” – deseja manter influência sobre a política externa e articula, segundo aliados, sua candidatura à presidência da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN).

Há preocupação com uma possível postulação do deputado Coronel Chrisóstomo (RO) à 2.ª vice-presidência da Câmara. A vaga estaria reservada ao presidente nacional do partido, deputado Luciano Bivar (PE), que anunciou o acordo com Maia sem consultar o restante da bancada. Uma candidatura avulsa de Chrisóstomo pode criar mais atritos no PSL e ameaçar o poder do grupo de Bivar, porque, com votação secreta, poderia receber votos de opositores e adversários para emplacar uma derrota ao governo.

Chapa única. Como a bancada não se organizou ainda para decidir quais serão seus representantes, há quem espere que Bivar tenha a palavra final, escalando os nomes, e há quem defenda uma reunião interna até o fim da próxima semana, para escolher os indicados. A busca de uma chapa única, com apenas um nome postulando cada comissão, visa a minimizar os conflitos.

Os deputados, sob pressão, não garantem nem mesmo honrar o acordo de cúpula com Maia. Reservadamente, dizem que haverá defecções por causa das particularidades de cada parlamentar e da liberdade para votar. Um deputado estreante lembrou que a direção do PSL não terá nem como punir levando à comissão de ética quem não votar de acordo com os interesses do governo, porque o voto na eleição é secreto.

Uma das últimas disputas envolveu os deputados da “bancada da China” – grupo que viajou ao país comunista e sofreu fogo amigo, turbinado pelas críticas públicas de colegas, dos filhos do presidente e de formadores de opinião da direita, como o filósofo Olavo de Carvalho. Entre os que viajaram, correm ameaças de retaliar a direção do partido na eleição da Câmara, ao não entregar votos a Maia, e reclamações de falta de blindagem por parte de Bolsonaro e de Bivar.

“O PSL é um partido que vai se moldar a partir de agora. Ele se formou com ativistas de toda sorte e políticos vindo de vários partidos”, diz o deputado federal e senador eleito Major Olímpio, presidente do PSL em São Paulo, sobre os conflitos internos. Ele admitiu esforços para apaziguar a bancada no episódio da excursão à China.

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