terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Previsão de um ambiente inflacionário tranquilo: Editorial | Valor Econômico

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2018 em 3,75%, pelo segundo ano consecutivo abaixo da meta perseguida pelo Banco Central (BC), de 4,5%. Para 2019, o cenário para a inflação também é bastante favorável, mesmo com a perspectiva de aceleração da atividade econômica. A aposta dominante é que o IPCA ficará na casa de 4%, um nível ligeiramente inferior ao alvo deste ano, de 4,25%.

Uma combinação de vários fatores mantêm tranquilo o ambiente inflacionário no ano que se inicia. Primeiro, há uma grande ociosidade de recursos na economia. A taxa de desemprego segue muito elevada - ficou em 11,6% nos três meses até novembro. Outro aspecto é que a recuperação da atividade ocorre a um ritmo bastante moderado.

Já as expectativas de inflação estão bem ancoradas, sendo um ponto fundamental no regime de metas, crucial para manter os índices de preços sob controle. Foi resultado da restauração da credibilidade do BC na gestão de Ilan Goldfajn. Além disso, o comportamento esperado para o câmbio neste ano é benigno - e, a depender do andamento das reformas, principalmente a da Previdência, é possível que o real fique mais valorizado do que o sugerido nas projeções dos analistas.

Para completar, o baixo IPCA de 2018 vai ajudar neste ano. A inércia inflacionária, o fenômeno pelo qual a inflação passada influencia a inflação futura, vai jogar a favor de um IPCA mais modesto em 2019. Isso já havia ocorrido no ano passado, quando a inflação de 2018 foi beneficiada pela pequena variação do índice em 2017, de apenas 2,95%. Um ponto importante é que toda essa avaliação favorável pressupõe que o cenário internacional não causará grandes contratempos para países emergentes como o Brasil.

Uma análise mais detalhada do resultado do IPCA de 2018 evidencia a ausência de pressões inflacionárias na economia. O ano que se encerrou foi marcado por uma trajetória extremamente comportada dos chamados núcleos, as medidas que buscam reduzir ou eliminar a influência dos itens mais voláteis, para oferecer um retrato mais preciso da trajetória da inflação.

Uma média de sete núcleos teve alta de apenas 2,8% em 2018, inferior aos 3,2% registrados no ano anterior, segundo a LCA Consultores. Para a consultoria, é "um claro sinal dos efeitos da ociosidade ainda presentes sobre a formação dos preços". Para 2019, a aposta da LCA é que a média desses núcleos ficará em 3,6%, "uma aceleração bastante moderada".

Uma das medidas de núcleo que ganharam destaque nos últimos meses é o IPCA EX2, apresentado pelo BC no Relatório de Inflação de junho do ano passado. O indicador chama a atenção por reunir apenas os serviços, alimentos e bens industriais mais sensíveis ao ciclo econômico. Em 2018, o IPCA EX2 subiu 2,2%, abaixo dos 2,75% de 2017. No dois casos, a variação ficou abaixo do piso da banda de tolerância da meta, de 3%.

Esses números também dão uma medida da fraqueza da atividade econômica. No ano passado, a greve dos caminhoneiros e as incertezas em relação às eleições tiveram impacto negativo sobre a retomada.

A expectativa, agora, é de que a recuperação ganhe fôlego, com a melhora da confiança de empresários e consumidores num cenário político mais claro. Os juros baixos, num ambiente de menor endividamento de empresas e famílias, também devem contribuir para o avanço mais firme do consumo e do investimento. Ainda assim, a grande ociosidade na economia indica que as pressões inflacionárias seguirão contidas. Mesmo se o PIB crescer 3% ou um pouco mais, o IPCA deve continuar comportado. Por enquanto, o consenso de mercado estima um crescimento mais próximo de 2,5%.

Nesse quadro, tudo indica que o BC não precisará ter pressa para elevar os juros. A Selic deverá continuar em 6,5% ao ano durante boa parte de 2019, e há quem acredite que o ciclo de alta só começará em 2020.

Um IPCA em torno de 4% neste ano ajudará a consolidar a inflação em níveis mais baixos e civilizados. Para que esse processo seja duradouro, porém, é indispensável resolver o desequilíbrio das contas públicas. Sem que o problema fiscal esteja equacionado, a ameaça de uma nova aceleração inflacionária não pode ser afastada. "Não há banco central que resista a uma situação fiscal como a nossa", como resumiu o ex-presidente do BC Arminio Fraga, em evento promovido pela autoridade monetária na sexta-feira passada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário