quinta-feira, 7 de março de 2019

Divulgação de vídeo obsceno gera críticas a Bolsonaro

Após polêmica, presidente diz que ato era ‘crime’, mas defende carnaval

A decisão de Jair Bolsonaro de compartilhar um vídeo de um ato obsceno entre dois homens num bloco gerou críticas de adversários e apoiadores e repercutiu até no exterior. Em nota, o governo disse que o presidente ficou escandalizado com a cena, mas não quis criticar o carnaval.

POSTAGEM OBSCENA

Bolsonaro divulga vídeo com prática sexual em bloco e provoca reações no Congresso

Bruno Góes, Daniel Gullino e Karla Gamba / O Globo

BRASÍLIA - Após postar um vídeo com cenas pornográficas no seu perfil em uma rede social, na noite de terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro tornou-se alvo de uma série de críticas, no Brasil e no exterior. A postagem em que dois homens realizam um ato obsceno, durante um bloco de carnaval em São Paulo, recebeu cerca de 2 milhões de visualizações. O Palácio do Planaltos e viu obrigado ase pronunciar sobre a polêmica.

Na postagem, Bolsonaro afirmou que não se sentia confortável “em mostrar, mas te mosque expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conslusões (sic)”, escreveu o presidente, que foi alvo de críticas em vários blocos pelo Brasil”.

O presidente ampliou a polêmica ao publicar, na sequência, uma pergunta em que buscava saber o que significava “golden shower”, o nome, em inglês, para o ato, filmado no bloco de carnaval em São Paulo, em que um parceiro urina sobre o outro.

Depois da ampla repercussão, o Planalto disse que a intenção do presidente não era criticar o carnaval “de forma genérica”, “mas sim caracterizar uma distorção clara do espírito momesco, que simboliza a descontração, a ironia, acrítica saudável e a criatividade da nossa maior e mais democrática festa popular”. E completa, afirmando que as cenas reproduzidas por Bolsonaro violentam “os valores familiares e as tradições culturais do carnaval”.

A oposição reagiu. Deputados anunciaram a intenção de levar o caso à Procuradoria-Geral da República (PGR), para que seja apurada a suposta violação da lei que trata de divulgação de pornografia sem consentimento dos envolvidos. O líder do partido na Câmara, Paulo Pimenta (RS), chegou a sugerir o encerramento da conta do presidente no Twitter. Já o líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), afirmou que a atitude não é “condizente” com o cargo de presidente e que falta “decoro”.

Outros políticos de diferentes partidos, como DEM e PPS, também condenaram a postura de Bolsonaro. “Há muitas boas razões para criticar o carnaval, não faltam problemas que poderiam ser evidenciados e evitados. Isso não justifica mostrar uma obscenidade para milhões de famílias (...) Isso não é postura de conservador”, escreveu o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP).

A gestão das redes sociais do presidente tornou-se motivos de discórdia na cúpula do governo. Atualmente, o filho, vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), controla as redes do pai.
Correligionários do presidente no PSL e um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), saíram em defesa de suas publicações. “O cara toma banho de mijo em público, mostra o ânus de cima de um local alto para todos verem, mas o problema é o JB (Bolsonaro) (...) A esquerda é doente”, escreveu Eduardo em uma rede social.

Líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP) também apoiou o presidente e criticou a esquerda que “apoia a exposição de adultos pelados”. Líder do PSL, Delegado Waldir (GO) disse que há “hipocrisia” entre os críticos.

O vice-presidente Hamilton Mourão preferiu fazer apenas um rápido comentário: “Morre amanhã. Está morto amanhã. Tudo passa”.

O carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, também mencionou o episódio, ao comemorar a vitória da escola.

—É um recado político para o presidente. Isso daqui é a festa do povo, não o que ele acha que é —disse Viera.

DESAJUSTADO

HÁ EVIDÊNCIAS de que Jair Bolsonaro tem dificuldades de se ajustar à altura do cargo de presidente da República. A mais recente, que chega a ser abominável, é o compartilhamento feito por ele, por Twitter, de cena pornográfica filmada no carnaval de rua.

MAS NÃO só isso. Também é uma insensatez querer simbolizar, com o vídeo que postou, o carnaval dos blocos, onde centenas de milhares de foliões, de todas as idades, brincam sem bizarrices deploráveis.

E, ALÉM de tudo, Bolsonaro espalhou o filme obsceno na sua rede, à qual muito adolescente tem acesso. A limitação posterior não redime o presidente. O conjunto de todo o desvario, que se pretendeu moralista, ainda por cima colocou o Brasil no noticiário internacional de forma negativa. Com razão.

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