sábado, 30 de março de 2019

O alerta do desemprego: Editorial/ O Estado de S. Paulo

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgada ontem deve ser um poderoso alerta para o presidente Jair Bolsonaro. O atual desgoverno não apenas gerou resultados nas pesquisas de opinião, com a queda dos índices de aprovação presidencial, mas começam a ser visíveis os efeitos econômicos e sociais do estado caótico da administração federal. O desemprego subiu para 12,4% e o índice de desalento bateu recorde.

No período imediatamente anterior, a taxa de desemprego era de 12%. Em três meses, 1,062 milhão de postos de trabalho foram fechados. Ainda que haja o fator sazonal, que acentua a desocupação no trimestre – o início do ano é habitualmente marcado pela dispensa de trabalhadores contratados temporariamente no final do quarto trimestre –, o crescimento do desemprego medido pela Pnad Contínua é especialmente preocupante por dois motivos. Em primeiro lugar, a base de desempregados, mesmo que se desconte o desemprego sazonal, está muito alta. Com isso, os efeitos da sazonalidade agregam ainda mais pessoas ao contingente de desocupados, que vem se mantendo alto seja qual for a época do ano. Em segundo lugar, ainda que a recuperação do emprego seja normalmente demorada, a retomada da abertura de vagas está se mostrando muito lenta, considerando-se que o País saiu da recessão há dois anos.

No final de fevereiro, a população desocupada foi de 13,098 milhões, segundo o IBGE. Trata-se de um crescimento de 7,3% em relação ao trimestre de setembro a novembro de 2018 (12,2 milhões), o que ajuda a dar uma noção da urgência de trabalhar seriamente em prol da retomada econômica e das reformas.

A população desocupada é composta pelas pessoas que procuram emprego e não encontram. Com 13,098 milhões de desempregados, beira a irresponsabilidade que um governo perca tempo com polêmicas virtuais, disputas ideológicas ou atritos infantis.

Outro motivo de preocupação é o fato de que o desemprego vem acompanhado de um alto número de pessoas desalentadas. No final de fevereiro, havia 4,855 milhões de pessoas nessa situação, o maior número da série histórica do IBGE, iniciada em 2012. Ou seja, mesmo com menos pessoas procurando emprego – o que significa que não integram a força de trabalho e, portanto, não entram no cálculo do desemprego –, observa-se uma grande taxa de desemprego.

Em relação ao trimestre encerrado em novembro de 2018, foram mais 150 mil pessoas que desistiram de procurar emprego. Comparado ao mesmo período no ano anterior, foram mais 275 mil pessoas que caíram no desalento, representando um crescimento de 6%. O desalento na procura do emprego é um forte indicador da percepção da população sobre as perspectivas da economia. A atual taxa de desalento está, portanto, na contramão do que se deveria esperar, em tese, no início de um governo que foi eleito prometendo uma vigorosa retomada econômica do País.

A atual situação do mercado de trabalho dá sinais de um círculo vicioso. “Dado que o desemprego chegou a esse nível tão alto, isso alimenta o desalento também. Essas pessoas não se veem em condições de procurar trabalho”, explicou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

A Pnad Contínua mostra também um crescimento, que vem desde 2015, da taxa de subutilização da força de trabalho (pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas e na força de trabalho potencial). Em fevereiro, havia 27,9 milhões de pessoas subutilizadas no Brasil, o maior contingente da série histórica (24,6%). No trimestre anterior, eram 27 milhões de pessoas (23,9%).

O atual quadro do mercado de trabalho indica que não há espaço para perda de tempo, falta de foco e menos ainda travessuras juvenis na condução do governo federal. Para que muitos brasileiros possam trabalhar, o presidente Bolsonaro precisa fazer o quanto antes seu trabalho.

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