terça-feira, 9 de abril de 2019

Bolsonaro fala pela primeira vez em reeleição

Por Cristiane Agostine e Carolina Freitas | Valor Econômico

SÃO PAULO - O presidente Jair Bolsonaro admitiu ontem a possibilidade de reeleição em 2022, apesar de ter dito durante toda a campanha eleitoral que, se eleito, não tentaria um novo mandato. Prestes a completar 100 dias de governo, o presidente afirmou que "a pressão está muito forte" para concorrer novamente.

Bolsonaro, porém, tem a pior avaliação depois de três meses de gestão entre os presidentes eleitos para um primeiro mandato desde a redemocratização de 1985, segundo pesquisa Datafolha divulgada no domingo.

Em uma entrevista de 53 minutos à rádio Jovem Pan, Bolsonaro foi questionado se mudou de ideia sobre a reeleição e, ao responder, não descartou a possibilidade. "A pressão está muito forte para que, se eu estiver bem, obviamente, me candidatar", afirmou o presidente. Bolsonaro delegou ao Congresso uma eventual reforma política que acabe com a possibilidade de reeleição. "Não depende de mim", disse, durante a entrevista. "A minha reforma política só teria validade se eu cortasse na própria carne."

O presidente disse que a reeleição tem sido "péssima" para o país e que já causou uma "desgraça". "Prefeitos, governadores, até o próprio presidente se endividam, fazem barbaridade, dão cambalhota, fazem acordo com quem não interessa para conseguir acordo político", afirmou. "Se nessa proposta de reforma, para diminuir um pouco o tamanho das Casas Legislativas, custar uma possível reeleição na proposta, eu topo assinar isso aí", disse, reforçando que a iniciativa de uma eventual reforma política não partirá dele.

Bolsonaro mencionou duas vezes o fato de não se pautar com vistas à reeleição. "Se eu fosse pensar em reeleição, faria reforma da Previdência light ou não faria."

O presidente disse não ter arrependimentos neste início de gestão e também não conseguiu citar um dia especial para rememorar: "Não tem dia feliz na Presidência." O presidente reiterou que não nasceu para o cargo e, como forma de despistar as críticas à declaração, atacou os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, do PT. "Quem nasceu para ser presidente está preso ou está ensacando vento", disse.

Bolsonaro afirmou ainda que não vê problemas em ter ministros mais inteligentes do que ele e disse que não se importar se os auxiliares decidirem disputar o Planalto em 2022.

O presidente afirmou que continuará nas redes sociais, que, segundo ele, não lhe tomam mais de 30 minutos por dia. Para o presidente, elas são importantes para "trazer mais gente" para o lado do governo. Descontraído, saiu em defesa de seu filho Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e atribuiu sua eleição ao trabalho do filho nas redes sociais. "Carlos merecia um cargo de ministro, porque foi a mídia dele que me colocou na Presidência."

Questionado sobre a situação da Venezuela, afirmou acreditar que "pelo embargo econômico" pode-se pressionar a queda do presidente Nicolás Maduro. Bolsonaro disse que caberá a ele decidir se o governo brasileiro participará de uma invasão militar ao país vizinho, mas ponderou que deve ouvir antes o Parlamento e o Conselho de Defesa Nacional.

Ao falar sobre a demissão do ex-ministro Ricardo Vélez do Ministério da Educação, Bolsonaro disse que "basicamente faltou gestão" na Pasta. "Lamentavelmente, o ministro não tinha expertise e acumulou problemas".

Na entrevista, Bolsonaro disse que as propostas mais importantes de seu governo estão sob comando do ministro da Economia, Paulo Guedes, e citou a reforma da Previdência. Questionado se não precisava se engajar mais na aprovação da reforma, desconversou. "Se eu me engajar mais, vão dizer que eu estou interferindo no Legislativo", disse. "Eles [parlamentares] têm que aproveitar essa liberdade e fazer a melhor proposta".

O presidente prometeu rever demarcações indígenas e disse que quer explorar a Amazônia com os Estados Unidos. Bolsonaro criticou o tamanho das terras demarcadas e colocou sob suspeita laudos que definem terras indígenas. "A demarcação que eu puder rever, vou rever", disse, defendendo que indígenas e quilombolas "possam vender ou explorar" suas terras.

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