- Folha de S. Paulo
Presidente prometeu destruir antes de construir, mas não aponta caminhos
Na campanha de 2018, Jair Bolsonaro registrou no TSE o documento que deveria ser seu plano de governo. Era uma apresentação de PowerPoint com tons de messianismo, ataques à esquerda e quase nenhuma proposta concreta. O arquivo ganhou o título de “Projeto Fênix”, mas até aqui seu mandato se especializou em produzir cinzas.
Para detonar o que chama de indústria da multa, o governo anunciou a retirada de radares de velocidade das estradas e o aumento do limite de pontos para cassar a carteira de motoristas infratores. O Brasil é o quinto país do mundo em mortes no trânsito, mas o presidente não explica como vai resolver o problema depois de afrouxar essas regras.
Na educação, a promessa era extinguir uma fantasmagórica doutrinação marxista. Enquanto isso, o MEC ficou travado e sem direção nos primeiros meses de governo. A qualificação de professores e o ensino infantil, que eram citados como prioridades nos slides eleitorais, não apareceram com destaque em nenhum projeto da pasta até agora.
A burocracia e o custo da máquina pública tornam injustas cobranças por resultados nos cem primeiros dias de mandato. A marca simbólica é mais uma oportunidade para governantes apresentarem um planejamento detalhado e caminhos objetivos. Em sua largada, Bolsonaro decidiu seguir no sentido contrário.
Há três semanas, o presidente disse que precisava “libertar o Brasil da ideologia nefasta da esquerda” antes de construir qualquer projeto. “Temos que desfazer muita coisa para depois começarmos a fazer”, afirmou. Esse discurso podia até funcionar na eleição, mas ninguém vai voltar às urnas amanhã. O papo de destruição não reduz o desemprego nem melhora a saúde pública.
Bolsonaro chegou a convocar um pronunciamento em rede nacional de TV na noite desta quarta (10) para celebrar seu centésimo dia de governo. Horas antes, assessores avisaram às emissoras que haviam desistido de fazer a transmissão. Talvez ele não tivesse muito o que dizer.
100 dias de vergonha-alheia.
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