sábado, 27 de abril de 2019

Risco de cortes para Sociologia e Filosofia

Bolsonaro e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, sugerem redução de investimento em cursos de ciências humanas.

HUMANAS SOB ATAQUE

Bolsonaro sugere cortes nas faculdades de Filosofia e Sociologia

Paula Ferreira e Renato Grandelle / O Globo

Depois do “viés ideológico” em questões do Enem e da batalha contra o “marxismo cultural” nas universidades, o governo tem novo alvo na área da Educação: as Ciências Humanas. Os cursos de Filosofia e Sociologia seriam os primeiros afetados com um corte de verbas.

Ontem, o presidente Jair Bolo sonar o foi às redes sociais fazer corocomo ministro Abr ah amWeintraube confirmar:

“O ministro da Educação (Abraham Weintraub) estuda descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia (humanas). Alunos já matriculados não serão afetados”, escreveu o presidente no Twitter. “O objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina.”

A proposta, que já havia sido colocada na mesa pelo ministro em vídeo transmitido pelo Facebook, causou indignação entre educadores, que defendem a importância das disciplinas humanas para resolver problemas fundamentais do país, como a desigualdade de renda. Além disso, a ingerência do governo sobre o investimento nos cursos é limitada pela autonomia universitária —os repasses da União às instituições públicas não são direcionados a determinada faculdade. Já o destino das bolsas dada sacada área pode sofrer maior interferência federal.

Hoje, levando em consideração apenas a área da pesquisa científica, dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico( CNPq) mostram que os valores par abolsas em Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas — R$ 225,5 milhões — não conseguem alcançar o montante de R$ 244,9 milhões investidos em Ciências Exatas e da Terra, área que mais recebe recursos do governo. O cálculo leva em consideração apenas valores destinados ao benefício, já que as agências não informaram ao GLOBO as verbas destinadas a projetos e custeio de laboratórios .

No caso do CNPq, órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), são consideradas também as bolsas destinadas à graduação. No total, foram R$ 124,1 milhões investidos embolsas de Ciências Humanas, R $63,8 milhões embolsas de Ciências Sociais Aplicadas e R $226,9 milhões em Ciências Exatas e da Terra.

RELEVÂNCIA SOCIAL
Em relação à Capes, vinculada ao Ministério da Educação (MEC), há dados sobre as bolsas de mestrado e doutorado. A agência informou ao GLOBO o número de benefícios para cada área e afirmou que há um valor fixo para cada modalidade, o que permitiu que o cálculo fosse feito. A partir disso, foi verificado um investimento de R$ 23,8 milhões para Ciências Humanas, R$ 13,8 milhões para Ciências Sociais Aplicadas e R $18 milhões para Ciências Exata seda Terra. Especialistas afirmam que, de fato, os estudos na área de Humanas custam menos pela natureza de sua pesquisa — que, na maioria das vezes, não envolve insumos químicos e equipamentos de ponta.

Ressaltam, porém, que há questões sociais urgentes que demandam pesquisas nas áreas alvejadas pelo discurso de Bolsonaro. Presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich assinala que, em todo o mundo, a tendência é unir as diversas áreas de conhecimento, formando profissionais mais completos e cientes do contexto em que desempenham seu trabalho.

A ideologia, portanto, não deve eleger quais são os temas cujo ensino será prioritário. —Não é questão de precisar demais médicos e menos filósofos. A questão mais importante éter uma educação interdisciplinar, que oriente para um projeto de desenvolvimento nacional—afirma Davidovich.—Háu ml e que de assuntos que só podem ser discutidos com o uso das Ciências Sociais, como estudos sobre criminalidade, planejamento urbano, habitação, envelhecimento e diversidade religiosa. Segundo levantamento realizado pela consultoria Clarivate Analytics, o país publicou 250.680 artigos científicos entre 2011 e 2016.

Apenas 11,5 mil, ou 4,6% do total, foram relacionados a Ciências Sociais — índice abaixo de áreas como Medicina (46 mil) e Engenharia (12 mil). Uma queda no investimento poderia comprometer ainda mais essa produção. Em repúdio à declaração do presidente, um grupo de associações ligadas à área da Ciências Humanas e Ciências Sociais emitiu uma nota afirmando que a colocação demonstra desconhecimento sobre a produção de conhecimento científico. 

O comunicado afirma ainda que é “equivocado e enganoso” avaliar as disciplinas por sua aplicabilidade imediata, desconsiderando sua importância na resolução de problemas da sociedade: “É inaceitável (...) que essas disciplinas sejam consideradas um ‘luxo’, passível de corte em tempos de crise econômica como a que vivemos atualmente no país ou de ‘rebaixamento’ por motivação político-ideológica.” Colaborou Helena Borges

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