- Valor Econômico
O problema não é o ministro, o problema é o presidente
Jair Bolsonaro, o presidente, está cada vez mais previsível. Escolheu um novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, igual ao que demitiu, Ricardo Vélez, que não conseguia trabalhar. Vélez é mais velho e, dizem, mais polido, mas ambos têm a mesma origem, os mesmos padrinhos, a mesma ideologia. A ideologia de sua bandeira, de direita, é reducionista, tal como a de esquerda que combatem, mas acham que estão salvando a humanidade a partir das ordens da rede Olavo-Eduardo-Carlos- Ernesto-Jair. Bolsonaros em estado puro, afinados e missionários.
Weintraub foi substituído na Secretaria Executiva da Casa Civil por outro também originado na irmandade, o atual subchefe de Articulação e Monitoramento, José Vicente Santini. Esse deve ser substituído, no Monitoramento, por outro parecido, numa sucessão de iguais: discípulos do autointitulado filósofo, tuiteiros como os quatro Bolsonaro que nos governam, e dados aos palavrões como fazem o atual ministro da Educação, o antigo e seu amado mestre.
O que circulou ontem, para ilustrar o fato de que Weintraub é crítico de algo que chama de marxismo cultural, é uma exibição grosseira, nada acadêmica, de alguém que, numa palestra, conclama seu auditório a insultar os comunistas e os socialistas. Por quê? Não diz.
Mas o problema de Weintraub não é a linguagem, não é ser seguidor da nova seita, não é ser economista, não é não saber nada de Educação e nem conhecer as pessoas que poderia consultar para lhe dar uma luz sobre alguns assuntos. O problema dele é o presidente pensar e agir igual a ele e convidá-lo para resolver um problema que seu igual não resolveu. O governo girando em círculo na contramão dos problemas.
A questão, para o novo ministro, são os Bolsonaro, cujo pensamento admira e segue, e escolhem alguém como ele para salvar toda uma área conflagrada. O presidente quis resolver um problema grave, o da gestão da Educação, ministério onde os olavistas fizeram uma batalha que provocou a demissão de 14 dirigentes em três meses, por outro olavista da mesma série.
As soluções de Bolsonaro para os problemas são óbvias, elas vêm da mesma fonte que os originou: ou Olavo, ou Eduardo, ou Flávio, ou Carlos, para falar das gêneses mais problemáticas e constantes.
E seria tão mais eficiente se aplicasse, no MEC, uma receita tão simples quanto bem sucedida em outros momentos de crise.
Se o governo tem um projeto para a área, se o ministro tem ideias e metas, se consegue reunir uma equipe preparada e experiente, é possível ter um plano de maior complexidade. Mas não é o caso. O Vélez que sai não tinha condições para fazer nada complexo, assim como o Weintraub que entra.
A credencial do ministro empossado ontem para justificar a escolha foi ter organizado a viagem do presidente e seus filhos pela Ásia, como o próprio Bolsonaro proclamou no discurso ao dar-lhe posse. É possível mapear o governo citando por quem será substituído o demitido do grupo denominado "ideológico". O mesmo tipo de razão já motivou a demissão de Mário Vilalva da Apex, embaixador experiente e competente em comércio exterior. Deve ser substituído por alguém que tuita, obedece a Olavo e, no caso, a Eduardo Bolsonaro, o chanceler nas sombras que sequer precisa expor o Brasil à vergonha do "holocausto de esquerda", tem quem o faça por ele. Gustavo Bebianno, o primeiro ministro a ser demitido, foi picado pelo mesmo veneno do grupo. E assim será, sucessivamente.
Mas digamos que Weintraub quisesse, como fez para os Bolsonaro, organizar uma espécie de tour educacional pelo Brasil. Poderia começar por não atrapalhar os Estados e municipios.
Há pelo menos quatro Estados com planos de gestão educacional aprovados nas assembleias - Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Roraima; há pelo menos quatro Estados com experiências educacionais de ensino fundamental e médio eficientes; há dez cidades, entre elas Viçosa, Uberlândia, Campo Grande e Vitória com desempenho exemplar no seu quadro de pessoal; e há cinco Estados que podem servir de exemplo - Amazonas, Goiás, Pernambuco, Ceará, Espírito Santo. Se o ministro não atrapalhar os Estados e sua relação com os municípios, não misturar Estado com município para fazer o ensino fundamental e evitar prejuízos financeiros, será um avanço.
Weintraub não é do ramo, mas se for capaz de consultar, por exemplo, um Simon Schwartzman, ou uma Priscila Cruz, o primeiro um dos maiores intelectuais da área educacional e a segunda dirigente da principal ONG da área, mostrará que quer ir além do tour educacional na Ásia. Não se sabe sequer se ele conhece essas pessoas.
Em segundo lugar, na receita simples para sair da crise, é preciso dar a pessoas certas as tarefas adequadas. Bolsonaro deu carta branca ao novo ministro para organizar o MEC, destruído na disputa de poder entre grupos. O problema é que Weintraub é olavista e pode não querer abandonar sua turma.
Um terceiro ponto é esquecer as recomendações do presidente, como foram feitas no calor da campanha eleitoral, e se meter a fixar regras para cantar hino nacional ou condenar trechos de livros didáticos. Os livros didáticos sempre foram criticados, os alunos sempre gostaram de cantar o hino nacional, não precisam de lição de moral do presidente da República.
Depois, concentrar esforços no básico para o momento: cuidar do Enem, do Fies e do Fundeb, mecanismos de financiamento da educação que têm seus prazos esgotados brevemente. Podem não ser as melhores alternativas para resolver os problemas, mas não há como substituí-los agora num governo que administra por recados o humor de seus ministros. Tem toda uma reforma do ensino médio aprovada para ser implantada. Há trabalho, simples e suficiente, para 4 anos.
A educação, ao contrário do que se faz crer na propaganda política, tem ido para a frente, não para trás. Há exemplos de boa gestão a serem multiplicados. O Brasil criou uma pós-graduação que é uma das mais elogiadas do mundo. A avaliação da Capes para os cursos de formação de mestres e doutores é copiada. Há muitos defeitos no sistema, melhor corrigí-los do que acabar com tudo e nada colocar no lugar.
O professor, eterna prioridade da educação jamais realizada, ficará novamente em baixo patamar devido à urgência das outras. Mas se for contemplado com as regras novas da aposentadoria rural, já será um passo à frente. Só depende de Bolsonaro querer.
Cara Rosângela, Helio Barros sugeri-me ler este seu artigo. Deixando de lado as condenações ao desempenho do ministro que nem começou, falemos de educação: você cita exemplos a ser seguidos, acredito neles, mas são exceções, pois a média das Escolas do Ensino Médio no Saeb é 4/10, 40% de rendimento, que não cresceu 1% ao ano desde 2007. Isso é bom desempenho? Nossos planos para educação, os mesmos desde 2007, estão errados porque focam o problema errado. O problema é que os alunos não querem aprender, o que é evidente pela baixa matrícula líquida e pelas notas no Saeb. Por isso, o PNE é irrelevante. Gasta-se uma fortuna sem atingir o problema. Temos de estimular os jovens a estudar e a melhor maneira de estimular alguém, principalmente esta majoritariamente pobre gente brasileira, é reconhecer com prêmios em dinheiro quem se destacar, alunos, seus pais e professores. Quem quer aprender o faz até com maus professores, quem não quer nem com ótimos professores. O FNDE gasta R$ 60 bi todos os anos e nada consegue, como vemos pelos resultados do Saeb.
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