quarta-feira, 24 de abril de 2019

Vera Magalhães: Planos do Cebolinha

- O Estado de S.Paulo

Elucubrações de olavetes e derivados se assemelham cada dia mais aos planos ‘infalíveis’ dos gibis: bem maquinados, mas fadados ao fracasso à primeira coelhada

A experiência internacional recente do surgimento e êxito de uma nova direita mundial indica que o parquinho ideológico montado pela autoproclamada ala antiestablishment do bolsonarismo (que tem representantes no governo e na família presidencial) não vai cessar sua guerra de guerrilha, tendo alvos distintos.

Pode ser. Mas essas elucubrações de olavetes e derivados se assemelham cada dia mais, quando cotejadas à realidade econômica, social e política de um país como o Brasil, aos planos “infalíveis” do Cebolinha nos gibis: bem maquinados, com uma lógica própria, mas fadados ao fracasso à primeira coelhada. A Mônica, no caso, são os militares.

Os generais tiveram importância muito maior para a construção que levou à vitória de Jair Bolsonaro que livros e vídeos de Olavo de Carvalho. Enquanto o último animava uma militância aguerrida nas redes sociais – o que, claro, teve um peso na vitória –, coube aos militares reabilitar um ex-capitão que deixou o Exército sem honras, tido como agitador sindical, e passou as décadas seguintes como um deputado folclórico.

Foram os militares que viram em Bolsonaro, a quem antes destinavam certo desprezo condescendente, a melhor possibilidade de derrotar o PT em 2018. A importância que teve a fala do general Villas Bôas, então comandante do Exército, em abril do ano passado, por ocasião do julgamento do habeas corpus de Lula, levantando o risco de crise institucional caso o ex-presidente fosse solto, ainda está por ser devidamente contada, numa reconstituição de bastidores daqueles dias e dos subsequentes.

Que uma pessoa que vive entre rifles na Virgínia e tem contato com o Brasil pela tela de computador rebaixe o papel dos militares em benefício próprio se entende. Que integrantes do governo e da família de Bolsonaro incorram no mesmo erro, passa a ser risco de instabilidade constante para o governo e prova de uma leitura muito caolha da realidade.

Para registro: nas questões que realmente importam até agora, os militares vencem de goleada os olavetes e demonstram pragmatismo para ler a conjuntura. A embaixada do Brasil em Israel ainda não mudou para Jerusalém, não houve nem haverá intervenção militar na Venezuela e Vélez Rodríguez, um filho que Olavo se recusa a assumir, caiu sem deixar saudades.

PREVIDÊNCIA
Governo tem chance de aprender com erros da CCJ

Se a votação da reforma da Previdência pode ser comparada a um campeonato de futebol, com cada etapa representando uma partida, Jair Bolsonaro – ou quem quer que assuma a função de técnico do time do governo – deveria reunir seus jogadores, no caso os novatos deputados do PSL, e exibir os vídeos da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para que aprendam com os muitos erros que cometeram e bolas nas costas que tomaram. Lições a serem tiradas: deputado governista não se preocupa em falar, falar, falar sem parar e gravar vídeos, se ocupa de votar; provocar a oposição e o Centrão não é bom negócio, porque dá a eles a chance de obstruir as discussões. Ler o regimento interno da Câmara deveria ser lição de casa básica. E, principalmente: deputados governistas têm de decidir se são base aliada ou representantes de corporações de servidores contrárias à reforma. Ter sabotares no próprio time, que passam a estratégia ditada no vestiário para o inimigo, pode ser fatal.

LULA
Decisão do STJ não é tão boa notícia para ex-presidente

Como tudo que envolve Lula, a decisão de ontem da 5.ª Turma do STJ ao agravo interposto em recurso especial contra a condenação no caso do triplex gerou comoção descabida nas redes sociais. Não se trata de nenhum golpe ou maquinação nem de uma inconteste vitória para o ex-presidente. Por várias razões:

1. Foi a segunda instância colegiada (a primeira foi o TRF-4) a endossar a sentença condenatória de Lula dada por Sérgio Moro. Ficam enfraquecidas a narrativa da perseguição política e a tese “intermediária” de Dias Toffoli de que a prisão deveria se dar após análise de recurso especial ao STJ;

2. Não caiu a condenação por lavagem de dinheiro, como esperavam vários advogados criminalistas que atuam na Lava Jato;

3. Não colou a tentativa de jogar o caso para a Justiça Eleitoral,

4. E, por fim, a pena fixada pelos ministros do STJ não difere muito da aplicada por Moro, o que mostra que se trata de uma questão técnica quanto ao cálculo da dosimetria

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